Jimmy Butler quer ir embora

Jornalistas divulgaram na última semana que Jimmy Butler estaria insatisfeito com sua situação no Minnesota Timberwolves, que não se dava bem com o resto do elenco e que poderia exigir uma reformulação ou pedir para sair. Tudo isso seria resolvido numa reunião com o técnico e General Manager Tom Thibodeau na última terça-feira. O jogador viu a notícia e respondeu com uma ressalva no Twitter: “Não acreditem em tudo que leem na internet, a reunião será na quarta”.

Com esse seu jeito cínico tradicional, Butler confirmou aquilo que era só rumor há alguns meses: o clima estava mesmo ruim. E quando a reunião realmente aconteceu, na quarta-feira, descobrimos que o ruim era, na verdade, PÉSSIMO. O ala conversou com o seu técnico e gerente para avisar que queria ser negociado imediatamente e que nem pretendia aparecer para o período de treinamentos que começa nesta semana. Um novo encontro com Thibodeau nesta segunda só serviu para Butler confirmar que nem aparece mais por lá.

Os dias seguintes à reunião contaram com uma sucessão de notícias que foram confirmando o clima de merda: primeiro Karl-Anthony Towns, desafeto de Butler, finalmente aceitou a oferta de uma extensão de contrato de 5 anos por 190 milhões de dólares que estava sendo negociada há MESES. Se você precisa da confirmação de que alguém vai embora para aceitar CENTO E NOVENTA MILHÕES de dólares é porque você realmente não gosta de trabalhar com essa pessoa. Depois, vaza a história de que o DONO do time, Glen Taylor, falou para os donos que Butler estava no mercado e que as propostas poderiam ser mandadas diretamente para ele. Isso logo depois de várias equipes terem entrado em contato com Tom Thibodeau e Scott Layden, gerentes gerais da equipe, e ouvido que eles não iriam trocar o ala .

Em resumo: os dois melhores jogadores do time não se bicam, um deles exigiu uma troca, o técnico-e-manager está do lado daquele que quer ir embora e o dono passou por cima deste técnico-e-gerente sem comunicá-lo. Torta de climão pra todo lado.

Não sabemos ainda tudo sobre a insatisfação de Jimmy Butler, mas parece ser uma repetição daquilo que ele já viveu no seu último ano no Chicago Bulls. Na época ele perdeu a cabeça porque o time não estava tendo os resultados esperados e especialmente porque a defesa da equipe era fraca, tendo como culpados principais o monte de pirralhos que formavam o elenco. Nem todo mundo é Sixers e Celtics para defender bem com um elenco recheado de moleques de 22 anos. Naquela ocasião o time rachou, com Butler e Dwyane Wade de um lado e Rajon Rondo e a pivetada do outro. Eles sobreviveram, foram até os Playoffs, mas ao fim da temporada o Bulls percebeu que tinha que escolher um lado, decidindo então mandar Butler para o Wolves e apostar numa reestruturação ao redor dos mais jovens.

Com quase 30 anos nas costas, Butler deveria ser o líder e mentor de um time que também era jovem, mas com jogadores de muito mais potencial. Enquanto o Bulls ainda procurava sua pedra fundamental, o Wolves já tinha Karl-Anthony Towns e Andrew Wiggins, ambos primeiros escolhidos em seus Drafts e com troféus de Novato do Ano no currículo. Era para Butler guiá-los pelos dois anos que tinha restantes no contrato e depois renovar para ser o ajudante ideal quando a dupla alcançasse a maturidade. Ridículo como um plano de longo prazo pode durar tão pouco. Nem a presença de Thibodeau, técnico que Butler venera desde os tempos da parceria no Chicago Bulls, serviu para que Butler conseguisse lidar com jovens que não encaram o basquete como ele.

Em quadra os resultados foram de altos e baixos. Por um lado o Wolves era o terceiro colocado do Oeste quando Butler machucou o joelho na primeira partida pós All-Star Game; por outro, as vitórias nunca foram por causa da defesa ou de qualquer combinação bombástica entre as estrelas. Na base de um ataque individualista, amarrado e estranhamente eficiente, o time criou gordura para se garantir nos Playoffs mesmo quando precisou passar mais de um mês sem Butler.

Depois de começar a temporada dando a entender que iria arremessar melhor de longa distância, Andrew Wiggins foi aos poucos murchando até sumir do sistema ofensivo da equipe. Já Karl-Anthony Towns, um dos jovens jogadores com o arsenal ofensivo mais completo da NBA, às vezes passava minutos e mais minutos sem receber a bola. Era engraçado ver jogos do Wolves com a transmissão local porque em todo jogo os comentaristas ficavam enlouquecidos de ver como Towns era pouco envolvido no ataque às vezes por um tempo inteiro. Um número que mostra isso de maneira assustadora é esse aqui:

Em situações consideradas “clutch” (menos de 5 minutos para o fim do jogo, diferença de 5 pontos ou menos no placar), Butler deu apenas UMA ASSISTÊNCIA para Towns! Foram mais de CEM minutos juntos nessa situação ao longo de toda uma temporada. Não havia qualquer conexão e sintonia entre os dois, e isso ficava claro nos momentos decisivos. O pior? O Wolves pagou CARO para se enfiar nessa situação que há tão pouco tempo parecia ótimo negócio.

Para conseguir Butler em junho do ano passado, o Wolves abriu mão de TRÊS jovens peças: Kris Dunn, Zach LaVine e o recém-draftado Lauri Markkanen. Só este último já faz a torcida do Wolves deixar escapar algumas lágrimas. Não só sua temporada de novato foi magnífica, como ele mostrou ter as características que ajudariam muito Towns ofensivamente, abrindo espaço no garrafão, sendo opção de passe no perímetro e sem monopolizar a bola. Ninguém no elenco do Wolves chega perto de ter um arremesso tão bom quanto o do finlandês! Embora o desejo de um cara já consagrado e de nome pesado fizesse sentido para um time que não via a cara dos Playoffs desde 2004 (!!!), hoje parece que seria melhor ideia ter ficado com o Markkanen. O jogador, aliás, deu uma cutucada CRUEL via Twitter. Logo após a notícia da troca de Butler, ele postou no uma foto sua sendo draftado pelo Wolves no mais estilo “baba, olha o que perdeu”

As outras duas perdas foram menores, mas ainda sentidas. Dunn sofreu horrores como novato sob o comando de Tom Thibodeau, mas se reencontrou em Chicago e hoje poderia ser no mínimo uma ótima opção na reserva de Jeff Teague. Já Zach LaVine eu não sei se ainda estaria no Wolves, talvez o time não tivesse a mesma coragem do Bulls de igualar a oferta milionária enviada pelo Sacramento Kings, mas talvez preferissem pagar caro a não perder por nada. Na pior das hipóteses o menino sabe arremessar e era amigo próximo de Wiggins e Towns.

Para sair dessa com um saldo melhor que um mero “aluguel” de um ano de Jimmy Butler, o Wolves precisa agora arranjar uma troca boa pelo jogador. A situação é a mesma vivida por tantos outros times no passado recente: o atleta, na teoria, vale muito, mas ao mesmo tempo ele está entrando no último ano do seu contrato e alguns times não vão querer arriscar muito por um jogador que podem perder em breve. É exatamente o que passou o Indiana Pacers ao trocar Paul George, o Sacramento Kings ao trocar DeMarcus Cousins, o San Antonio Spurs ao trocar Kawhi Leonard e por aí vai. No processo de pedir a troca, Butler deixou claro os seus times-alvo, para que estes pudessem ficar mais tranquilos ao enviar ativos sabendo que ele estaria disposto a assinar por lá a longo prazo. São eles Brooklyn Nets, New York Knicks e Los Angeles Clippers. Ou, em outras palavras, times de cidades grandes que terão espaço salarial para contratar ao menos uma grande estrela na próxima temporada.

Como explicamos neste texto para assinantes, a próxima offseason tem potencial para ser uma daquelas que muda radicalmente a cara da NBA, tamanho é o número de super estrelas com a chance de mudar de time. Butler é uma delas e está farejando a chance de fazer parte de uma “panela” e ao mesmo tempo ainda morar onde quer. A pressa por mudar de ares um ano antes dessa festa se explica por outro fator importante: DINHEIRO.

Segundo as regras financeiras da liga, um jogador pode assinar um contrato de CINCO anos de duração se permanecer na sua equipe e de apenas QUATRO se quiser trocar. Como Butler já decidiu que não quer continuar no Wolves, a questão dele é ficar um ano onde está e depois assinar por quatro temporadas fora de Minnesota, ou já adiantar uma ida para onde ele deseja e  então assinar por um ano a mais. Como sabemos que ele visa um contrato máximo e que os salários crescem ano a ano, a diferença financeira de um contrato de 4 para um de 5 anos pode ser de cerca de QUARENTA MILHÕES DE DÓLARES. A pressa é justificada.

Dentre as opções apresentadas por Jimmy Butler, a do Los Angeles Clippers faz bastante sentido. O ala Tobias Harris está na mesma situação contratual de Butler e é ainda jovem, faria sentido uma renovação. Será que eles o convenceriam a ficar depois de um ano lá ao lado de Towns e Wiggins? Esse é o risco. O Knicks pode oferecer Tim Hardaway Jr, que tem um pouquinho de apelo mas nem tanto. O Nets, por fim, já deu a entender que não vai acelerar processos à toa e que não pretende envolver escolhas de Draft ou jovens promessas para conseguir um jogador experiente. Só com Allen Crabbe e afins não vai rolar troca nenhuma.

A melhor opção parece estar nos mercados que Butler não está tão disposto a ir. O Wolves vai ter um trabalho de convencer essas equipes de que vale a pena, sim, pegar um cara que pode ir embora daqui um ano, mas existe precedente. O Raptors acabou de topar Kawhi Leonard sob as mesmas condições, e o OKC Thunder não só trocou por Paul George como conseguiu convencê-lo a assinar um contrato longo um ano depois. Dentre essas opções, a que mais tem ganhado força é a do Miami Heat, que sofre com um time essencialmente MÉDIO e que precisa desesperadamente de um All-Star para brigar lá em cima. Sem contar que com o Oeste disputado do jeito que está, o negócio é mandar Butler para o Leste!

Um dos apelos para o Miami Heat topar o risco é que eles não tem espaço na folha salarial para brigar por Butler na próxima offseason. Ou o conseguem via troca, ou morrem com o time que já tá hoje por lá. Um segundo apelo seria justamente dar uma limpada nesse salários, já que contratos de longa duração precisam ir embora para que Butler possa chegar. Se o ala vai embora em 2019, pelo menos o Heat ganha alguma flexibilidade para o futuro próximo. A questão para isso dar certo se torna o Wolves: quem eles querem do elenco de Pat Riley? O Heat provavelmente iria querer enfiar Hassan Whiteside no meio, mas ele faria sentido ao lado de Towns? Josh Richardson já um dos melhores defensores de perímetro da NBA e seria o sonho de Tom Thibodeau, mas aí somos obrigados a voltar para o começo do texto: quem manda naquele negócio?!

Se Glen Taylor, dono do Wolves, assumiu a responsabilidade pelas trocas e tirou Thibodeau e seu parceiro Scott Layden da jogada, isso quer dizer que logo vem mudança na função de técnico também? E quem vai ser o novo General Manager? Isso não deveria ser prioridade antes de uma troca? De todos os times que vivem sequências de fracassos no passado recente, em especial Orlando Magic e Sacramento Kings, nenhuma teve tantos talentos e nomes de peso nas mãos como o Wolves, mas eles sempre parecem dar um jeito de estragar. Essa troca pode ser a grande chance de colocar o talento necessário em volta de Karl-Anthony Towns, mas há grandes chances dele só repetir o legado de Kevin Garnett e Kevin Love e morrer com times medíocres até que uma troca o salve de morrer numa franquia desastrada.

Outro time que tem surgido nos papos é o Washington Wizards, que poderia mandar o gordo contrato de Otto Porter em troca de Butler. A troca faz algum sentido: Porter é excelente arremessador, bom defensor e certamente não iria ficar monopolizando a bola como fazia Butler, diminuindo o impacto de Towns e escanteando Wiggins do jogo. O porém é que Porter é limitado e que não teria capacidade de botar a bola embaixo do braço e resolver um jogo. Faria sentido se Wiggins evoluísse como se esperava dele, mas até agora não rolou. Pelo Wizards, seria uma cartada final para ver se esse time deslancha ou se é hora de separar esse grupo que tem mais prazer em se provocar fora da quadra do que em jogar basquete. Juntar o ~temperamento forte~ de Butler com o de John Wall e Dwight Howard parece receita para um card de UFC, mas no papel seria um dos elencos mais fortes do Leste.

Por fim, existe o Sacramento Kings, que é o novo Houston Rockets no quesito “estamos interessados em todos os jogadores do mundo”. Segundo informações da ESPN gringa, o Kings só tem chance se usar seu espaço salarial para levar junto o contrato pesado do Gorgui Dieng, mas mesmo assim será difícil convencer o Wolves sem colocar num negócio alguém de impacto imediato.

Em maior ou menor nível, todos os times do planeta querem um talento como Jimmy Butler. Seu temperamento é difícil, ele gosta de estar no controle das coisas e cobra seus companheiros sem preocupação de agradar e sequer entender os outros. Mas ao menos ele faz tudo isso se entregando completamente nos treinos, nos jogos, na disciplina e é um dos jogadores mais completos da atualidade, vale a troca né? Alguns vão abrir o cofre, outros vão querer pagar em ticket, e cabe ao Wolves achar o melhor negócio. É pedir muito de um time com brigas internas, queda de braço pela liderança, falta de comunicação e um histórico de más de decisões?

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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