>O fator X

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No mundo do Kobe o Jared Dudley está dando muito espaço na marcação

O blog da revista Dime disse exatamente o que eu pensei ontem depois do jogo 6 entre Lakers e Suns. Vou traduzir aqui: “Todas as mudanças de estratégia jogo após jogo, a defesa por zona e todos os jogadores que foram heróis durante a série não pareceram importar quando a série acabou. Quando o Lakers oficialmente mandou o Suns para casa no jogo 6 da final do Oeste pareceu que o resultado era simplesmente porque o Lakers tinha Kobe Bryant e o Phoenix Suns não.

A sensação foi exatamente essa. O Suns fez tudo o que podia, o Lakers fez tudo o que era capaz e no fim das contas o Kobe foi o Kobe e resolveu a parada. Na crítica esportiva americana eles usam muito a expressão “X-Factor”, o “Fator X”, que designa aquele jogador ou característica do jogo que pode fazer a diferença no jogo. É aquilo que se funcionar garante a vitória para um time. No Lakers o X-Factor costuma ser o Lamar Odom, que quando joga bem deixa o Lakers imparável, e no Suns pode ser as bolas de 3 pontos. Mas pensando um pouco melhor no termo, o Fator X dessa série foi mesmo o Kobe Bryant. Embora atuações espetaculares dele sejam esperadas e até bem comuns, foi a mais impressionante delas que resolveu uma série que foi muito parelha, onde não dava pra dizer com certeza qual era o melhor time. Com equipes diferentes, mas equivalentes, venceu a que teve Kobe Bryant sendo magnífico na hora certa.
A hora certa foi o fim do terceiro período e todo o quarto quarto, momentos em que o Lakers primeiro abriu sua maior vantagem na partida (17 pontos) e quando sofreu uma tentativa de virada avassaladora do Suns, liderada mais uma vez pelo banco de reservas do time. Digo como torcedor do Lakers que ontem só fiquei mais tranquilo e aliviado quando os titulares do Suns voltaram para quadra, porque aqueles reservas me assustam. A combinação de Goran Dragic, Leandrinho, Jared Dudley e Channing Frye é melhor que muito time titular por aí, por muitas vezes melhor que o time titular do próprio Suns.
A começar pela defesa. Embora talvez só o Dudley seja um excelente marcador individual nesse grupo, o resto compensa pela vontade e pela velocidade. Eles estão sempre marcando por pressão, sempre se arriscando para interceptar passes e continuamente forçam erros do adversário. Erros que, na mão do Dragic e do Leandrinho, viram contra-ataques muito velozes. A combinação de forçar erros, marcação por pressão, velocidade e arremessos de três (os 4 jogadores são excelentes arremessadores) é uma fórmula mágica para cortar grandes diferenças em pouco tempo.
Foi o que aconteceu no começo do quarto período, especialmente depois da posse de bola de 6 pontos do Suns. Um arremesso do Dragic, uma falta flagrante no Sasha Vujacic e uma bandeja do mesmo Dragic. A falta flagrante veio quando o armador do Suns acertou o arremesso, falou alguma bobagem em esloveno na orelha do Sasha, que respondeu dando uma cotovelada na cara do compatriota. Isso colocou o Suns no jogo pelos 6 pontos seguidos e pela empolgação que a confusão trouxe para o time e especialmente para a torcida. Por não manter a calma o The Machine quase colocou uma das melhores partidas do Lakers nos playoffs a perder. Perguntado sobre o que ia fazer com o Sasha depois do jogo, Kobe foi bem claro e sucinto, “Eu vou matar ele”.
A jogada inteira é muito engraçada por diversos motivos: trash talk sempre é legal, em esloveno só fica melhor. Depois o Vujacic acha que engana alguém com aquele papinho de “só levantei o braço, nem vi que o rosto dele estava perto do meu cotovelo”? Ridículo. E finalmente o Dragic coroa a fama de grandes atores da Eslovênia com aquele tombo com a mão no rosto que arrancou uma lágrima de orgulho do Rivaldo. Uma jogada imbecil, patética, mas que mudou a cara do jogo.
Antes disso o Lakers estava jogando demais. O Suns dava espaço para Kobe chutar de meia distância e de longe e ele acertava. Dava espaço para o Artest chutar e ele meteu 4 bolas de 3 pontos. Até o Jordan Farmar estava acertando tudo. Mas o mais interessante desse primeiro tempo e da série no geral foi que o Suns conseguiu forçar o Lakers a fazer o que não queria e o time de Los Angeles conseguiu vencer sendo bom no que não costuma ser. Vitória tática do Suns, vitória técnica do Lakers.
A estratégia do Suns pedia os arremessos longos de dois pontos, principalmente do Kobe. A bola longa de 2 é considerada a de menos eficiência na NBA, ela não tem o mesmo nível de aproveitamento da bandeja ou do arremesso próximo e é menos eficiente que a de 3 pontos porque, além de valer menos, costuma ser mais difícil de se acertar pelo posicionamento do jogador. O atacante costuma estar postado para chutar de 3, não de 2, as bolas longas que valem menos costumam vir de dribles, o que deixa seu aproveitamento mais difícil.
Segundo dados do HoopData e do blog ThePaintedArea, a média de aproveitamento nos arremessos de 2 longos entre todos os times da NBA foi de 39%. Nessa série o Lakers acertou 53%! Durante a temporada o Lakers havia tido uma média semelhante a do resto da liga. O Kobe em especial tinha média de 35% de aproveitamento nas bolas de 2 longas, mas nessa série acertou 58%. O Fisher melhorou seu aproveitamento de 41% para impressionantes 63%.
Sem esses números o Lakers dificilmente teria vencido os jogos 5 e 6, já que no resto da temporada o time se comportou como nos jogos 1 e 2, atacando a cesta e tendo sucesso somente quando conseguia fazer suas cestas lá perto. Em todos os jogos que o Lakers ganhou por mais de 10 pontos nessa pós-temporada, fez a maioria de seus arremessos em lances-livres, bandejas ou enterradas. E a minoria em bolas de 3 e bolas de 2 longas. Nos 7 jogos em que o Lakers ou perdeu ou ganhou por diferença menor de 5 pontos o time chutou mais bolas de 3 do que teve bandejas ou enterradas.
Outro número que mostra a superioridade tática do Suns? Durante a temporada regular o Lakers tinha 31% de suas jogadas feitas de “Spot-ups” (aqueles chutes onde o cara está parado e preparado para arremessar) ou jogadas de isolação 1-contra-1. E 20% de “post-ups“, que é quando o jogador recebe a bola de costas pra cesta no garrafão.
Na série contra o Suns o número de Spot-ups e isolações cresceu para assustadores 43%, enquanto o de post-ups no garrafão caiu para 10%. O Suns queria o Lakers longe da cesta, sem a bola na mão de Gasol e Bynum e executou isso a perfeição. Eles apostaram que Artest não acertaria seus arremessos como fez no primeiro tempo do jogo 6, que o Fisher não passaria dos 20 pontos como passou no jogo 5 e que o Kobe não fosse capaz de acertar arremessos absurdos quando bem marcado por Jared Dudley ou Grant Hill. Era a melhor aposta que eles poderiam fazer e não podem se culpar por isso, o Lakers que deve se orgulhar por seus jogadores terem se superado para reverter o jogo.
No fim das contas é o que eu disse antes. O Suns tinha a tática, a defesa, Steve Nash jogando um bolão e um banco de reservas fulminante. O Lakers tinha as peças para igualar tudo isso e mais Kobe Bryant para fazer a balança pesar a seu favor no fim da série, simples assim. Ter uma super estrela desse nível não te leva a final da NBA, mas ao lado de um bom time acaba sendo o tal Fator X em séries tão disputadas.
Abaixo alguns dos arremessos impossíveis que o Black Mamba fez para garantir o terceiro título seguido da conferência Oeste para o Lakers (primeiro tri-campeonato de conferência na NBA desde que o mesmo Lakers venceu o Oeste em 2000, 01 e 02)


Alguém também achou o máximo o espírito esportivo do técnico Alvin Gentry ao tentar atrapalhar o Kobe no último arremesso dele e aceitando o tapinha na bunda que tomou com uma risada?

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