>Libertos e cativos

>

– Aquela mulher não parece a Sônia Abrão?
– Mas técnico, o que isso tem a ver com o jogo?

Deve haver uma aposta rolando lá no Knicks: “quantas trocas e reformulações de elenco conseguimos fazer sem ter que lidar com Stephon Marbury?” O armador continua refém da equipe, sem ter entrado em quadra um segundo sequer, sem ser trocado e sem ser mandado embora. Diz a lenda que a polícia brasileira tem planos de invadir o Madison Square Garden para acabar com o sequestro assim que alguma garota de 12 anos topar participar da investida.

Quando fiquei sabendo que o Knicks havia trocado um armador, achei que a situação finalmente havia se resolvido. Coisa nenhuma, o armador foi o outro: Jamal Crawford. O mais inconstante pontuador da história da Humanidade acaba de ser mandado para o Warriors em troca do descontente Al Harrington.

O Al Harrignton ser trocado era só questão de tempo, ele surtou ainda no comecinho da temporada, disse que não aguentava mais o Don Nelson e exigiu dar o fora. Pra ser sincero, acho que o Al Harrington durou muito, até. Pelo seu talento e versatilidade, não fazia sentido se sujeitar a ficar esquentando banco para um técnico maluco. Em nenhum momento ele teve um papel definido na equipe, nem como sexto homem nem como titular, seus minutos sempre variaram sem qualquer critério e com o tempo isso deve tirar qualquer um do sério. No Knicks, no entanto, não terá do que reclamar: finalmente estará livre (o contrário do Marbury, vale ressaltar). É difícil imaginar um jogador mais perfeito para o estilo do técnico Mike D’Antoni do que o Al Harrington e me assusta ninguém nunca ter pensado nisso antes. Ele é um jogador veloz, que corre a quadra inteira, explosivo, pode jogar em qualquer posição (qualquer mesmo!) e arremessa muito bem de trás da linha de 3 pontos. Quando o D’Antoni quiser colocar um daqueles times de anões em quadra de que ele tanto gosta, Al Harrington pode jogar como pivô, papel que volta e meia exercia no Warriors, e arremessar tanto da linha de 3 quanto de média distância, como fazia Amaré Stoudemire no Suns. Quando for pra colocar um time mais alto, Al Harrington pode jogar de ala, com David Lee e Zach Randolph tomando conta do garrafão. Por fim, quando faltar armadores porque o Marbury continua sendo mantido em cativeiro, Al Harrington pode até armar o jogo sem muitos problemas. Parece um casamento perfeito e trás muito mais versatilidade para o Knicks, com muitas opções e jogadores que podem render em múltiplas posições. Dá até pra fazer um daqueles posts com os possíveis quintetos (como o Denis fez com o Bulls), passar a madrugada vendo que existem 500 versões e esquecer do jantar com a namorada (aconteceu com o amigo de um amigo meu, sabe como é).

Perder o Jamal Crawford parece não só um preço pequeno mas também uma melhora por si só. Não que ele seja ruim, longe disso, o Crawford é sensacional. Mas nomeie um jogador mais inconstante do que ele que não se chame Ben Gordon. Pois é, não existe. O Crawford pode fazer 50 pontos com um pé nas costas e na partida seguinte sair de quadra com 3 pontos. Sua velocidade, distância no arremesso e mentalidade puramente ofensiva parecem uma boa pedida para o Mike D’Antoni, mas a verdade é que seus arremessos não são lá muito inteligentes e a inconsistência machuca muito em times que não defendem. A idéia do esquema tático é arremessar em 7 segundos ou menos, mas se o Jamal Crawford ficar dando arremessos imbecis, a bola não roda e o Knicks não tem como se garantir na defesa nos dias em que essas bolas não caem.

No Warriors, o Crawford também terá inúmeras chances de correr e arremessar quando bem entender, mas será enfiado no banco de reservas muito mais vezes quando não estiver acertando nada. Como comentou o Denis comigo agora há pouco, o casamento entre Crawford e Warriors vai dar muito certo ou muito errado, a única certeza é que será “muito”. Não haverá meio termo entre o inconstante Don Nelson e o inconstante Crawford de modo algum.

Sinceramente não acho que o time de Golden State sentirá muita falta do Al Harrington porque Brandan Wright e Anthony Randolph são jogadores jovens, atléticos, cheios de potencial e que merecem mais minutos em quadra, inclusive aproveitando que o Don Nelson agora deu pra colocar novatos pra jogar. Mas a presença de Jamal Crawford no time cria um excesso bizarro de armadores, olha só.

O novato Anthony Morrow parece ser o novo titular absoluto como armador arremessador e Don Nelson só falta mandar flores para o rapaz e convidar para jantar. CJ Watson e Kelenna Azubuike devem continuar com seus minutos de reservas. Belinelli vai continuar sendo mantido refém pelo time, nos mesmos moldes do Marbury, sem nunca jogar. Crawford deve ser o titular na armação, o que acabaria com os dias de armador de Stephen Jackson e permitiria que ele voltasse a ser ala, como sempre. Mas e o Monta Ellis, como fica? O que vai acontecer quando o armador que deveria ser a estrela do time voltar da sua contusão durante sua “dança da motinho”? Isso não está me cheirando muito bem. Boatos de que o Warriors iria tacar o contrato do Monta Ellis na privada por conta da violação contratual me pareciam tolos, mas agora podem fazer sentido – principalmente se o time estiver se saindo bem sem ele ou se, vai saber, ele não voltar em plenas condições de jogo.

Bem, na pior das hipóteses, a troca permite ao Warriors uma maior gama de opções na armação, o que é irônico porque uns meses atrás não tinha um armador sequer no elenco e tiveram que ir buscar o Marcus Williams, outro que virou refém e nunca vai jogar. Já para o Knicks, a troca significa mais minutos para Wilson Chandler e Nate Robinson e é uma aquisição que torna o time mais versátil e profundo. Estranho dizer isso mais uma vez, mas parece uma troca que faz sentido para as duas equipes, nenhuma delas sentirá muita falta do jogador que perdeu e as nova aquisições, para os dois lados, parecem se encaixar bem no estilo de jogo e ampliar as possibilidades.

É estranho falar de trocas e não aloprar nenhum dos lados envolvidos. Não achei que diria isso, mas deu uma certa saudade de Gasol sendo mandado em troca de um chaveiro e uma camiseta de deputado ou coisas assim. Bons tempos aqueles.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.