>O cabelo mais bonito da Grécia

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Vai pegar muita grega firmeza com esse cabelinho

A notícia da semana na NBA, como todos vocês já devem estar sabendo, é a ida do ala Josh Childress do Atlanta Hawks para o Olympiacos da Grécia. O contrato é bem gordo, 20 milhões de dólares, sem desconto de imposto, para disputar 3 temporadas, sendo que Childress pode optar por voltar para a NBA depois de qualquer uma das 3 temporadas de acordo com o seu contrato (engraçado é que se ele voltar para a NBA, o Atlanta Hawks ainda tem o direito de igualar qualquer oferta, Childress volta ainda como Free Agent restrito). Essa transferência está dando o que falar, tem gente que acha que é o começo da decadência da NBA diante da força do basquete europeu, tem gente que acha que é um caso isolado, tem gente que acha o cabelo do Childress engraçado e tem os que acham que é um pouco de tudo, como eu. E vai dizer que o cabelo do Childress não é engraçado.

Primeiro vamos falar do caso Childress apenas, de maneira isolada. Por que diabos ele foi pra lá? O primeiro motivo é que ele não queria continuar no Hawks. A cidade de Atlanta não parece odiada como Milwuakee mas o técnico parece ser uma pessoa tão legal quanto o Galvão Bueno. Tanto Josh Smith quanto o Josh Childress disseram que não queriam continuar no Hawks e a principal razão, dizem, é o técnico da equipe. Quem poderia prever que depois de ser a surpresa dos playoffs, eles seriam o grande fracasso da offseason?

Então o primeiro motivo é esse, ele não queria ficar no time em que jogava. Então vem outra questão, por que não mudou de time e continuou na NBA? Bom, como qualquer jogador (até o Tyronn Lue), o Josh Childress terminou seu contrato de novato e agora queria um contrato Faustão (grande, gordo e que só de ver dá vontade de rir) para se estabilizar financeiramente. Porém, não eram muitos times que tinham espaço na folha salarial nesse ano, sendo que muitos times estão se preparando para 2010, quando LeBron, Wade, Joe Johnson, Ginobili e mais uma caralhada de caras poderão assinar com qualquer time. Com isso, ninguém se preparou para esse ano e no fim das contas apenas Sixers, Warriors, Grizzlies e Clippers tinham reais chances de oferecer uma boa graninha pelo Childress. Mas convenhamos que nenhum desses times é uma daquelas potências da liga em que se dá gosto de jogar, talvez apenas o Sixers tenha um bom futuro próximo e o time até mostrou interesse pelo Childress, mas depois de oferecer aquela bolada pelo Elton Brand eles ficaram fora da jogada. O tempo foi passando, o Warriors pegou o Maggete, o Clippers usou o espaço que tinha para pegar o Marcus Camby, o Grizzlies disse que não deve contratar mais ninguém. Se você pensar bem, o Josh Childress não tinha muitas opções senão aceitar a milionária proposta grega ou topar um contrato magrinho na NBA para voltar ao mercado dos Free Agents no ano que vem. Lembrando que essa estratégia de esperar um ano não deu nada certo para caras como Andre Iguodala, Luol Deng e Ben Gordon.

Se o especial caso do Childress não preocupa, o que dizer de Boki Nachbar, Carlos Delfino e Jorge Garbajosa indo para a Rússia? Ou Primoz Brezec indo para a Itália e Juan Carlos Navarro voltando para a Espanha depois de uma temporada de relativo sucesso na NBA? A liga deveria se preocupar com isso?

O principal motivo dessa saída não é culpa do David Stern. E olha que poucas coisas no mundo não são culpas do David Stern – o aquecimento global, como todos sabemos, é. A principal causa é a desvalorização do dólar contra o Euro cada vez mais forte. O que não falta agora é artista pedindo pra ganhar em Euro, lembro de ler uma notícia há pouco tempo dizendo que a Gisele Bündchen só ia negociar contratos em Euro agora, ninguém mais quer ganhar em uma moeda que vale menos a cada dia.

O outro motivo, por incrível que pareça, é que a NBA é boa demais. Vamos pegar o exemplo do Navarro. Por melhor que ele seja, nunca iria chegar ao ponto de liderar um time na NBA. Se ele pegasse muito o jeito da liga, no máximo ia virar o que o Stojakovic é hoje, mas não com o mesmo salário porque todo mundo acha que o Hornets fez uma burrada em pagar tanto pelo sérvio. Já na Europa, o Navarro é o tipo de cara que quando chega faz um time deixar de ser mediano e virar candidato a título. E ganha para isso também. Lá ele assinou um contrato de 20 milhões de dólares por 4 anos, bem mais do que ele ganharia na NBA, onde provavelmente seria apenas um reserva de luxo.

E isso pode-se dizer de todo mundo. Imagina o Nachbar sendo reserva do Jarvis Hayes no Nets, o Garbajosa sendo o novo cara-que-dança-no-banco no lugar do Turiaf caso tivesse aceitado a proposta do Lakers, ou o Brezec afundando no banco do Raptors esperando o Jermaine O’Neal se machucar de novo. Não há o que a NBA possa fazer a respeito, os clubes europeus têm cada vez mais dinheiro e os jogadores vão sempre escolher o lugar em que vão ganhar mais dinheiro para ter uma função mais importante.

E esse negócio de função mais importante vai ainda mais longe do que só ser titular e ter minutos em quadra, tem a ver com prestígio também. E esse prestígio dos europeus dentro da NBA tem uma história interessante e que é bastante importante para entender o motivo que está fazendo os jogadores, principalmente europeus, a voltarem para a Europa ao invés de continuarem na NBA.

Há uns bons anos atrás, lá nos anos 90 ainda, os drafts eram lotados de americanos. As exceções eram raras, alguns poucos europeus e alguns africanos, sendo que esses em geral tinham feito faculdade nos EUA. Entre os europeus, vários fizeram sucesso, como Toni Kukoc, Arvydas Sabonis e Drazen Petrovic, ou seja, eram bons mas eram poucos. Foi só nesse começo de século que começou realmente um boom de gringos na liga. Dirk Nowitzki, que tinha sido draftado ainda pivete no final dos anos 90, estourou. Aí apareceram Kirilenko, Peja Stojakovic, Pau Gasol, Mehmet Okur, Hedo Turkoglu, Tony Parker, e até um que não era europeu mas que apareceu para o mundo jogando por lá, Manu Ginobili. Logo depois disso os EUA começaram a perder sua hegemonia no basquete internacional. Foram derrotas para a Argentina de Ginobili, para a Espanha de Gasol, para a Lituânia de Jasikevicius. Que conclusão tomar disso? O mundo estava alcançando os EUA e tinham dezenas de futuras estrelas da NBA espalhadas pelo basquete europeu.

De repente o draft estava recheado de nomes acabados em “ic”, “ov” e “icius” ao invés dos bons e velhos “Johnson” e “Jackson”. Foi a época em que se draftou Darko Milicic, Nikoloz Tsitishvili, Fran Vasquez, Andrea Bargnani, Yaroslav Korolev, todos como escolhas de topo do draft. Acontece que nenhum deles vingou na NBA, Darko e Bargnani nem chegaram a fracassar, mas não são nem de longe o que prometiam. Já Fran Vasquez foi o primeiro a não ir para a NBA para ganhar mais grana na Europa e fez, com isso, o Orlando jogar uma 11° escolha na lata de lixo. O nosso Tiago Splitter é a mesma coisa, não vai nunca para o Spurs porque ainda está ganhando uma bolada no Tau Ceramica, mas ainda acho que os dois vão para a NBA um dia.

Foi então que a moral dos gringos na liga americana começou a baixar. Antes eram novos recordes de quantidade de estrangeiros na NBA num jogo, no mesmo time, em um All-Star Game, depois os números foram baixando cada vez mais. Os erros no draft começaram a assustar cada vez mais os times da NBA e junto disso os próprios europeus dentro da NBA começaram a ser mal vistos. Com o passar dos anos, virou consenso o fato que todos os europeus, menos o Kirilenko, não sabiam jogar na defesa e que todos os gringos da liga inteira, menos o Ginobili, amarelavam no final dos jogos (com destaque para o Stojakovic e o Nowitzki). Talvez o auge dessa coisa toda tenha sido a final da NBA nesse ano. De um lado um time que dependia do Gasol, que não conseguiu render seu melhor jogo nas finais; de outro um time que não tinha nenhum europeu e que se destacava justamente por jogar bem na defesa, jogar duro. Além disso, antes da temporada, o manager do Celtics, Danny Ainge, disse que a Europa estava cheia de talento, mas não talento para serem estrelas, talento para ser “role-players“, aqueles jogadores que só compõe elenco, com uma ou duas funções mais específicas.

Depois de anos do boom europeu, os times agora não estão dando valor para esses jogadores. Com poucas exceções, estão sendo vistos como o Danny Ainge os vê, como jogadores que só ajudam um pouco e estão recebendo propostas salariais que vão de acordo com essa função, logo, não é tão difícil para os times europeus, que, dizem, estão recebendo apoio de bilionários da mesma maneira que acontece no futebol europeu (e na MSI), igualarem ou superarem as ofertas.

Existe então uma chance da NBA um dia perder uma de suas grandes estrelas para um time da Europa? Eu acho pouco provável. Os times europeus ainda não tem bala na agulha pra pagar 15 milhões de dólares em um único ano para um só jogador. Além disso, as estrelas são tratadas como estrelas na NBA, fora o prestígio e os contratos publicitários que eles só ganham por terem uma evidência na mídia que não teriam em nenhuma outra liga do mundo. O que pode acontecer são estrelas já em fim de carreira irem para lá. Alguém se surpreenderia de ver um time com Michael Finley como cestinha na Euroliga?

Outra coisa que pode acontecer, e seria engraçado, foi sugerido por um cara no fórum do InsideHoops. Ele dizia que, se os jogadores medianos como esses europeus que estão voltando e caras como Josh Childress e até o Anthony Parker do Raptors (que foi MVP da Euroliga) forem para a Europa ganhar milhões, então a NBA iria virar uma liga de super-estrelas e lixo. Só iam ter os caras que são bons demais para sair da NBA e os ruins demais para conseguir vaga na Euroliga. Não creio que isso vá acontecer mas seria engraçado, já imagino meu Lakers voltando a usar o Smush Parker e o Kwame Brown junto do Kobe Bryant.

Uma das soluções que a NBA poderia adotar é a mesma que a WNBA adotou para atrair mais jogadoras do mundo todo: aumentar o teto salarial de cada equipe. Assim as equipes poderiam pagar, sem multas, cada vez mais dinheiro para os seus atletas. Mas existe um risco de inflacionar demais os salários, é só ver o que acontece na liga de baseball que (corrijam-me se estiver falando bobagem, fãs da MLB) não tem teto salarial como o da NBA e com isso pagam os salários mais altos e absurdos do esporte americano.

Um lugar em que o crescimento do mercado europeu deve influenciar ainda mais que a NBA é o basquete universitário. Primeiro vimos o fenômeno do colegial Brendon Jennings não conseguir ir para a faculdade e então optar por ganhar uma boa graninha indo jogar na Itália. Agora foi a vez do pivô da Universidade de Georgia Tech, Ra’Sean Dickey, que ao invés de ir para o seu último ano de faculdade decidiu ir jogar na Ucrânia. Claro que Dickey não é um nome de peso como Brendon Jennings, mas pode sugerir um novo caminho para a pivetada americana. Ao invés de fazer universidade sem ganhar dinheiro algum, podem ir para a Europa e fazer um bom pé de meia por lá antes de tentar a sorte na NBA.

Não sei se a NBA está se preocupando com isso agora, imagino que sim, já que o David Stern quer dominar o mundo e fazer toda a raça humana escrava das transmissões diárias da NBA como nós já somos, mas eu acho que eles nem precisam se preocupar tanto assim, o que está acontecendo é mais sinal de um crescimento europeu do que de uma decadência da NBA. Mesmo fazendo as coisas certas, não tem como impedir que os concorrentes cresçam, é normal de qualquer negócio. Além disso, a NBA tem a seu favor algo que nenhuma outra liga tem, o sonho. Todo mundo sonha em jogar na NBA, quando se pensa em basquete, no mundo inteiro, se pensa nos grandes momentos da liga americana. O ídolo de todo mundo é o Magic Johnson, Michael Jordan, e hoje Kobe Bryant e LeBron James, todos na NBA; todos que jogam basquete querem viver isso. A maior prova disso é a nova contratação do Portland TraiBlazers, o draftado no ano passado Rudy Fernandez.

Rudy foi a grande estrela do basquete na Espanha no ano passado. Ele foi campeão e MVP da liga Catalã, da Copa do Rei e da ULEB, uma espécie de Copa da UEFA do basquete europeu. Mas ao invés de ficar na Europa, em que todos os times o queriam e pagariam milhões por ele, Rudy Fernandez decidiu ir ganhar seu salário de novato no Blazers, onde ele pode até acabar sendo reserva de Brandon Roy. Quando assinou com o Blazers, expressou tudo isso o que eu disse agora, vejam:

“O Portland mostrou muito interesse em mim e garantiram que eu serei importante para o time. O time é jovem e eu quero ajudá-los a chegar nos playoffs e, por que não, no título. Não foi fácil escolher o que fazer mas acho que chegou o momento de encarar novos desafios. Agora tenho a chance de realizar meu sonho de ser parte da NBA.”

Simples assim. O cara sentiu que será útil para o time e irá realizar um sonho. Para alguns, isso vale mais do que o valor do euro sobre o dólar.

Se a NBA perdeu o simpático e bom Josh Childress para a Europa, a Europa perdeu o espetacular Rudy Fernandez para a NBA. Não que não haja nada para se preocupar, mas a NBA ainda está no lucro.

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