>Freguesia que incomoda

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“E daí que meu nome é Zaza?”

É com uns dias de atraso, mas não dá pra não falar do jogaço entre Boston Celtics e Atlanta Hawks que a ESPN transmitiu na quarta-feira.
Como eu disse na nossa coluna na primeira edição da revista Lance Livre, são poucas as rivalidades de verdade na NBA, aquelas como Corinthians e Palmeiras, Flamengo e Fluminense, Grêmio e Inter, que duram décadas e não mudam só porque um time está em alta e o outro em baixa.
Falam muito de Lakers e Celtics mas dúvido que alguém lembre de um bom Lakers e Celtics entre 95 e 2000, por exemplo. Ninguém dava importância, eles não jogavam na rodada de Natal, os jogos não passavam na TV e então, pra mim, não é uma rivalidade verdadeira. No basquete americano só há rivalidades assim no basquete universitário, não no profissional.
Logo, a NBA vive de realidades momentâneas, que duram algumas temporadas. Nos últimos anos tivemos Lakers e Kings, Pistons e Pacers, depois Suns e Spurs, Lakers e Suns, Cavs e Wizards e por aí vai. Mas com muitas dessas rivalidades já frias hoje em dia, podemos destacar outras, em especial Lakers e Celtics, que além da rivalidade tem alto nível técnico. Mas a verdade é que nenhum jogo da final teve um clima dentro da quadra tão forte como qualquer Hawks e Celtics.
Sei que parece ridículo, e é, mas a verdade é que nenhum time parece incomodar mais o Celtics do que o Atlanta. Contra o Lakers e Cavs nos playoffs os jogos foram difíceis, com emoções à flor da pele e no sufoco, mas contra o Hawks o Celtics parecia estar se sentindo ofendido por estar tomando sufoco de uma equipe que sempre foi um lixo.
O Hawks é aquele moleque mais novo e folgado que ficava tentando te dar rolinho nas peladas. Você é bem melhor que ele, mas ele é baixinho, rápido e fica te dando dribles na frente das meninas e isso irrita mais do que enfrentar os moleques mais velhos, os Lakers e Cavs, que te dão mais trabalho mas você resepeita.
E é engraçado ver como essa rivalidade nasceu. Porque foi somente baseada em coisas completamente improváveis.
1- O Atlanta conseguiu se classificar para os playoffs mesmo com 37 vitórias na temporada passada
2- O Atlanta conseguiu jogar bem em casa e vencer 3 jogos!
3- O Boston conseguiu jogar mal em todos os jogos fora de casa.
4- O Garnett conseguiu ter uma rivalidade com o Zaza Pachulia
Para quem não lembra, o Pachulia encarou de frente o Garnett no jogo 4:

E o Garnett devolveu no jogo 7:

Somando tudo isso que não deveria acontecer, nasceu um clima de playoff que durou até os jogos da temporada regular. Até o momento foram dois jogos e os dois emocionantes. No primeiro, em Boston, o Celtics venceu com uma cesta do Paul Pierce no último segundo. E no jogo dessa quarta-feira, o Atlanta deveria ter levado o jogo para a prorrogação se o Joe Johnson não tivesse amarelado na linha do lance livre nos segundos finais.
O único problema dessa rivalidade é que ela se parece muito com algumas das rivalidades que eu citei acima, como Suns e Spurs: ela só tem um vencedor. O jogo é bom, as disputas são emocionantes mas será que o Atlanta consegue vencer uma série de 7 jogos contra o Boston sem ter mando de quadra? Existem argumentos para dizer que sim, dizendo que o Hawks já chegou perto disso, mas quantas vezes o Suns não chegou perto de bater o Spurs e não bateu? Quantas vezes o Kings quase venceu o Lakers mas não venceu? É mais uma rivalidade fadada aos bons jogos, à emoção pura, mas ao mesmo resultado.
O Atlanta é um bom time, já fiz um post no começo da temporada dizendo como eles melhoraram e como os playoffs do ano passado, nas palavras dos próprios jogadores, fizeram eles terem confiança de que podem vencer qualquer um. Mas mesmo assim o time tem algumas limitações.
No ataque eles têm o pecado de não ter um bom jogador de garrafão que saiba jogar de costas para a cesta. O Al Horford é um dos melhores reboteiros da NBA mas seu jogo ofensivo se limita a arremessos curtos e aos rebotes ofensivos que ele arranja. O Josh Smith, que deu a enterrada mais legal do ano no Kendrick Perkins, é um jogador de explosão e de velocidade, ele marca seus pontos em infiltrações, quando está em movimento, mais ou menos como o Shawn Marion, e não em jogadas de costas pra cesta.
Então quando o Atlanta se vê diante de uma marcação forte e no ataque de meia quadra, eles não sabem direito o que fazer. Aí dependem de um corta-luz para o Bibby arremessar, de uma isolação para o Joe Johnson (que não pode ser feita durante todo o jogo!) ou dos momentos de inspiração do vaga-lume Marvin Williams. Falta para o time alguém que infiltre mais, é importante para eles que o Joe Johnson não confie tanto só no seu arremesso e bata para dentro, porque é isso que cria a movimentação e os espaços para o Horford e o Josh Smith marcarem seus pontos.
Eles conseguem ser um time tão forte porque a defesa deles está um absurdo de boa. O Boston, que é especialista em arrumar marcação dupla para deixar alguém livre de três, não conseguiu um arremesso livre sequer durante todo o jogo. E aí quando o Hawks consegue o roubo, toco ou rebote, eles saem em transição, e uma transição com um armador no meio, Josh Smith correndo de um lado e Marvin Williams de outro, a coisa fica bem mais fácil.
Em compensação, no final do jogo o Boston, que estava penando para se manter na partida, teve o que o Hawks não teve: alguém no garrafão capaz de marcar pontos. Porque não dá pra sobreviver um jogo inteiro de arremessos de fora, é preciso ter jogadas de garrafão, que são as de maior porcentagem de aproveitamento, e foi o que o Garnett, acertando 5 dos 5 arremessos que tentou no último período, trouxe ao Boston.
Méritos para o Hawks, são um bom time, adoro eles e torci muito para que a sequência de vitórias do Boston acabasse na mão deles para aumentar ainda mais a rivalidade, mas pra mim parece bem óbvio que serão eternos fregueses do Celtics.
As câmeras da ESPN deixaram bem claro o Kevin Garnett gritando e xingando como um retardado depois de toda cesta que fez no último período do jogo de quarta. E há quem diga que nessa temporada o KG está exagerando nas suas demonstrações de emoção e competitividade.
Eu acho que ele tem exagerado sim, mas acho que ele tem exagerado nos últimos 10 anos, então não é nada fora do esperado. Acho que a diferença é que no Wolves, perdendo na primeira rodada dos playoffs, ninguém percebia e no Boston campeão todo mundo vê.
A ESPN também mostrou outro dia o jogo contra o Blazers, quando ele gritou com o Glen “Big Baby” Davis e fez o bebezão chorar e no mesmo jogo ele ficou de quatro marcando o Jerryd Bayless na defesa como se tivesse acabado de cheirar coca. Mas esse sempre foi o jeito dele. Todo jogo ele fica marcando o armador adversário, bota as duas mãos no chão e não pára de falar consigo mesmo.
Já li jogador dizendo que não se incomoda porque tudo aquilo que ele fala e grita é com ele mesmo, ele fica afirmando pra si mesmo que é o melhor jogador do mundo, que é o fodão, para se motivar mesmo. E que quando não fala pra ele, não direciona o que fala pra ninguém, apenas incentiva o seu time a jogar mais e com mais vontade.
Talvez a única vez que ele tenha exagerado tenha sido no jogo contra o Raptors, quando provocou muito descaradamente o Jose Calderon. Mas não sei se eu marcaria uma falta técnica porque o Calderon gostou, aceitou o jogo, deu uma assistência e foi falar na cara do KG também.
Os jogos ficam tão mais legais quando tem essa carga emocional que até dá vontade de chegar logo os playoffs! Só vamos deixar ter mais uns meses de temporada regular porque eu sei que o Knicks tem muitos fãs e eles querem ver o seu time jogando, nos playoffs eles não têm essa chance.

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