>O futuro do Cavs

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“Tinha um papagaio, um judeu e o Duncan, e aí…”

Não sei bem como dizer isso, é um tanto constrangedor, parece mentira quando sai da boca e, se ouvido por aí, me faz passar por maluco. Como dizer, então, sem ser dominado pela incredulidade? Bem, falemos de uma vez. O Cavs é… um dos melhores… times… da NBA.

Diabos, como isso foi acontecer? Tá certo, eu vi o Cavs ser campeão do Leste, vejo eles fazendo estrago nos playoffs todo ano, mas sempre afirmei que eles são “o melhor pior time do mundo“. Ou seja, um time mequetrefe e sem talento mas que dá certo mesmo assim na base da defesa, dos rebotes (principalmente ofensivos) e do LeBron James. Pra piorar, o Cavs faz umas trocas meio aleatórias, sem critério, parece nunca saber que tipo de elenco está de fato montando e nunca tem a paciência necessária para aguardar a disponibilidade de um jogador que se encaixe no esquema proposto. Como se não bastasse, Mike Brown é um dos piores técnicos da NBA quando o assunto é atacar e sua tática favorita é a “passem para o LeBron e depois venham sentar aqui no colo do vovô comer um cookie, tomar um copo de leite e ouvir uma historinha”. Com isso, me acostumei a tratar o Cavs como um time que faz meus olhos sangrarem mas que, mesmo assim, aguento o sofrimento de assistir em nome do punhado de jogadas de LeBron que costumam salvar tudo. A experiência de ver um jogo do Cavs sem LeBron, no entanto, só pode ser comparada à experiência de ter visto a Playboy da Mara Maravilha nos anos 90. Quem deu uma espiada e resistiu à vontade incontrolável de arrancar os próprios olhos com com um graveto sabe do que eu estou falando.

Mas agora tudo está diferente. O Cavs é um time funcional dos dois lados da quadra, o ataque está fluindo como nunca, há inteligência na movimentação de bola e dá até gosto de assistir aos jogos. Como explicar a mudança, a eficiência, a evolução, a segunda colocação no Leste atrás apenas do Celtics? Admito: tudo isso é, em parte, culpa do Mo Williams.

Fui o primeiro a alertar que o Mo Williams iria enlouquecer o LeBron em dois minutos de convivência por não passar a bola, querer decidir os jogos no final e não ter nenhuma lógica na escolha de seus arremessos. Colocar um jogador desses como armador principal de qualquer equipe é loucura, porque a bola acaba não chegando em quem deveria. No Bucks, por exemplo, o Michael Redd deveria ser o chefão da budega mas passava partes enormes dos jogos ignorado no ataque, mofando num canto, esquecido, tipo eliminado de Big Brother. No final de jogos disputados era ainda pior, o Redd queria mostrar serviço mas sequer via a cor da bola. Aposto que ele preferia ver a tal Playboy da Mara Maravilha do que jogar mais uma temporada com o Mo Will.

Como o Cavs resolveu esse problema? Como impedir que a bola passe longos minutos sem chegar nas mãos de LeBron James? Simples: deixando que LeBron seja o responsável por armar o jogo. Mo Williams até leva a bola para o ataque, correndo como um maluco com certa frequência, mas não é de forma alguma o armador do Cavs. É LeBron quem chama as jogadas (todas as duas), quem coloca a bola em movimento e quem decide o que fazer com ela. Mo Williams sequer tem a chance de ser fominha, permitindo que ele use sem contra-indicações suas maiores qualidades: velocidade na transição e seus arremessos de fora. Com isso, o Cavs como um todo é um time mais veloz, mais preocupado em impor velocidade no ataque. O estilo se encaixou bem com LeBron, que pode atravessar a quadra inteira de costas em dois segundos durante os contra-ataques. Vi uma jogada umas semanas atrás que não encontrei no YouTube – nela, LeBron parte para o contra-ataque contra dois defensores e simplesmente contorna os dois como se fossem cones. Enquanto os defensores deram dois passos, como seres humanos normais seriam capazes naquela passagem de tempo, LeBron deu uns quinze passos e não podia ser parado a não ser com um tiro de espingarda. Ou seja, por que o Cavs não resolveu correr antes?

Mas, além disso, o time também é muito mais mortal do perímetro, algo que sempre foi uma grande deficiência da equipe. E aí Mo Will é apenas parte da solução, porque toda a equipe parece mais competente no quesito. O arremesso de três pontos de LeBron vem se firmando aos poucos e, se não é confiável, pelo menos já não fede mais. Mas quando ele cria espaços para os outros companheiros simplesmente por respirar, dois armadores estão de prontidão no perímetro para acertar seus arremessos de fora: Mo Will e Delonte West. Na prática, com LeBron armando, o time fica com três armadores, três armas perigosas de fora, e todo mundo está acertando seus chutes. Mo está convertendo 40% de seus arremessos de três, West 45% (e absurdos 52% contando também os de dois pontos). Com isso, o Cavs é um time com mais opções e que aguenta melhor do que nunca os momentos em que LeBron vai pro banco. Na verdade, as vitórias andam tão fáceis que LeBron anda passando vários últimos períodos dos jogos no banco, assim como Kobe Bryant. Mas é claro que são níveis diferentes: LeBron, com 37 minutos por jogo, está com a menor média de minutos de sua carreira, é verdade, mas Kobe está jogando apenas 33 por partida – coisa que não acontecia desde sua segunda temporada na Liga, quando ele ainda engatinhava e comia papinha.

Quando LeBron senta, Mo Williams pode retomar seus velhos hábitos e monopolizar o ataque, mas o elenco de apoio agora é mais sólido do que nunca e, pela primeira vez, tem uma identidade. Todos os jogadores sabem suas funções tanto no ataque quanto na defesa, há uma consistência e uma profundidade capazes de resistir a um par de contusões. Ou seja, não só dá gosto de ver o Cavs jogar como eles também despontam como favoritos para levar o Leste sem muitas surpresas. O próximo Cavs e Celtics pode ser um bom termômetro das reais chances desse time, mas acredito que seja um duelo muito mais equilibrado do que na temporada passada.

Essa evolução da equipe, no entanto, não interessa apenas para esses playoffs. Na verdade, repercutem diretamente nas decisões que serão tomadas em 2010. Com as trocas feitas pelo Knicks para liberar espaço na folha salarial, nitidamente com intenções de contratar LeBron quando seu contrato terminar em 2010, não se fala em outra coisa além do futuro do astro. Na noite de ontem, o Cavs foi visitar o Knicks em New York e a cidade parecia até que iria receber a Alinne Moraes: camisetas exclusivas distribuídas por toda parte (com os dizeres “Testemunha”, e não, não é aquele filme com o Harrison Ford), balões, quadras de rua decoradas, e uma torcida no Madison Square Garden que foi à loucura desde o primeiro segundo em que LeBron pisou na quadra. Depois das trocas o Knicks fede, o Cavs reina, foi um atropelamento, mas a festa continuou. Se a intenção era mostrar que LeBron vai ser amado, idolatrado e salve-salve pela torcida de lá, deu certo. Mas não acho que isso vá pesar muito na hora de LeBron decidir, em 2010, por qual time jogará.

Entendo que existem algumas decisões bem irracionais no mundo, que levam em conta fatores meio bizarros. Eu, por exemplo, não fui me vacinar contra a rubéola por medo da doença. Na verdade, tinha decidido não ir (afinal, dava trabalho e eu não sou muito fã de agulhas) até ver o sorriso sensacional da Fernanda Paes Leme num cartaz da campanha de vacinação. Então compreendo que o LeBron possa escolher jogar no Knicks por New York ser a meca do basquete mundial, por ser o maior mercado, ter a torcida mais fanática, o ginásio mais famoso, um técnico que LeBron chamou de “gênio ofensivo” e um uniforme “suuuper fashion”. É possível. Mas numa corrida silenciosa contra Michael Jordan e o posto ilusório de melhor jogador da história da humanidade, o que deve importar para LeBron é o time que lhe der mais condições de ser campeão quinhentas vezes. O atual Cavs pode não ser esse time, convenhamos, mas o Knicks é que não vai ser mesmo. Praticamente não resta nada por lá e LeBron teria a tarefa de erguer o Knicks das cinzas, coisa que ele já fez com o Cavs e deve estar meio de saco cheio de fazer. Aos 23 anos, sinto que o LeBron já passou da fase “vamos ser estrela dessa budega” e deve estar interessado em deixar seu nome no exclusivo hall dos campeões, visitado por poucos jogadores inigualáveis como Brian Scalabrine, Darko Milicic e Bruce Bowen. Coisa fina.

Se o Knicks quer chances de roubar LeBron de um Cavs que, mais do que nunca, tem chances reais de ganhar um anel, é melhor começar a vencer o mais rápido possível. Caso David Lee, Nate Robinson e seus amigos formem algo que lembre de longe um grupo, um elenco promissor e interessante que pode alcançar grandes coisas, aí o assunto será outro. Por enquanto, no entanto, só veremos LeBron no Knicks em 2010 se ele for, metaforicamente, muito fã do sorriso da Fernanda Paes Leme. Ou algo assim.

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