>Mundo Bizarro

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Joe Johnson, no cio, ataca o pobre do Yi Jianlian
No meu tempo, a gente brincava de pião na rua. Tinha inflação alta todo mês. Pornografia, só quando alguém surgia com uma revistinha. E o Hawks era uma merda de time. Ou seja, eu estou velho e não estou psicologicamente pronto para ver o Atlanta Hawks chegar aos playoffs. No meu mundo, isso vai causar uma fissão irrecuperável no continuum do espaço-tempo, seja lá o que isso queira dizer.

Desde que resolveram montar um time em volta do Joe Johnson, que era apenas mais um jogador naquele antigo ataque divertido do Suns, o Hawks virou motivo de piada. Um time tão jovem que cheira a Hipoglós, sem um armador principal, com o péssimo costume de escolher no draft todo ano gente da mesma posição (chegou ao absurdo deles poderem fazer dois times só de alas, se quisessem) e ninguém que lembre, nem de longe, um pivô. Até acho vários jogadores desse grupo talentosos, mas o elenco é sempre cheio de buracos. O Tyronn Lue, por exemplo, sempre disse que seu papel na NBA é ser um armador reserva, que ele não tem talento para ser titular. Apesar da sinceridade e humildade raras hoje em dia, no Hawks ele foi obrigado a ser titular por tanto tempo que deve até ter mudado de idéia. Uma coleção de alas e ninguém para armar o jogo, ninguém que chute de fora, ninguém que pegue rebotes? Talento, sim, mas dá pra fazer um time mais esburacado? Analisando friamente eu até pensei, na temporada passada, que o Hawks pudesse fazer um estraguinho. Mas o elenco era jovem demais, capenga demais, e aí desisti deles. Último lugar do Leste até que o mundo saia de órbita e o Bulls se tranforme em saco de pancada. Na minha ingenuidade, achei que isso nunca iria acontecer.

Acontece que, de um dia para o outro, outro time aí resolveu mostrar que dá pra ganhar uns jogos desse esporte esquisito mesmo sem ter idade para beber depois das partidas: o Portland Trail Blazers.

Eu gosto de imaginar eles como sendo o New York Knicks do Mundo Bizarro. O Knicks aceita qualquer jogador famoso e talentoso, independente de salário ou de como se encaixará na equipe, e virou uma concentração de fominhas e jogadores acima do peso. Já o Blazers se livrou de jogadores de nome e peso (literalmente) porque não se encaixavam no conceito do time. Lá se foram Zach Randolph e Steve Francis para que outros times otários assinassem seus trazeiros gordos incapazes de passar a bola. Além disso, o Blazers é recheado de jogadores atléticos ao invés de obesos, e jogadores sólidos ainda que não absurdamente talentosos. Foram dois anos de trocas inteligentes e higienização do elenco e agora surgem os resultados de um time que virou repentinamente exemplo de boa adminstração.

O elenco é jovem e sem estrelas, mas não há alguém sentado no banco de reservas que não possa contribuir de alguma forma. Jarret Jack tem um ano de experiência como titular na armação e agora faz muitos pontos vindo do banco. O genial Steve Blake foi mandado para o Nuggets mas se disse triste demais de deixar o Blazers e prometeu voltar, o que cumpriu logo ao término do seu contrato (um time bem administrado sempre atrai uns jogadores inteligentes). Travis Outlaw, antigamente apenas um cara que conseguia pegar uma moeda apoiada no alto da tabela (dizem as lendas!), agora é um dos jogadores mais importantes na rotação da equipe. James Jones era um baita chutador sólido no Suns, casa de todo chutador feliz. Channing Frye está dando sinais de voltar aos bons tempos depois que um ano na maldição do Knicks roubou seu talento (deve ser algo na comida de New York). A ida do Randolph, embora arriscada, abriu espaço para o LaMarcus Aldridge desabrochar (e espaço no ônibus também, que devia ser apertado com o Randolph dentro.) E sendo o mais próximo de uma estrela ali no Blazers depois de ganhar o prêmio de Novato do Ano (e por ter Rookie Of the Year no nome), o Brandon Roy virou o maestro da coisa toda.

Dá pra saber que a coisa tá boa quando você tem gente pra todas as posições e ainda pode se dar ao luxo de nem usar o Sergio Rodrigues que, na minha opinião de blogueiro metido, chuta uns traseiros. Fora que estão esperando Rudy Fernandez voltar da Europa e o Greg Oden voltar da mesa de cirurgia. Olha só, que time lindo, que gracinha, que fofura, vai ter um futuro brilhante, dá um abraço no papai! Vão perder um monte esse ano, ter uma boa escolha de draft e depois o céu é o limite!

O único problema é que eles resolveram ganhar agora. Espírito de equipe, técnico destruidor, defesa por zona, contribuição de todo mundo, Roy pra MVP, essas coisas aí. Mas o maior motivo pra eles estarem vencendo agora deve ser simplesmente eles não terem visto o Beasley jogar. Já o Wolves, por sua vez, levou o Antoine Walker para lá só para garantir as derrotas em série. Receita moleza: coloque o Antoine Walker por uns 10 minutinhos, acrescente água, e pronto! Derrota e boa posição no draft garantidas!

O Hawks também não deve estar assistindo o Beasley, ou então eles simplesmente cansaram de draftar tantos alas. Vai ver se inspiraram em ver o Blazers ganhando com seu time de maternal. Mas era desse conceito de idade que o Joe Johnson já reclamava desde o começo da temporada: “Agora somos todos experientes, não podemos mais usar a idade como desculpa. É hora de todo mundo jogar para vencer. Estou cansado de receber marcações duplas todos os jogos e não ver meus companheiros se aproveitarem disso. Precisamos jogar como adultos e principalmente aprender a fechar os jogos.” Boa receita, Joe Johnson. Depois de jogar com o Nash, não é tão fácil jogar com esse bando de incompetente, né?

Saber fechar os jogos, justamente, parece a fórmula principal. O Blazers jogou pelo ralo a idéia de que a inexperiência perde as partidas no final (como o Sonics fez bilhões de vezes nessa temporada) e resolveu vencer todos os quartos períodos de suas partidas. O resultado? Treze vitórias seguidas, oitava posição no Oeste e um manual de como vencer o Jazz. Na derrota de ontem para o time de Utah, eles ainda assim fizeram tudo certo – exceto vencer o quarto período. Erraram lances livres, as bandejas giravam dentro do aro e saíam. Acontece. Só precisamos ver agora como a pirralhada reage ao fim da sequência de vitórias. Descobrir se eles estão querendo draftar o Beasley ou se vão desbancar o Nuggets na divisão (estão só meio jogo atrás) e garantir a 4a vaga. Dá pra imaginar o Blazers no 4o lugar do Oeste se aproveitando das regras estúpidas de colocação na NBA? Eu sei, o Hawks está no 4o lugar do Leste também, mas lá as coisas são mais simples. Fora Celtics, Pistons e Magic, basta você não ter op Marbury que já é meia vitória garantida. Ainda assim, palmas para a gurizada.

Tente explicar, para alguém que só começou a acompanhar a temporada agora, que Hawks e Blazers estão em quarto lugar de suas respectivas conferências, que o Chicago fede, que o Miami é o último colocado do Leste, que o Washington sem Arenas vai para os playoffs, e que o Isiah Thomas ainda não perdeu o emprego. Eu prefiro nem tentar.

Mas se ele começar a chorar ao saber que o Isiah não foi demitido, ou não acreditar na posição do Blazers, mostre para ele esse vídeo: a cravada da temporada até agora, Travis Outlaw na cabeça do coitado do Rodney Carney. Alguém ainda duvida que ele pegue uma moeda no alto da tabela?

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