>O dilema da primeira escolha

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A possibilidade de ser draftado apenas com a terceira escolha leva Beasley a fazer gestos obcenos

Já faz um tempo desde que tivemos uma real polêmica sobre quem seria a primeira escolha de um draft da NBA. Em 2007, não havia muitas dúvidas de que o Blazers escolheria Greg Oden. Em 2006, Andrea Bargnani era garantido na primeira escolha do Raptors. Em 2005, Bogut era unanimidade para ir para o Bucks. Só em 2004 consigo me lembrar de discussões acaloradas debatendo se o Orlando Magic escolheria Dwight Howard ou Emeka Okafor. O que, aliás, hoje parece uma grande piada.

No draft de 2008, que ocorrerá no dia 26 de junho, finalmente temos uma dúvida verdadeira sobre quem será chamado com a primeira escolha, pertencente ao Chicago Bulls. Se Michael Beasley era unanimidade há poucos meses atrás, agora Derrick Rose está listado no topo da lista na grande maioria dos sites especializados. Então vamos dar uma olhada nas duas figuras e no que a noite do dia 26 nos reserva.

Bem, antes de mais nada, o Bulls fede. Por um tempo até pareceu que não, deram uma enganada, foram para os playoffs, mas aí tudo ficou bem claro: eles fedem pra valer. Jamais vi um time tão incapaz de jogar dentro do garrafão, com 500 jogadores diferentes entrando em quadra para arremessar de 3 pontos. É como se todo mundo no Bulls tivesse fobia de garrafão, e por uns tempos até pareceu questão psiquiátrica mesmo. O time chegou ao ridículo de ter como suas principais armas debaixo da cesta Luol Deng e Andres Nocioni, dois jogadores cujo ponto forte é justamente o jogo de perímetro mas ao menos não se recusam a chegar perto do aro às vezes, pra variar. É como se o Rogério Ceni fosse o único jogador do São Paulo que fosse pro ataque, saca?

Com tamanha deficiência no ataque à cesta, as defesas adversárias passaram a focar na proteção do perímetro e viram o Bulls se desintegrar por completo, passando até vergonha. De repente, todas as falhas do elenco estavam mais expostas do que a bunda da Carla Perez e até time Dente de Leite sabia o que fazer para derrotar a equipe de Chicago. Com tudo indo ladeira abaixo, o que restou para o Bulls foi o famoso ditado “pisou na merda, abre os dedos“. Desistiram de vez da temporada, trocaram de técnico e se livraram do Ben Wallace em troca de um jogador que – pasmem! – pelo menos aceitava chegar perto do aro: Drew Gooden. Vamos contar até dez para que os leitores que perceberam o quanto é engraçado chamar o Gooden para resolver o problema de pontos no garrafão parem de gargalhar. Pronto, pronto, passou.

Sendo bem sincero, o Gooden teve ótimas atuações no Bulls, o elenco subiu de produção com sua presença em quadra, mas dá pra levar a sério como esperança do time um sujeito que usa esse cabelo e essa barba?

Isso nos leva imediatamente ao Michael Beasley. Possível primeira escolha no draft, o ala é um pontuador e reboteiro nato, um monstro ofensivo, uma arma letal tanto de frente quanto de costas para a cesta. No perímetro, Beasley pode arremessar de trás da linha dos 3 pontos como todo e qualquer membro do Bulls (deve ser pré-requisito pra jogar por lá). Dentro do garrafão, seu jogo é refinadíssimo e seu ganchinho de esquerda é estiloso e letal. Além disso, tem ímãs nas mãos quando o assunto é rebotes ofensivos, sabendo se posicionar magistralmente bem em quadra. Um Carmelo Anthony no ataque, mais atlético e hábil nos rebotes. Bem, pelo menos pra mim, a comparação com o Carmelo é um elogio, embora para alguns hoje em dia seja pior do que xingar a mãe.

O que pra mim parece ser um casamento perfeito com o Bulls, resolvendo o problema de garrafão instantâneamente, começou a ser questionado por alguns motivos. Para começar, tem a coisa da altura. Alguém lembra do draft do ano passado em que ninguém conseguia dizer com certeza quantos anos tinha o calouro Yi Jianlian? Existiam milhões de teorias da conspiração dizendo que o governo chinês tinha sumido com a certidão dele, que ele na verdade tinha 30 anos, ou que então era um andróide ou coisas assim. A altura do Beasley é a mesma coisa e cada um diz um número diferente. Ele achava ter 2,08 mas muitos diziam que ele tinha 2,06. Na medição oficial, parece que o sujeito tem míseros 2,03. Bah, isso é ridículo, ele deve ser o anãozinho de sua turma de amigos! Um jogador que quer ser ala de força na NBA e que supostamente poderia jogar improvisado de pivô tem pouco mais de 2 metros? É o fim dos tempos, como diria seu avô (o seu, o meu e o de todo mundo).

Além disso, questiona-se muito a dedicação de Beasley aos treinos, sua paixão pelo esporte, sua atitude fora das quadras e sua vontade de jogar na defesa. Eu pessoalmente acho tudo isso uma besteira. Ele às vezes parece realmente desinteressado mas é porque ele domina o jogo no nível universitário de modo tão brutal que parece ficar até meio entediado. Acredito que bastarão alguns jogos intensos e umas cravadas na cabeça dele para que o rapaz comece a pegar gosto pela coisa e se dedicar mais aos treinos. Na parte defensiva, dizem que o Beasley nem sequer fazia de conta que estava defendendo no colegial, e que agora já marca bem ao menos no mano-a-mano. Não é um Ron Artest da vida mas mostrou progresso, o que é bom sinal. Se souber levantar os braços na defesa, já vai ser melhor do que o Carmelo, vai.

Mas essas dúvidas foram, aos poucos, deixando Beasley de escanteio em nome de outro jogador: Derrick Rose. O armador é um daqueles casos raríssimos que tem tesão de verdade por passar a bola. No mundo dos Mo Williams, JR Smiths e Jannero Pargos, alguém que prefere passar a bola ao invés de arremessar parece surreal, história de pescador. Rose é um passador genial, atlético pra burro, capaz de saltar sobre 12 carros e enterrar na cabeça de qualquer um, reboteiro, excelente na defesa e tão rápido quanto o Euller, o filho do vento. Não é um grande arremessador mas é simplesmente inacreditável quando bate para a cesta, acertando bolas incríveis mesmo depois de sofrer contato, tipo o Dwyane Wade. Um armador principal, reboteiro, bom defensor, que ama passar a bola, não sabe arremessar e enterra? É como um Jason Kidd que sai do chão, muita apelação!

Eu consigo entender porque o Bulls parece estar tão apaixonado pelo Rose. Como se não bastasse, o jovem armador é tranquilo, bitolado em treinamentos, se dá bem com técnicos e colegas de equipe, bom moço, lava as mãos antes das refeições e até passa fio dental. Se o Beasley virar um gordo nanico que não gosta de treinar nem defender, enquanto Derrick Rose vira o novo Jason Kidd tornando todos seus companheiros de equipe melhores, o Bulls vai ficar com aquela cara de “putz, escolhi o Kwame Brown” e ficar com a mão amarela, como quem solta pum. Não tenho dúvidas de que Rose é tentador e será uma estrela sem a menor sombra de dúvidas.

Mas mesmo assim, eu juro que vou vomitar se o Bulls escolher mais um armador. O Gooden e sua barba de Fidel Castro vão continuar sendo a única força da equipe no garrafão, inutilizando Ben Gordon, Deng e Nocioni no perímetro? Até acredito que Rose possa se tornar uma estrela maior e mais completa do que Beasley, mas às vezes é preciso deixar isso de lado e escolher quem fornece à sua equipe aquilo que ela mais precisa.

Quer uma prova disso? O Miami Heat. Não é nenhum segredo que o Heat quer Derrick Rose para fazer uma dupla monstruosa com Dwyane Wade. Dá pra imaginar quantos lances livres por jogo os dois cobrariam batendo para dentro do garrafão um depois do outro? Os jogos do Miami iriam durar 8 horas cada um, vai ser um porre. Além do que, somando a dupla a Shawn Marion, temos imediatamente um dos contra-ataques mais mortais da NBA. É de salivar, né? Mas e se o Bulls escolher mesmo Derrick Rose? Se for o caso, tudo indica que o Heat não deve pegar o Beasley. Eles estão perdidamente apaixonados por OJ Mayo, o armador que não é lá muito fã de passar a bola mas que é um arremessador fantástico e um dos maiores talentos ofensivos que um draft já viu. Ele e Wade seriam uma combinação perfeita, tipo arroz e feijão, queijo e goiabada, abobrinha e molho de tomate. (como assim, você não gosta?) Tudo porque o Miami prefere pegar um jogador que se encaixe no elenco ao invés do maior talento disponível. Mas se o Heat pegar o Mayo com a segunda escolha, então onde o Beasley vai parar?

Parece loucura que um jogador tão especial (e não no sentido Telethon da palavra) como Beasley, cotado por tanto tempo para ser a primeira escolha do draft, acabe indo parar lá na terceira escolha, mas é um cenário perfeitamente possível. Eu ainda acho que o Bulls deveria escolhê-lo, mas se eles não resistirem ao Rose e o Heat pegar o jogador que se encaixa melhor na equipe ao invés do melhor talento, Michael Beasley vai acabar parando tá em Minessota. Há rumores de que o Heat pode draftar o Beasley e trocar imediatamente Udonis Haslem, o tipo de coisa que nunca acontece e, quando rola de verdade, nunca é anunciado como boato antes. De todo modo, de uma coisa podemos ter certeza: o pessoal lá no Wolves deve estar torcendo muito para que o OJ Mayo vá mesmo jogar em Miami. Dá pra imaginar como seria um time com Beasley e Al Jefferson? Já dá água na boca para a temporada que vem e insônia até o draft começar.

Até lá, vamos brincar de tentar adivinhar a ordem das escolhas, mas dessa vez estamos frente a uma verdadeira incógnita, com vários cenários possíveis. O resto do draft é o de menos, no fundo. Por enquanto, vou quebrando a cabeça: quais devem ser as três primeiras escolhas?

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