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Eu já tinha pensado uma coisa comigo e ontem no chat aqui do blog uma pessoa (infelizmente não lembro quem) disse a mesma coisa: amanhã não é dia de jogo do Boston, é dia de jogo do Atlanta.
Isso foi dito ontem, claro, porque o esperado jogo do Atlanta é hoje. Lembro de ter usado o primeiro jogo do Celtics como o jogo que eu teria que perder para agradar a namorada, aquele jogo que você não assiste pra sair com sua mina e fazer ela pensar que você gosta mais dela do que de basquete.
E senti que tinha feito certo, afinal os dois primeiros jogos seguiram a lógica e a defesa do Boston esmagou o (até então) limitado ataque do Hawks, foram 81 pontos no jogo 1 e apenas 77 no jogo 2 para o Atlanta. Até que então veio o jogo 3, que seria legal apenas porque Atlanta não recebia um jogo de playoff desde 99. Era o jogo pra você ver a torcida, dizer como é raro ver o ginásio de Atlanta cheio e falar como foi legal eles terem chegado até aí, só. Mas foi então que os moleques do Hawks se empolgaram mais que o normal com a torcida presente e resolveram jogar basquete de verdade.
Eu vou confessar que não assisti lá muitos jogos do Atlanta durante a temporada, não conheço tanto o time quanto conheço o Lakers por exemplo, mas deu pra ver jogos o bastante pra saber algumas coisas e fazer uma comparação do time antes e depois da troca de Mike Bibby:
Antes da troca:
– O ataque do Atlanta na era pré-Bibby era uma das coisas mais desorganizadas já vistas e o time simplesmente não tinha uma opção de 3 pontos além de Salim Stoudemire. Joe Johnson tem arremesso de 3 mas suas oportunidades ficavam limitadas porque ele também atuava muito como armador principal, tentando envolver outros jogadores.
– Tirando Joe Johnson, todos os jogadores pecavam pela irregularidade. Josh Smith sempre dava seus tocos mas era capaz de fazer 20 pontos com bolas de 3 ou fazer só 10 com apenas lances livres. Childress, Horford e Marvin Williams também eram irregulares na defesa e no ataque.
– O garrafão ou tinha o fraco Zaza Pachulia na defesa ou o ainda inexperiente Al Horford, que foi uma máquina de rebotes desde o começo mas que sentia claras dificuldades marcando pivôs de verdade.
Depois da troca
– Bibby não chegou destruindo com tudo e jogando como nos tempos de Kings, mas ele foi importante para organizar o ataque e principalmente para dar liberdade para Joe Johnson jogar o que sabe e na posição que sabe.
– Na segunda metade da temporada, quando Bibby chegou, Horford já tinha pegado algumas manhas. Apesar de sua altura não ajudar muito, ele já não parecia mais perdido como pivô e tirava muito proveito da posição em quadra para pegar muitos rebotes ofensivos.
– O time começou a ter mais identidade, se destacando pelos contra-ataques. Foi o quinto time com mais pontos vindos de contra-ataque na NBA. Atrás apenas de Nuggets, Suns, Warriors e Sixers.
O que não mudou muito entre uma fase e outra da temporada foi a irregularidade. O time mostrava alguns talentos em um jogo e no outro as coisas simplesmente não davam certo. Muito disso acontecia pela irregularidade dos próprios jogadores, Marvin Williams e Josh Childress, em especial, eram mais imprevisíveis que resultado de Mega Sena. A sorte do time foi que o Indiana Pacers, o New Jersey Nets e o Chicago Bulls, seus concorrentes à oitava vaga do Leste nos playoffs, não eram irregulares, eram só ruins mesmo, invariavelmente perdiam e com isso o Atlanta chegou aos playoffs com pífeas 37 vitórias. A lógica era uma varrida do Celtics, que ganhou 29 jogos a mais.
Mas o Altanta resolveu jogar nos dois jogos em casa os seus dois melhores jogos na temporada. Foi uma das poucas vezes na temporada que Childress, Smith, Joe Johnson, Bibby e Horford, todos, jogaram bem juntos no mesmo jogo. Até o Acie Law, uma decepção em sua temporada de novato, fez um bom jogo 4. O resultado foi que, com todos jogando bem, o Hawks se mostrou um time dos mais perigosos de se enfrentar.
Você pode achar que eu estou exagerando, que não é por causa de duas vitórias em casa que o Atlanta de repente é um time perigoso, mas a verdade é que se tem um estilo de time que é sempre perigoso de enfrentar é um que tem uma forte defesa e que sabe sair no contra-ataque. Foi possível ver nos olhos e nas atitudes do Celtics durante os jogos que eles pensavam mil vezes antes de dar um passe ou arremesso, tudo causado pelo medo do contra-atque. Qualquer rebote, toco ou roubo virava correria e era tudo o que o Celtics não queria. Para se ter uma idéia, a única sequência de 3 derrotas seguidas do Boston na temporada foi quando pegou em sequência Phoenix, Denver e Golden State, ou seja, eles odeiam correr.
No jogo 2, o Boston entrou muito melhor, abrindo 16 a 3 logo no começo do primeiro quarto. Aí eu, e acho que muita gente, pensei que já era, que o jovem time do Atlanta não ia ser capaz de lidar com isso e ia perder o jogo. A impressão durou pouco tempo e a pivetada virou o jogo ainda no mesmo primeiro quarto. Depois disso eles ainda sobreviveram a um jogo disputado, a uma diferença de 11 pontos contra eles no fim do terceiro quarto e passaram no teste de um jogo disputado de playoff contra um time experiente. Joe Johnson fez 20 pontos só no último período com jogadas dignas de Kobe e LeBron, mostrou porque é um All-Star e empatou a série.
Aqui um vídeo de como o Joe Johnson dominou o jogo 4:
Agora a série será definida por duas coisas, uma envolvendo cada time. O Boston precisa manter a cabeça no lugar e não deixar a confiança ser abalada, já o Atlanta precisa manter o nível defensivo dos dois jogos em casa. Apostar mesmo, eu ainda aposto no Boston, claro, mas essa já é a melhor série da primeira rodada dos playoffs até agora. Devia ter agradado a namorada no jogo do Suns mesmo, viu…
Alguns dados interessantes sobre o Josh Smith que li hoje no site da revista Dime:
– Ele é o jogador com mais tocos em sua carreira antes do aniversário de 22 anos (768, contra 709 do Shaq)
– Ele foi o primeiro jogador da história a ter pelo menos 200 tocos e 25 bolas de 3 pontos na mesma temporada. É raro ver jogadores versáteis como ele.
– Somente 3 jogadores tiveram pelo menos 20 pontos e 3 tocos em suas médias por 48 minutos nessa temporada. Os outros foram Jermaine O’Neal e Chris Kaman.
– Um dos únicos 3 jogadores na história a ter pelo menos 17 pontos, 8 rebotes, 3 assistências, 2,8 tocos e 1,5 roubos por jogo em uma temporada. Os outros foram Hakeen Olajuwon e David Robinson.
– Somente Josh Smith, Ben Wallace e Andrei Kirilenko tiveram temporadas com mais de 200 tocos e 100 roubos na última década.
Nota divertida:
– 97 faltas flagrante nos 1230 jogos da temporada regular = 1 falta flagrante a cada 14 jogos.
– 12 faltas flagrante nos primeiros 37 jogos dos playoffs = 1 falta flagrante a cada 3 jogos.