[Resumo da Rodada] Love e Irving vivem e passam bem; Hornets, Blazers e Grizzlies tomam surra

Alguns jogos são menos pelo resultado final e mais pela mensagem que passam. No seu jogo de playoff de número 179, LeBron James já sabe muito bem disso. Não se tratava de arrancar a vitória a todo custo, de colocar a responsabilidade inteira no colo, de atacar a cesta até que o mundo aceitasse que é impossível ficar na frente. Se tratava, sim, de passar a única mensagem que pode nos fazer acreditar que esse Cavs ainda tem chances de título: a de que Kevin Love e Kyrie Irving estão saudáveis, entrosados, participativos e prontos para contribuir. A de que o time inteiro tem tantas variações táticas quanto forem necessárias, de modo que o Pistons não teria chance nem se encontrasse um caminho em que levasse vantagem, nem se estivesse nos seus melhores dias.

Foi assim que LeBron James entrou em quadra para ultra-alimentar Kevin Love com bolas dentro do garrafão até o coleguinha ficar gordinho e rechonchudo de pontos no placar. Já tínhamos avisado que o Love já havia explorado as dificuldades defensivas de Tobias Harris na temporada regular, mas o que vimos ontem foi outro nível de exploração. Love forçou todas as bolas de costas para a cesta que foi capaz, uma partida completamente diferente daquela que estamos acostumados de ver com Love meio cochilante ali no perímetro. Marcus Morris não teve sucesso muito maior do que Harris na defesa, mas pelo menos soube se aproveitar melhor das falhas defensivas do Love do outro lado da quadra e tornou o duelo entre os dois ao menos interessante.

Além de alimentar Love, LeBron James garantiu que Kyrie Irving fosse recompensado por se movimentar sem a bola, acionando o armador em saídas de corta-luz com frequência ou simplesmente invertendo o jogo, com passes para o lado oposto da bola onde Irving conseguia facilmente espaço para arremessos de média e de longa distância. Foi um festival de arremessos dos dois, com LeBron orquestrando o ataque e pontuando basicamente em situações de contra-ataque. Love arremessou 22 bolas no jogo, Irving arremessou 24.

O engraçado é que o Cavs manteve essa postura mesmo com o Pistons tendo uma das suas melhores partidas ofensivas da temporada e ficando à frente no placar um bom punhado de vezes. O Pistons é um time que chuta pouco e mal da linha de 3 pontos, mas quando acerta mais de 10 arremessos desse tipo numa partida, torna-se muito perigoso e ganha mais de dois terços dos seus jogos. Isso porque o ataque deles é baseado no garrafão com Andre Drummond e no pick-and-roll dele com Reggie Jackson. Quando as bolas de fora estão caindo, o ataque torna-se tão mais completo e sobra tanto espaço no garrafão que fica difícil parar a equipe. E ontem o que vimos foi o Pistons acertar 10 bolas de três pontos SÓ NO PRIMEIRO TEMPO! Caldwell-Pope estava com a mão quente, Marcus Morris aproveitou o espaço defensivo ao forçar Kevin Love para longe do garrafão, Stanley Johnson acertou suas bolas de fora mesmo com a língua de fora de ter que marcar LeBron e Reggie Jackson se aproveitou para arremessar toda vez que seu defensor tentava passar por baixo do corta-luz. Ao todo foram 15 bolas de 3 pontos convertidas pelo Pistons no jogo, com mais de 50% de aproveitamento.

Mas o Cavs prosseguiu sem desespero, LeBron não entrou naquele modo pânico de ficar arremessando de longe sem parar, continuou envolvendo Love e Irving e apostando em Tristan Thompson para atrapalhar Andre Drummond. De fato a defesa inteira do Cavs colaborou para que Drummond não fosse um fator fundamental para o Pistons, e Thompson conseguiu espaço para quatro rebotes ofensivos na partida. Foi só no quarto final do jogo que o Cavs resolveu mudar: tirou Tristan Thompson, colocou Kevin Love como pivô, LeBron de ala de força e desafiou Andre Drummond a receber a bola no ataque e a sair do garrafão para defender Kevin Love. Trocando a marcação constantemente, o Pistons passou a ser punido toda vez que um jogador menor marcava LeBron próximo ao aro, e Andre Drummond ficou perdidão tendo que defender algum arremessador fora do garrafão. Kevin Love converteu um par de bolas, LeBron dominou defensores menores jogando de costas para a cesta e a vitória acabou vindo.

O placar pode até parecer apertado, o jogo foi bem mais sofrido – e assustador para o Cavs – do que deveria, mas a mensagem aqui é impecável: Love e Irving estão vivos e bem e mandaram lembranças; a equipe sabe jogar toda no perímetro ou toda no garrafão, com múltiplas trocas de posicionamento; LeBron não precisa vencer sozinho; e um dos melhores jogos em arremessos de três pontos do Pistons não foi o suficiente. Para a próxima partida, o Pistons vai precisar de uma partida épica de Andre Drummond para voltar a sonhar, mas o Cavs volta a sonhar agora – não com a série, mas com as evoluções que pode conseguir até o título.


A partida entre Heat e Hornets foi bem menos disputada do que isso. As duas equipes preferem começar com seus grandes pivôs no banco de reservas: Al Jefferson pelo Hornets porque é sem ele que a equipe se torna um perigo no perímetro capaz de vencer jogos com as bolas de longa distância; Hassan Whiteside pelo Heat porque seu jogo de pick-and-roll acaba monopolizando as jogadas e minimizando os pontos fortes de jogadores como Wade e Joe Johnson. O que esperávamos é que os dois fossem se enfrentar em momentos sortidos da partida de maneira decisiva, com a péssima defesa de pick-and-roll do Al Jefferson sendo esmagada por Whiteside, e com Al Jefferson dominando Whiteside no jogo de costas para a cesta como já vimos antes na temporada regular. Mas eis que Erik Spoelstra resolveu surpreender todo mundo: começou com Whiteside no time titular. Contra o Hornets baixinho tentando se rechear de arremessadores, o Heat correu pra cima colocando a bola no garrafão, alimentando Whiteside embaixo do aro, e tentando envolver outros jogadores a partir do corta-luz do pivô, especialmente Luol Deng no perímetro. O Hornets demorou para entender o que estava acontecendo, não teve resposta defensiva para o jogo de garrafão, mas bolas de Deng caíram uma atrás da outra, os armadores do Hornets erraram trocentas bandejas por simples MEDO de que Whiteside alcançasse a bola com seus braços de borracha e quando o primeiro quarto acabou a vantagem do Heat já era de 19 pontos.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Deng, 31 pontos e cara-de-MVP”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Deng.jpg[/image]

O Hornets até tentou reagir, Al Jefferson fez um estraguinho quando esteve em quadra, mas a equipe não se encontrou nem por um segundo defensivamente. Wade jogou de costas para a cesta como quis enquanto o Hornets se preocupava em defender o lado oposto da bola, assustado com um Luol Deng inspirado; a defesa do pick-and-roll foi um desastre e Jeremy Lin foi constantemente humilhado por Dragic, que esperava o armador do Hornets escolher um rumo para simplesmente escolher outro caminho livre para a cesta. O Hornets vai ter que fazer sua lição de casa e adequar a defesa, não imagino uma outra surra desse nível tão cedo, mas esse Heat atropelador que soube usar Whiteside pelo menos em parte junto com seus outros melhores jogadores mostra que eles são muito mais fortes do que a maioria previa. Se Luol Deng se tornar tão consistente nesse jogo de dentro-para-fora, o Heat tem poucas fraquezas a serem exploradas.


Outra surra, mas em larga escala, foi a vitória do Spurs em cima do Grizzlies. Por um tempinho, por motivos de EU QUERO ACREDITAR, até pareceu que o Grizzlies iria fazer o Spurs ter que SUAR AS PITANGAS para sair com a vitória. Vimos Vince Carter comandar o ataque da equipe como se fosse 20 anos atrás, coisa de maluco, daqueles milagres que só o SANGUE NOS OLHOS do Grizzlies faz pra você. Mas os pontos da equipe saíram quase exclusivamente de jogadas individuais, arremessos forçados e infiltrações no mano-a-mano. Passar a bola, se já é difícil para o Grizzlies, virou um inferno contra a defesa do Spurs. Com o placar apertado no fim do primeiro quarto, o Spurs resolveu aumentar a intensidade da defesa e o Grizz levou um susto. Até se recuperou depois, mas a história é triste: o time sua, sangra, chora pra fazer uma bandeja brigada, e aí basta um MÍSERO ERRO num passe banal e o Spurs vai lá e faz a cesta de contra-ataque mais fácil do mundo. É como assistir a uma tortura. Lance Stephenson, o último bastião de criatividade desse elenco, sequer conseguia tocar na bola. Olha que genial a frustração dele de não conseguir receber um passe graças à defesa brutal do Kawhi Leonard:

Zach Randolph, o homem, o muso, não conseguia sequer posicionamento dentro do garrafão, sendo obrigado a forçar arremessos de longe por cima de marcação. Não há o que se fazer. Boban Marjanovic, famoso no Filtro Bola Presa pelos maravilhosos “Momentos Boba”, mostrou que se quisesse poderia vencer os jogos contra o Grizzlies sozinho com seus 2,22m de altura porque não tem NINGUÉM em quadra que possa fazer mais do que agarrar seus joelhos e chorar. Vai ser uma série looooonga, mas curtinha.


O Clippers também atropelou o Blazers. Lá pelo começo do terceiro período, já não existia mais jogo. O que tivemos foi Damian Lillard marcando e sendo marcado por Chris Paul, e o armador do Clippers levou a melhor. Não foi incomodado no ataque e atrapalhou o suficiente na defesa, sem se cansar demais. Já CJ McCollum foi parado por Mbah a Moute, não conseguiu entrar num ritmo, e foi muito prejudicado pela constância do Clippers em dobrar no armador depois de cada corta-luz. Sem os dois arremessadores em grande jogo, o Blazers não tinha muitas opções ofensivas. Enquanto isso o Clippers conseguiu apostar só em enfiar a bola nas mãos de Blake Griffin e deixar ele ser agressivo, o que gerou um monte de enterradas, um monte de jogadas atrapalhadas, e um jogo tranquilo para Chris Paul quando ele quis assumir. Griffin está bem longe do seu auge, ainda está com o ritmo de jogo todo comprometido, mas já foi suficiente para mostrar que o Blazers não sabe pará-lo. Agora, sejamos sinceros: às vezes ele não parece só um pião, ou uma dançarina de balé?

Some a ele toda a força atlética do DeAndre Jordan no pick-and-roll e os arremessos do Chris Paul e não dá pra imaginar o Blazers conseguindo parar esse time assim, num dia normal, num dia-de-semana. Ou o Lillard arranja um jogo histórico ou não teremos nem do que falar aqui na rodada que vem.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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