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Tentando salvar umas verdinhas, essa é a época do ano em que os times mandam um punhado de jogadores para o olho da rua. Equipes em busca das últimas peças para compor seus elencos para os playoffs costumam, então, dar uma olhada no que foi jogado fora, no que não deu para aproveitar, e ver se há algum resto ali que dê para usar de alguma forma. Em geral é um trabalho degradante de revirar o lixo, melecar as mãos, deparar-se com um ou outro Kwame Brown no meio da sujeira e ficar enojado, mas volta e meia tem alguma coisa que vale a pena. Vamos, então, dar uma olhada no lixão e ver o que alguns times optaram recentemente por levar para casa!
Sem Amar’e Stoudemire, que cedo ou tarde ainda vai ter que usar um olho de vidro, o Suns definitivamente sente falta de uma presença física no garrafão e é obrigado a colocar, ao lado de Shaq, jogadores mais mirrados como Grant Hill ou Matt Barnes. No meio de um monte de papel higiênico usado, então, o Suns encontrou um pouco de estrume descartado pelo Nets: trata-se de Stromile Swift.
Não dá pra acreditar que mais alguém tenha coragem de oferecer um contrato para ele, é assustador. Assim como tem gente que passa a vida inteira ainda acreditando no Kwame Brown, no Isiah Thomas e no Gustavo Nery, parece que nunca se esgota a esperança de que o Swift torne-se finalmente um bom jogador. É sempre aquele velho caso do apreço pelo potencial, e basta dar uma olhada no Stromile para perceber que todas as ferramentes físicas estão lá, de verdade. Toda temporada parecia que ele finalmente deslancharia, e as enterradas violentas e pontes-aéreas sensacionais pareciam apenas uma prévia de algo que se tornaria a norma, não a exceção. Foram anos e anos fedendo no Grizzlies, sempre com enterradas incríveis e partidas medíocres, mas uma hora ele iria jogar pra valer, afinal é muito novo, muito inexperiente. Até que o Grizzlies aparentemente se encheu e o contrato acabou.
Meu Houston Rockets, então, precisava desesperadamente de uma presença física para jogar ao lado de Yao Ming, e adivinha quem estava dando sopa? Confesso que entrei na empolgação, eu era jovem, ingênuo e ainda achava que a Sandy era virgem, então vibrei com a contratação do Stromile Swift na certeza de que ele tinha muito potencial e seria a peça que complementaria perfeitamente o jogo mais técnico e comedido do pivô chinês.
Bem, com o Swift na equipe o Houston começou a aparecer em vários Top 10 de jogadas semanais, com enterradas monstruosas seguidas sempre daquele sinal de “sou da paz” que ficou característico. Quem acompanha pelo YouTube, então, acha que está tudo ótimo, mas quem acompanha de perto nunca viu um jogador tão inútil em quadra. Ele é a versão jogador de basquete da Angela Bismarck cantando, e sempre com esse papo de que “está se aperfeiçoando”, de que “está aprendendo”. Coisa nenhuma, em matéria de técnica ele é o mesmo jogador desde seu primeiro minuto na NBA.
Meu Rockets se livrou rapidinho dele, junto do novato Rudy Gay, em troca do defensor e pau-pra-toda-obra Shane Battier, e embora eu não queira falar sobre essa troca (imagina só ter o Rudy Gay nesse time ao invés do T-Mac zumbi!) fiquei bem feliz na época por ter me livrado do Swift. Na verdade, ainda fico feliz hoje, talvez até tenha valido a pena. O engraçado é que a troca mandou o coitado justamente de volta para o Grizzlies, o que é engraçado porque supostamente eles deveriam saber a merda que estavam recebendo. Quando a palavra “potencial” está em jogo, parece que os times têm memória curta, mas é claro que não deu certo.
Talvez no Nets, então, com Jason Kidd, ele pudesse se tornar o novo Kenyon Martin, aquele cara que fede mas tem os dotes físicos para pegar ponte-aérea atrás de ponte-aérea e até parecer bom. Até o Mikki Moore fez a carreira dele assim, eu também poderia, mas o Stro não conseguiu. Afundou no banco e deixou até de ser estrela de YouTube (embora seu currículo por lá seja extenso, vale muito a pena conferir). Já faz mais de 8 anos que ele é “jovem e cheio de potencial”, acho que chega uma hora em que você olha para a cara do sujeito e percebe que ele tem rugas e uns cabelos brancos, fica meio ridículo. Ainda assim, o Suns deve achar que ainda vale uma tentativa.
Ironicamente, se eu tivesse que imaginar ele dando certo num lugar, seria no Suns. O que não quer dizer nada, claro, porque se eu tivesse que imaginando ele dando certo com algum jogador seria com o Kidd, e nós sabemos que não funcionou. Até poderia dizer que o “Stro Show” (apelido cheio de força nominal, aliás) vai ajudar de leve o Suns, enterrar aqui e ali e tapar uns buracos. Mas eu é que não cometo o mesmo erro duas vezes, vai ser um fracasso retumbante assim como o Kwame Brown foi (ou está sendo?) em sua nova chance com o Pistons. Quem fede, fede.
Outro jogador em quem eu botei fé no Rockets foi o Luther Head. Apesar da inconsistência, dá para ver nele o potencial para se tornar um pontuador respeitado e um bom atirador da linha de três pontos. Por alguns minutos, eu até conseguia imaginar meu Houston reconstruindo o elenco em cima dele e do Yao, o que hoje mataria qualquer um de dar risada. Baixo demais, péssimo defensor, incapaz de armar o jogo, não existe posição em que Luther Head se encaixe. Pior ainda é sua mecânica pouco ortodoxa de arremesso, em que ele se taca para frente na hora de arremessar mesmo quando está livre (uma versão inversa do Ben Wallace, que sempre se taca para trás mesmo quando não faz sentido) e parece lhe exigir muito fisicamente. Depois de um punhado de arremessos ele está exausto e pequenas variações na mecânica já causam erros grosseiros. Definitivamente, nem um pouco confiável para alguém que só faria carreira se marcasse uns 20 pontos por jogo. Considere ele uma versão do Ben Gordon mas com as pilhas terminando antes do quarto período. Bem inútil, não é mesmo? Por isso, o Rockets mandou o sujeito embora, economizou uma grana, e agora o Miami Heat acaba de assiná-lo. Os arremessos de três pontos são uma clara deficiência da equipe, que acaba dependendo demais do Daequan Cook, e o Luther Head pode ajudar um pouco. Com o Wade armando o jogo, o Head pode jogar na posição 1 e não comprometer a equipe na armação, o que parece uma boa idéia. No meio do lixo, até que o Heat saiu no lucro. O único problema é que o empresário do Luther Head recusou outras propostas porque procurava garantias de que seu cliente iria ter minutos consideráveis em quadra, o que sempre é uma dor de cabeça: se ele sentar nos playoffs (diabos, o Heat vai pros playoffs!), será que vai arrumar encrenca com a comissão técnica?
Melhor ainda se saiu o Cavs, que recuperou o Joe Smith, mandado embora pelo time-outrora-conhecido-como-Sonics. Há pouco tempo atrás, ainda no Bulls, por diversas vezes ele era o melhor jogador em quadra com seu arremesso de meia distância consistente e bastante técnica no garrafão. Quando foi trocado para Cleveland, trouxe poder ofensivo para o banco de reservas e ganhou seu espaço. Ele é praticamente a antítese do Ben Wallace ou do Anderson Varejão, por ser meio mole mas versátil na parte ofensiva. Sem Ben Wallace e desesperado por alguém de mais de 20 centímetros no garrafão capaz de levantar os braços, o Joe Smith caiu dos céus. Além do mais, já tendo passado um bom tempo com o time, não terá que aprender os esquemas táticos (até porque eles não existem mesmo) e já tem certa química com o resto do elenco, tanto dentro quanto fora das quadras. Parece uma adição pequena, mas o Cavs precisava da possibilidade de ter um reserva capaz de assumir a carga ofensiva do Ilgauskas quando ele vai pro banco, já que Varejão e o novato JJ Hickson acham que “arremesso” é coisa de baseball. O banco passa a ser mais versátil, completo, e o Ben Wallace nem faz tanta falta assim, pra ser bem sincero. Não há nada que ele acrescente à equipe que não esteja lá em outras formas, e por isso acho que o Joe Smith será muito mais importante – e eficiente.
Outro jogador que o Cavs tentou contratar foi o Drew Gooden. Ele também já passou um bom tempo no Cavs e se encaixaria muito bem naquilo de que o time precisa: rebotes e arremessos de meia distância. Não conte com o Gooden para trabalhar ofensivamente dentro do garrafão, mas para efetuar o papel do Ilgauskas, ou seja, corta-luz na cabeça do garrafão, uma ameaça constante nos arremessos se deixado livre e rebotes ofensivos, o ala seria perfeito. Aliás, ele é inclusive bom demais para estar aí no meio de tanto lixo, sem emprego, bebendo nos bares e dizendo pra mulher que estava procurando trabalho. Acontece que o Kings, como deu a entender nas últimas trocas, parece cada vez mais interessado em deixar a pirralhada, especialmente o surpreendente Jason Thompson e o pivô-que-chuta-de-três Spencer Hawes, suar as pitangas. Seria bastante razoável deixar o Gooden no time até o final da temporada e tentar assiná-lo por menos grana então, quando o contrato acabar, mas acho que o Kings pensou duas coisas: primeiro, que o Gooden iria querer dar o fora dali bem rapidinho; segundo, que o Gooden tem mais de 12 anos. É uma abordagem audaciosa mas respeitável: “já que a gente está fedendo, então vamos feder de verdade e ter só meninada por aqui”. Admiro o núcleo jovem do Kings, a limpeza que eles estão fazendo nas finanças é incrível, e agora um time que parecia fadado a ser mediano pela próxima década tem espaço para nascer de novo. É triste ver o Kings, que foi um dos times mais legais dos últimos tempos, lascado e nas últimas colocações? É claro que é, mas dá para ver alguma esperança. Assim, lá se foi o Gooden para a sarjeta.
Acontece que o Drew Gooden, por ser bom demais para o resto do estrume, está sendo abordado por muitas e muitas equipes. Além do Cavs, estão na briga o Mavs (que precisa de toda ajuda que puder arrumar para se fincar à oitava vaga para os playoffs) e o Spurs, que parece ser o favorito. Vários lugares, inclusive, dão como certa a ida de Gooden para San Antonio, e faz bastante sentido. O Spurs sempre faz estragos com uma dupla de garrafão composta por Duncan e mais algum bípede, basta haver algum pouco talento. Nessa temporada, com a contusão do Frabricio Oberto, o outro bípede ao lado de Duncan é o Matt Bonner, obviamente a maior mudança no Spurs desde que o Tim Duncan esboçou um sorriso uns 4 anos atrás. Em geral, o complemento no garrafão deles é sempre alguém para pegar rebotes, marcar duro e abusar no corta-luz, coisas em que Matt Bonner deixa muito a desejar. Ao invés disso, cria um perigo na linha de três pontos, alarga a defesa retirando marcadores do garrafão e converte seus arremessos quando livre. Parece ótimo, tem funcionado bem, mas é obviamente um desvio perigoso da tática que o Spurs emprega de modo tão eficaz na última década. Seria legal ter o Matt Bonner no banco para utilizar essa formação nos jogos em que for necessária, mas é preciso alguém capaz de dar umas cotoveladas e pegar uns rebotes embaixo da cesta. O Drew Gooden parece se encaixar muito bem dentro dessa necessidade e, quando fecho meus olhos, consigo vê-lo nitidamente acostumado com a parte tática da equipe e recebendo um anel de campeão no uniforme do Spurs. Também consigo ver a Mara Maravilha pelada puxando meu pé de noite, e não consigo saber o que me assusta mais; provavelmente o Gooden campeão. Malditos anos ímpares em que o Spurs sempre ganha tudo!
Faz sentido para ambas as partes e é bem possível que o Gooden, se ganhar um anel e tiver minutos consideráveis, continue sua carreira no Spurs pelas próximas temporadas. Pior do que ver o San Antonio ainda mais forte, no entanto, seria a situação ainda mais complicada para o nosso Tiago Splitter conseguir um espaço na NBA. É culpa do Kings, custava segurar o Gooden um pouco mais? Por que todo mundo demite jogadores-lixo mas deixa os melhores, de graça, para o Spurs e para o Celtics? É nessa hora em que aparecem os times grandes de verdade, em que todos os jogadores querem estar, e os times mequetrefes, dos quais todos os jogadores querem fugir. O Clippers, por exemplo, deve acorrentar seus jogadores nas camas para que não escapem durante a noite, enquanto o Spurs sempre consegue melhorar o elenco enquanto boceja, sem que nenhuma gota de suor tenha que cair para isso. Mundo injusto.