>Hora de aposentar

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Phil Jackson chama um táxi para a terra da aposentadoria,
onde o Don Nelson mora mas ainda não sabe

Enquanto o Denis comemora a contratação do Lamar Odom pelo Lakers dançando pelado pelas ruas (ele volta depois para postar a respeito), eu lido com minha segunda amigdalite em um mês. E não tem nada que combine tão bem com amigdalite quanto a situação no Warriors.

A notícia mais recente por aqueles lados é de que Marco Belinelli foi mandado para o Raptors em troca de Devean George e um monte de verdinhas. O italiano Belinelli foi o melhor jogador das Summer Leagues por duas temporadas consecutivas, foi uma bela escolha de primeiro round para o Warriors, mas praticamente não entrou em quadra. A troca por George, completamente ridícula, nos leva a dar uma olhada no que o Warriors fez com suas escolhas de primeira rodada do draft nos últimos anos. Achei uma lista na internet que merece ser reproduzida com comentários. Então, se você está de pé, sente-se (até porque, veja bem, que tipo de débil mental usa o computador de pé?). Faça a gentileza também de tirar as crianças do recinto. O negócio vai ficar muito, muito feio.

2001: O Warriors draftou Jason Richardson com a quinta escolha do draft, para depois trocá-lo por Brendan Wright (que praticamente nunca entrou em quadra) e um vale-trocas de 10 milhões que o time nunca usou. Troy Murphy também foi draftado, na décima quarta escolha, para depois ser trocado para o Pacers. O Gilbert Arenas foi draftado na segunda rodada, com a trigésima primeira escolha, sacada de gênio. Mas quando seu contrato terminou, o Arenas foi abordado por vários times e resolveu literalmente decidir na moeda para qual iria: Warriors, Clippers ou Wizards. Todos nós sabemos que ele acabou indo parar em Washington e isso deixa bem claro que Clippers e Warriors são definitivamente times amaldiçoados.

2002: No draft, o Warriors escolheu com a terceira escolha Mike Dunleavy, que também foi trocado para o Pacers e só aí começou a render de verdade (na perto de “o próximo Larry Bird” como se esperava, mas quebra um galho)

2003: O Warriors escolheu Mickael Pietrus na décima primeira escolha, e ele sempre se disse insatisfeito na equipe, reclamando da falta de defesa, vontade de ganhar e seriedade técnica. Deu o fora de lá assim que seu contrato terminou, indo para o Magic.

2004: Também com a décima primeira escolha, mas no ano seguinte, o escolhido foi Andris Biedrins, que pelo menos está no time até hoje, embora volta e meia seja colocado aleatoriamente no banco de reservas e esteja em tudo quanto é boato de troca, incluindo aquela para o Suns que supostamente incluiria Amaré Stoudemire.

2005: O Warriors escolheu com a nona escolha o Ike Diogu, trocado para o Pacers junto com Troy Murphy e Mike Dunleavy, e que agora acabou de assinar com o Hornets. Mas pior do que trocá-lo é gastar uma nona escolha nele, credo.

2006: Por falar em gastar escolhas, o Warriors escolhe Patrick O’Bryant, que alega no dia do draft não ser bom o bastante para uma nona escolha. Como era de se esperar, ele nunca foi usado, fedeu bastante, e após seu segundo ano foi liberado da equipe.

2007: Draft do Marco Belinelli, na décima oitava escolha, que brilha nas Summer Leagues, não ganha nunca minutos em quadra e acaba de ser trocado para o Raptors. Pelo Devean George, aliás, o que é quase tão ofensivo quanto xingar a mãe. Foi nesse draft que o Warriors trocou o Jason Richardson pela oitava escolha, o Brandan Wright, que está acorrentado ao banco de reservas do time e não consegue sair nem pra usar o banheiro.

Escolha de primeira rodada em 2010, 2o11, 2012 ou 2013: Foi mandada para o Nets em troca do Marcus Williams, que era uma grande promessa mas nunca havia tido minutos atrás de Jason Kidd e, depois, atrás de Devin Harris. Finalmente o Nets deixou o garoto tentar a vida em outro lugar, mas o Marcus Williams sequer conseguiu entrar em quadra pelo Warriors, porque o técnico Don Nelson não deixou. Com isso o Marcus Williams foi liberado ao fim da temporada passada, acabou saindo um dos melhores jogadores das Summer Leagues desse ano, e acaba de assinar com o Grizzlies.

As escolhas de draft do Warriors não são tão ruins, eles acertaram um bocado apesar de cometerem uns erros desastrosos (Patrick O’Bryant, o pus nas minhas amígdalas te mandou lembranças). O que torna esse time tão ridículo, no entanto, é o fato de que os jogadores que vão parar lá não são utilizados, vão mofar no banco de reservas, são trocados ou até mesmo mandados embora. De que adianta draftar Belinelli, Wright e até mesmo o Anthony Randolph, tão elogiado e cheio de promessa, se nenhum deles entra em quadra? Pra que formar um núcleo com Jason Richardson, Murphy, Dunleavy, Arenas, se o time não consegue manter seus jogadores? Pra que gastar dinheiro de contratações com jogadores como Corey Maggette, de que o time não precisava e que claramente é cada vez mais deixado de lado na equipe? O caso do Marcus Williams, no entanto, é o que me lembra mais o incômodo da minha amigdalite. Ao chegar ao Warriors, trocado por uma escolha de primeira rodada, Marcus Williams foi acusado pelo técnico Don Nelson de estar fora de forma, tiveram uma discussão, e então o jogador já estava imediatamente fora dos planos da equipe. Preferiram se livrar do garoto, sem receber bulhufas em troca. O Clippers parece um circo mas lá parece haver um critério: conseguir jogadores bons, aleatórios, e colocá-los ao mesmo tempo em quadra. No Warriors, não há plano nem critério. Sabemos que o técnico Don Nelson gosta de jogar na correria, defendendo pouco, arremessando de fora e explorando os rebotes ofensivos, mas não há uma tentativa de draftar ou trocar por jogadores que se encaixem no padrão. Eles trocam primeiro para descobrir que não usarão o jogador logo depois, porque não se encaixa, porque não faz sentido dentro do conjunto. É assim que o Warriors é um time em reconstrução há quinhentos anos, quando jogava-se basquete com ovo de avestruz, e só chegou aos playoffs com aquele time aleatório que derrotou o Mavs, desmanchou-se e não repetiu a dose.

Sou obrigado a questionar a sanidade do Don Nelson, apesar de ter gostado tanto dele nos tempos de Mavs. Acredito em sua filosofia de jogo, no que ele pode fazer taticamente com uma equipe, mas já está bem óbvio que ele não tem mais idade para ficar lidando com os jogadores. Está o tempo inteiro brigando com alguém, fazendo experimentos bizarros, mandando titulares para o banco e nenhum jogador faz a menor ideia de quantos minutos terá em quadra. Suas trocas não fazem sentido e as contratações parecem tiradas na moeda, tipo as decisões do Arenas. Don Nelson não parece mais ter idade para a brincadeira e se alguém quer levar o Warriors a sério apesar do nome meio RPG, vai ter que se livrar do técnico gagá. Às vezes, por mais geniais que sejam, os técnicos podem atingir momentos em que mais complicam do que ajudam suas equipes.

Sei que alguém vai colocar agulhas de vudu na minha garganta e eu não vou sarar nunca da amigdalite, mas estou começando a achar que é o caso do Phil Jackson. O esquema dos triângulos é genial, assim como sua dedicação ao estudo do jogo, seu entendimento do que os times adversários estão fazendo em quadra, sua capacidade de alterar partidas e a motivação e independência que fornece aos jogadores do Lakers. No documentário “Kobe doin’ work”, do qual falaremos mais em breve aqui no Bola Presa, podemos ver um Phil Jackson que mal aparece nos tempos técnicos enquanto os jogadores meio que decidem as coisas sozinhos. Kobe é um nerd absoluto e vai se virando, conversando com os companheiros e compreendendo o jogo por si só. O que importa, mesmo, é o respeito que o Kobe tem pelo Phil Jackson e a compreensão do jogo que alcançou através da ajuda do técnico, bem menos do que a presença real do Phil em quadra. Mas o problema é que, com a idade, o técnico zen na verdade não tem muita paciência pra ficar lidando com a pirralhada. Ele quer que os jogadores aprendam sozinhos, com seus erros, mas já faz um bom par de anos que Phil Jackson não tem medo de queimar seus jogadores afundando-os no banco de reservas quando as cagadas começam a aparecer. Os novatos não tem vez, são humilhados, cuspidos e perdem suas chances em quadra. Para quem se lembra, Smush Parker tomava uns esporros do Phil que dava vontade de chorar por compaixão, e por fim acabou na lista negra e foi tacado no lixo da equipe apesar de ter feito um trabalho sólido num time que melhorava cada vez mais no Oeste. Sobre o Kwame Brown, nem se fala. Pra mim, Phil Jackson é o responsável por ter acabado com sua carreira. Com a pressão de ter que render num Wizards que queria ganhar imediatamente graças à ajuda do Michael Jordan nas quadras, pudemos perceber que o Kwame não consegue jogar quando é exigido e pressionado em níveis elevados. Ele precisa de papéis menores, funções mais restritas e menos cobrança para poder render um pouco. No Lakers, teve uma chance de ficar em segundo plano, atrás de Kobe, e mesclar-se num elenco que queria destacar-se pelo conjunto. Kwame só tinha que mostrar algum talento defensivo, comer pelas beiradas. Mas Phil Jackson não aturava a falta de compreensão do Kwame com o sistema dos triângulos, humilhava o pobre jogador, castigava-o com o banco de reserva por vezes em partidas inteiras, e a confiança do coitado que já era uma merda foi parar no esgoto. Passou a ser vaiado pela torcida e, nessas ocasiões, fazia umas cagadas dignas de risada. Se fosse apoiado, se a torcida vibrasse, se o Phil Jackson tivesse a paciência de outrora para lidar e motivar jogadores, Kwame Brown seria uma peça sólida no Lakers provavelmente até hoje.

Algo similar está acontecendo com o Bynum. Apesar de ter se saído muito bem antes de sua contusão em 2008, na temporada passada o Phil Jackson não teve qualquer paciência com o garoto. É preciso lembrar que ele tem um contrato monstruoso para ser um dos pilares do Lakers pela próxima década, mas é jovem, inseguro e ainda está aprendendo o jogo. Chegou a dominar algumas partidas mas ainda é inconstante. Definitivamente Phil não está ajudando em nada quando espinafra com o garoto e pune suas cagadas deixando-o em quadra apenas nos 5 minutos finais de uma partida de playoff. O pivô poderia estar sendo uma peça fundamental e contribuindo profundamente para a equipe, mas sem paciência, Phil prefere deixar o menino no banco e não ter que lidar com pirralhisse. Eu entendo, deve ser mesmo um saco treinar esses milionários que ainda não têm pêlos no saco, mas o Lakers precisa pensar em seu futuro – principalmente com relação a um jogador com quase 60 milhões em contrato pelos próximos 4 anos. Se ele ficar para sempre relegado ao banco de reservas, ou demonstrar os mesmos problemas de confiança do Kwame Brown (e do Greg Oden, pelo jeito, que agora está recebendo acompanhamento ferrenho de psicólogos especializados), o Lakers terá um problema gigantesco em mãos.

O Denis me avisou que o assistente técnico do Lakers, Kurt Rambis, recusou várias propostas para ser técnico e continuou no Lakers, apenas esperando a chance de assumir o cargo do Phil Jackson. Será uma boa, sangue novo para lidar com os jogadores mais jovens e alguém que domine o esquema tático do Phil o suficiente para o nerd do Kobe respeitar e não olhar completamente de cima. Titio Phil merece um descanso, mas sua saída, nesse ponto, será mesmo melhor para o Lakers. O mesmo acontece com o Don Nelson: espero que alguém com bom senso arrume um técnico novo para o Warriors e aconselhe o Don a simplesmente comprar um gato. Que, provavelmente, vai ser alimentado só às vezes, sem muito critério.

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