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Na temporada passada, escrevi um post sobre a maldição que acometia o Thunder. Tendo roubado a franquia que pertencia a Seattle e levado para Oklahoma City, deixando incontáveis fãs órfãos de sua equipe favorita por quem torceram por décadas a fio, o Thunder acabou adquirindo uma terrível maldição pra ver se aprende a não ser ladrão. Ao invés da famosa maldição do Clippers, que contunde o time inteiro não importa quanto talento eles consigam reunir (e que, nessa temporada, contundiu o novato Blake Griffin, que tinha tudo pra chutar traseiros), a maldição do Thunder faz com que o time perca todos os jogos no final. A quantidade de partidas perdidas em arremessos de último segundo e placares apertados na temporada passada foi algo ridículo e vale uma conferida no post, ainda que velho, só para conferir. Nessa temporada o Thunder decidiu bem menos partidas no final, mas basta dar uma olhada no post do Denis com as estatísticas dos jogos decididos por pouco pra ver que, quando o placar está apertado, o ladrão de franquias desanda.
Na partida seguinte, o Thunder enfrentou o Cavs. Trechos ao vivo da partida passaram no meio do jogo que eu assistia, porque o jogo estava emocionante, então resolvi mudar de canal e ir acompanhar o time-outrora-conhecido-como-Sonics. Fui recompensado com uma partida incrível, muito disputada, o Shaq jogando como se estivessemos em 1999 e ainda estivesse na moda jogar tazos e falar “massa”, e o Daniel Gibson jogando como titular depois de ser tão ignorado na temporada passada. O que me surpreendeu foi o trabalho defensivo do garoto, que supostamente não deveria saber fazer bulhufas além de arremessar de três pontos, e segurou muito bem o Russel Westbrook em jogadas decisivas. Foi então que, perdendo por um pontinho nos segundos finais de jogo, LeBron liderou um contra-ataque e deu uma assistência na medida para o Gibson converter seu arremesso de três e colocar o Cavs dois pontos na frente. Posse de bola final do jogo, bola nas mãos do Kevin Durant porque ninguém é burro, e finalmente LeBron foi marcar o pirralho depois de uma partida inteira em que os dois não se cruzaram muito. Durant cortou para dentro, LeBron não conseguiu manter a dianteira, e parecia haver um caminho simples para uma bandeja – até que LeBron alçou voo e deu o toco com a ponta dos dedos, mandando a bola para os ares e encerrando o jogo ali.
Pra começar, é um dos tocos mais incríveis que eu já vi. “Associação internacional de odiadores do LeBron James que vão dizer que eu fico babando ovo no rapaz”, por favor me processem, mas esse é um dos raríssimos tocos em jogadas decisivas que saíram das mãos do jogador que fazia a marcação, e não de alguém que correu para a ajuda. Durant é mais alto, tem braços mais longos, já tinha deixado LeBron para trás com sua passada, e mesmo assim tomou o toco. Aliás, se o LeBron tivesse cortado as unhas a bola teria entrado (vai ver que é por isso que insistem tanto para que ele pare de roer as unhas em rede nacional toda hora). Foi tão bonito, tão emblemático do que é uma boa defesa mano-a-mano, que sequer consegui ficar com dó da pobre equipe amaldiçoada do Thunder. Até porque eles ainda têm bastante tempo para perder, feder, sofrer, e ainda assim a maior parte do elenco usar fraldas descartáveis. A maldição vai indo embora com o tempo, assim como aconteceu com o Grizzlies, que agora é um ladrão de franquias pronto para roubar vitórias – de times grandes, e de times ladrões de franquia também. É tudo uma questão de experiência aprender a lidar com esses jogos apertados, e ainda falta muito para o Thunder chegar lá, embora não falte talento.
O Kevin Durant está simplesmente tendo uma temporada absurda. Apenas ele, LeBron e Carmelo estão com médias de 29 pontos por jogo ou mais, o que coloca o pirralho dentro de um grupo muitíssimo restrito. Em seus primeiros anos de NBA, Durant recebeu carta branca para fazer o que quisesse, entrar em quadra pelado, arremessar de costas, até fazer piada com armas de fogo eu tenho certeza de que ele poderia. Embora essa falta de pressão, cobrança e responsabilidade tenha tornado o rapaz um tanto esfomeado, forçando demais o jogo mesmo quando não é necessário e segurando demais a bola no ataque, permitiu que ele refinasse aos poucos seu arsenal ofensivo. Se antes ele passava tempo demais no perímetro se aproveitando de sua altura, agora foi colocado para jogar mais perto da cesta, tem um excelente jogo de pés quando de costas para o garrafão, e tende a bater para dentro – e sofrer faltas – com muito mais frequência. Foi assim que ele aprendeu a ajudar seu time, foi assim que seu jogo foi amadurecendo. Às vezes, feder muito e deixar seus jogadores fazerem merda em quadra permite que eles aprendam e evoluam, desde que seus jogadores não tenham pânico de passar vergonha e desmoronem, como aconteceu com o Kwame Brown no Lakers, onde a filosofia do técnico Phil Jackson é deixar em quadra jogadores se ferrando pra ver se eles aprendem.
Agora, Durant está tentando se tornar um jogador defensivo mais completo, dando exemplo para um Thunder que aprendeu a jogar na correria temporada passada e que agora tenta aprender, na marra, a segurar os times adversários na defesa. As coisas vão devagar nesse sentido para Durant e sua equipe, mas ofensivamente parece que o time inteiro encontrou sua voz, sua identidade. Até mesmo por terem estilos opostos, é fácil ver Cavs e Thunder tendo duelos épicos nos próximos anos, com LeBron e Durant lutando cabeça a cabeça pelo posto de cestinha da NBA. O Durant é uma estrela indiscutível e não vai demorar muito para que ele receba a admiração que merece. Mas até lá, o Thunder vai continuar perdendo, se lascando e escorregando em jogos disputados, sem que ninguém fale da equipe nem perceba que Durant é um monstro. Eles são amaldiçoados, e a hora é de outras equipes. Enquanto o Thunder apodrece no anonimato, pagando o crime de ter roubado a franquia de Seattle, o Memphis Grizzlies vê sua maldição dissipando e a atenção da mídia se aproximando: é a hora deles de brilhar, com direito a vitória em cima do Magic ontem, a décima primeira seguida deles em casa. Quando chegar a hora do Thunder, vamos lembrar desses dias amaldiçoados e sorrir, porque vimos Durant começar. Talvez ele até ganhe algum tipo de pelo facial, pra não parecer que tem 4 anos de idade. Talvez.