>O apressado come cru

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Fãs do Pistons, não temam: com Kwame
Brown, como algo pode dar errado?
Às vezes é legal apertar aquele “botão do apocalipse”, vermelho e brilhante, e começar um time do zero. Times bons pra burro acabam percebendo, uma hora, que não vão conseguir ser campeões e não vale a pena ficar dando com a cabeça na parede, eternamente se contentando em ser bom-mas-nem-tanto. É preciso coragem para o botão do apocalipse, mas é uma atitude necessária e saudável na vida de qualquer time da NBA. O que se faz depois do apocalipse, no entanto, é o que separa os grandes times dos times meia-boca. Aquele Nets que foi campeão do Leste com Jason Kidd não tinha qualquer chance de derrotar as potências do Oeste, então desmontar e começar de novo era uma boa ideia. Montar o pior time da temporada e flertar com o pior recorde da história da NBA não é uma ideia tão boa, entretanto. Mesma coisa com o Pistons: se livrar do Billups é algo bem idiota, mas pelo menos permitia reconstruir a equipe com a grana que o fim do contrato do Iverson liberaria. Gastar essa grana num par de jogadores aleatórios que não tinham nada a ver com a equipe não é reconstruir, é terminar de se afundar na lama.
Quando o Pistons contratou Ben Gordon e Charlie Villanueva, avisei que a equipe caia no mesmo erro que tinha cometido tentando colocar Iverson no elenco. Vários fãs do Pistons me puxaram a orelha avisando que eu não entendia o que o Joe Dumars, um dos engravatados mais idolatrados-salve-salve da NBA, estava fazendo. Disseram que com sua incrível visão de mercado ele reconstruiria o time em apenas uma temporada, antes da badalada offseason de 2010, e que várias trocas surgiriam se livrando dos velhinhos da equipe. Pelo contrário, os velhinhos ainda estão lá – e ainda receberam Ben Wallace de volta com uma rodada de bingo e um chá de erva cidreira pra comemorar. Ao fim dessa temporada, uma tonelada de grandes estrelas verão o fim de seus contratos e todo time mequetrefe da NBA daria um dedo mindinho por dinheiro o bastante para competir por um desses grandes talentos. Com medo de que a competição ficasse muito acirrada e os salários muito inflados, Joe Dumars preferiu dar 50 milhões de doletas para Ben Gordon, o arremessador maluco, e 35 milhões para o Villanueva, que não consegue se destacar nem quando o time inteiro joga para ele na seleção da República Dominicana.
O que o Pistons tem em mãos é uma série de jogadores que se anulam e não fazem um puto de um sentido juntos. Enquanto Gordon precisa da bola nas mãos o tempo todo para arremessar como louco, Stuckey precisa da bola nas mãos o tempo todo para penetrar no garrafão. Richard Hamilton precisa de um esquema de jogo feito para ele, que consista de passes e corta-luzes, não de gente segurando a bola. Will Bynum é figurinha repetida, faz aquilo que Stuckey já faz, enquanto faltam jogadores com outras funções específicas. Enquanto a identidade do time já foi a defesa, e Ben Wallace e Tayshaun Prince ainda tentam segurar essa imagem, outros jogadores – em especial as novas aquisições como Gordon e Villanueva – não defendem nem filhotes de gatinhos sendo chutados na rua. Ainda tenho uma teoria de que o Jerebko, o Daye e o Prince são a mesma pessoa, mas com maquiagens diferentes, o que só dá ao time mais do mesmo. Há uma necessidade brutal de identidade para a equipe, uma rotação específica, um modo de jogo, algo que una esses jogadores. Vamos focar na defesa? Vamos só arremessar de três? Vamos jogar na correria, na porra-louquice? Vamos jogar de quatro, tentando fazer cestas com o nariz como o “Bud, o cão amigo”? Qualquer coisa serve, desde que esse monte de gente se transforme em algo que lembre, mesmo que de longe no escuro e na neblina, um time.
Para piorar as coisas, não deu nem pra brincar de pensar numa rotação para essa equipe porque todo mundo vive contundido. Villanueva quebrou o nariz, pegou uma gripe violenta e agora tem uma lesão terrível no pé, Will Bynum torceu o pé, Rodney Stuckey torceu o tornozelo (incluindo duas torções, uma em cada pé, num mesmo jogo contra o Bulls), Hamilton tem uma lesão grave no pulso, Ben Gordon lesionou o tornozelo e Prince tem uma lesão preocupante nas costas. Ou seja, só sobraram os novatos, o que é bacana porque times em reconstrução tem mais é que dar minutos para a pirralhada mesmo. Austin Daye e Jonas Jerebko são bons o bastante para dar uma alegria aos fãs do Pistons, o único problema é que eles precisam do espaço que supostamente pertence ao Prince. As lesões complicam qualquer equipe, não importa quão forte e profundo seja o elenco, mas a verdade é que no Pistons as lesões apenas camuflaram o problema maior: o que diabos fazer quando todo mundo estiver saudável? Não há espaço para Prince e Hamilton se o foco da equipe por reconstruir e dar minutos para os novatos, mas haverá coragem de colocar os dois no banco de um time perdedor e ter paciência para ver os frutos surgirem daqui a dois, três anos? Acreditem ou não, as lesões tornaram a vida do técnico John Kuester mais fácil, porque ele não teve ainda que fazer nenhuma decisão mais polêmica ou complicada. Além disso, dá pra colocar a culpa pela segunda pior campanha do Leste nas contusões, sem ter que encarar o fato de que esse time, do jeito que está, sequer é melhor do que o Nets e sua famigerada briga pela pior campanha de todos os tempos. Sério, alguém já viu o garrafão do Pistons? É facilmente o pior de toda a NBA: Ben Wallace aposentado, Kwame Brown e suas mãos minúsculas (sem falar no cérebro de ostra), Chris Wilcox e sua força bruta sem tutano, e por fim Jason Maxiell, excelente para vir do banco mas misteriosamente colocado de castigo pelo técnico (provavelmente um daqueles casos de jogadores que só funcionam ajudando um time bom, como carregadores de piano, e que não seguram a responsabilidade de lidar com um garrafão sozinhos). Quando seu garrafão tem Ben Wallace e Kwame Brown, é seguro dizer que seus pontos só virão de trás da linha de três…
O medo de feder fez Joe Dumars optar por uma reconstrução rápida e indolor. Com sorte ninguém perceberia, o time conseguiria uma oitava vaga para os playoffs, e na temporada que vem tudo voltaria ao normal. A pressa, no entanto, resultou em contratações equivocadas, falta de identidade para o time, dúvidas sobre colocar a pirralhada para jogar ou não (o Wolves pediu um técnico que colocasse os novos talentos para jogar mesmo que isso custasse vitórias, e o Pistons, tem essa abordagem?), e o pior: derrotas a dar com pau. Com a derrota para o Bulls na noite de ontem, são agora 13 derrotas seguidas. Mais do que um número simbólico de azar, perder para o Bulls mostrou a cagada de contratar o Ben Gordon: o Bulls teve uma excelente partida de John Salmons, que substituiu Gordon no elenco e é um arremessador capaz de pegar rebotes e defender, e o Pistons não tinha como usar o Gordon para defender nem Derrick Rose e nem o Kirk Hinrich, que foram titulares juntos e engoliram a equipe de Detroit viva. O resultado foi o Ben Gordon mofando no banco, ao ponto do Kuester achar melhor descansar a lesão do rapaz do que colocar seu cestinha em quadra. Gastar 50 milhões por um arremessador que só faz uma coisa? Numa liga tão repleta de gente capaz de oferecer coisas parecidas? Talvez o Joe Dumars erre às vezes, criançada. Talvez ele tente correr demais volta e meia, com medo de admitir uma reconstrução, de carregar nas costas o peso de ter desmontado uma das equipes mais bacanudas e vitoriosas dos últimos anos. Mas agora vai ter que arcar com a responsabilidade de uma das piores campanhas da temporada, uma das piores sequências de derrotas, e um time sem perspectiva de melhora. Quando as lesões acabarem, o time pode até melhorar em campanha, mas é aí que os problemas vão começar de verdade: o que diabos o Pistons quer fazer da vida? Será hora de decidir. O problema vai ser perceber que Hamilton e Prince precisam sair, porque não é fácil imaginar um time que aceite os dois, tão dependentes de esquemas táticos específicos. Provavelmente alguém deveria ter pensado nisso antes…

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