>Huertas e o Mundial imprevisível

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Marcelinho foi Trending Topic no Twitter e nos nossos comentários

O jogo de segunda-feira entre Brasil e EUA está dando o que falar. Até no Jornal Nacional o basquete foi assunto, daqui a pouco até o CQC e o Pânico vão atrás dos jogadores para colocá-los em situação desconfortável em nome do nosso entretenimento. Como fã do basquete fico feliz de ver um monte de gente aproveitando o embalo desse bom momento da seleção para começar a acompanhar o esporte como um todo. Torcer para o Brasil é o primeiro passo para muitos se apaixonarem pelo esporte e assim acompanhar NBB, NBA e a Euroliga.
Mas enquanto a boa atuação e a derrota apertada foram os motivos dos comentários na maioria dos meios, por aqui a discussão que rendeu mais frutos foi a sobre o Marcelinho Huertas poder ou não jogar na NBA. Já dei meu pitaco, o Danilo já deu o dele, mas o assunto rendeu tanto, mas tanto, que parece que ainda há coisas a se falar. E eu não resisto à chance de escrever mais 400 linhas sobre qualquer assunto.
A primeira e mais importante é que jogar na NBA não é prêmio. Sim, é a liga mais importante e talentosa do mundo (pra mim a mais divertida também, mas isso é opinião pessoal), mas não estar lá não é demérito nenhum. Caras como o Juan Carlos Navarro, Fran Vásquez e toda a seleção da Grécia são exemplos claros de que dá pra ser bom sem jogar lá. Por isso, dizer que o Huertas não daria certo na NBA não é dizer que ele é ruim ou pior do que armadores que estão lá. Ou alguém acha que o Theo Papaloukas é pior que o Jordan Farmar?
É nessa hora que devemos lembrar de Sarunas Jasikevicius e Arvydas Macijauskas. Os dois foram a dupla de armação da seleção lituana por muitos anos, eram a base de um time fantástico que bateu os EUA em Atenas 2004, fizeram cada um uma bela história no basquete europeu (Jasikevicius já foi MVP do Final Four e Macijauskas da Euroliga, quando acertou assustadores 80% de seus arremessos) e eram jogadores consagrados quando foram tentar a sorte na NBA.
O Macijauskas durou apenas um ano. Foi para um time bem mais ou menos do Hornets, foi pouco aproveitado, jogou mal quando entrou e depois de um ano desistiu dos EUA. Disse que “os times de lá não são times” e que seu técnico e times eram horríveis. Já Jasikevicius durou mais tempo, 3 temporadas. Ele estava em um time bom do Pacers que parecia combinar com seu estilo, todos apostavam nele, mas na hora H deu tudo errado. Começou tendo espaço mas não aproveitava os arremessos, não organizava o time e acabou tendo média de apenas 7 pontos em 20 minutos por jogo. Um completo coadjuvante. Depois acabou sendo trocado para o Warriors, onde nunca entrava em quadra e então voltou para a Europa.
O que eu quero dizer é que Huertas, claramente menos jogador do que Jasikevicius, é um baita armador. Tem talento, visão de jogo, bom passe e tudo mais. Mas não acho que seu jogo se encaixaria na NBA a ponto de seu sucesso ser uma certeza como tanta gente quer acreditar depois de um jogo bom contra os EUA (que veio depois de um jogo ridículo contra a Tunísia). Para dar certo lá ele precisaria de muita sorte: ir para o time certo, na situação certa, com o técnico certo e mesmo assim é difícil acreditar que ele seria titular numa liga em que Kirk Hinrich, Goran Dragic, JJ Barea e Steve Blake são reservas.
Por exemplo, se ele vai para o Spurs usar o seu entrosamento com Tiago Splitter por alguns minutos, pode dar certo. O Spurs é um time lento, que gosta de jogadores com visão de jogo e tem jogadores para aproveitar os passes do Huertas. Mas mesmo assim ele não roubaria a vaga de Tony Parker ou do George Hill, no máximo jogaria ao mesmo tempo que o segundo. Agora imagina se ele vai para o Nuggets. Não é melhor que Billups e por que diabos o George Karl iria perder a velocidade e agressividade que o Ty Lawson impõe ao time reserva?
Na NBA o Huertas teria um papel muito específico. Pegar um time que queira um armador que acalme o jogo e tome conta da bola enquanto o seu titular descansa. Nos comentários do último post chegaram a dizer que o Huertas tem vaga na NBA porque caras como Jannero Pargo e Anthony Carter tem. Bom, o Pargo joga em times que querem um armador agressivo e arremessador, para entrar e desafogar o ataque. O Anthony Carter tem zilhões de anos de experiência e dizem que é um ótimo professor para outros armadores, além de raramente cometer erros bobos no ataque e na defesa. No geral os dois podem ser piores que Huertas, mas fazem coisas que o brazuca não faz, simples assim.
E talvez a discussão mais importante não seja se o Huertas pode jogar na NBA, mas se ele deveria e se ele quer. Não é nenhuma vergonha, longe disso, fazer carreira só na Europa e lá ele pode ter destaque, ser titular, comandar seu time e impor seu jogo. Se ele, pessoalmente, quer encarar o desafio de ir para a liga americana, aí é com ele, que deve saber dos riscos de ficar mofando no banco enquanto se adapta a um estilo de jogo que é obviamente diferente daquele em que está acostumado. E sabemos que não são todos os times que tem paciência para esperar jogadores pegarem o jeito da coisa, se ele fizer essa transição teria que ser muito bem pensada.
Outro ponto que tocaram ao falar do Huertas foi a sua defesa. Algumas pessoas questionaram nossa opinião de que ele é um mal marcador argumentando que o Derrick Rose fez uma partida ruim. Foi o Leandrinho que cuidou do Rose durante a maior parte do jogo, então méritos para o Barbosa, que fez a melhor partida defensiva que eu já vi dele. O Huertas cuidou do Billups e sofreu com o físico do jogador do Nuggets, até se complicando com o excesso de faltas. Não conseguir marcar o Billups não é sinônimo de ser um mal defensor, mas já vi o Huertas sofrer várias vezes por não ter físico para segurar uns armadores fortes e não vejo a defesa como um ponto forte seu. É melhor que o Nash, porém, se é que isso quer dizer alguma coisa.
De qualquer forma ele pareceu fazer uma boa defesa ontem, como todo o resto do time, porque estavam entrosados. E vale a pena dar muita atenção a isso. Mesmo sem seu melhor defensor individual, o Varejão, o Brasil jogou demais na defesa. Fiquei muito impressionado ao ver que o Brasil cometeu 20 turnovers e mesmo assim não tomou uma renca de pontos de contra-ataque. Nunca iria imaginar ver o Derrick Rose roubar 4 bolas, o Iguodala 5, e nenhum conseguir transformar isso em pontos fáceis, o Iggy chegou ao ponto de acabar o jogo zerado depois de só tentar um arremesso.
O assunto do Huertas na NBA é bastante secundário quando estamos no meio de um campeonato mundial, mas me animei a falar sobre isso ao ver o interesse do pessoal e ao lembrar dos casos do Jasikevicius e do Macijauskas. Agora só toco nisso de novo no dia em que o próprio Huertas disser que quer ir para a NBA. Então bora falar dos jogos ao invés de brincar de simulação de brasileiros nos EUA?
Tivemos nessa terça-feira mais uma derrota da Espanha. Durante quase três quartos inteiros eles mostraram que são um timaço, mas logo depois amarelaram e fizeram as ações de Pau Gasol subirem uns 300%. O apagão espanhol fez todo mundo pensar que no fim dos jogos o time não teve um líder para acalmar o resto do elenco, chamar o jogo e segurar a barra. Gasol não estava lá para provar que poderia resolver, nunca vamos saber, o que sabemos é que esse time espanhol é ao mesmo tempo fantástico e frágil. E depois de duas derrotas em três jogos fica difícil saber qual lado será o predominante no resto do torneio.
Se você lembrar do jogo entre EUA e Brasil, de novo, deu pra perceber que o time dos EUA é espetacular e frágil como o espanhol, podendo destruir Croácia e Eslovênia sem dó mas virando um time mortal (no sentido de “humano”) quando não encaixa seus contra-ataques. E se formos comparar a seleção que enfrentou o Irã com a que quase bateu os EUA, vemos que o Brasil também é um time que pode ser fantástico em um jogo e um timinho mediano qualquer em outro. Mesmos comentários para a França que já venceu a Espanha e jogou mal, quase perdendo do Canadá na última rodada.
A Lituânia mostrou hoje na virada histórica contra a Espanha que pode ser um time passivo que depende muito do Linas Kleiza ou um time de defesa forte e agressiva que encara qualquer um de igual pra igual. E, para terminar, a Argentina cada vez mais parece uma Alemanha melhorada da era Nowitzki que tem um monte de carregador de piano competente e o ataque depende de um só jogador. Se Scola estiver inspirado é uma maravilha, se não estiver eu tenho medo de pensar o que pode acontecer com eles. Até porque o humor da minha namorada no auge da TPM é mais estável do que o jogo do Carlos Delfino.
Ou seja, sabe-se lá que diacho vai acontecer no resto desse Mundial! Mas é a indecisão e a irregularidade que estão deixando o campeonato mais interessante do que a gente imaginava. O único pecado do torneio é ter jogos bons ao mesmo tempo. Ter que escolher entre Lituânia x Espanha e Grécia x Turquia ao mesmo tempo depois de ter joguinhos fuleiros nos outros horários foi bem patético.

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