>O melhor de todos os K-Marts

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Se meu filho arremessar esquisito como o Kevin Martin, vai apanhar

Dois jogadores são possuídores do apelido “K-Mart” na NBA, um trocadilho tolo com o nome deles e a famosa rede de supermercados lá da gringolândia. Trocadilhos, aliás, como todos sabem, são o primo pobre do humor. O primeiro agraciado com a abreviação espirituosa foi o Kenyon Martin, na época em que ele era uma máquina de enterrar e sair gritando como se fosse um débil mental, constantemente mostrando para a câmera a tatuagem de um nenê que tem no braço (?!). Mas o tempo desse K-Mart foi se passando, ele se separou de Jason Kidd em troca de um maço de verdinhas, o joelho foi virando poeira, e ele nunca foi um jogador que soubesse fazer qualquer coisa além de ser explosivo mesmo. Os anos se passaram e condenaram Martin a ser mais um jogador mais-ou-menos.

Mas eis que, para manter a honra do apelido meia-boca, surge um novo K-Mart. Dessa vez, nada de enterradas, atleticismo ou dependência do Kidd. Trata-se de Kevin Martin, o armador do Sacramento Kings.

Na nossa última coluna “Both Teams Played Hard”, fizemos uma piadinha respondendo sobre o Kevin Martin de uma maneira que deixaria Rasheed Wallace orgulhoso, mas que esperamos não ter deixado o Renzo, autor da pergunta, muito bravo. A questão era realmente pertinente porque o novo K-Mart está chutando uns traseiros já faz tempo, meio anônimo graças à falta de atenção da mídia, e só não respondemos na hora porque falar mais profundamente sobre ele já era um plano engatilhado.

O Kevin Martin figura na lista de cestinhas da temporada, estava com alguns recordes em números de lances livres tentados até se contundir, tem números impressionantes, e mesmo assim daria para colocar ele na nossa seção “Desconhecido do Mês” sem problemas. Ainda enquanto estava no banco de reservas do Kings, na temporada 2005-06. dava sinais de que podia explodir a qualquer momento. Jogou bem as últimas partidas da temporada, teve uma ótima summer league, e aí de repente o reserva zé-ninguém virou um titular com 20 pontos de média sem ninguém sequer prestar atenção nele. Só não ganhou o prêmio de Most Improved (ou seja, o jogador que mais evoluiu de uma temporada para a outra) porque o Monta Ellis fedia bem mais que o K-Mart, então a melhora ficou mais evidente. Tem horas que ter sido ruim ajuda.

Um caso parecido que me vem à mente é o do Michael Redd. Tratava-se apenas de um reserva com certo potencial e que ninguém sequer conhecia direito. Sou obrigado a contar, meio envergonhado, que quando o Denis e eu conversamos com um gringo que disse, na época, que o Redd seria All-Star um dia, gargalhamos como malucos por meses. Parecia uma idéia ridícula mas só quem está acompanhando de perto pode saber do que está falando, boxscore não mostra potencial. Na temporada seguinte o Bucks apostou no Redd titular e, antes que eu pudesse contar o número de filhos da Angelina Jolie, o Redd já havia se tornado um dos melhores arremessadores da NBA.

A diferença entre o Redd e o K-Mart é que o Redd realmente foi All-Star, tem uma fama considerável, é apreciado. Justo na temporada em que o Kevin estava decidido a calcar de vez seu nome na elite da Liga, a contusão na virilha estragou tudo. Mas eis que quase duas semanas antes do prazo estipulado, ele está de volta. Ainda fora de forma, informou ao técnico que só poderia jogar no máximo 28 minutos por partida. Contra o Pacers, foram 25 pontos, acertou todos os seus 10 lances livres, e esteve exatos 28 minutos em quadra. Contra o Mavericks, foram 39 pontos, 9 lances livres certos em 11 tentados, e apenas 27 minutos em quadra. Tudo isso dando 25 arremessos e errando apenas 4.

O Kevin Martin é aquele sujeito que você pega por último no seu time na Educação Física porque tem cara de derrotado mas de repente ele engole o jogo inteiro com um pouco de patê. Parece que não se esforça, pular não é um dos seus hobbies favoritos, e a mecânica de arremesso é engraçada. Mas não dá para ver os números, as atuações, e achar que ele não é um dos melhores no que faz. Poucos jogadores na NBA são tão agressivos, tão eficientes batendo para dentro da cesta, tão hábeis em conseguir contatos que geram lances livres. E poucos jogadores conseguem arremessar saindo tão pouco do chão como ele. Por que será que só a mãe do Kevin Martin vota nele para o All-Star Game?

O engraçado é que o problema do K-Mart parece assolar todo o resto do Kings. Todos os jogadores de Sacramento são mais menosprezados que pegadinha da Record. O Francisco Garcia, por exemplo, é justamente o novo K-Mart: um reserva desconhecido que estava pronto para explodir se ganhasse minutos. Bastaram umas atuações no final da temporada e na summer league para ele me surpreender. Fiquei aqui quietinho torcendo para não ser um caso digno do Troféu Lonny Baxter para o jogador que se sai melhor quando não está valendo nada. Quis até apostar dinheiro em que o Garcia seria uma nova sensação, e até escrevi um artigo mental sobre isso, ainda na época em que eu era apenas um infeliz sem um blog e podia sair na rua sem ser assediado pelos fãs. E eis que, como eu sabiamente previa, o Chico Garcia tem média de 18 pontos por jogo como titular, o que não é nada mals.

Além dele, o John Salmons competiu por vários troféus Lonny Baxter com o Sixers, mas nunca ganhou a chance que merecia. Com o Kings sofrendo com contusões em massa, está sendo titular e matando a pau: são 20 pontos por jogo quando inicia as partidas. Junto com eles, Ron Artest fica lá esquecido por ser “jogador-problema” e ter contusões em todos os dias ímpares do mês, mas é imperdoável esquecer, só por isso, que ele é um dos mais completos jogadores da NBA. Apodrecendo no mesmo barco, Mike Bibby e Brad Miller tiveram seus talentos roubados pelos Monstars mas parece que Pernalonga e sua turma vieram ao resgate: Miller está voltando à velha forma aos poucos, enquanto o Bibby (dizem) anda deixando os companheiros boquiabertos nos treinos de reabilitação com uma pontaria mais precisa do que nunca. Tanto Bibby quanto Artest voltam de suas contusões em breve, deixando o Kings saudável pela primeira vez desde que a Xuxa saiu naquele filme comendo aquele pivete.

Muita gente deve estar torcendo o nariz, mas a verdade é que o Kings é o time mais injustamente menosprezado da Liga. Eu sei, eles não têm ninguém atlético na equipe, ninguém que jogue com força no garrafão, ninguém no time de Sacramento é capaz de abrir uma lata de palmito, por exemplo. O mais próximo disso é o Mikki Moore, que é tão viúva do Kidd quanto o K-Mart, mas não o Kevin, o Kenyon, não confundam, por favor.

Enquanto esse bando de jogador esquecido não consegue se reunir para tentar mostrar que podem fazer um belo dum estrago enquanto ainda há pilhas alcalinas no Bibby, o Kings vai todo desfalcado se esforçando para que se lembrem deles. Os 11 segundos finais da vitória de ontem contra o Mavs podem ser um belo de um começo. Não fiquem muito assustados caso o Kings apronte várias dessas até a temporada terminar.

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