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Todo mundo sabe dos apuros pelos quais passa um homem apaixonado por uma garota que não lhe dá bola. Por parte do rapaz, há sempre muito esforço, cuidado e uma certa dose de humilhação. O poder está todo nas mãos da garota, que pode fazer o que quiser com a decisão que lhe cabe. Por fim, o homem apaixonado consegue o que queria ou então toma uma porta na cara e segue a vida, como se nada tivesse acontecido.
Não tem como não nos identificarmos com os derrotados que não conseguem as menininhas e que tomam portadas no nariz (até porque eu ainda me lembro da vez em que você bateu a porta na minha cara, garota!), a gente dá aquele sorriso cheio de pena e perdoa todos os erros desses sujeitos, todas as humilhações e a perda de tempo de cada um dos que tentaram e falharam em suas consquistas amorosas.
Na lista de fracassados, podemos acrescentar agora um novo nome: David Kahn, engravatado responsável pelo Wolves. Após três viagens para a Espanha num período de dois meses tentando conquistar o coraçãozinho de Ricky Rubio, Kahn volta para casa como um dos nossos, um fracassado de coração partido e mãos abanando. Essas ninfetas são sempre as mais difíceis mesmo, deveriam ter avisado o pobre do Kahn, que foi pensando ser capaz de conquistar o ingênuo pirralho espanhol. Não deu certo.
Na época do draft, a multa da recisão de contrato do Rubio já era uma preocupação para todas as equipes. Saía por uma bagatela de 8 milhões de dólares, sendo que as equipes da NBA só podem entrar com 500 mil mangos para ajudar nesse valor. Basicamente, o que se pede é que Ricky Rubio tire 7 milhões e meio de dólares das próprias orelhas.
Foi por isso que David Kahn, todo galanteador, foi tentar provar para o menino que esse dinheiro surge fácil quando se está na NBA. O Rubio pensava em ser a primeira escolha do draft, o que aumentaria seu salário e lhe daria um marketing inacreditável. Draftado apenas na quinta escolha por um time horrível, desconhecido, enfiado em Minessota, sem visibilidade, com um salário menor, e pior de tudo, dividindo minutos com outro armador draftado logo depois dele, Jonny Flynn, ficou difícil para o Rubio acreditar que seria capaz de bancar a multa para interromper seu contrato.
Kahn é um homem apaixonado. Falou em carta aberta aos fãs, explicando que Rubio e Flynn jogariam juntos. Além disso, jurou de pé junto que o armador espanhol seria o titular absoluto da equipe desde o primeiro dia, o que é o equivalente a prometer para uma garota que ela será a titular do harém (irrecusável, vai!). Conseguiu negociar um abatimento na multa pela recisão do contrato, deixando em apenas 5 milhões. Garantiu um amistoso do Wolves contra a equipe que detém o contrato, o Joventut, com toda a renda adquirida indo para financiar a multa. Arrumou uma série de patrocinadores que bancariam o Rubio nos Estados Unidos, através de investimentos e empréstimos, permitindo ao jogador apenas um mínimo de gastos e deixando que ele mantivesse grande parte do seu salário bem gordinho de 15 milhões por 4 anos.
Cada um desses mimos, que foram como versões de Itu de bombons recheados, vieram com muito esforço e negociação. Foi um processo lento e gradual, e só em viagens para a Espanha o David Kahn poderia ter pagado umas trezentas multas contratuais. Quando o Ricky Rubio estava cercado de presentes, segurança e um amor incondicional, foi dormir e acordou no dia seguinte com certeza de que não iria pra NBA. Resolveu dar um pé na bunda do Kahn.
O Barcelona topou pagar a multa reduzida de 5 milhões pelo armador-ninfeta mais cobiçado do planeta, e o guri simplesmente resolveu ficar por lá quando tudo estava pronto para que ele fosse pra NBA. Alegou que sempre quis jogar na NBA, mas que essa mudança nesse momento complicaria demais a sua vida e blá, blá, blá. É a versão esportiva de “o problema não é você, sou eu, acabei de sair de um relacionamento e quero um tempo para mim”.
O motivo pode até ter sido financeiro, já que no Barcelona o Ricky Rubio vai poder enfiar seus milhões de euros nas orelhas e comprar seu primeiro carro, casa, piscina e cartucho do Pokémon, enquanto no Wolves receberia um dinheiro mais modesto. No entanto, Rubio seria free agent em 2014, com apenas 23 anos, e estaria apto a assinar um contrato biliardário. Seu primeiro contrato na NBA sempre terá o mesmo valor mais-ou-menos, não importa quanto ele espere, e correr agora para o Wolves apenas encurta sua espera por se tornar realmente endinheirado.
A única explicação que realmente faz sentido para o jovem Rubio ficar na Espanha é medo. Talvez ele ache que não está pronto para a NBA nesse momento, que não tem físico ou maturidade, e que sua imagem ficará arrasada se ele feder no Wolves. Provavelmente ele teme ter uma temporada mais-ou-menos num time que ninguém acompanha, não conseguir assinar um novo contrato bom o bastante e não cair nas graças da mídia. Tudo a maior burrice: o Wolves lhe garantiu a melhor escola que um jogador de basquete pode querer.
O time vai jogar um basquete de pura correria, o que mostraria os talentos do Rubio em seu explendor. Ele seria titular desde o começo, comandado por um técnico que tem ordem para deixar a pirralhada em quadra aprendendo, mesmo que isso custe a eles algumas derrotas a mais. O time tem pouca visibilidade e, portanto, Rubio teria que lidar com pouca pressão – seus acertos apareceriam no Top 10 da NBA.com, mas seus erros estariam meio camuflados. E tudo isso durante quatro anos, tempo o bastante para ele se tornar um jogador melhor e, aí sim, encontrar um time que lhe dê toda a visibilidade que ele quer (Knicks, alguém?).
Dá pra imaginar situação mais perfeita para um pirralho-sensação? Mas não, Rubio preferiu não mudar de ares, ficar num basquete mais fraco, não trabalhar seu físico, não ter minutos garantidos. Pior que isso: Rubio deixou Kahn de coração partido e o engravatado, com a elegância digna dos grandes fracassados, partiu para outra e ameaçou sua ex-paixão com o típico desdém dos rejeitados. Ou seja, Kahn avisou que Jonny Flynn será o titular absoluto e que, quando Rubio decidir ir para a NBA, Flynn já terá a vaga e estará muito adiantado em questão de aprendizado.
O armador espanhol ficará ao menos 2 anos no Barcelona, quando então a multa de recisão cai um pouco e fica mais pagável. Mas pode acabar ficando lá por 3 anos, se quiser, enquanto o Flynn vai certamente consagrar-se como um dos grandes armadores da NBA. Já chutou traseiros nas Ligas de Verão, de que o Rubio já não participou, e só tem a crescer no Wolves, que é a melhor escola de pirralhos atualmente da NBA: conjunto de incentivo, tempo de quadra, e pressão zero.
Mas Kahn não parou por aí em sua esnobada: no maior estilo “você não me quer, mas olha quem tá ligadão na minha!’, o Wolves acabou de assinar Ramon Sessions com um contrato de 16 milhões por 4 anos. Sessions saiu de “quem diabos é esse maluco” para tornar-se um dos armadores com mais potencial na NBA, capaz de reger qualquer time, correr como um maluco, e colocar a bola nas mãos de quem precisa. Desde que ele não tenha que arremessar, tudo sempre ficará bem e é uma delícia ver o garoto jogar. Pois bem, depois de ser disputado por Knicks, Heat e outras equipes, tem tudo para ir diretamente para o Wolves. O Bucks ainda pode cobrir a proposta para ficar com o armador, mas levando em conta o fato de que eles draftaram Brandon Jennings (mais um armador-ninfeta-sensação) e já têm no elenco Luke Ridnour e o surpreendentemente bom Roko Ukic, não vejo muito motivo para que eles o façam.
Ramon Sessions tem tudo para brilhar em Minessota. Quando lhe deram minutos e a bola nas mãos no Bucks, fez jogadas incríveis e colecionou alguns recordes de assistências. Com tempo de quadra e carta branca, Sessions e Flynn formarão uma dupla que atormentará a NBA. Se Kahn mantiver seu critério, os dois devem inclusive jogar juntos em quadra, ao mesmo tempo, durante boa parte das partidas. Será maravilhoso de ver e um motivo para, desde já, arrumar um modo de acompanhar alguns jogos do Wolves (alguém aí vu o Wolves jogar desde os tempos do Kevin Garnett?).
Quando o Ricky Rubio chegar na NBA, em dois ou três anos, encontrará um time jovem com dois excelentes armadores, padrão de jogo, time entrosado, e um Kahn puto da vida e ressentido que simplesmente continuou a vida, ao invés de chorar pelos cantos. É isso aí, Kahn, mostra pra essas ninfetas metidas à besta do que você é capaz. Esse namorinho do Rubio com o Barcelona pode sair caro demais para sua carreira. Talvez sua grande chance tenha sido jogada fora e não haja mais espaço quando ele quiser entrar na brincadeira. Torço pelo garoto, de verdade, mas vejo suas chances de dar certo na NBA seriamente comprometidas. O Kahn fez o que deu, e com a consciência limpa pode um dia cantar o sucesso da Kelly Key, “isso é para você aprender a nunca mais me esnobar, baba baby, baby baba“, ou algo assim. Filosofia pura, a Kelly Chave manja das coisas.