>Jogo feio

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K.O! You Lose!

A série entre Miami Heat e Boston Celtics tinha tudo para ser muito interessante, divertida, disputada e, já que estamos na internet, épica. Mas acima de tudo feia, no melhor dos sentidos. Quem acompanha NBA há algum tempo deve lembrar da final do Leste de 2004 quando o Detroit Pistons que viria a ser campeão com Chauncey Billups, Rip Hamilton, Tayshaun Prince, Rasheed e Ben Wallace enfrentou o Indiana Pacers de Jamaal Tinsley, Ron Artest, Jermaine O’Neal e Reggie Miller. Foi uma série vencida por 4 a 2 pelo Detroit e que teve placares do tipo 69-63 e 72-67, o máximo que um time marcou em um jogo foi 85 pontos, o Pistons do jogo 3. Esses jogos foram uma guerra, com muita porrada, contato físico, defesa forte em todas as posições e em que os times tinham que batalhar por todo santo ponto; as cestas poderiam ser comemoradas como gol no futebol de tão difíceis de conseguir. Os 26 tocos (19 do Pistons, 7 do Pacers) no jogo 5, se não me engano, ainda são o recorde de um jogo de playoff na história da liga. O mais famoso deles é chamado simplesmente de “The Block“, vocês devem conhecer:

O jogo 5 teve 25 tocos (13 a 12 para o Pistons) e inúmeros roubos de bola, defesas exemplares. Foi o momento que eu admiti  pela primeira vez que um jogo com poucos pontos e muitos erros poderia ser tão ou mais bonito que uma partida corrida que acaba 130 a 128. E é exatamente isso que eu esperava da série entre Heat e Celtics: partidas feias que vão dar gosto de assistir pela qualidade defensiva das duas equipes e para ver como esses talentos individuais vão quebrar as defesas. Alguém decepcionado com isso até agora? Por características individuais dos jogadores os jogos não têm muitos tocos como a série que eu citei, mas eu nunca vi uma série onde cada rebote fosse tão disputado. Não dou mais dois jogos pra alguém sair sangrando.

O curioso é que esse jogo pegado e feio acontece na série de playoff mais estrelada da história. São 6 jogadores em cada lado que já passaram por um All-Star Game, Mike Bibby, Jamaal Magloire (eu sei, eu sei…), LeBron James, Dwyane Wade, Chris Bosh e Zydrunas Ilgauskas pelo Heat e Rajon Rondo, Ray Allen, Paul Pierce, Kevin Garnett, Shaquille O’Neal e Jermaine O’Neal pelo Celtics. Somando todo mundo dão 80 aparições em All-Star Games!

Um dos motivos que fizeram o Boston Celtics trocar o Kendrick Perkins, dizem, foi que o Leste não tinha equipes com pivôs bons o bastante para necessitar da defesa do Perk, a exceção era o Dwight Howard, que já está de férias. Se isso é mesmo verdade, foi um erro primário e nada digno de um General Manager que montou essa equipe fantástica que foi o Celtics nos últimos anos. Defender o garrafão não é só marcar pivôs ou alas de força, envolve muito mais do que isso e é nesse aspecto que o Celtics está sofrendo nesses dois primeiros jogos da série. Na temporada regular eles venceram o Heat porque fizeram um paredão na frente do garrafão (quando Perkins estava machucado era com Shaquille O’Neal) e simplesmente impediram qualquer tipo de infiltração. O Heat então tentava vencer os jogos com arremessos forçados de três pontos e arremessos longos e forçados de LeBron James e Dwyane Wade, a parte mais fraca do jogo de ambos.

Mas se a troca trouxe Jeff Green, uma boa alternativa para defender LeBron, deixou frágil a área pintada. Com Perkins fora e Shaq machucado sobram para defender o garrafão o decadente Jermaine O’Neal e a dupla Kevin Garnett e Glen Davis, que até defende bem outros pivôs, mas não é ameaça de toco para armadores que decidem invadir o garrafão. Do Nenad Krstic eu nem comento, nem uma criança medrosa de cueca borrada teria medo de fazer uma bandeja em cima do careca. As infiltrações eram tudo o que o Miami Heat queria para parecer um time imbatível, toda vez que o bicho pega eles podem fazer um pick-and-roll ou uma isolação simples e mandar LeBron James ou Dwyane Wade para uma bandeja ou lances livres. Nos dois primeiros jogos o Heat tem 70% de aproveitamento em arremessos tentados embaixo da cesta, contra 48% do Celtics.

Quando bate o desespero no Celtics e todo mundo tenta compensar as falhas de marcação, sobra alguém livre para chutar de longe. É a vez das não-estrelas James Jones e Mike Bibby brilharem, um alívio para o Heat já que ambos tiveram muitos altos e baixos durante toda a temporada e não se sabia como se comportariam nos playoffs. O Bibby, alías, é uma espécie de Derek Fisher de Miami, virando outro jogador com o começo da pós-temporada. O trio de estrelas vai dar uns 70% dos arremessos, isso é claro, mas é importante que o resto do time seja eficiente nos outros 30% para desafogar; embora sejam piores do que antes, o Celtics ainda é uma defesa bem forte.

Outro fator importante nesses dois jogos, especialmente no primeiro, são os turnovers. O Miami Heat até tem errado mais que o Boston Celtics, mas os verdinhos não conseguem transformar os erros em pontos, enquanto o Heat cria contra-ataques monstruosos que resultam em pontos fáceis, enterradas ou jogadas humilhantes:

A transição defensiva do Celtics sempre foi muito boa, assim como sua defesa de pick-and-roll e a proteção do aro. Porém, tudo isso está falhando na hora que não devia. Méritos do Heat, que até agora parece mais motivado (sangue nos óio, mano!), concentrado e com um plano de jogo certeiro. O estranho é ver o LeBron James focado e comemorando de um lado com o Paul Pierce perdendo a cabeça do outro, não era pra ser diferente? Parece que aquele jogo 5 entre Cavs e Celtics no ano passado foi na verdade há uma década. Muita água pra rolar, mas eu acho que é hora do Celtics passar o bastão para o novo Big 3 do Leste.

…..

Na outra semi-final do Leste, um assunto que não queremos abordar. Depois que o Atlanta Hawks venceu o jogo 1 contra o Chicago Bulls o Danilo pediu que eu escrevesse sobre o time, ele estava cansado de falar mal dos caras e eles irem lá provar o contrário. Eu topei porque sou bróder, amigão, mas na verdade queria fugir dessa também e o motivo é bem simples: eu não sei como eles estão ganhando.

Contra o Orlando Magic até que deu para usar de desculpa o aproveitamento bisonho nas bolas de três do adversário, mas e nesse jogo contra o Bulls? O Hawks não tinha Kirk Hinrich, machucado, para marcar Derrick Rose, tinha tudo para ser um desastre. Além disso três titulares, Al Horford, Josh Smith e Marvin Williams, nem chegaram aos 10 pontos marcados. E eles só forçaram o Bulls a 10 turnovers. Como diabos eles venceram esse bendito jogo?

Bom, eu posso chutar como, só não sei a chance de isso acontecer de novo: o Joe Johnson fez uma das melhores partidas da sua vida com 34 pontos em 18 arremessos e teve ajuda dos 22 pontos de Jamal Crawford. Aliás, o JJ fez 51 pontos somando todos os 4 jogos contra o Magic na semi-final do Leste do ano passado, já passou com sobras da metade disso em um só jogo dessa vez, está fazendo os 120 milhões investidos valerem alguma coisa. Os dois jogarem bem é normal, jogarem tão bem, ao mesmo tempo e contra uma das melhores defesas da liga é que foi impressionante. Ajudou também os 15 pontos em 6-9 arremessos que o trio de reservas Damien Wilkins, Zaza Pachulia e Jason Collins e isso, temos que admitir, é mais raro que passagem do cometa Halley! Ainda mais se você lembrar que os pontos do Jason Collins vieram até em jogada de isolação, uma aberração sem tamanho.

Detalhe, a melhor jogada do Jason Collins no jogo 1 foi essa aqui. Fatality:

Vale ressaltar o bom trabalho do Jeff Teague no ataque, sem medo de atacar e ser atacado pelo Derrick Rose, mas acho que o grande segredo foi ter conseguido defender o Bulls sem faltas. O Rose, eleito ontem o MVP da temporada, não cobrou nenhum lance livre no jogo, Carlos Boozer cobrou apenas dois, o mesmo número de todo o banco de reservas da equipe somado. Na temporada regular o Bulls foi o 11º time com mais lances livres tentados por jogo, 24, no jogo 1 foram apenas 16 e eles nem foram cobrados pelos seus principais jogadores. Para se ter uma idéia o último colocado na temporada foi o Warriors com 20 por jogo.

Convenceu? Eu não me convenci. Nem sei como eles conseguiram parar o ataque do Bulls sem fazer faltas! Sei que mais uma ou duas vitórias impressionantes assim e eu vou ficar sem explicações mesmo para esse time. Se não falarmos mais sobre o Hawks a partir de agora é porque estamos envergonhados e não sabemos o que dizer, ele é nosso elefante no meio da sala que vamos ignorar na cara dura até que ele desapareça.

PS. Ah, só para quem não viu, ontem nos questionaram sobre o Hawks no formspring e a resposta que eu dei na hora até merece ser compartilhada aqui, talvez convença alguém:

Pergunta: Tem coisas que não da pra explicar simplesmente o destino quis e pronto. Te dando uma idéia de post sobre porque o Hawks ganhou do Bulls

Denis: Uma vez eu vi um documentário bem legal sobre o infinito. Nele alguns matemáticos dizem que se o infinito realmente existe, existem infinitas planetas, universos, civilizações e que em algum lugar do infinito existem partículas se combinando de uma maneira idêntica ao do nosso planeta aqui. E que a coisa mais improvável que podemos imaginar está acontecendo nesse exato segundo em algum lugar, já que o infinito engloba todas as possibilidades. Então só calhamos de estar no bizarro universo onde o Atlanta Hawks ganha do Chicago Bulls. É a minha melhor explicação.

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