>Mais Allen Iverson

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Um dia essa foto vai ser raridade

Eu gosto muito do Jeff Van Gundy como comentarista. Como técnico ele era um chato mau humorado que montava times entediantes e defensivos, fazendo comentários ele é um palhaço que sabe o que diz. Quer dizer, às vezes ele chuta o pau da barraca como quando diz que a NBA não deveria ter limites de faltas pessoais! Se isso acontece, ia ser um festival de pauladas a cada infiltração e veríamos um campeonato de lances livres. Mas quando ele acerta, acerta em cheio, como quando disse que não existe pior tipo de jogador para se treinar do que a estrela em decadência.

Ele sabe disso porque treinou várias dessas estrelas decadentes, o caso mais marcante foi quando foi técnico do Patrick Ewing em fim de carreira. O cara era um dos melhores pivôs da história do basquete e de repente a idade o pegou de jeito e ele não conseguia ser mais do que um um role player ordinário.
Para o Van Gundy é muito difícil para o jogador entender e depois aceitar que não é mais o jogador que era antes. Mas por mais habilidoso e talentoso que um jogador seja, se perde a parte física, o jogo como um todo é comprometido e ele não consegue fazer o que fazia antes. Isso já deve ser difícil pra qualquer um, mas considerando o ego e a auto confiança que costumam ter essas super estrelas, para eles deve ser pior ainda.
É o que aconteceu agora com o Allen Iverson. Ele não conseguiu aceitar que não é mais o mesmo cara de antes, ainda acha que pode ser cestinha e melhor jogador da NBA e por isso ficou desempregado e agora anuncia a aposentadoria. Fiquei um pouco triste quando li a notícia, mas pensando bem não é nenhuma novidade, já tínhamos visto filmes parecidos outras vezes, a situação do Iverson pode ser vista como um misto de Stephon Marbury, Latrell Spreewell e Antoine Walker.
Stephon Marbury jogava muito no Nets mas nunca conseguia levar o time muito longe, aliás não levou nem um pouco longe, aquela porcaria de time só não fedia menos do que o Nets de hoje, que tem tudo para ter o pior começo de temporada da história da NBA. Então o Starbury foi mandado para o Suns em troca do Jason Kidd, o que culminou no Suns sendo eliminado na primeira rodada dos playoffs e o Nets com dois títulos seguidos do Leste. Impossível não associar com o Nuggets, que era um time de primeira rodada de playoff com o Iverson e que virou finalista do Oeste com o Chauncey Billups. Nos dois casos a diferença foi tanta com apenas a troca de uma peça que não tinha como não culpar os antigos jogadores. Marbury e Iverson logo ficaram com fama de estragar equipes. Nos EUA já tinha pessoas mudando o apelido do Iverson de The Answer para The Cancer.
Já no caso do Sprewell a questão foi a grana. Ele vinha de duas boas temporadas com o Timberwolves e virou um Free Agent. O Wolves ofereceu uma extensão de contrato de 3 anos com um salário de 7 milhões por temporada que foi respondido com um “Não vou aceitar esse contrato, tenho uma família para alimentar”. Ninguém ofereceu mais nada pra ele, nem o mínimo, sua carreira acabou e hoje está atolado em dívidas. O Iverson fez quase isso, mas não com dinheiro, com status. Ou alguém dá pra ele um status de estrela ou ele não joga. Não joga.
O Antoine Walker com sua cabeça de lego foi um All-Star, liderou o primeiro bom time do Celtics depois da era Larry Bird junto com o Paul Pierce e era considerado um dos jogadores mais completos da liga, um dos grandes point fowards (alas que jogam armando os times, tipo o Lamar Odom) da NBA. De repente ele foi trocado milhões de vezes, virou reserva, moeda de troca à la Quentin Richardson e acabou por ser dispensado do seu último time, o Grizzlies (coincidência!), encerrando sua carreira. O declínio de craque para piada foi tão grande e rápido quanto o do Iverson de super estrela e futuro Hall da Fama para um câncer que estraga equipes.
Embora haja tantas semelhanças, existe uma diferença básica: Iverson é bem melhor do que os três juntos. Spree, Walker e Marbury eram bons mas não sei se, depois do desgaste que tiveram e dos problemas que causavam, valiam o risco. Imagina a dor de cabeça de um general manager depois de contratar um desses? Precisa de coragem. O Iverson, no entanto, é bom o bastante para valer algum risco e é por isso que eu aposto todos os pés do Danilo que essa aposentadoria anunciada não será definitiva.
O próprio Iverson já disse que ainda acha que pode jogar bem (confiança nunca foi problema pra ele) e que não queria deixar o esporte agora, então é meio impensável que ele nunca mais jogue basquete. Uma solução para ele seria ir jogar na Europa, de onde vieram propostas na última offseason, mas como ele sempre comentou que queria passar mais tempo com a família eu acredito no famoso “ano sabático”, um ano de folga para pensar na vida, tipo Jason Williams e Glória Maria, mais do que em experiência no exterior.
O ano fora da liga tem tudo para dar certo. É um tempo pra ele perceber que as suas duas únicas opções são aposentar ou ter um papel menor em um time com chances de título, como fazem hoje Shaq e Rasheed Wallace, dois caras de idade parecida com a de Iverson. O tempo também será bom para as pessoas esquecerem um pouco do papelão que foi essa sua passagem pelo Grizzlies, limpando um pouco sua imagem. E não podemos esquecer que a temporada que vem é a grande offseason em que a NBA terá 20.000 jogadores espetaculares com a opção de trocar de equipe.
Na muvuca de trocas de jogadores vai ter muito time buscando peças para virar candidato a título e muito time desesperado porque prometeu estrelas à sua torcida e não conseguiu (não dá pro LeBron ir para todos os times que o querem). O mercado estará bem mais aberto do que nesse ano e pelo menos uma oportunidade boa deve aparecer. Paciência e um ano de férias é o que eu daria para o Iverson se eu mandasse nele.
Mas como não mando nem no Kobe (o meu cachorro, não o Bryant), é possível que o Iverson seja mais apressadinho. O destino cuidou para que na semana da aposentadoria do Iverson o Philadelphia 76ers, time onde ele jogou quase a carreira inteira, perdesse seu armador titular Louis Williams por dois meses, contundido. O Louis já não tinha a confiança de todo mundo em Phila, imagina agora que estão usando o Jrue Holiday, que nem barba na cara tem!
Confesso que seria bem divertido e emocionante vê-lo de volta ao Sixers, não iria perder isso por nada, mas por mais bonito que seja não sei se é o melhor para o Iverson. Com a cabeça quente que ele demonstrou na sua longa passagem pelo Grizzlies (3 jogos, maior só do que o Rasheed no Hawks, com 1 jogo), ainda acho que o descanso de uma temporada faria melhor pra ele. E pra gente também, que não aguenta mais comentar o seu caso complicado. Espero falar dele de novo só depois de junho do ano que vem!
Para terminar, a passagem do Iverson no Grizzlies me lembrou muito esse texto aqui do site Trivela. AI na camisa feia do Memphis vai ficar tão marcado na memória do torcedor como Renato Gaúcho no São Paulo, Paulo Nunes no Corinthians, Rivaldo no Cruzeiro…

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