>Jogadores debaixo do tapete

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“Não penso, logo não existo?”
Num incrível passe de mágica, Gilbert Arenas está desaparecendo. Após ter (se os relatos estão corretos) levado armas sem munição para o vestiário do Wizards, oferecido uma a seu colega Javaris Crittenton como piada, e depois tirado sarro de toda a situação apontando os dedos como se fossem armas para sua equipe numa apresentação do time, qualquer coisa que lembre o Gilbert Arenas está desaparecendo na miúda. Suas fotos sumiram dos produtos do Wizards, um banner com seu rosto desapareceu da entrada do ginásio, sua camiseta não é mais vendida nas lojas e imagens de suas jogadas foram retiradas do vídeo de introdução da equipe. Arenas não teria sido tão eficiente em sumir do mapa nem se tivesse forjado a própria morte (o Elvis está aí pra provar, já que até hoje a gente sabe muito bem que ele não morreu coisa nenhuma e está aproveitando férias no Havaí com o Tupac). Era de se supor que, após a suspensão “por tempo indeterminado” ditada por David Stern, o Wizards brigasse para ter sua estrela de volta às quadras. Pelo contrário, a equipe está feliz da vida de se livrar do armador. Feliz o bastante para apagar quaisquer vestígios de que Gilbert Arenas um dia tenha chegado a acontecer.
O Denis já debateu bem o caso e, realmente, armas são feitas para matar gente e é um tanto imbecil levá-las para o vestiário do seu trabalho, ainda que sob pretexto de tirá-las de casa e de perto dos seu filhos (que tal dar a arma pra polícia e pronto, não ter mais que lidar com isso?). No entanto, é estranho como o caso provocou tanto horror e uma suspensão brutal justamente numa cultura obcecada por armas, em que você pode comprar munição no mercado ali do lado do leite , com grupos de adoradores de armamentos e uma série de leis que favorecem o porte. Armas estão de tal modo dentro da cultura americana que uma longa lista de jogadores estão ou estiveram envolvidos em casos de porte ou utilização de armas de fogo, sem que ninguém sofresse punições muito severas. Escrevi um longo post sobre o Delonte West, que foi parado pela polícia e calhou de estar com duas pistolas no corpo e uma shotgun escondida numa mala para guitarras, não exatamente o tipo de coisa que você leva para tocar no aniversário da sua sobrinha. Não houve qualquer grande medida por parte da NBA, mesmo estando todas as armas repletas de munição, enquanto o Stephen Jackson foi suspenso por 7 jogos depois de ter dado vários disparos depois de uma briga numa boate. O Jamaal Tinlsey também já se meteu em mais tiroteios do que o Charles Bronson, tendo sido suspenso um par de vezes (e dando uns depoimentos engraçados, porque ele realmente acha que é normal pra qualquer cidadão se meter em conflitos armados de duas a três vezes por semana), mas nunca nada grave.
A atitude do Arenas foi uma merda, armas não são bolacha Passatempo ou revistas de mulher pelada pra ficarem no armário do trabalho, e piadas com troços letais sempre dão algum tipo de merda. Mas a mensagem que eu estou recebendo aqui é que você não pode ser burro e fazer uma piada imbecil, sob pena de ser banido da NBA, enquanto está tudo bem dar uns balaços para o alto ou em outras pessoas em confrontos quaisquer mundo afora. David Stern ainda não decidiu nada sobre Javaris Crittenton, que pelo jeito respondeu à piada do Arenas sacando sua própria arma e dando um tiro para cima no ginásio, alegando que aguardará o término das investigações. Mas o Arenas foi suspenso sem espaço para reclamações, simplesmente porque tirou sarro da situação. O Jamaal Tinsley nunca tiraria sarro de um tiroteio, o negócio pra ele é real, sua cabeça parece estar sempre a prêmio e ele vive essa realidade tão barra-pesada e distante que o David Stern quer fingir que não existe. Mas o Arenas não, é apenas um garoto entediado, fazendo piadas no seu blog e no Twitter, tão distante desse lance de armas e balas na periferia que não pode deixar de tirar sarro dessa imagem de bandido maluco favelado que tentaram colocar nele. Se o esteriótipo já é uma besteira para qualquer um, deve ser ainda mais ridículo para um garoto mimado que não fez outra coisa além de jogar videogame enquanto esperava seu joelho se recuperar. A brincadeira com as armas foi idiota, a piada com a imagem que a mídia lhe criou foi ingênua (todo mundo sabia que o também entediado mas poderoso David Stern ia ficar bravinho), mas a punição foi totalmente descabida. Jogadores que usaram suas armas de fogo contra outras pessoas estão jogando por aí. Jogadores acusados e condenados por correr demais, acidentes de carro, dirigir alcoolizado. Li recentemente que, pego em excesso de velocidade, LeBron James disse rindo que estava apenas com sono e queria ir pra casa dormir. É claro que ele nunca seria suspenso, o David Stern é burro mas não é bobo.
Uma cagada não anula a outra. O que o Arenas fez foi uma besteira, mas isso não quer dizer que qualquer ação por parte do David Stern é justificável, a besteira do nosso engravatado favorito não pode passar despercebida apenas porque todo mundo quer tacar cocô no Arenas. Aliás, qualquer medida da sua parte seria uma besteira descabida, o que a NBA tem a ver com a parte legal e judicial de seus jogadores? Deixem Arenas ser acusado, sentenciado e preso por transporte e porte de armas de fogo em Washington como está prestes a acontecer, pronto. Deixe JR Smith passar 60 dias na cadeia por causar, em alta velocidade, o acidente de carro que matou seu melhor amigo. Por que a NBA insiste em se meter nesse tipo de questão? Qual a relação entre basquetebol e o babaca ter dirigido bêbado na noite de ontem? Outros âmbitos são responsáveis por isso, é preciso haver uma separação urgente, antes que David Stern comece a pedir currículos para decidir se um jogador pode participar do draft: só poderão ser escolhidos aqueles que forem brancos, protestantes, não fumarem, não beberem e não saírem de casa depois das 21h (os chineses também podem, eles dão dinheiro).
Voltando ao mundo do basquete, o mais curioso nesse lance do Arenas é o Wizards estar desaparecendo com o seu jogador. Pelo jeito, estão apenas aguardando, com água na boca, o David Stern deixar que eles invalidem o contrato do armador. O motivo é simples: ao pagar 111 milhões num contrato de 6 anos, a franquia esperava não apenas um jogador que levasse o Wizards ao topo do Leste, mas também o jogador mais carismático e vendável da NBA. O que acontece é que esse pirralho bocudo perde o amigo mas não perde a piada, o que não é lá muito vendável. Quanto mais declarações bem-humoradas, mais gente passava a ficar ofendida com alguma coisa (a gente aqui no Bola Presa descobriu, desde muito cedo, que o humor sempre está ofendendo alguém que você nem imagina, basta tirar sarro de andorinhas e o Sindicato dos Adoradores de Andorinha entra em contato por e-mail) e aos poucos o Arenas foi deixando de ser unanimidade. Muita gente meteu o pau no Arenas até por falar demais – como se a gente não falasse demais em todos os veículos que nos dão voz, até no “Fala que eu escuto” às 3h na Record – porque seu papel na vida é jogar. Só que jogar com o joelho transformado em poeira fica difícil, então os 111 milhões não serviam nem para ter um garoto-propaganda bacana nem pra ter um jogador em quadra. Talvez quando ele ficar saudável tudo valha a pena, quem sabe? Aí então ele finalmente ficou saudável depois do time feder tanto sem ele e, surpresa: o time continua fedendo. Dar um salário desses para alguém que, mesmo quando joga, não consegue salvar o time lá das piores colocações do Leste? É por isso que o Wizards quer tanto terminar o contrato e se livrar desse fardo, até porque fazer uma troca nesse valor seria quase impossível.
A mesma coisa anda acontecendo em Milwaukee. O Michael Redd vai ganhar 18 milhões na temporada que vem, e para quê? Passou a última temporada inteira contundido, jogou minutos limitados nessa e já foi anunciado que estará fora pelo resto da temporada graças a uma nova cirurgia. Mesmo quando jogava, no entanto, Redd nunca pareceu o tipo de jogador capaz de carregar sozinho uma franquia. Ele teve a chance de assinar um contrato mais modesto com o Cavs e, ao lado de LeBron, já teria atualmente 14 anéis de campeão. Mas não, preferiu ser a estrela de um time, encher as orelhas de dinheiro, e agora dá discursos dizendo que só quer vencer, só quer estar num time com chances de vencer. Burro foi o Bucks, de pagar tanto por um arremessador. Agora, a postura por lá é fingir que nada aconteceu, dar espaço para o Brandon Jennings e torcer para o Redd ir embora. Aliás, torcer para a lesão durar bastante porque aí a NBA devolve uma parte do salário. Mesma coisa com o Tracy McGrady: atualmente tem o maior salário da temporada (são mais de 23 milhões!), não jogou bulhufas contundido nos últimos anos, e o time acabou dando espaço para outros jogadores e outras formas de jogo. O que o técnico queria é que ele desaparecesse, mas se ele não jogar pelo menos uma parte do salário volta. Com certeza se Michael Redd e Tracy McGrady estivessem envolvidos num escândalo com armas, seus times aproveitariam para sumir com as fotos, banners, camisetas e vídeos. É uma chance de desfazer a burrada de dar um salário tão grande para um jogador que só se contunde, e tudo isso às custas do jogador – que não tem culpa nem de ter recebido a oferta contratual dos times, nem de estar contundido o tempo inteiro (aliás, tanto T-Mac quanto Arenas sempre quiserem jogar, mesmo com lesões).
O Arenas está sendo varrido pra baixo do tapete com tanta intensidade que agora quando você vai no site da NBA.com e tenta fazer uma camiseta personalizada com o número “0” e o nome “Arenas” (já que sua camiseta oficial não está mais à venda), o site diz não permitir camisetas com nome ou conteúdo ofensivo. Ou seja, tentar criar uma camiseta com “Caralho, “Puta merda” ou “Arenas” dá na mesma, ele virou um palavrão. Tracy McGrady ainda pode ter suas camisetas compradas, mas está sendo completamente ignorado pelo Houston até que seu contrato termine e ele desapareça. Michael Redd, provavelmente, seguirá o mesmo caminho. Mesmo antes de sua contusão recente, havia um sério questionamento sobre sua liderança na equipe e a comissão técnica decidiu que ele não era mais o jogador principal, cargo dado a Jennings e Bogut.
Frente a tudo isso, dou dois conselhos: o primeiro é que se você encontrar uma camiseta do Arenas em alguma loja da adidas pelo Brasil, compre imediatamente porque ela vai ser raridade (e palavrão). O segundo conselho é que você tente salvar Tracy McGrady de desaparecer por completo no Houston: participe agora mesmo da nossa promoção, monte uma troca para libertar T-Mac e concorra a 5 bonés do Houston Rockets!

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