O Cavs fede

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Quando tudo estiver ruim, pense: com Ricky Davis, estaria pior

Quando LeBron James chegou em Cleveland em 2003 como primeira escolha do draft, a estrela do time era Ricky Davis. O que, pensando bem, é bastante óbvio, afinal para conseguir uma primeira escolha do draft o time precisa, em geral, feder bastante. Não que o Ricky Davis seja o pior jogador do planeta, longe disso, mas ele certamente faria parte de uma lista contendo as 10 piores pessoas para colocar ao lado de LeBron. O resto da lista provavelmente conteria a Vovó Mafalda, Hitler e a Luciana Gimenez.

Tanto o estilo de jogo de Ricky Davis quanto sua postura em quadra tornavam impraticável deixá-lo ao lado da estrela recém-draftada. Estamos falando de um jogador que compromete seriamente o time por jogar apenas para si mesmo, incluindo a famosa tentativa de arremesso contra a própria cesta para completar um triple-double. Não levou muito tempo para que fosse trocado por três feijões mágicos e uma ação judicial para que nunca mais colocasse os pés em Cleveland.

No entanto, o time ainda fedia. Era hora de contratar um jogador cujo estilo fosse capaz de complementar LeBron James, ou seja, alguém capaz de arremessar da linha de 3 pontos, um pontuador que exigisse pouco a bola nas mãos, que dominasse o perímetro e pudesse acertar arremessos nos momentos decisivos das partidas. O homem ideal era Michael Redd, mas o sujeito inventou uma palavra esquisita (“lealdade”, o que é isso?) para rejeitar a proposta do Cavs e continuar no Bucks, um time que além de feder tem um dos uniformes mais abomináveis da NBA e cujo mascote é um veado roxo. Bem, se o Redd não aceitou, o jeito era segurar o dinheiro e aguardar outro jogador que tivesse as características desejadas. Mas o Cavs é uma esposa entediada com um cartão de crédito nas mãos, uma compradora compulsiva de quinquilharias que nunca vai usar. Manter espaço no teto salarial não era uma possibilidade, o time de LeBron precisava contratar alguém, fosse quem fosse. O escolhido foi Larry Hughes, que vinha de uma grande temporada com o Wizards ao lado de Gilbert Arenas.

Na época, em 2005, até a mãe do Hughes sabia que seu estilo não tinha absolutamente nada a ver com o que o Cavs procurava. Larry Hughes não arremessava da linha de 3 pontos, batia para dentro do garrafão em quase todas as jogadas e passava a maior parte do tempo com a bola nas mãos, ainda que não fosse um armador principal nato. Mas, para ser justo, sequer vou culpar o Hughes nessa. Se o Eddy Curry é cilíndrico, a culpa é dele, mas o Hughes era um grande jogador – com qualidades e defeitos que faziam sua produção depender de que fosse bem utilizado em quadra. Não era necessário ser ganhador do Nobel de Física para saber que ele jamais seria bem utilizado num time que necessitava de tudo aquilo que ele não sabia fazer. Incompatibilidades, uma contusão e alguns fracassos depois, o Cavs viu-se com uma bomba nas mãos: um jogador queimado, incapaz de produzir em quadra, ganhando 12 milhões por ano.

Lembra da lista de piores pessoas para jogar ao lado de LeBron James? Inclua Larry Hughes, por favor, logo ao lado do Didi Mocó. Assim, da mesma forma que ocorreu com Ricky Davis, Hughes foi trocado numa daquelas orgias malucas que envolvem três times e uma dúzia de jogadores, mas que no fim trouxe de relevante apenas Ben Wallace para a equipe. Confesso que a princípio achei uma boa idéia, afinal qualquer coisa seria melhor do que ter que aturar Larry Hughes na equipe, mas a verdade é que o Big Ben não fazia sentido em Cleveland. O Cavs já era um dos melhores times defensivos da NBA e um dos líderes em rebotes ofensivos, graças principalmente a Ilgauskas, Gooden e Varejão. Ou seja, quando o assunto é rebote e defesa, o time está bem. Mas quando é pontuar e depender de alguém não chamado LeBron, o negócio complica. Então porque diabos trocaram por um especialista em rebotes e defesa, principalmente um em decadência e na fase mais baixa de sua carreira?

Bem, nem preciso dizer que não deu certo. Mas uma coisa importante sobre o Cavs é que os dirigentes nunca param. Parecem eternamente conscientes de que têm em mãos um dos maiores jogadores da história da NBA e que, se não montarem um elenco digno, serão incapazes de lucrar com a sorte que tiveram naquele draft em 2003. Eles se coçam, rebolam, remexem. Nessa offseason, efetuaram mais uma troca, dessa vez para trazer o armador Mo Williams do Bucks.

Espera. Ainda tem espaço naquela lista de piores pessoas para jogar ao lado de LeBron James? Chegamos ao ponto em que as decisões da chefia do Cavs não são mero acaso, burrisse, insanidade temporária. Estamos frente a um caso patológico, a um padrão de incompetência gritante. Quem é o infeliz, incapaz de enxergar um padrão, que dita as cartas lá em Cleveland e diz: “Ricky Davis não deu certo, Larry Hughes não deu certo, ah, mas com o Mo Williams será diferente!”

Claro que será diferente! Um armador que segura a bola nas mãos o tempo todo, incapaz de envolver os companheiros, criticado por se negar a passar a bola para a estrela Michael Redd nos momentos cruciais dos jogos, querendo continuamente se sagrar herói e que, dizem, teve a saída festejada em Milwaukee pelos companheiros que sonhavam em, um dia, jogar com um armador que não quisesse arremessar o tempo inteiro. Uau, não parece exatamente o perfil ideal de um jogador para colocar ao lado de LeBron? Na verdade, o perfil é tão convidativo que até contrataria o sujeito para cuidar dos meus filhos!

Toda temporada tenho meu saco torrado por gente dizendo que o LeBron fede porque não consegue ser campeão da NBA, e é justamente por isso que fico numa torcida secreta para que arrumem um time minimamente decente para o sujeito ter, ao menos, alguma chance. Com um time aceitável, as derrotas de LeBron poderiam cair de fato sobre seus ombros e eu até ficaria mais aliviado com as críticas que, de outro modo, são inevitavelmente injustas. Mas não adianta, todo ano o Cavs consegue remodelar o time todo e formar um cocô tão ou mais fedido que o anterior. Os boatos sobre LeBron James ir para o Nets quando seu contrato acabar em 2010 fazem cada vez mais sentido, e não é por sua amizade com Jay-Z, mas sim porque uma hora ele tem que ficar de saco cheio de jogar com um monte de gorilas adestrados de circo!

Os dirigentes do Cavs sabem disso e não param de mudar o time, contratar novos jogadores, fazer trocas malucas. Mas acho que é justamente o pânico de serem culpados por não estarem fazendo nada para melhorar o time que acaba fazendo-os não ter um plano, com a calma necessária para montar enfim um elenco de peso. Já diria a Bíblia do Blazers: “federás por um tempinho, não te preocuparás, gastarás bem o teu dinheiro e adquirarás milhões de escolhas no draft, e então será de ti o reino dos céus.” Amém. Ao invés disso, o Cavs contrata a torto e a direito quem estiver disponível. Nas últimas semanas, as novas aquisições do time são Tarance Kinsey, que teve bons momentos na NBA mas desapareceu por completo de um dia para o outro (e tem até um Prêmio Bola Presa em sua homenagem) e Lorenzen Wright, que costumava viajar bastante entre a América e a África na época em que as placas tectônicas eram interligadas. Pra mim, fica claro que não há planejamento, há apenas uma aquisição frenética de jogadores aleatórios. Pior que isso só o Los Angeles Clippers, que parece um reality show do Silvio Santos, mas disso a gente fala outra hora. Por enquanto, é hora de lamentar por LeBron e torcer para o tempo passar rápido – em breve, para a sorte de todos, ele não mais estará por lá.

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