>Finalmente pivôs

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“Sei que sou feio, mas pelo menos sou pivô, pessoal!”

Quando saiu a lista com os reservas para o All-Star Game, o nome de Al Horford como pivô do Leste foi o que causou mais indignação ao redor do mundo, incluindo greves de fome em todos os continentes, revoluções armadas, indícios de guerra nuclear e até uma ameaça da Tessália, do Big Brother, de não sair pelada na Playboy caso os técnicos da NBA não revejam a escolha. É claro que existem outras escolhas polêmicas na lista, jogadores que mereciam muito ter aparecido, e concordo plenamente com as escolhas e os comentários do Denis em sua análise dos reservas. Mas não consigo digerir o Al Horford indo para o jogo das estrelas quando, pela primeira vez em tanto tempo, temos pivôs de verdade disponíveis para a brincadeira.

Na última década, ainda antes do declínio do Shaquille O’Neal, vivemos uma época muito escassa em termos de pivô. Ter um jogador decente nessa posição era algo raro e que garantia enorme vantagem sobre os outros times. No entanto, como pouquíssimas equipes tinham qualquer pivô que prestasse, não ter ninguém na posição também não prejudicava muito ninguém. Foi assim que uma série de alas de força começaram a ser improvisados dentro do garrafão, numa reação em cadeia: se quase todos os times estão fazendo, e meu pivô é um bobão que não sabe nem amarrar os próprios cadarços, por que não faço também? Justamente por isso, todos os grandes pivôs que podemos citar nos últimos anos não são pivôs porcaria nenhuma, como o Duncan improvisado na posição até o Spurs desistir de procurar um pivô, o Amar’e Stoudemire dominando o garrafão do jogo de anões velozes do técnico Mike D’Antoni, ou o Chris Bosh rezando todos os dias para poder voltar a ser ala em algum dia de sua vida. É tanto improviso que até esquecemos como são os pivôs de verdade, o que eles fazem debaixo da cesta, como se alimentam e como procriam. O cara-de-nada conhecido como Tim Duncan é um dos melhores alas de força de todos os tempos (e ele nem sorri frente a essa constatação), mas colocá-lo na lista dos melhores pivôs da história é apenas um problema dos nosso tempos. Pergunte ao Duncan e ele vai te dizer que não é nem nunca foi um pivô de verdade, e depois disso vai dar um bocejo e ir tirar um cochilo.
Por causa da falta de jogadores na posição, o draft dos últimos 10 anos tem sido uma corrida desesperada para conseguir o carinha mais alto que não seja um monte de carne desforme e imprestável. Em 2001, as quatro primeiras escolhas foram Kwame Brown, Tyson Chandler, Pau Gasol e Eddy Curry (com o Desagana Diop não muito depois, em oitavo). Yao Ming foi a fácil primeira escolha em 2000, Darko Milicic foi escolhido na segunda posição antes de Carmelo Anthony (todo mundo sabe quão imbecil foi essa escolha) e seguido por Bosh e Chris Kaman em 2003, Dwight Howard e Okafor foram as primeiras escolhas de 2004 (e a porcaria do nosso brazuca Baby foi a oitava escolha, pra gente ver como qualquer merda comprida estava valendo), Andrew Bogut foi a primeira escolha de 2005, o lixo do Patrick O’Bryant (que nunca chegou a ter minutos de quadra na NBA) foi escolhido entre os dez primeiros em 2006, Greg Oden foi o primeiro draftado de 2007 (imagina só se o Blazers tivesse o Durant, que já é All-Star, ao invés do gigante de vidro), Brook Lopez estava entre os dez primeiros em 2008 e em 2009 tivemos a porcaria do Hasheem Thabeet sendo draftado com a segunda escolha. Isso sem falar na quantidade absurda de gigantes de todas as partes do mundo que foram draftados mas nunca chegaram a jogar na NBA ou simplesmente desapareceram antes de conseguir colecionar dez minutos de jogo na carreira.
A falta de pivôs fez com que o All-Star game tivesse umas aberrações, tipo o Brad Miller reserva em uma temporada medíocre ou o Ilgauskas ir duas vezes para o All-Star Game porque não tem ninguém melhorzinho. Era sempre um monte de estrelas e um pivô mais ou menos para dar número, tipo aquele moleque gordo que só é escolhido no futebol porque precisa ter um segundo goleiro. A solução para essa situação constrangedora foi ir aos poucos liberando alas de força para sempre escolhidos como pivôs, permitindo que Duncan e Amaré, por exemplo, pudessem fazer carreira nessa posição em All-Stars. Mas cedo ou tarde aquela caralhada de pivôs draftados na última década ia acabar rendendo alguém decente. Yao Ming é titular todo ano mesmo se não jogar, Dwight Howard ganhou seus votos na força e no carisma, mesmo que eu bata bastante na tecla de que ele nunca evolui seu jogo, mas o resto dos gigantes não poderia ser de todo ruim. Pivô é uma baita posição ingrata, não apenas porque é mais física e portanto está sempre sofrendo nas mãos da arbitragem inconsistente e das constantes alterações de leitura das regras que abrem o garrafão, mas também porque leva um tempão para se acostumar com os rigores da NBA e as mudanças táticas necessárias. Armadores costumam demorar para pegar o jeito, mas pivôs tendem a demorar ainda mais (em geral, a maioria leva a vida inteira pra pegar o jeito e mesmo assim não consegue bulhufas).
Nesse ano finalmente vemos os pivôs maduros de verdade. Muitos davam sinais de talento, dava pra ter esperança, mas foi só nessa temporada que pudemos ter certeza de que vários deles são pra valer. Chris Kaman está conseguindo aos poucos manter sua saúde afastada da maldição do Clippers e está ganhando jogos sozinho com médias 2o pontos, 9 rebotes, 2 assistências e 1 toco por jogo. Andrew Bogut mostrou que é o novo pilar da equipe, que segura as pontas até o Brendon Jennings dominar a armação e ganhar uns pelos na cara, e está com médias de 16 pontos, 10 rebotes, 2 assistências e mais de 2 tocos por partida. Brook Lopez é o grande ponto positivo da campanha terrível do Nets, provando que ele pode dominar jogos no garrafão, com médias de 19 pontos, 9 rebotes, 2 assistências, 2 tocos e acertando quase 83% dos seus lances livres, digno de Yao Ming. Andrew Bynum mostra cada vez mais consistência no Lakers, com médias de quase 16 pontos, 8 rebotes e 1 toco e meio por partida, segurando as pontas na contusão do Gasol. E até o irmão gêmeo do Brook Lopez, o cabeludo Robin Lopez (que, insisto, é secundário até no nome de ajudante!), está se saindo melhor do que a encomenda, defende melhor do que o irmão, tem um talento ofensivo escondido na manga (ou no cabelo), e na miúda roubou a vaga de pivô titular do Suns, tendo desde então médias de 13 pontos, 6 rebotes, 1 toco, e tudo em minutos limitados por partida.
E como é que a NBA premia essa safra de pivôs que finalmente apareceu depois de uma década esperando esses draftados mostrarem talento? Fácil: mantendo alas de força elegíveis como pivôs. É por isso que todos os pivôs citados acima ficarão de fora do All-Star Game enquanto alas de força improvisados, como Al Horford e Pau Gasol, estarão na partida. Seria legal ver o David Lee na partida? Seria, ele tá tendo uma temporada absurda, mas ele é mais um ala improvisado (oitocentas vezes melhor do que o Al Horford, pelo menos). O caso do Gasol é ainda pior porque faz um bom tempo que ele não joga de pivô improvisado no Lakers, mais motivo ainda para até o Bynum ter mais direito de comparecer do que ele. O que me tranquiliza nessa bagunça toda é que será difícil manter essa safra de pivôs fora do All-Star Game por muito tempo. Esqueçam Dwight Howard, pra mim Brook Lopez é fácil o melhor pivô da NBA no momento, e olha que eu assisti mais jogos do Nets na temporada do que qualquer ser humano com bom senso deveria experimentar. Ele tem velocidade, recursos, repertório, arremesso, lance livre, sangue frio e é um excelente defensor homem-a-homem. No Oeste, o cargo de melhor pivô é do Kaman, que é inclusive melhor e mais versátil do que o Amar’e (que anda se negando a pegar rebotes, vai entender) mesmo pra quem considera o jogador do Suns um pivô de verdade. Sem esquecer do Bogut, que rapidinho vai ser estrela conforme mais e mais gente assistir a jogos do Bucks querendo espiar o Jennings. O talento deles é grande demais e os times não devem feder por muito tempo, o Nets tem um núcleo jovem que vai fazer barulho se eles não caírem em depressão nessa temporada e não vai dar mais pra usar a desculpa de que “o time fede então o cara não pode ser All-Star”. Ou seja, em um ou dois anos vamos ver um monte de pivôs de verdade sentados no banco de reservas do All-Star Game. E continuando sentados lá durante o jogo porque ninguém quer ver esses grandalhões sem graça numa partida que deveria ser divertida. Ué, do que é que eu estava reclamando mesmo?

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