>Importância em Detroit

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Iverson e Kwame, tão necessários quanto
pintor de rodapé (ou a Adriane Galisteu)

Prestes a entrar em um novo ano, talvez fosse a hora de recapitular quantas vezes eu disse que engoliria meu pé em alguma aposta ou palpite que fiz. Esse balanço talvez servisse para mostrar que eu sou uma centopéia, já que costumo errar uma ou outra previsão por aí, e engolir um punhado de pés não é exatamente o que eu pretendia para a ceia de Ano Novo. Mas alguns dos palpites ainda estão no ar, já que não consigo resolver se eu estava certo ou não. O caso que anda atormentando minha mente é o de Allen Iverson no Pistons. Na época, disse que daria certo, que era uma injeção de ânimo na equipe e que ele com certeza seria o armador principal da equipe. Bem, mais de uma vez o armador principal foi Rodney Stuckey e o time parece funcionar melhor com ele em quadra, apesar da baixa estatura da equipe nessas condições (Prince vira o ala de força e o Rasheed vira o pivô). Mas Iverson ainda assim tem sido tão essencial para as vitórias do Pistons quanto responsável pelas derrotas. Por um tempo, o Denis e eu alternávamos atuações do time de Detroit: eu só assistia quando a equipe ganhava, ele só assistia quando a equipe perdia. Consequentemente, eu achava que estava dando tudo certo e ele achava que o time tinha desmoronado. Agora, com mais tempo acompanhando a equipe e um toque considerável do acaso, já posso dizer que nenhum de nós estava certo – o Pistons é, ao mesmo tempo, genial e uma porcaria, e consegue ganhar das melhores equipes com a mesma facilidade com que perde para os piores times.

Na noite de ontem, o Detroit venceu sem muitos problemas o Orlando Magic, que está lá no topo do Leste. Tá bom que é difícil levar o Magic a sério, porque eles sempre acabam perdendo na hora que mais importa, mas isso fica pra outro post. O que interessa é que ontem o Pistons teve um jogo bastante coletivo, em que ninguém segurou demais a bola, todos participaram, e ao mesmo tempo ninguém acertava porcaria nenhuma e muitas vezes a movimentação ofensiva parece feita no improviso. Às vezes dá certo, contra os grandes, mas dias atrás o time precisou de uma cesta do Iverson no estouro do cronômetro para derrotar o time-outrora-conhecido-como-Sonics. No fundo, o Iverson está aí para isso, acertar bolas nos segundos finais, assumir a responsabilidade quando a coisa aperta, pontuar mesmo quando o resto do time fede. Mas a palavra que passa pela minha mente enquanto eu vejo o Pistons jogar é “desperdício”. Ontem, contra o Magic, Iverson teve um bom jogo. Mas inúmeras vezes ele batia para dentro do garrafão, abria algum espaço e então tocava para o lado, sem objetividade. Trata-se de uma estrela com um talento imenso a quem pediu-se para passar para o lado e envolver todos os companheiros. Eu gosto do conceito, mas é um conceito bem alienígena para o Iverson e às vezes faz parecer que ele está fazendo tudo no improviso mesmo, interrompendo seus impulsos na marra para obedecer o esquema tático. O resultado é que ele acaba sendo completamente desimportante e portanto desnecessário. Quando Iverson se contundiu e acabou saindo logo nos primeiros minutos da partida contra o Bulls, o Rodney Stuckey assumiu e meteu 40 pontos. Ele é tão agressivo quanto o Iverson e tão obrigado a passar pro lado quanto ele. Acabam sendo tão contidos que o Iverson não faria muita falta por lá se o Stuckey pudesse ficar em seu lugar.

Os dois têm funções que não são capazes de fazer. Ou melhor, que são capazes de fazer sim, mas que para isso deixam de lado todo seu talento e habilidades únicas. Você pode pedir para o Garnett armar o jogo, acredito piamente que ele seria capaz de fazer isso sem maiores problemas, mas as melhores coisas que ele pode fazer em quadra são mais perto do garrafão. Iverson e Stuckey são obrigados a envolver a equipe burocraticamente e todo o potencial ofensivo acaba ficando de lado. A princípio, parecia que o Pistons estava interessado em correr mais e deixar pra lá esse papo de armar jogadas, mas não durou tanto assim. Pra mim, não faz sentido. Se eles queriam alguém para armar o jogo como o Billups, então não era melhor ficar com o Billups e pronto? Agora, sem armador puro nenhum, Stuckey e Iverson comprometem o tamanho da equipe, o rendimento do Richard Hamilton e alguém precisa necessariamente vir do banco, a não ser que Prince jogue no garrafão – onde não vem rendendo necas.

O Iverson está se acostumando com o esquema tático, ontem confessou não estar acostumado a ter um bom jogo e ainda assim sair de quadra com apenas 16 pontos. Ele não é um kamikaze como alguns dizem. Mas não sei se essa adequação fará de Iverson uma peça valiosa para o Pistons. Pra mim, essa história me lembra o Devin Harris acorrentado em seu papel burocrático no Mavs e depois se tornando uma estrela no Nets, quando lhe deram liberdade. Assim como o Kidd apanhou pra produzir alguma coisa sendo que o time não adequou o estilo de jogo a ele. Pra que serva ter a Alinne Moraes se você já se decidiu a sair com o Fábio Júnior?

Mersmo assim, é interessante ver como o Pistons confia ao Iverson as últimas posses de bola, mesmo que às vezes ele próprio decida passar para algum companheiro ao invés de decidir a jogada por si só. Contra o Thunder, o Iverson tinha fedido boa parte do jogo e ainda assim recebeu carta branca na última jogada. Talvez seja só isso que esperam dele, seja apenas por isso que a troca foi feito afinal de contas. A inconstância da equipe até agora é até natural, se levarmos em conta que eles não estavam sendo um primor de constância antes mesmo da troca. Somemos a isso o fato de que o elenco está se acostumando com os novos armadores e que o Iverson ainda faça tudo burocraticamente na porra-louquisse, e talvez seja apenas algo passageiro. Nos playoffs, se o time estiver mais constante, ter Iverson no elenco pode ser crucial para decidir um par de jogos decisivos contra o Cavs ou o Celtics (o Magic nem importa, convenhamos). Então não dá pra saber se sua aquisição deu certo ou não, afinal, porque depende muito do que se espera. Sua chegada arrancou do Pistons a organização ofensiva (e defensiva, em algum grau), a armação consciente, o controle do ritmo de jogo. Mas não tinha como esperar que o Iverson trouxesse isso à equipe de modo algum, suas armas são outras e seus pontos fortes completamente diferentes – ainda que estejam sendo completamente ignorados até agora (seu ponto forte, por fim, pode ser justamente o término de seu contrato e espaço na folha salarial, que permitirá contratar outra estrela que será mal utilizada nesse esquema tático). Ainda assim, eles podem vencer o Magic a qualquer dia da semana, e isso deve significar alguma coisa.

Por falar em significar algo, todo mundo se lembra do incidente em que o Reggie Evans agarrou as bolas do Chris Kaman, que não ficou nem um pouco contente com a brincadeira? Muita gente tentou entender o significado daquilo, se foi uma brincadeira, um desejo irresistível, uma tática meio Bruce Bowen, ou apenas seu instinto de agarrar qualquer bola em seu caminho em busca de um rebote. Mas agora temos uma outra pista sobre o significado do incidente: Reggie Evans dessa vez estapeou o traseiro do Kyle Korver.

Não sei o que é mais engraçado nessa cena, se é o Evans colocando a mão bem pra trás antes do tapa como se o Korver fosse uma potranca de baile funk, se é o juiz apitar uma falta técnica num troço completamente inofensivo, ou se é o Korver não ter reagido de modo algum – parece que ele sequer sentiu a pancada. Convenhamos, um tapinha não dói, mas a pancada do Reggie Evans deveria ter sido no mínimo notada pelo magrelo do Korver.

Pessoal, feliz Ano Novo pra todo mundo, e assim que sua tia tomar um tapa no bumbum daquele seu tio bêbado, pense imediatamente no Reggie Evans. Vai ser uma visão maravilhosa para grudar na sua cabeça até o ano que vem. Divirtam-se!

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