A gente até que é um blog bem puxa-saco do Portland Trail Blazers se você levar em consideração que nenhum dos que aqui escrevem torce para o time. Mas tem um explicação lógica: faz tempo que eles acertam bem mais do que erram e estão formando um time cada vez mais forte temporada atrás de temporada.
A última aquisição da equipe foi o armador mais old school da NBA, Andre Miller, que não ficou nada feliz ao receber uma proposta de apenas um ano para continuar no Sixers e topou um contrato de 3 anos (e 21 milhões de verdinhas) com o Blazers. Esse contrato de 7 milhões por temporada tem ainda o detalhe de o Blazers ter a opção de dispensar o último ano de contrato se quiser, o chamado “Team Option“.
Não é o contrato dos sonhos para o Miller, que disse que queria pelo menos 10 milhões por temporada. Mas convenhamos que era um sonho distante esse. Quantos times estão por aí desesperados atrás de um armador? Alguns dos poucos que tinham deficiência nessa posição conseguiram boas promessas num draft recheado de armadores. Não é a toa que o Bulls está tentando trocar o Kirk Hinrich faz tempo (desde que descobriram que o Rose é mil vezes melhor que ele) e não conseguem.
O Knicks, um dos poucos times dispostos a investir e com necessidade de armador, não quer nem ouvir falar de contratos grandes nessa temporada. A chegada do Andre Miller seria ótima nesse ano mas já pensou se atrapalha a vinda do LeBron no ano que vem? Deusmelivre!
Percebendo que o mercado não estava a seu favor, o Andre Miller fez o melhor negócio possível. Ele ganha um bom salário (dá pra comprar vários números de telefone com tanto dinheiro ) e é titular num time forte e promissor. Com o limbo em que o Jazz vive por não sabermos se trocam mesmo o Boozer e por quem, e considerando a zica do Rockets, colocaria o Blazers hoje como quarta força do Oeste atrás de Nuggets, Spurs e Lakers e perto do Mavs já antes da chegada do Miller. Com ele por lá eles são quartos e com chance de passar alguém no caminho.
Na temporada passada o Blazer usou o Steve Blake como armador titular. Eu sou fã dele desde a sua passagem pelo Denver e acho que ele até dava conta do recado por lá. Mas apesar de bom, acho que a melhor definição sobre ele foi dada na revista Dime, que disse que o Blake “deixará de ser um dos piores armadores titulares para ser um dos melhores reservas da NBA”. Acho que é bem isso, ele vivia nesse meio termo que não passava confiança total como titular e é bom demais para o nível padrão dos reservas.
Melhor que o Steve Blake o Andre Miller sem dúvida é na organização do jogo, na paciência e na hora de arriscar. O Blake é meio burocrático às vezes. Bom na hora de não cometer desperdícios de bola, ruim quando você precisa furar defesas bem montadas. Aqueles arremessos de meia distância do Miller, que eu não chamo de “jumper” porque ele não pula pra arremessar, são devastadores e costumam abrir bom espaço na defesa adversária.
Também é importante ressaltar que o Andre Miller se destacou no Sixers, que era um time que vivia de contra-ataques. Vivia mesmo. Sem os ataques em velocidade, iam acabar com uns 10 pontos por jogo, dados de favor pelo outro time. O Blazers, com Roy e Rudy Fernandez, são também ótimos em contra-ataques e ganham um ótimo parceiro para se tornarem um time mais completo.
No que o time perde muito é nas bolas de 3. O Blake tem ótimos 42% de aproveitamento nos arremessos de longe, o Miller tem 28% e isso porque costuma chutar só quando está livre! Uma solução para o time é usar na posição 3 alguém que bote as bolas de longe lá dentro. Pode ser o Nicolas Batum, que tem bom aproveitamento mas chuta muito pouco, ou até mesmo a eterna promessa Martell Webster, que perdeu boa parte da temporada passada machucado.
Mas mais importante que tudo isso é que o técnico Nate McMillan não confiava muito no Steve Blake nos momentos decisivos dos jogos. No fim das partidas costumávamos ver o Brandon Roy como armador principal e o Rudy Fernandez na posição 2.
Acho o Roy bem parecido com o Dwyane Wade. Não é que eles não dêem conta do recado como armadores principais, tem talento e visão de jogo pra isso, mas rendem tão mais quando tem um armador bom do lado pra ajudar que é um pecado usar eles na posição 1. Por isso acho que o Roy com a liberdade de jogar um pouco mais sem a bola nos quartos finais significará uma melhora ainda maior em um time que já decide jogos muito bem.
O Andre Miller, para alguns críticos que não devem fazer sexo faz tempo, não foi uma grande contratação porque já está velho. Ele realmente tem 33 anos, mas seu estilo de jogo é tão antigão e tão baseado na inteligência e não no físico que eu vejo ele jogando até os 40 anos numa boa. Sem contar que ele tem hoje a maior marca de jogos consecutivos na NBA, 530, sem nenhum histórico de contusões. Perdeu apenas 3 jogos nas últimas 10 temporadas.
Um lado pouco abordado é o quanto o Andre Miller pode ajudar o Greg Oden. Embora já tenha sido noticiado que o Blazers disse diretamente ao Oden (que tem cara de vô do Andre Miller) que querem que ele foque seu jogo completamente nos rebotes e na defesa, será um belo incômodo ter um pivozão zerando em pontos num jogo. E depois de anos fazendo aquela negação ofensiva do Dalembert fazer seus pontinhos em enterradas fáceis e pontes-aéreas, não deve ser muito pior fazer o Oden funcionar decentemente no ataque.
O Dalembert teve média de 7 pontos na temporada passada e 10 na anterior. Se o Oden desenvolver um ganchinho simples ou apenas conseguir se posicionar bem para algumas bandejas e enterradas, o Andre Miller, somado com as infiltrações do Roy, garantem uns 12 pontos por jogo pro Oden. A não ser que ele esteja no banco com o joelho fodido ou com 6 faltas, claro.
A única crítica que tinha para fazer do Blazers nos últimos tempos tinha sido a troca do Sergio Rodriguez para o Kings. Isso nos privou de dezenas de pontes aéreas lindas com o Rudy que apareceriam no Top 10 da semana, mas com a contratação de um armador top de linha como o Andre Miller a troca está mais que perdoada.
Engraçado que o Andre Miller era a terceira opção do Blazers. Antes eles tentaram, e ficaram bem próximos de conseguir, o Hedo Turkoglu e o Paul Millsap, dois excelentes jogadores mas que não eram tão necessários para o time como era conseguir um armador, além de serem mais caros. Até nos fracassos e tentativas frustradas o Blazers está acertando.
Uma outra curiosidade sobre a contratação do Miller é que é basicamente o primeiro grande reforço do time vindo como Free Agent. Roy, Webster, Bayless, Aldridge, Oden, Batum e Outlaw vieram todos em draft. É um raro exemplo de time que deu certo montado em escolhas de draft e que agora ganha o reforço de um veterano que acredita que a pivetada tem tudo pra dar certo.
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Outra contratação confirmada é a do Jamario Moon pelo Cleveland Cavaliers. O Heat decidiu não manter o ala e com isso ele deixa o banco do Cavs ainda mais forte. O Moon é outro cara do estilo Steve Blake. Com defeitos demais pra ser titular mas um bom cara pra ajudar no banco.
Se considerarmos o time titular do Cavs com Mo Williams, Delonte West, LeBron James, Anderson Varejão e Shaq, o banco já tem Anthony Parker, Jamario Moon e Zydrunas Ilgauskas, além do promissor JJ Hickson, que deve aparecer pra valer nessa temporada. É um puta banco de reserva para um time que mantém a base do time da temporada passada, que já era muito bom. E eles só perderam o Pavlovic e o Ben Wallace, que a essa altura do campeonato valem menos do que meia dúzia de biscoitos maizena. Timaço!