>Fracassos e sucessos

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Paul Pierce num momento Regina Duarte

Feriado é uma coisa complicada. O Denis deu dicas de como arranjar tempo para os playoffs e lidar com as namoradas nesse período tão importante, mas vida de blogueiro é mais difícil. Além de tempo para assistir aos jogos, é preciso de tempo para postar. Então acabamos nos dando uma folga involuntária, sob ameaças de paneladas na cabeça, mas já estamos de volta com a programação normal.

No entanto, parte do meu feriado foi comprometido porque estive perturbado com uma imagem em especial: Paul Pierce ajoelhado em frente ao banco de reservas do Celtics, eliminado do jogo com 6 faltas, toalha estendida na cabeça, olhar incrédulo em direção a um Joe Johnson que se aproximava da linha de 3 pontos nos minutos finais do jogo. Joe Johnson acertou então uma improvável cesta de 3 e Paul Pierce perdeu as forças, pendeu o pescoço, fechou os olhos e pareceu que ia chorar sobre o corpo do pai morto enquanto jurava vingança num filme brega de kung-fu. A cena foi ridícula, patética e humilhante. Kevin Garnett fingia que estava tudo sobre controle enquanto o Hawks assumia a liderança da partida ao final do Jogo 6, mas Paul Pierce se desmanchou como uma mocinha assustada, molhando as calças. A degradação de um homem que percebe que está fadado à derrota e se vê assustado com o Atlanta Hawks. Olha, conheci gente que tinha medo da Vovó Mafalda, da garota da caixa de palitos Gina, do boneco do Fofão, do Michael Jackson depois das cirurgias e até da “inflação desenfreada“. Mas medo do Atlanta Hawks, confesso, foi a primeira vez. E se todos nós, mamíferos bípedes com polegares opositores, ficamos chocados com o que o Hawks fez na série, acho que ninguém acreditou DE VERDADE que eles tivessem qualquer chance de vencer um jogo 7 do Celtics. Ninguém, a não ser o Paul Pierce ajoelhado do lado de fora da quadra, provavelmente tendo um flashback de seus tempos jogando ao lado do cabeça-de-Lego, Antoine Walker.

Essa série entre Celtics e Hawks provou algumas coisas interessantes. A primeira, que comentei recentemente, é que o Hawks encontrou uma identidade, um modo de jogar que lhes é adequado e que faz muito sentido para eles. Outra coisa que provou-se é que o técnico do Celtics, o Doc Rivers, é um belo dum picareta. Recebeu trocentos votos para técnico do ano, muita gente elogiou, mas me desculpem, eu só sou moderadamente cego. Ofensivamente, o Celtics é bastante amador, mal treinado, e vive (“apenas”) do talento absurdo de seus jogadores. Se um cara pode ser cotado para ser técnico do ano porque tem jogadores talentosos no elenco que tiram água de pedra, então me coloquem na NBA, rápido. Só não pode ser no Knicks, por favor.

Descendo a lenha no Doc Rivers, quero apontar o dedo para as falhas ofensivas do Celtics que foram tão brutalmente escancaradas pelo Hawks. Quando as águias de 12 anos de idade apertaram a marcação e pensaram “hum, e se a gente tentasse agora DEFENDER?”, o Celtics ficou bastante perdido na partida tomando contra-ataque atrás de contra-ataque. Se eu tivesse que escolher um time na prateleira para vencer o Celtics nesses playoffs, seria justamente o Spurs: defesa forte e o Tony Parker engolindo eles vivos a noite toda. Taí, um belo roteiro (para mim, ao menos) de filme de terror. Que pelo menos não é remake de um filme japonês.

Foi com vestígios de defesa e muita correria que o time que menos merecia estar nos playoffs fez o Paul Pierce sentar numa pocinha de xixi. A série que todo mundo ia perder para ficar com a namorada, fazer as compras, dormir as necessárias duas horas por dia ou até beber água, foi uma das únicas a ver um jogo 7. Estrago feito, maquete de Tóquio destruída, Pierce mijado, torcida de Boston em pânico, hora então de acabar com a brincadeira: É HORA DE MORFAR!

Quando o Garnett jogava com equipes que fediam e sempre perdia na primeira rodada dos playoffs, ele jogava até o último minuto escorrendo sangue pelos poros. Se negava a perder. Quando acabava o Jogo 7 e Garnett estava eliminado, ele pedia revanche. Batia na porta de cada um dos jogadores do time adversário para ver se eles tinham coragem de topar um Jogo 8 de uma velhor de 10 jogos. E quando isso não era aceito, ele comparecia para jogar a segunda rodada mesmo assim, com seguranças tendo que impedir que Garnett entrasse em quadra. Ele não foi feito para perder, ele não aceita a derrota, ele não sabe brincar. Um time com Garnett, Ray Allen e Paul Pierce, que podem jogar uma defesa monstruosamente agressiva quando estão com vontade, não iam ser eliminados na primeira rodada, convenhamos. Eles morfaram, o elenco titular virou um grupo de 5 sujeitos de cores berrantes e roupas de lycra, chamaram o robô gigante e o Hawks foi, em poucos minutos, transformado em purê de maçã.

Tudo aquilo que havia dado certo para o time de Atlanta deu terrivelmente errado no Jogo 7. Todos os arremessos livres se transformaram em arremessos duramente marcados. Toda a confiança que fez o Hawks dominar a partida anterior foi para o ralo no instante em que olharam para os olhos de Garnett e perceberam os restos de carne crua entre seus dentes. A defesa do Celtics (e um pouco de azar, convenhamos) desmoralizou o Hawks a um ponto tal que sequer o arremesso mais livre do mundo cairia. Com 5 minutos de jogo, a postura do Hawks já era “seria melhor ter ido ver o filme do Pele´”, a pirralhada lembrou que deveria estar jogando Pokémon ao invés de estar num Jogo 7, e desistir no meio de uma partida contra o Celtics é como pedir penico. Perder por 40 pontos foi pouco, o Celtics poderia ter passado todo o último período só arremessando de costas ou do meio da quadra.

A vitória, categórica, mostra que o Celtics ainda é aquele time que tem a melhor campanha da NBA na temporada regular, capaz de atuações demolidoras quando estão focados e interessados no jogo. Mas mesmo os 40 pontos de vantagem não servem para apagar todas as fragilidades que o Boston mostrou para o planeta todo, e que serão exploradas nas séries seguintes. Como o Celtics se sairá, por exemplo, contra a forte defesa do Pistons? Serão eles capazes de parar o Cavs correndo no contra-ataque agora, na semi-final do Leste, com um LeBron que teve até mais tempo para descansar as pernas?

Agora, com as semi-finais diante de nós, não adianta mais dar a desculpa de que o Celtics estava destraído, entediado, pensando no jantar ou na alta dos preços do feijão. Um bocejo a mais e o LeBron fará um triple-double e ganhará a partida. Se você não acredita, basta perguntar para o Pistons da temporada passada, pode usar o DeLorean para voltar no tempo e tirar a dúvida. Se o Boston não jogar cada um dos jogos como se a coisa fosse séria, veremos mais um jogo 7. E dessa vez o robô gigante pode não funcionar.

Depois de se dar ao luxo de dormir no feriado, é hora de todo mundo largar mão dessas coisinhas menores e não ousar perder um jogo sequer das semi-finais da NBA. Pra compensar a folguinha, o Bola Presa volta com uma cobertura mais completa do que nunca, então pode enfiar o dedo no “atualizar” o dia inteiro.

Em nota menor, o Houston Rockets foi eliminado dos playoffs. Meu psicólogo acha que ainda não devo falar sobre isso, mas já diminuiu a quantidade dos meus remédios. A todos que acompanharam os jogos do Rockets comigo no chat do Bola Presa, meus agradecimentos pela solidariedade. Foi bom enquanto durou.

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