>Nem faz falta

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Trabalhando com um gordinho pizzaiolo, deve ser difícil cuidar do físico

O Orlando Magic adicionou muitas peças novas desde o fim da temporada passada, mas agora acaba de perder uma peça fundamental, ao menos momentaneamente: Rashard Lewis passará os primeiros 10 jogos da temporada regular suspenso por ter mandado pro bucho substâncias proibidas. Não foi nada muito pesado, ele não andou “metendo o nariz onde não devia” como o Chris Andersen, que ficou suspenso por 2 anos, e nem utilizou esteróides pra ficar com o físico do Dwight Howard. Na verdade, o rapaz tomou apenas um suplemento alimentar, aqueles famosos sacos de pó que empelotam quando você bate com leite, e que são perfeitamente acessíveis para qualquer um e consumidos por pessoas comuns mundo afora. O critério para substâncias proibidas no basquete americano é meio incompreensível: muito do que é banido no basquete internacional é permitido até mesmo no basquete universitário de lá, e muita coisa banal para o resto do mundo gera suspensões nos Estados Unidos. Deve haver um critério, algum padrão cultural, mas como meu conhecimento de drogas resume-se a saber que Coristina D pode causar úlceras estomacais (experiência própria, crianças), não me sinto em condições de opinar.

Tudo nos leva a crer, então, que foi apenas um incidente azarado. Na NBA é muito comum os jogadores preocuparem-se com seus rendimentos e tentarem coisas bizarras para superar uns aos outros, dos treinos com porradas do Jermaine à câmera hiperbárica do Gilbert Arenas que simula a altitude dos Andes. Faz muito sentido o Rashard Lewis ir por conta própria atrás de um suplemento, comprar um desses troços feitos para civis, e acabar sendo pego no teste de doping sem fazer a menor ideia do que está acontecendo. Mas aí a gente respira um pouco e se pergunta o porquê de um cara com esse físico, que puxa uns ferros absurdos e recebe um dos melhores preparamentos físicos do mundo, achar que precisa de um suplemento alimentar. Vai ver ele é um tipo de anoréxico ao contrário, se olha no espelho e se acha magrinho, então se esconde no banheiro e fica comendo donuts e suplementos escondido. Perto do Dwight Howard, convenhamos, todos os seres humanos são uns magrelos.

Pode até ter havido má fé, mas o ganho de rendimento deve ser uma besteira. Seria muito idiota arriscar ser pego no rígido programa de testes de doping da NBA tomando uma porcaria que tem efeito mínimo num sujeito já forte pra burro como o Rashard Lewis. Os dez jogos de suspensão nem fazem muito sentido, sob esse prisma, mas constam aí só para ninguém dizer que a NBA não está de olho. O Orlando perde um jogador nos primeiros jogos, que nem valem nada mesmo e todos os times estão meio que se descobrindo, e não se fala mais nisso.

No entanto, a briga no Leste está cada vez mais acirrada com as novas aquisições de Cavs e Celtics, então o Magic não pode demorar muito pra pegar ritmo. Com isso, a preocupação da equipe já passa a ser quem ocupará o lugar do Rashard Lewis nas dez primeiras partidas e nós vamos dar uma olhada nisso.

O meio-técnico, meio-pizzaiolo Stan Van Gundy já havia avisado que Pietrus e Matt Barnes estavam lutando para saber quem seria o ala titular da equipe, jogando na posição três. Isso significa, na prática, que Vince Carter já está consolidado como armador na posição dois e Rashard Lewis como ala de força, na posição quatro. Com a contratação de Brandon Bass e a renovação do Gortat, muito se falou sobre um deles jogar no garrafão ao lado do Dwight Howard para permitir que o Lewis jogasse em sua posição natural, que é ala-armador. Sabiamente, não é o que acontecerá: o time se saiu tão bem usando apenas o Dwight dentro do garrafão, criando problemas defensivos para as outras equipes com o Rashard Lewis saindo para arremessar de três pontos, então por que mudaria a fórmula? Brandon Bass cria a possibilidade de estabelecer um garrafão mais forte, reboteiro, que não arremesse de fora, mas isso no decorrer de uma partida, em momentos específicos. Agora o time tem opções, pode variar, mas seria muito idiota abandonar o padrão que funcionou tão bem na temporada passada. Então, com Lewis suspenso por dez jogos, a lógica é que dois jogadores briguem para assumir sua posição, e nenhum deles é o Bass.

A primeira possibilidade seria o próprio Matt Barnes. No Warriors, muitas vezes jogou de ala de força. Não tem a altura ou o físico, mas é intenso, se posiciona muito bem para os rebotes e, o mais importante, sai do garrafão para arremessar de trás da linha de três pontos. É isso que fez sua fama no Warriors: bolas de três e rebotes ofensivos. No Suns, também se encaixou bem quando a ideia era colocar um time mais baixo em quadra. Matt Barnes foi uma aquisição silenciosa para o Magic mas ela faz muito sentido. Barnes é versátil, joga em múltiplas posições e atende justamente à necessidade do time de poder variar em quadra. Como reserva de Lewis ou de Pietrus, Matt Barnes sempre dará um jeito de contribuir.

Se não for o Barnes, resta ao Magic colocar Ryan Anderson como titular desde o primeiro jogo da equipe. Para muitos, Anderson veio do Nets na troca do Carter como brinde, provavelmente porque tinham acabado as bolachas de água e sal que costumam vir nessas transações. Mas o Magic deixou bem claro, desde o princípio, que a troca não teria acontecido se o Ryan Anderson não estivesse envolvido. Novamente faz sentido, já que Anderson é um jogador que pode jogar no garrafão, garantir seus rebotes, mas garante o pão-nosso-de-cada-dia arremessando de três pontos e de meia distância. Ou seja, o Magic viu um cover do rashard Lewis bem barato e quis garantir que ele estivesse na troca do Carter. A aposta rendeu frutos imediatos, porque o Ryan Anderson chutou traseiros nas Ligas de Verão desse ano e foi inclusive eleito o MVP do torneio.

Resumindo: ninguém percebeu, foi bem na miúda, mas o Magic garantiu sem alarde dois excelentes substitutos para o Rashard Lewis que casam perfeitamente com o estilo de jogo que a equipe estabeleceu na temporada passada (será que eles já esperavam a suspensão, ou uma contusão?). Ao contrário do Pistons, do Clippers e do Warriors, que ficam adicionando peças aleatórias, o Magic conseguiu com enorme talento e pouco dinheiro acrescentar peças que casam direitinho com o time. Inclusive substituindo o talento de Turkoglu em criar as próprias jogadas pelo Vince Carter na fase mais inteligente da sua carreira.

Isso, aliás, mostra todo o lado volúvel da NBA. Uns anos atrás, Vince Carter era um fominha maluco que boicotava o próprio time (lembram da história de que ele dedou para o Paul Pierce, numa partida contra o Celtis, a jogada que seu Raptors faria na última posse de bola, apenas para perder o jogo?). Saiu de Toronto cuspido e escarrado, não ganhou absolutamente nada no Nets e foi taxado de fracassado, vovô, acusado de não ter mais físico para enterrar e nem técnica para compensar essa falta. Besteira. Bastou pouco mais de uma temporada para que Carter mostrasse sua técnica, espírito de equipe, liderança, aceitando um papel secundário num time de pirralhos que não ia ganhar nem par-ou-ímpar, adaptando-se ao estilo do time e tornando-se um arremessador cauteloso e comedido, sem nunca omitir-se em quadra. Pronto, agora todo mundo quer o Carter na equipe e existem pouquíssimas dúvidas sobre sua capacidade de encaixar-se no elenco do Magic.

Por outro lado, seu primo Tracy McGrady deixou de ser o maior pontuador da NBA, o homem que carregava o lixo do Magic nas costas doloridas e que não tinha elenco pra ganhar nada, e tornou-se um jogador estigmatizado como perdedor, amarelão, sempre contundido e “fazendo corpo mole”. Recentemente disse que está com o melhor físico dos últimos anos, finalmente sem dores nos joelhos, treinando loucamente e sentindo-se capaz de meter 30 pontos na cabeça de qualquer um nesse exato momento. Não deu data de volta, mas prometeu que estará destruindo em algum ponto da temporada que vem.É claro que o mundo riu. Em algum lugar do Brasil, alguém inclusive gargalhou até morrer, mas alegaram que foi gripe suína. Nem eu, como torcedor do Rockets e fã incondicional do McGrady, acredito no homem. Em duas ou três temporadas, toda sua carreira foi por água abaixo numa situação em que fica difícil saber o que é fama e o que é realidade. Mas na NBA isso não importa, cada jogador constrói sua imagem momentaneamente e é julgado apenas por aquele momento.

Isso nos leva, óbvio, a Allen Iverson. Eu achava que ele tinha provado seu valor de todos os modos possíveis: sendo o cestinha da NBA de forma egoísta e fominha, sendo o cestinha da NBA jogando como armador principal e envolvendo os companheiros, levando um time vagabundo para as Finais da NBA, evoluindo seu jogo ano após ano. Mas não, sua passagem pelo Nuggets estigmatizou sua vida para sempre, porque lá ele tinha o elenco certo e não ganhou nada. Seu estilo não casou com a equipe e a experiência ficou marcada como o seu fracasso de encaixar-se em qualquer time, para sempre nomeado fominha e perdedor. O Billups ter aparecido por lá e tornado o time vencedor sem muito esforço não ajudou em nada a causa do Iverson. O Pistons se demolir justamente com a sua chegada também não foi muito legal, nesse momento até os marcianos sabem que onde o Iverson pisa não nasce grama. Mas com isso chegamos a um nível absurdo, exagerado: Iverson está desempregado. Devean George vai ter trabalho no Warriors, DJ Mbenga continua na NBA, mas Iverson não tem um emprego. Que diabos de memória curta tem essa gente do basquete. Baseados na fama momentânea de cada jogador, Vince Carter é um líder nato, T-Mac é feito de vidro e Allen Iverson é um mendigo que vai vender Moranguitos no farol.

Vamos acompanhar a situação do Iverson bem de perto, com sua frustração e seus desabafos, tudo no aguardo de que um time o acolha. Talvez alguma equipe que precise exatamente do seu estilo de jogo, como o Orlando Magic faz tão bem. Na temporada passada eles tinham um elenco minúsculo e sem reservas, hoje já podem se dar ao luxo de perder Rashard Lewis sem se importar muito. Allen Iverson pode trazer esse tipo de profundidade para qualquer time da NBA, e nessas circunstâncias já está aceitando qualquer mixaria. Só não vale jogar no Grizzlies, que aí é muito fim de carreira.

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