🔒O fim do técnico-faz-tudo

Estamos naquela época do ano onde os times da NBA estão vivendo uma das duas situações: ou estão comemorando o sucesso de irem longe nos Playoffs, ou se reunindo para discutir de quem é a culpa por mais um ano de fracasso. E sabemos que essa bomba geralmente cai no colo do técnico. Depois da calmaria da última offseason, já tivemos SEIS mudanças desde o fim da temporada. Atlanta Hawks, Detroit Pistons, Phoenix Suns, Charlotte Hornets, NY Knicks e Orlando Magic anunciaram mudanças de comando.

Dentre essas alterações, chamam especialmente a atenção as demissões de Mike Budenholzer, do Hawks, e Stan Van Gundy, a mais recente, do Pistons. Os dois eram frutos de uma moda recente que colocava em prática o sonho de Vanderlei Luxemburgo: o técnico manager. Depois do sucesso de Gregg Popovich no San Antonio Spurs e, por menor período de tempo, de Pat Riley no Miami Heat, os times começaram a ver com bons olhos a ideia de um treinador forte que também é General Manager, o responsável por fazer contratações, trocas e definir o elenco de um time.

Vale lembrar, porém, que a alcunha de técnico/manager é útil na prática, mas que oficialmente nem sempre é assim. Geralmente o técnico ganha também o título de “presidente” e deixa o cargo de GM com outra pessoa. Ela é a responsável pelos trabalhos diários do cargo, como coordenar olheiros, estudar elencos e observar jogadores, mas o técnico, como presidente, é quem dá a palavra final sobre movimentações importantes.

Em poucos anos, vários aderiram ao sistema. Tivemos os citados Budenholzer e Van Gundy, depois Doc Rivers no LA Clippers e Tom Thibodeau no Minnesota Timberwolves. Dá pra entender o apelo da função dupla: todos estes são técnicos tem renome e foram caros, então os times que os contrataram já queriam mesmo que eles implantassem uma “cultura” na equipe e queriam que eles estivessem lá a longo prazo, não era um mero teste. Eles também chegaram com uma ideia de jogo própria na cabeça e nada mais justo que fizessem parte da construção de um elenco que pudesse atender a estes planos. Por fim, o emprego duplo anula desculpas dos dois lados. O técnico não pode mais resmungar que seu elenco não é do jeito que queria e o GM não pode culpar o técnico por não saber usar os jogadores que ele contratou.

Tudo lindo, tudo belo, mas poucos anos se passaram e o cenário é bem diferente. Mike Budenholzer abriu mão do posto de manager no último ano e agora, uma temporada depois, pediu para sair do Hawks. Doc Rivers segue no Clippers, mas também já não mais comanda a parte gerencial e Stan Van Gundy foi duplamente demitido nesta semana. Restou apenas Tom Thibodeau, mas não sem muitas críticas na orelha. Por que pagar salários tão grandes para tantos jogadores e depois usar uma rotação com sete atletas?!

Tentando achar o que esses técnicos-coach tem em comum nos últimos anos, encontramos algo que hoje até parece óbvio: algum sucesso na quadra e diversos erros nos bastidores. Rivers treinou o melhor Clippers da história, mas nunca conseguiu achar aquele quinto elemento para o time titular nem resolveu o problema do banco de reservas; Budenholzer montou um dos melhores Hawks em décadas, mas depois perdeu o elenco inteiro e recebeu balinhas de café em troca; Van Gundy fez o Pistons ter um time de verdade depois da ERA Gordon/Villanueva, mas acabou apostando salários altos demais em jogadores médios. O único ainda vivo no cargo, Thibodeau quase não usa suas contratações e parece até piada o quanto ele tem montado uma filial do seu Chicago Bulls do começo da década.

Digo que esses erros parece óbvios hoje porque se pensarmos bem, não é absurdo que esses bons técnicos tenham se destacado como técnicos e falhado justamente naquilo que nunca tinham feito antes! O trabalho de um General Manager parece fácil e executável por qualquer fã de basquete que conhece os jogadores da NBA e o mínimo das regras salariais, mas temos visto que a coisa não é assim. Caras sem experiência nessa vida de bastidores de negociações costumam fazer bobagens (vide Vlade Divac), enquanto outros que passaram anos em cargos secundários da gerência acertam quando ganham uma promoção (vide Sam Presti, Kevin Pritchard, Daryl Morey, etc.). Como com os próprios técnicos, ajuda ter sido assistente antes, nem que seja só para se habituar com o dia-a-dia da função.

Outro fator negativo, um que sempre alertamos em nossos podcasts, é o da diferença de visão entre as duas funções. Um técnico está muito ligado aos problemas cotidianos da equipe e emocionalmente ligado aos resultados recentes, é também bem comum que ele enxergue o time de maneira diferente devido ao contato pessoal mais próximo com os jogadores. Não é estranho um técnico de time ruim ou mediano achar que está muito próximo de um grande sucesso, por exemplo. Isso, embora natural e nada condenável, pode atrapalhar na função de General Manager. Será que Brad Stevens, se executasse essa função dupla, teria coragem de trocar Isaiah Thomas e Avery Bradley na última offseason depois de tudo o que fizeram por ele na temporada? O time precisou da frieza e visão de longuíssimo prazo do GM Danny Ainge para fazer os negócios que hoje parecem RIDÍCULOS de tão perfeitos.

Os casos de Doc Rivers e Tom Thibodeau em especial mostram outro problema, os dois são encantados demais pelas suas experiências próprias. Rivers virou motivo de piada na imprensa americana por sempre contratar jogadores que atuavam bem contra ele, um bom jogo contra o Clippers era garantia de oferta de contrato no ano seguinte. Já Thibs, como dissemos, está focado em reconstruir um time que fez sucesso em 2011. Quanto tempo até Nate Robinson e Carlos Boozer saírem da aposentadoria? E se pensarmos bem, até Budenholzer fez isso ao contratar Tiago Splitter, já machucado e com altíssimo salário, só pela boa relação que teve com ele quando era assistente do Spurs.

Esse caso me parece um daqueles onde você questiona e enfrenta a história, quebra a cara e depois manda um “ah, entendi”. O que descrevemos aqui são dois cargos diferentes, com exigências diferentes e que, por isso, são melhores executados por pessoas diferentes. A ânsia por achar uma nova resposta e quebrar paradigmas é sempre excitante, mas quando não dá certo temos que assumir e entender que o que existia antes estava lá por um motivo.

Se fosse fácil entender porque a experiência deu certo no Spurs, as cópias também teriam funcionado, mas nunca é tão simples. O que podemos dizer é que Gregg Popovich nunca abriu mão de planos a longo prazo só por pressa de conquistar mais títulos. Eles desenvolveram Danny Green e Kawhi Leonard mesmo com isso custando anos valiosos das carreiras de Tim Duncan, Tony Parker e Manu Ginóbili. Pop também foi sempre muito bom em fazer os seus principais jogadores se sentirem como parte da franquia e assim ajudá-lo na manutenção sustentável dos salários. E, como vimos na troca de George Hill, Pop teve a frieza de trocar um de seus jogadores favoritos na vida quando viu um bom negócio pela frente. Por fim, todos dizem que Pop sabe escutar RC Buford –o GM oficial– e toda a equipe a sua volta, deve ajudar a evitar os erros que outros técnicos cometem pela proximidade com a quadra.

Depois de tantos anos também é hora de aprender outra regra da NBA: não é porque deu certo no San Antonio Spurs que vai dar certo no resto dos times.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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