>Novos começos

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Ramon Sessions precisa levantar mesmo esses cotovelos pra 
impedir que o Mo Williams arranque a bola das suas mãos

A saída de LeBron James não significa para o Cavs apenas a perda de sua maior estrela, ela também explicita quão desastrosa foi a montagem desse elenco com o passar dos anos e como todo o time está impossibilitado de fazer qualquer coisa em quadra sem LeBron. Não há como negar que o time funcionava perfeitamente e era um dos mais fortes da NBA, mas sempre foi óbvio que o Cavs conseguia jogadores aleatoriamente apenas para rodear LeBron, sem qualquer critério ou esquema tático em vista. Quando Mo Williams foi contratado, era um jogador fominha que havia levado seus companheiros de Bucks à loucura, não existia motivo algum para que ele se encaixasse no Cavs. Suas limitações na armação sempre forçaram LeBron a iniciar a maior parte das jogadas, seus arremessos precipitados sempre forçaram LeBron a manter a bola pouco em suas mãos. Com essas rédeas Mo Williams rendeu muito bem, enlouqueceu pouca gente, ganhou vários jogos, fez poucas cagadas. Agora, de repente, tornou-se um dos únicos pontuadores da equipe e o único armador capaz de carregar a bola. É como se a Preta Gil fosse a única mulher da Terra e não houvesse outra solução além de casar com ela, mas seus desastres físicos ficassem por isso mesmo mais evidentes. Como dizemos por aqui, em terra de cego quem tem um olho é caolho.

Os engravatados do Cavs sabem da merda que os espera. Depois de chorar muito na cama, tomar sorvete direto no pote, ouvir muita música emo, xingar muito no Twitter e dizer que o Cavs vai ganhar um anel de campeão antes do LeBron,  a primeira coisa que fizeram foi ir atrás de um armador puro. Se esse time ficar sob responsabilidade da armação de Mo Williams, será um desastre terrível – apenas ampliado pela falta de qualidade do resto do elenco. O primeiro armador que tentaram contratar foi, acertadamente, Kyle Lowry. Como torcedor do Houston sei muito bem como ele chuta traseiros, defende como poucos na liga, tem uma visão incrível de jogo e toma sempre as decisões mais simples possíveis, sem frescura. Ele é indicado para treinador que não quer ficar de saco cheio e nem derramar uma única gota de suor, Lowry não precisa receber ordens, vai sempre colocar a bola nas mãos do jogador certo, só vai arremessar se fizer sentido, só vai bater pra dentro se houver espaço. Apesar de ser reserva no Houston porque o titular Aaron Brooks é o mais perto que o time tinha de um pontuador, bastou que o Lowry se contundisse para que o Rockets entrasse numa triste sequência de derrotas humilhantes. É simples assim, o time não funciona sem ele. Suei frio com a possibilidade de sua saída, tive pesadelos em que o Ilgauskas vinha em câmera lenta e roubava o Lowry de mim (pensando melhor ele não estava em câmera lenta, o Ilgauskas se move nessa velocidade na vida real), mas o Houston fez a coisa certa e igualou o contrato. Obrigado, time querido!

Não sobraram muitos armadores puros por aí, mas o Wolves está sempre disposto a fazer uma troca bizarra que ninguém entende. Ontem, mandaram Ramon Sessions, Ryan Hollins e uma escolha de segunda rodada do draft em troca de Delonte West e Sebastian Telfair. É até um pouco engraçado: na prática o Cavs mandou dois armadores problemáticos e incapazes de assumir a armação de uma equipe em troca de um armador que, no mínimo, merece uma chance de tentar.

Falamos bastante por aqui do Delonte West, sempre torcendo para que ele conseguisse passar por cima de seus problemas pessoais. Há anos luta contra sua depressão crônica, falou bastante sobre ela – clamando para que as pessoas entendam que depressão não é escolha, é doença – e volta e meia está envolvido com problemas em seu bairro natal, cheio de pobreza, drogas e criminalidade. Foi preso recentemente por portar uma porção de armas enquanto andava de triciclo por aí (caso que abordamos longamente num post da época) e somente agora saiu sua condenação, que envolve prisão domiciliar, horas de serviço comunitário e tratamento psicológico. A NBA deve suspendê-lo por vários jogos, nessa mania imbecil de botar a colher na vida pessoal dos jogadores, mas a prisão comum lhe permitirá participar dos jogos normalmente. O problema é que o Cavs cansou dessa bagunça toda. Deram todo o apoio possível, inclusive financeiro, e arcaram com a encrenca toda vez que o Delonte se auxentava graças à depressão ou algum outro problema pessoal. No fim, entenderam que não dá para vencer a realidade. O jogador é quem ele é, nasceu onde ele nasceu, e não há nada que possa ser feito para arrancá-lo bruscamente da realidade que o sufoca. Muito progresso foi feito, mas muitos passos para trás também ocorreram. Numa NBA cada vez mais aterrorizada com a ideia de mostrar a origem dos jogadores e os problemas reais fora das quadras, Delonte West não tem muitas chances. Comentamos no post do link acima que os problemas de Jamaal Tinsley com armas fizeram com que não arrumasse mais emprego na NBA e torcemos para que o mesmo não ocorresse com o West. Com informações chegando de que o Wolves mandou o armador embora (seu contrato não era inteiramente garantido caso fosse despedido antes de agosto), parece que Delonte West é mais um para as estatísticas de jogadores soterrados por seus problemas pessoais. Uma pena, porque jogava bem, era inteligente, bom arremessador. Vamos torcer para que arrume um time e não tenha que ir vender pipoca.

Sebastian Telfair não fica muito longe disso. Era um gênio nos seus tempos de colegial, um dos melhores armadores que já vi, mas resolveu não ir para a universidade, pulou direto pra NBA, teve problemas de imaturidade e postura em quadra, brigas com companheiros, desentendimentos com técnicos, falta de vontade nos treinos, prisões por armas e por drogas, e no fim nenhum time lhe deu os minutos necessários para que pudesse fazer alguma coisa. Na única temporada em que jogou pra valer estava no Wolves e chutou muitos traseiros, embora tenha mostrado que é incapaz de defender qualquer um. Mereceria uma vaga de reserva em qualquer time da NBA, mas quem está disposto a lhe dar essa chance? Seu tempo no Cavs foi curto e, dizem, cheio de desgosto de ambas as partes. Sua volta ao Minessota também tem planos de ser passageira, com o Wolves querendo mandá-lo embora ou trocá-lo imediatamente. O coitado não vai ter, de novo, a chance de mostrar que joga bem pra burro.

Eu defendi longamente o Kahn dia desses, dizendo que era cedo demais pra chamar o engravatado do Wolves de burro, mas o cara não ajuda. O que ele fez foi basicamente se arrepender de ter assinado um contrato grande com o Ramon Sessions (motivado por aquela vontade doente de usar dois armadores puros em quadra ao mesmo tempo) e então trocá-lo junto com o Ryan Hollins, que é um belo pivô quebra-galho, por dois jogadores que ele só queria mandar embora para liberar mais teto salarial. Uma troca apenas para desfazer sua cagada e começar o Wolves de novo pela milésima vez. Tem até certa razão, esse lance de usar o Flynn e o Sessions juntos nunca funcionou, ele ainda espera que o Ricky Rubio venha jogar na temporada que vem, acabou de contratar o Luke Ridnour, então tinha que se desfazer do contrato que assinou com o Sessions. Mas trocá-lo por coisa nenhuma não vai fazer com que ele ganhe nenhum Nobel da Física, diabos! A política do Wolves continua clara: perder bastante, não ter vergonha disso, e pagar o mínimo possível de salário enquanto isso acontece.

Para o Cavs, foi um presentão de graça, tipo a Larissa Riquelme no Paparazzo. O Ramon Sessions é aquele armador que era reserva do Mo Williams no Bucks e, quando o Mo se machucou, o Sessions assumiu a vaga de titular e deu 24 assistências num jogo, marcou 44 pontos em outro, fez um triple-double com 16 assistências em outro, e assim por diante. Chutou traseiros pra valer, o elenco do Bucks sentiu o gostinho de finalmente tocar na bola, e aí a situação do Mo Williams fominha ficou insustentável por lá, com ele sendo praticamente expulso do time pelos companheiros. Curiosamente, o Sessions – que assinou com o Wolves pra ser titular mas não teve muitas chances de jogo porque a ordem da casa era deixar o Flynn aprender na marra – vai agora para o Cavs jogar de novo com o Mo Williams. Apenas espero que não seja para ser reserva outra vez! O Sessions não é um arremessador maravilhoso, mas sabe quando arremessar, infiltra bem, é excelente reboteiro, bom nos contra-ataques e tem uma visão de jogo simplesmente espetacular, dá pra confiar as jogadas de um time em suas mãos. Se jogar ao lado do Mo Williams, vai pelo menos limitar um pouco o tempo que o Mo passa com a bola nas mãos e impedir que ele arremesse em exagero. Se for reserva do Mo, então podemos esperar que em breve o Cavs ame o Sessions de paixão e dê uma sova no Mo Williams, expulsando ele do time pra aprender a não ser otário.

Conseguir o Sessions foi enorme para o Cavs, mas também não deve fazer milagre. O time precisa entender que a melhor saída agora é simplesmente feder por uns tempos. Assinar o Varejão por 7 milhões de dólares pareceu uma boa ideia quando significava manter o elenco intacto em volta de LeBron (quer dizer, para alguns foi cagada mesmo na época), mas agora fica evidente o tamanho da merda. Trocar por Jamison foi legal quando era a peça final pra ganhar um título, agora é só um contrato de mais de 13 milhões que vai durar ainda dois anos. Mo Williams rendeu e foi até All-Star quando estava controlado, agora é um fominha que ganha 9 milhões de dólares. É um time muito caro com jogadores limitados, aleatórios, que não combinam, e não adianta gastar qualquer grana que eles tenham tentando contratar mais alguém. Resta dar a armação pro Sessions, estabelecer o estilo de jogo do novo técnico Byron Scott (altamente focado na armação e no cadenciamento do jogo), criar um time organizado, e perder. Imagina que legal se eles conseguem a primeira escolha do draft do próximo ano, o cara se torna uma estrela, e aí encerram-se os contratos de Jamison, Mo Williams e Varejão. Se o time for organizado e Byron Scott tiver feito um bom trabalho, conseguirão contratar um novo elenco em volta de seu novato e terão seu novo LeBron James. Na temporada de 2002, os torcedores do Cavs iam para o ginásio com placas “Percam por LeBron”, foi o que o Cavs fez, e deu tudo certo. Agora, começa a tática de novo, mais uma vez. Em uns 10 anos, devem ter que fazer de novo quando o tal novato-estrela for jogar com os amiguinhos em outro time, mas de todo modo é melhor do que ficar tentando remendar o estrago com mais contratos horríveis e apressados. É a lição definitiva, crianças: não sejam o Detroit Pistons.

O plano do Wolves também deve ser perder sem medo por uma boa escolha de draft, mas como tudo dá sempre errado para os lobinhos, a troca idiota já começou mal: ao trocar Sessions, que não ia ser usado mesmo, por dois armadores que devem ser mandados embora para economizar dinheiro, o Jonny Flynn foi pra cirurgia e deve perder vários meses na recuperação. Ou seja, agora o Wolves não tem armador reserva (o Ridnour vai ter que assumir a armação quando a temporada começar) e talvez tenha que manter o Telfair a contragosto. Nem as cagadas que eles fazem dá certo, é incrível. Mas vejam pelo lado positivo: pelo menos o Wolves não paga milhões e milhões por Jamison e Varejão. Às vezes, é melhor economizar.

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