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O que não falta na NBA é jogador surgindo e sendo rotulado “o próximo (insira nome de um jogador fodão aqui)”. Só com os “próximos Jordans” dava pra juntar todo mundo e montar um grupo de pagode.
Na temporada 2004-05, uma temporada depois do Nazr Mohammed ter chegado em New York, a troca que o havia trazido estava sendo festejada a torto e a direito. O pessoal chegado numa bola de cristal via no Mohammed o próximo pivô dominante da NBA na geração pós-Shaq. Embora razoavelmente baixo (2,08 m para um pivô é complicado se você pensar que ele tem 20 cm a menos que o Yao Ming), sua altura parecia o bastante para uma conferência Leste que não tinha pivô nenhum que prestasse. Ele dominou um belo punhado de jogos, volta e meia conseguia uns números absurdos e parecia ter um futuro promissor trazendo atleticismo para o garrafão do Knicks. Tinha quase uma média de double-double (11 pontos, 8 rebotes) acertando mais da metade de seus arremessos em minutos estranhamente reduzidos (28 por partida). Quem diria, o Isiah parecia ter acertado ao menos uma vez.
Provavelmente temendo que tomar uma decisão certa colocasse em risco todo o continuum do espaço tempo, Isiah resolveu fazer merda para tentar salvar a humanidade.
Num espaço de tempo de 24 horas, Isiah Thomas trocou pelo contrato milionário do Maurice Taylor (algo tão festejado pelos fãs do Houston quanto a troca do Cook foi festejada pelos fãs do Lakers ou a ida do Gustavo Nery foi festejada pelos fãs do São Paulo) e, como se não bastasse tamanha cagada, mandou o Mohammed para o Spurs em troca do Malik Rose e duas escolhas de draft (que vieram a ser Mardy Collins, o pequeno imprestável, e David Lee, que é bom pra burro mas isso foi só sorte).
Em entrevista a respeito, o biruta do Isiah disse que como a maioria dos times não tinha pivôs no Leste e estavam usando alas improvisados, ele achou melhor trocar o Mohammed por “jogadores de mais talento” e improvisar um ala como pivô. Muito mais talento mesmo, parabéns para ele. Malik Rose e Maurice Taylor foram facilmente esquecidos embora mamem loucamente nos cofres do Knicks e somam juntos meia dúzia de minutos jogados nesses últimos anos. Tudo para deixar os fãs do Knicks bem felizes. Aliás, vale a pena dar uma olhada na reação dos torcedores de New York em fóruns na época dessas trocas. Como é que o Isiah durou até hoje?
O Mohammed mostrava sinais de dominar no Leste, atraiu a atenção do Spurs e foi ganhar anéis em San Antonio. Acontece que não existe nada mais secundário no Spurs do que pivô, são sempre uns jogadores bucha-de-canhão, em geral dois, que fazem apenas o trabalho sujo. Na época, a dupla era Nesterovic e Nazr Mohammed. Atualmente, é Oberto é Francisco Elson.
O Spurs gostou do trabalho de Mohammed, tentou reassiná-lo por uma bagatela mas ele foi tentado a assinar com o Pistons que havia acabado de perder o Big Ben. Se o Mohammed deixasse o afro crescer e parasse de acertar arremessos, poderia ser um bom imitador do Ben Wallace em concursos de talento. Para mim e para outros manés sem nada pra fazer da vida além de comentar NBA, o Pistons parecia ter assinado um substituto razoável que poderia, quem sabe, voltar a dominar alguns jogos pelo Leste.
Mas tem umas coisas que a gente nunca entende, tipo o Udrih ser reserva a vida toda no Spurs e depois ser um excelente titular no Kings, e o Mohammed por algum motivo foi fadado a ser reserva no Pistons. O Chris Webber foi pra lá, os minutos foram ficando escassos e aí ninguém mais nem se lembra do Nazr, até porque isso não é um nome, é um barulho.
Ontem eu me lembrei do Nazr Mohammed de novo mas foi à força, não foi espontâneamente enquanto eu andava na rua mascando chiclete. O motivo foi a troca entre Pistons e Bobcats. O time de Detroit mandou o Mohammed em troca de Walter Herrmann e Primoz Brezec.
O Bobcats estava desesperado por um cara grande. Eles querem poder usar o Okafor como ala ao invés de pivô e tentaram assinar até o Varejão. No desespero, estavam usando um tal de Ryan Hollins, um pivô novato grande e tão talentoso quanto a cadeira na qual estou sentado agora. E o Brezec, que já foi titular em anos passados, foi perdendo a vaga aos poucos por falta de produção mesmo. Ou seja, pra quem está desesperado por um pivô, o Mohammed pode bem ser uma boa e vem para ser titular imediatamente. Só tem que dar uma limpadinha nele primeiro que deve estar cheio de poeira e se bobear tem também um pouco de mofo.
Pro Pistons a troca é basicamente econômica: eles pagavam uma grana gorda prum cara que eles não gostavam de usar, mesmo com ele pegando 14 rebotes em apenas 17 minutos num jogo umas semanas atrás. Então pronto, agora eles liberaram espaço na folha de pagamento e podem até assinar um jogador veterano (Chris Webber, alguém?) sem ultrapassar o limite dessa vez. Fora isso, o que vem de brinde é lucro. Herrmann é talentoso e teve atuações impressionantes pelo Bobcats no fim da temporada passada. Mas aí foi perdendo minutos aos poucos até ser esquecido no banco. Alguma coisa de muito errado aconteceu, mas vamos deixar o Pistons descobrir sozinho o que é. Já o Brezec é um pivô branco e grande que tem seus momentos mas em geral fede e pode ser muito bem aproveitado para pegar potes no alto do armário ou limpar em cima da geladeira.
Mais uma troca de uns jogadores fuleiros que deixa todos os envolvidos felizes. Mas o Mohammed merece uma fezinha, vai. Será titular e pelo menos pode ajudar o seu time de fantasy se você precisa muito de rebotes. E, quem sabe, ele não vira afinal um pivô dominante no Leste até ser mastigado, engolido, digerido e excretado pelo Dwight Howard? Para os fãs do Bobcats, não custa nada sonhar.