>Ladrão que rouba ladrão

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É claro que o Thunder perde: eles usam Nike

Na temporada passada, escrevi um post sobre a maldição que acometia o Thunder. Tendo roubado a franquia que pertencia a Seattle e levado para Oklahoma City, deixando incontáveis fãs órfãos de sua equipe favorita por quem torceram por décadas a fio, o Thunder acabou adquirindo uma terrível maldição pra ver se aprende a não ser ladrão. Ao invés da famosa maldição do Clippers, que contunde o time inteiro não importa quanto talento eles consigam reunir (e que, nessa temporada, contundiu o novato Blake Griffin, que tinha tudo pra chutar traseiros), a maldição do Thunder faz com que o time perca todos os jogos no final. A quantidade de partidas perdidas em arremessos de último segundo e placares apertados na temporada passada foi algo ridículo e vale uma conferida no post, ainda que velho, só para conferir. Nessa temporada o Thunder decidiu bem menos partidas no final, mas basta dar uma olhada no post do Denis com as estatísticas dos jogos decididos por pouco pra ver que, quando o placar está apertado, o ladrão de franquias desanda.

Com mais vitórias do que derrotas e lutando ativamente pela oitava vaga para os playoffs, deu até pra esquecer que a equipe era amaldiçoada um pouco. Nas duas primeiras semanas de novembro, o Thunder chegou a perder três jogos pelo mesmo placar de 101 a 98, contra Kings, Spurs e Lakers (uma das duas derrotas por apenas 3 pontos para o Lakers na temporada), mas depois disso as coisas ficaram bem tranquilas para eles no âmbito sobrenatural. Agora em janeiro, derrotas seguidas para o Spurs e o Mavs por apenas um ponto cada mostraram que a maldição estava voltando. Foi então que eles enfrentaram outra equipe também ladra de franquias: o Memphis Grizzlies.
O caso de ladroagem do Thunder e do Grizzlies é bem parecido. A equipe, que era de Vancouver, foi comprada por um sujeito que jurou de pé junto que a equipe continuaria no Canadá (afinal, o povo canadense precisa de um pouco de basquete num país que só tem para assistir hockey, ursos e árvores), mas sem que ninguém percebesse alegou que a torcida não era suficiente e correu para Memphis (onde a torcida é menos suficiente ainda). A diferença é que ninguém presta atenção nos times do Canadá (vale ler o post do Denis sobre a desatenção com o Raptors, por exemplo) então ninguém nem se deu conta da mudança. Além disso, a equipe não tinha a enorme tradição do Sonics e é mais fácil ninguém perceber um time que nenhum ser vivo jamais tinha ouvido falar.
No sensacional duelo de ladrões de franquia entre Thunder e Grizzlies o clima era de alegria, tipo primeiro dia na casa de Big Brother. Os dois times finalmente parecem ter saído da merda da temporada passada, têm mais vitórias do que derrotas, lutam para ir para os playoffs e conseguiram montar um núcleo incrível de jogadores jovens e baratos. O Grizzlies está chutando traseiros desde que se livrou de Allen Iverson, e não porque ele fosse uma grande dor de cabeça, mas sim porque a imprensa parou de torrar o saco de todo mundo por lá, a pressão foi embora, e a pirralhada tem espaço para provar que conseguem vencer sem nenhum grande nome em fim de carreira que está jogando por lá só porque não tem nada melhor passando na tevê. No momento em que o elenco percebeu que até o Zach Randolph está jogando bem (aliás, bem é apelido e se alguém soubesse da existência do Grizzlies ele provavelmente conseguiria finalmente ser All-Star), devem ter percebido que milagres acontecem e que eles podem vencer as partidas que quiserem, nada é impossível. O Thunder também está animadinho, as pessoas estão começando a notar que eles são um time de verdade para o futuro (não como o Bobcats, que é “o time do futuro” desde que nasceu e parece que nunca vai dar certo), mas não dá pra esquecer que eles são amaldiçoados. O resultado foi o Rudy Gay acertando um arremesso fodão na carinha de bebê do Kevin Durant no segundo final e vencendo por 2 pontinhos:

Na partida seguinte, o Thunder enfrentou o Cavs. Trechos ao vivo da partida passaram no meio do jogo que eu assistia, porque o jogo estava emocionante, então resolvi mudar de canal e ir acompanhar o time-outrora-conhecido-como-Sonics. Fui recompensado com uma partida incrível, muito disputada, o Shaq jogando como se estivessemos em 1999 e ainda estivesse na moda jogar tazos e falar “massa”, e o Daniel Gibson jogando como titular depois de ser tão ignorado na temporada passada. O que me surpreendeu foi o trabalho defensivo do garoto, que supostamente não deveria saber fazer bulhufas além de arremessar de três pontos, e segurou muito bem o Russel Westbrook em jogadas decisivas. Foi então que, perdendo por um pontinho nos segundos finais de jogo, LeBron liderou um contra-ataque e deu uma assistência na medida para o Gibson converter seu arremesso de três e colocar o Cavs dois pontos na frente. Posse de bola final do jogo, bola nas mãos do Kevin Durant porque ninguém é burro, e finalmente LeBron foi marcar o pirralho depois de uma partida inteira em que os dois não se cruzaram muito. Durant cortou para dentro, LeBron não conseguiu manter a dianteira, e parecia haver um caminho simples para uma bandeja – até que LeBron alçou voo e deu o toco com a ponta dos dedos, mandando a bola para os ares e encerrando o jogo ali.

Pra começar, é um dos tocos mais incríveis que eu já vi. “Associação internacional de odiadores do LeBron James que vão dizer que eu fico babando ovo no rapaz”, por favor me processem, mas esse é um dos raríssimos tocos em jogadas decisivas que saíram das mãos do jogador que fazia a marcação, e não de alguém que correu para a ajuda. Durant é mais alto, tem braços mais longos, já tinha deixado LeBron para trás com sua passada, e mesmo assim tomou o toco. Aliás, se o LeBron tivesse cortado as unhas a bola teria entrado (vai ver que é por isso que insistem tanto para que ele pare de roer as unhas em rede nacional toda hora). Foi tão bonito, tão emblemático do que é uma boa defesa mano-a-mano, que sequer consegui ficar com dó da pobre equipe amaldiçoada do Thunder. Até porque eles ainda têm bastante tempo para perder, feder, sofrer, e ainda assim a maior parte do elenco usar fraldas descartáveis. A maldição vai indo embora com o tempo, assim como aconteceu com o Grizzlies, que agora é um ladrão de franquias pronto para roubar vitórias – de times grandes, e de times ladrões de franquia também. É tudo uma questão de experiência aprender a lidar com esses jogos apertados, e ainda falta muito para o Thunder chegar lá, embora não falte talento.

O Kevin Durant está simplesmente tendo uma temporada absurda. Apenas ele, LeBron e Carmelo estão com médias de 29 pontos por jogo ou mais, o que coloca o pirralho dentro de um grupo muitíssimo restrito. Em seus primeiros anos de NBA, Durant recebeu carta branca para fazer o que quisesse, entrar em quadra pelado, arremessar de costas, até fazer piada com armas de fogo eu tenho certeza de que ele poderia. Embora essa falta de pressão, cobrança e responsabilidade tenha tornado o rapaz um tanto esfomeado, forçando demais o jogo mesmo quando não é necessário e segurando demais a bola no ataque, permitiu que ele refinasse aos poucos seu arsenal ofensivo. Se antes ele passava tempo demais no perímetro se aproveitando de sua altura, agora foi colocado para jogar mais perto da cesta, tem um excelente jogo de pés quando de costas para o garrafão, e tende a bater para dentro – e sofrer faltas – com muito mais frequência. Foi assim que ele aprendeu a ajudar seu time, foi assim que seu jogo foi amadurecendo. Às vezes, feder muito e deixar seus jogadores fazerem merda em quadra permite que eles aprendam e evoluam, desde que seus jogadores não tenham pânico de passar vergonha e desmoronem, como aconteceu com o Kwame Brown no Lakers, onde a filosofia do técnico Phil Jackson é deixar em quadra jogadores se ferrando pra ver se eles aprendem.

Agora, Durant está tentando se tornar um jogador defensivo mais completo, dando exemplo para um Thunder que aprendeu a jogar na correria temporada passada e que agora tenta aprender, na marra, a segurar os times adversários na defesa. As coisas vão devagar nesse sentido para Durant e sua equipe, mas ofensivamente parece que o time inteiro encontrou sua voz, sua identidade. Até mesmo por terem estilos opostos, é fácil ver Cavs e Thunder tendo duelos épicos nos próximos anos, com LeBron e Durant lutando cabeça a cabeça pelo posto de cestinha da NBA. O Durant é uma estrela indiscutível e não vai demorar muito para que ele receba a admiração que merece. Mas até lá, o Thunder vai continuar perdendo, se lascando e escorregando em jogos disputados, sem que ninguém fale da equipe nem perceba que Durant é um monstro. Eles são amaldiçoados, e a hora é de outras equipes. Enquanto o Thunder apodrece no anonimato, pagando o crime de ter roubado a franquia de Seattle, o Memphis Grizzlies vê sua maldição dissipando e a atenção da mídia se aproximando: é a hora deles de brilhar, com direito a vitória em cima do Magic ontem, a décima primeira seguida deles em casa. Quando chegar a hora do Thunder, vamos lembrar desses dias amaldiçoados e sorrir, porque vimos Durant começar. Talvez ele até ganhe algum tipo de pelo facial, pra não parecer que tem 4 anos de idade. Talvez.

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