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Jamal Crawford: cagado

Muita gente apontou entusiasmada, tanto aqui no blog quanto no Twitter, que acertamos em cheio com nossa leitura da série entre Grizzlies e Thunder. Esperávamos que o Grizzlies não usasse nenhuma marcação especial para Durant e Westbrook, neutralizando os passes para o garrafão e o perímetro, e forçando os desperdícios de bola de Westbrook com forte defesa e incentivando um ritmo acelerado de jogo. Para minha surpresa o Grizzlies mudou sim um pouco a defesa contra o Durant, dobrando com Randolph em algumas oportunidades, e usando uma tática defensiva que eu chamo de “enlouqueça o Dirk Nowitzki”, que é marcar o Durant no perímetro o mais perto possível, umbigo com umbigo, forçando o jogador a ter que colocar a bola no chão para cortar o defensor. No mais, o Thunder realmente tropeçou na própria velocidade, os turnovers viraram pontos fáceis para o Grizzlies, e a alta pontuação de Westbrook e Durant não foram o bastante. Até os números que indicamos se mantiveram: depois de cometer quase 17 turnovers por jogo contra o Grizzlies na temporada regular, o Thunder cometeu ontem 18 (sendo 7 deles apenas do Westbrook). No duelo de duas fantásticas defesas, o ataque atrapalhado do Grizzlies não é tanto um problema – especialmente porque Randolph continua achando pontos fáceis e o Grizzlies garantiu que ele não será incomodado pelo Perkins no garrafão, colocando nosso gordinho contra o Ibaka ou nos arremessos de média distancia (que o Marc Gasol também acertou, bem longe do titio Perk). Então eu desconfiava que, se a defesa do Grizzlies funcionasse do mesmo modo que conseguiu contra o Spurs, engoliria o Thunder. E tá lá, engoliu.

Essa leitura acertada da série não esconde, no entanto, o fato de que errei miseravelmente na série entre Magic e Hawks – e nem impede legiões de leitores frustrados de me cobrar diariamente uma retratação lá no nosso formspring. Que o Magic iria perder a série quase ninguém imaginava, erro normal, mas eu não tive receio de dizer que a série seria uma vergonha, uma lavada histórica do Magic, e que ninguém deveria sequer se dar ao trabalho de assistir a um jogo dessa palhaçada. Funhé. Disse a mesma coisa nos playoffs passados, quando o Magic eliminou o Hawks pela maior margem média de pontos da história da NBA, mas dessa vez as coisas simplesmente não funcionaram como o esperado. No primeiro jogo, o Magic claramente perdeu por ter acionado demais Dwight Howard, algo que gera turnovers demais e tira completamente os arremessadores do jogo, porque o pivô não consegue passar a bola para o perímetro. O Magic arrumou isso, isolou menos o Dwight nos outros jogos, passou até a fazer mais pick-and-rolls, que estavam faltando, entre Dwight e Jameer Nelson. E, mesmo assim, foi eliminado em 6 jogos. Era de se imaginar então que o Hawks tivesse tido atuações espetaculares, um plano tático fantástico, tivesse tirado o Magic de sua zona de conforto e vencido a série na raça, na unha. Mas não. O Hawks continua uma merda.

A defesa de perímetro da equipe de Atlanta é boa, sem dúvida, mas a rotação defensiva é uma vergonha. Isso quer dizer que eles defendem mal o pick-and-roll e não conseguem parar os arremessos de equipes que giram bem a bola, algo que sempre foi característica dos arremessadores do Magic. O Hawks fez um bom trabalho defensivo, Josh Smith se sacrificou na série saindo do garrafão e marcando arremessadores (o que é certamente seu ponto fraco defensivamente), e mesmo assim o Magic conseguiu um trilhão de arremessos simples de três pontos de jogadores que saíam do corta-luz completamente livres – só que ninguém converteu. É verdade que o Magic insistiu demais em jogadores isolados criando arremessos no perímetro e não rodou a bola como estava acostumado, mas ainda assim é seguro dizer que o Magic não forçou muitos arremessos idiotas. Tentou na maior parte bons arremessos, com distância dos marcadores, de jogadores recebendo livres. Só que nada caiu.

Os números são completamente assustadores: o Magic, como time, acertou apenas 26% dos seus arremessos de 3 pontos. JJ Redick, o especialista da equipe e que em geral só arremessa em jogadas desenhadas para que ele saia livre, acertou 1 dos 15 arremessos de três pontos que tentou. Turkoglu, o jogador que mais arremessou de 3 pelo Magic na série, acertou 7 de suas 30 tentativas. Jameer Nelson acertou 6 em 26 arremessos. Jason Richardson, o jogador que mais converteu bolas de 3 pontos na última temporada, acertou 8 em 25 arremessos (além de estar mal na série, conseguiu a proeza de pisar em vidro em casa e jogar a última partida com trocentos pontos no pé). Sempre dissemos que o Magic vivia e morria nas bolas de 3 pontos, podia abrir uma vantagem repentina de 40 pontos de uma hora para a outra, e perder a mesma vantagem numa fase ruim durante o mesmo período. É um time com muitos altos e baixos, típico de quem aposta nas bolas de fora, mas quando chegaram numa final da NBA ninguém mais questionava a tática. Ficou bem claro que os momentos bons compensavam os ruins e que numa série de 7 jogos é difícil manter a seca nos arremessos por muito tempo. Mas foi o que aconteceu com o Magic, e eu sequer posso dar o mérito para o Hawks por isso. As bolas não caíram mesmo quando eram arremessos simples, bem desenhados. Se existem culpados, além do azar a que times construídos assim se sujeitam a enfrentar, é o psicológico da equipe completamente abalado depois das trocas quando nenhum jogador sabia exatamente qual era seu papel, quando devia arremessar ou passar para o lado, quando dar o passe a mais ou quando forçar o arremesso e assumir a responsabilidade. Ninguém soube definir as funções desse elenco e isso teve os piores resultados possíveis durante essa série.

O mérito do Hawks foi conseguir construir uma boa defesa de garrafão para incomodar o Dwight Howard. Jason Collins mostrou que tem físico e posicionamento para atrapalhar o jogo atlético do pivô, a defesa soube apertar o garrafão para roubar bolas do Dwight constantemente, e souberam jogar com força e intensidade inclusive na hora de cometer faltas e deixar o Howard cobrando lances livres a noite toda (e cortando o ritmo do resto da equipe do Magic). Mas assim que perceberam que o Dwight não iria ganhar sozinho, que o Magic era pior acionando demais o pivô, e que o perímetro do Magic estava catastrófico, o técnico Larry Drew tirou Jason Collins e nada de ruim aconteceu. Não foi punido por isso. Conseguiu usar formações mais baixas, dando mais minutos para Jamal Crawford, Kirk Hinrich e Marvin Williams sem sofrer o peso de não ter um pivô de verdade para defender Dwight. Ou seja, a única cartada do Hawks sequer precisou ser utilizada, porque o Magic não confia no seu pivô, não sabe procurá-lo quando ele conquista posicionamento, e não acertou bulhufas no perímetro. Foi um total e completo desastre. O próprio Dwight deu os parabéns para o Hawks por não ter se desmontado apenas para ir atrás de um pivô para pará-lo, como fez o Cavs (ou o Suns para tentar vencer o Spurs). Mas esses parabéns significam simplesmente que o Hawks não precisa se preocupar com o Dwight se o resto do Magic não fizer o que deveria, o time não fez, e o Hawks vai para a semi-final de conferência. Mesmo sendo o time mais fraco. Mesmo não tendo vencido a série taticamente. Mesmo sendo uma porcaria.

A defesa do Hawks é o ponto positivo, eles conseguem vencer alguns jogos bem feios, mas o ataque se baseia em jogadas de isolação e arremessos forçados. Não há uma presença física no garrafão que atraia a marcação, o Al Horford se sente mais confortável arremessando da cabeça do garrafão. O Jamal Crawford acertou 17 bolas de 3 pontos (quase metade do que o Magic acertou coletivamente) e não consigo lembrar de uma única bola dessas que tenha sido pensada, construída, conquistada. Mesmo o arremesso do Crawford que venceu o jogo 3 foi forçada, ridícula, improvável e bateu na tabela antes de entrar. Enquanto isso, o Magic podia levar o jogo 6 para a prorrogação com um arremesso bem construído de JJ Redick, deixado livre na jogada, mas que não entrou – lembremos de novo, ele só acertou um dos 15 que tentou! Jamal Crawford foi demais para a defesa do Magic, foi a única força no perímetro da equipe e manteve o ataque do Hawks funcionando apesar de não haver nada trabalhado ali. O Hawks é um time muito, muito, muito ruim quando está atrás no placar, algo típico de equipes que não conseguem pontos fáceis, que não possuem um jogador capaz de decidir com facilidade ou uma jogada de segurança. O Magic e suas bolas de 3 pontos aleatórias costumam criar vantagens do nada, e bastaria isso acontecer uma única vez para o Hawks desmontar e não conseguir recuperar o placar. Mas as bolas do Magic nunca caíram, e o Jamal Crawford e suas bolas improváveis mantiveram o Hawks ofensivamente no jogo evitando que ficassem atrás no marcador.

Por mais defeitos que eu encontre nesse Bulls, e por mais problemas que Derrick Rose tenha tipo ao enfrentar um bom defensor como Paul George na série contra o Pacers, creio que o Bulls ainda tem tudo para deixar bem explícito como o Hawks está nas semi-finais por cagada. O Hawks tem problemas em parar armadores rápidos, é o ponto mais fraco da defesa, e a defesa do Kirk Hinrich (que foi tão importante contra Jameer Nelson) não estará presente, porque o Capitão Kirk lesionou a coxa e pode ficar fora a série inteira contra o Bulls. Derrick Rose será contestado apenas no aro, onde poderá acionar seus companheiros e quebrar a defesa do Hawks. O grande jogador de garrafão do Atlanta gosta de ficar nos arremessos de média-distância como o Boozer, então até ele se sentirá mais à vontade na defesa quando voltar de sua lesão num dedo do pé. Jamal Crawford e suas bolas aleatórias agora serão contestadas por uma das melhores defesas de perímetro da NBA, com um jogador designado apenas para ficar no seu cangote. Eu sei que eu já disse isso da série contra o Magic, sei que eu já disse isso ano passado, nos playoffs passados, mas isso aqui vai ser um massacre. Daqueles de desistir da NBA e levar a namorada no cinema. Eu sei, o Crawford pode acertar bolas espíritas, as jogadas individuais do Hawks podem estar num bom dia, Al Horford pode encontrar espaço se o Boozer feder e o Noah não sair de perto do aro, e o Derrick Rose pode comprometer a equipe se forçar demais o ritmo de jogo e cometer muitos turnovers (algo pelo que o Hawks reza, já que eles não sabem pontuar de outro jeito). Mas nada disso deve acontecer se as leis da física estiverem em vigor. Minhas reclamações do Bulls são porque eu sou chato e detalhista, contra o Hawks o Bulls é um time perfeito, uma Alinne Moraes para o Hawks versão Playboy-da-Mara-Maravilha.

Por isso mesmo, o jogo que importa hoje é Lakers e Mavs. Esse sim será disputado – aliás, mais disputado do que muita gente está achando por aí. Fisher está aliviado porque só terá que marcar Jason Kidd, o grande ponto fraco da defesa do Lakers não será explorado, mas o armador vovô do Mavs está com a mão calibrada nos arremessos e isso pode complicar bastante a defesa do Lakers. Aliás, como o Lakers lidará com a marcação do Nowitzki será algo para estudo: ele se incomodaria muito com o Artest marcando colado, mas alguém do garrafão vai ter que sair para contestar os arremessos. Por alguém, quero dizer provavelmente o Gasol, que anda mal defensivamente – e isso tem tudo para abrir espaço para rebotes ofensivos caso os grandões do Mavs, como Tyson Chandler e Brendan Haywood joguem o que sabem. O Lakers mostrou na série contra o Hornets que é muito melhor quando coloca a bola no garrafão, então Chandler e Haywood vão ser os responsáveis por manter a série competitiva. O Mark Cuban não tevo medo de gastar toda sua grana pra trazer alguns pivôs capazes de incomodar o Lakers – sabe, aquilo que o Dwight criticou que algumas equipes fazem e se lascam. Se der certo, teremos uma série bacana. Esqueçam Hawks e Bulls, troço chato, o negócio é ficar de olho nos pivôs do Mavs e o que eles representam: uma possível série competitiva contra os atuais campeões.

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