O futuro do Mavs

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Devin Harris ainda está chocado com a facilidade
com que chuta o traseiro do Mavs

No post de ontem, comentando sobre a troca de Jason Kidd por Devin Harris na temporada passada, afirmei que a janela para título do Dallas Mavericks parecia definitivamente fechada. Não quero, no entanto, dar a impressão de que o Mavs fede. O começo ruim do time de Dallas, com derrotas para times questionáveis como Bulls e Clippers (e trocentas outras contra Cavs, Magic, Nuggets, Lakers, Spurs) criaram um clima de decadência na franquia aos olhos do público. Basta pensar no Mavs e imaginamos o declínio, o fracasso, os tornozelos do Kidd torcidos por um drible do Devin Harris. Essa espécie de aura não é muito racional, afinal o time tem melhorado de produção, se recuperou um pouco na tabela, está se acostumando com o novo técnico e passou tempo demais sem poder contar com Josh Howard, contundido. Mas a sensação é de descrença, parece que ninguém mais leva o Mavs a sério. Eles ainda são um grande time, isso é fato, mas bons o suficiente para sequer chegar aos playoffs no Oeste? A briga provavelmente será apenas entre 9 times (o Clippers não entra na lista porque a qualquer momento alguém por lá vai quebrar o pescoço escovando os dentes) e será que há algum motivo para acreditar que o Dallas conseguirá terminar a temporada acima da nona colocação?

Aquele Mavs com Devin Harris não parecia ter as condições pra chegar muito longe, mas talvez fosse apenas uma questão de estilo de jogo, não exatamente de elenco. Com Jason Kidd era possível juntar um dos melhores armadores dessa galáxia a um eterno candidato ao prêmio de MVP, Dirk Nowitzki. Era um risco, um comprometimento com a vitória imediata. Mas o estilo de jogo continuou o mesmo e Jason Kidd parecia tão amarrado e tímido quanto Devin Harris nos seus tempos de Mavs. Se os dois chutaram traseiros no Nets, a gente começa a desconfiar que o problema não são eles, mas o time de Dallas e seu modo de jogar basquete. Com um técnico novo, o Rick Carslile, Kidd está se sentindo bem mais à vontade em quadra – provavelmente porque foi implatada a mesma “princeton offense” com que ele estava acostumado em New Jersey. Mas agora não é mais questão de estilo, e sim de elenco: falta um jogador explosivo, agressivo, que ataque a cesta e crie espaços. Ou seja, eles precisam do Delorean para voltar no tempo, impedir a troca pelo Kidd, trocar o técnico e dar liberdade ofensiva para Devin Harris. Às vezes, o melhor modo de ajudar os companheiros arremessadores é atacar a cesta ao invés de passar a bola, algo que vem dando certo em algum grau lá no Nets e é justamente do que o Mavs precisa. É por isso que a torcida de New Jersey tem que agradecer que ninguém tem um capacitor de fluxo por aí. E agradecer ao Mark Cuban também, por ter feito a troca, como no vídeo abaixo.

Acho que o mais legal do vídeo é o Vince Carter rindo pra burro quando percebe o que a torcida está cantando. Ele olha pro Devin Harris, compartilha com o garoto a graça do momento e não parece ter muitas saudades dos velhos tempos. Desculpe Kidd, você é um dos melhores de todos os tempos, mas o Devin Harris apenas faz o Vince Carter melhor e permite que ele seja um líder em quadra – o que mais Carter poderia querer?

A função que Harris deveria estar exercendo no Mavs (mas que, como vimos, não exercia quando estava na equipe) continua vaga, não importa quão bem esteja Dirk Nowitzki. Ao contrário do bom senso popular, que acha que faz mal tomar banho de barriga cheia e misturar leite com manga, eu não acho que o Nowitzki seja um jogador que só sabe fazer uma coisa e que fuja do contato físico. Seu jogo evolui a cada partida, e se em algum momento ele era apenas um arremessador que preferia jogar vôlei pra não ter que tocar em ninguém, isso já faz parte do passado. O alemão não tem medo de bater para dentro do garrafão, tomar umas porradas e decidir jogos no finalzinho, coisas que ele continua tendo uma fama enganosa de não fazer. Mas uma coisa que o Dirk não tem e nunca vai ter é um primor de coordenação motora, tenho certeza de que ele jamais passaria naqueles testes de desenhar uma linha reta para tirar carteira de motorista. Quando bate pra dentro, em geral fica desequilibrado, torto, um animal fora de seu meio natural, algo como a Bruna Surfistinha atuando numa novela da Globo. Dá pra contar com o Nowitzki pra conseguir seus pontos de qualquer meio imaginável, ele está tendo uma das melhores temporadas ofensivas de sua carreira, mas não dá pra apostar que ele será físico e se sinta à vontade enterrando bola atrás de bola.

Josh Howard poderia ter essa função de atacar a cesta agressivamente e criar espaços, mas não só ele teve atuações preguiçosas e desencorajantes nos playoffs como também acabou de voltar de contusão e está indo aos poucos, sem ritmo para nada. Na sua ausência, Gerald Green ganhou uma oportunidade única ao ser titular e receber essa função. Acontece que, apesar de ser ex-campeão de enterradas, Green sonha em ser Kobe Bryant e prende-se muito aos arremessos de longe. Seu jogo também é muito cru nos outros aspectos e seus minutos foram sumindo com o tempo, especialmente pelas falhas defensivas. O mais novo experimento em Dallas foi usar JJ Barea, o homem que só sabe pontuar, no quinteto titular. Às vezes ele compromete completamente o ataque, por ser agressivo demais e talentoso de menos, mas tem horas em que sua mentalidade por si só já abre espaços para o resto do Mavs jogar como quer. O projeto poderia ter futuro, mas Josh voltou de suas férias e foi direto pra quadra, mesmo que vá levar semanas para estar em condições de jogo. Ainda assim, não é ele quem resolverá todos os problemas. Trata-se de um time pouco agressivo, nada físico, sentindo já o desânimo de não ser bom o bastante para um título e o peso fúnebre da idade. Mentalmente, parece que eles nunca se recuperaram da derrota para o Warriors nos playoffs, naquela zebra incrível em que perderam apesar de terem se classificado como líderes do Oeste. É como se eles sempre pensassem que não interessa o que façam, vão acabar perdendo mesmo porque falta alguma coisa. E a verdade é que o time é excelente, mas falta alguma coisa mesmo, não tem como negar. Ficar tentando ignorar isso não vai dar muito certo porque o tempo está correndo contra o time. Não importa o quanto o Mavs seja bom e o Mark Cuban esteja satisfeito com sua equipe, o elenco inteirinho irá pro lixo se eles ficarem fora dos playoffs ou se conseguirem apenas uma oitava ou sétima vaga seguida por eliminação para uma das equipes do topo. O contrato de Kidd acabará nessa temporada, certamente não será renovado, mas o Mavs ainda assim não terá dinheiro para contratar uma outra estrela no lugar, tendo em vista que eles estão muito, muito acima do limite salarial. Então continuará faltando algo, talvez falte ainda mais, e os resultados só vão ladeira abaixo.

O que fazer com esse time bom mas limitado, com falhas claras, assim que Kidd der o fora? Será o momento de decidir começar tudo de novo ou então abordar os defeitos e achar que algum remendo será suficiente para alcançar um título. Porque ficar no mais-ou-menos a gente sabe que não funciona, às vezes é simplesmente melhor feder por uns anos do que ficar mediano pra sempre.

Sobre isso, Dirk Nowitzki foi enfático: ele já tem os títulos pessoais, já foi MVP, agora ele quer deixar de ficar no “quase” e decidiu ganhar um título. Para isso, disse que estará disposto a aceitar menos dinheiro quando seu contrato acabar em 2010. O Mark Cuban ficou todo feliz e exaltou como o alemão é um cara legal, o que aliás é verdade. Dirk se importa com o esporte mais do que tudo, fez questão de abandonar a vida e ir jogar pela seleção alemã, levá-la para as Olimpíadas, e agora vai abrir mão de umas verdinhas para tentar ser campeão. Mas pra mim a afirmação do Dirk é bastante ambígua, ele falou que aceitaria menos dinheiro, mas não disse exatamente onde. Então não dá pra imaginar ele indo jogar num time com mais chances de título e deixando pra lá esse Mavs que deixou seu auge para trás e agora sofre com a falta de sei-lá-o-quê? Alguns, inclusive, afirmam que seria uma péssima idéia para o Mavs optar por montar (ou manter) um time em volta do Nowitzki, que seria muito limitado. Olha, se o time em volta do Joe Johnson deu certo, acho que qualquer coisa dá – basta ter as peças certas ao redor.

É triste, mas nos últimos anos testemunhamos o fim de quase todos os times que jogavam um basquete veloz e focado exclusivamente no ataque. Primeiro o Phoenix Suns, com o Shaq, resolveu abandonar a porra-louquisse. Agora o Mavs já está na marcha-lenta faz um tempo, quase se desmantelando apesar do talento inegável da equipe. Os poucos times que sobraram nessa linha, Warriors e Knicks, não passam de anedotas, piadas de papagaio, são times velozes e criativos que não metem medo em ninguém e que não podem ser levados a sério (são “pornô ruim”, com penetração mas que ninguém gosta de ver, como disse o Denis). O Warriors em especial é um circo, o Don Nelson agora passou a defesa e o ataque para assistentes seus, está responsável apenas por sentar no banco e lidar com os jogadores, e parece ter perdido completamente a cabeça de vez (o Marco Belinelli ser titular é um dos sinais do Apocalipse, está na Bíblia!). O Don Nelson ganha um salário para ser maluco, não treinar a equipe e ficar no banco, e tem gente que acha que só o Marbury ganha dinheiro fácil

O Mavs vai ter decisões complicadas para tomar em breve, e que dependerão da recuperação da equipe nessa temporada: se eles de repente dão muito certo, a esperança pode segurar essas peças juntas por mais um tempo. Mas eu não consigo imaginar um time melhor que esteja tão longe de ganhar um título em toda a NBA, o que pra mim deveria ser um sinal claro de “taque fora e comece de novo”. Mas se no Warriors – que fede muito – não tacam a budega fora para reconstruir, não culpo o Mark Cuban por continuar acreditando em seu Dallas. Só que para acreditar de verdade, ele precisa remodelar um pouco, fazer umas trocas. O problema é aquele eterno medo de fazer merda outra vez, aquele maldito Devin Harris que puxa seu pé todas as noites.

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