…alguém tem o joelho mais zoado do que eu?
Pela milésima vez consecutiva o principal assunto do blog do Gilbert Arenas é o seu joelho. Lá está ele de novo explicando pra todo mundo que merda aconteceu dessa vez. O problema do momento foi mais uma cirurgia no joelho, bem mais simples do que as anteriores, mas que o deixará fora de combate por pelo menos um mês de temporada, mas podem ser até dois.
Para quem estava morando em Marte, em coma ou só começou a acompanhar NBA agora porque os textos do Bola Presa são tudibom, vale lembrar que o Arenas jogou apenas 13 jogos na temporada passada por causa do mesmo joelho e que na temporada anterior tinha perdido o fim da temporada regular e os playoffs por causa do mesmo joelho. Em português claro: ele tá bichado. Um bichado rico, que assinou um contrato de 111 milhões para os próximos 6 anos.
É difícil até fazer um paralelo com o mundo real pra dar uma noção do negócio arriscado e caro que o Wizards fez. Mas é como se os Estados Unidos gastassem 700 bilhões de dólares para acertar as contas da atual crise financeira e não conseguissem resolver nada com isso. O Wizards fez todo o investimento para ter seu líder em quadra para os próximos seis anos e o que tudo indica é que ele sempre será uma contusão em potencial, assistir a jogos do Wizards será a chance de ver o Arenas marcando 50 pontos ou de ver ele saindo em cadeira de rodas à la Paul Pierce, mas sem a parte de voltar pulando para a quadra.
Não tem como falar de jogador estragado e não lembrar do Grant Hill. O atual coadjuvante do Suns foi bi-campeão universitário jogando por Duke, foi a terceira escolha do draft de 94 e a primeira parte da sua carreira foi de tirar o fôlego, ele foi o “novo Jordan” da sua época. Época que o Jordan ainda jogava, o que deixa a impressão de que até o Elgin Baylor já foi chamado décadas antes do MJ começar a jogar.
Para ilustrar o impacto do Grant Hill na NBA, basta ver os números do seu segundo (segundo!) ano na liga: 20,2 pontos, 9,8 rebotes e 7 assistências. Que tal? Se o LeBron impressiona hoje porque dá 6 assistências e 7 rebotes mesmo sendo ala, o Grant Hill jogava na mesma posição e fazia números ainda maiores, fazia menos pontos, mas não porque não tinha a capacidade pra isso, em seu último ano saudável ele teve média de 25 pontos. Nesse ano, inclusive, ele e Stackhouse, então seu parceiro no Detroit Pistons, eram a dupla que mais fazia pontos na NBA, mais do que os pontos combinados da dupla do Lakers Kobe e Shaq, que viriam a ser campeões no fim da temporada.
Acontece que o Pistons, mesmo com essa dupla de sucesso, não conseguia vencer nada, então mandaram o Grant Hill pro Orlando em troca de Chuck Atkins e o então desconhecido Ben Wallace e mandaram o Stackhouse para o Wizards em troca do Rip Hamilton, começando a montar o time que conhecemos hoje. Mas se as trocas foram boas para o Pistons, não foram para o Grant Hill. No seu primeiro ano em Orlando ele jogou apenas 4 partidas, no ano seguinte 14, depois 29, aí não jogou nenhuma partida em 2003-04, animou muita gente jogando 67 das 82 partidas possíveis na temporada seguinte e por fim jogou 21 jogos em seu último ano, antes de sair para o Phoenix Suns. Desastre médico que nem o House resolveria.
A parceria dos sonhos entre Grant Hill e Tracy McGrady foi vista em ação só uma meia dúzia de vezes e a história do “novo Jordan” já tinha virado piada, o Grant Hill era o Jordan sem tornozelos. O Orlando tinha mandado o Ben Wallace e gastado uma fortuna em um jogador que tinha nome, talento mas que nunca jogou. História que deve arrepiar qualquer torcedor do Wizards.
Falando de novo no Orlando, podemos ligar a história do Arenas com a de outra estrela do Magic, Penny Hardaway.
O Penny teve até uma carreira longa, mas perdeu duas temporadas praticamente inteiras por problemas de joelho e depois da primeira contusão, no final de 97, nunca mais foi o mesmo jogador fora de série do início de carreira. Ele não dependia exclusivamente do seu físico para jogar e mesmo quando já não era uma superestrela, em seus tempos de Phoenix Suns, volta e meia flertava com uns triple-doubles e aparecia nas jogadas da semana com algum passe mágico para fazer a gente falar “imagina se não estivesse bichado!”
O Penny Hardaway, junto com o Grant Hill, eram símbolos de uma nova geração na NBA. A era de Jordan, Barkley, Malone e Olajuwon estava em seu auge, começando a decadência, quando os dois apareceram para renovar a liga. E se dizem que exisitiu uma crise de talento depois da aposentadoria do Jordan, pode ter certeza de que o fato de Hill e Penny não jogarem tudo o que podiam tem muito a ver com isso, os dois tinham tudo pra levar pelo menos um troféu de MVP pra casa cada um. O próprio Gilbert Arenas, em uma entrevista, disse que um dos seus modelo no basquete foi o Penny Hardaway.
Não temos falta de talento hoje na NBA, tem muita gente boa, mas não quer dizer que o Arenas não faça falta. Tem gente que até acha que o Arenas não é tão bom assim e que o Wizards joga melhor sem ele ou diz que o Arenas é fominha, porém eu acho que o Wizards joga mais em equipe sem ele, mas não que é um time melhor. Sem o Arenas eles nunca vão passar da primeira rodada dos playoffs, com ele em quadra o time tem pelo menos chance, porque ninguém lá é tão decisivo quanto o Agent Zero.
E ele é fominha sim, isso é verdade, mas um fominha mais estilo Kobe do que estilo Marbury, se formos comparar com alguém, porque ele consegue levar seu time pra vitória, nunca foi um fominha que estragasse os companheiros à sua volta.
Mas a verdade é que essas contusões incomodam, ainda mais porque essas discussões existem e se ele não consegue jogar meia dúzia de partidas seguidas para conseguir provar que alguém está certo e o outro está errado, nunca vamos ter respostas.
A discussão “o quanto o Arenas é bom?” está virando algo do tipo “Kobe ou Jordan?” porque as duas não tem como ser provadas então tem sempre mané perguntando isso e outros manés dispostos a escrever sobre o asssunto. Então me proponho aqui a não falar mais sobre o jogo do Arenas até que ele volte finalmente a jogar de verdade!
Se existem outros talentos como o Arenas hoje em dia, não existe ninguém mais engraçado e falastrão do que ele. Nunca alguém que vai enfrentar o Celtics vai dizer na internet, pra todo mundo ler, que o trio do time dele é superior. Nem Kobe e nem LeBron, com todo o talento deles, é capaz de prometer que vai fazer 50 pontos em um jogo por vingança. O Arenas foge do lugar comum, é engraçado, provoca, diz o que pensa e isso vai fazer falta se ele só continuar a falar do seu joelho no blog.
Pra quem ainda está de fraldas e não conhece o Grant Hill e o Penny Hardaway, aqui tem um vídeo sobre os dois. É só tirar o som, porque ouvir Cher é pior do que três cirurgias no joelho sem anestesia.