>O melhor dos quebra-galhos

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Jason Richardson tenta roubar a carteira
do Darren Collison no meio do jogo

Em novembro, exatamente três meses atrás, escrevi um post porque Deron Williams e Chris Paul se contundiram quase ao mesmo tempo – se um pular da ponte, como diriam as mamães do mundo, o outro pula atrás. Dois novatos selecionados em escolhas seguidas de draft, um na vigésima e outro na vigésima primeira (assim como Deron e Chris Paul foram selecionados seguidamente, na terceira e na quarta), assumiram a vaga de titulares e começaram a chutar traseiros. Pelo Jazz, o novato era Eric Maynor, que desde então foi mandado para o Thunder (assim como o Ronnie Brewer acabou de ser mandado para o Grizzlies) apenas para economizar uma grana, e agora lhe cabe ser reserva num time jovem que ainda tem muito a crescer. Mas o outro novato, jogando pelo Hornets, é Darren Collison. Na ausência do Chris Paul provavelmente pelo resto da temporada, se recuperando de uma cirurgia no joelho, Collison está dominando partidas e de repente ficou famoso, com seu nome aparecendo em todas as listas de melhores novatos do ano.

O engraçado é que essa oportunidade só surgiu para o Collison graças à burrice do David West. Numa partida contra o Bulls, a oito segundos do final, o Hornets ganhava por dois pontos e o David West só tinha que cobrar um maldito lateral nas mãos do Chris Paul. Com medo do passe ser interceptado, ele mandou a bola para a putaqueopariu na quadra de defesa, o Paul teve que se atirar parar salvar a bola (que foi parar nas mãos do time do Bulls a tempo deles empatarem a partida, irem para a prorrogação e ganharem o jogo) e o coitado do Chris Paul acabou contundindo o joelho quando se jogou no chão. Ou seja, deu mais errado do que a terceira edição da “Casa dos Artistas” no SBT, e o Darren Collison teve que assumir a armação outra vez. Três meses atrás, quando escrevi o post, era só por tempo limitado, graças a uma torção de tornozelo, mas agora é pra valer.
O Hornets dessa temporada é uma bela de uma porcaria, basicamente porque não existem pontuadores no elenco. Conforme Chris Paul foi ficando mais e mais frustrado no começo da temporada, foi passando a atacar mais a cesta e pontuar por conta própria. Quando o Collison começou a substituí-lo, o grande medo foi perder todo o poder ofensivo, então outros jogadores começaram a se concentrar mais nesse aspecto. O também novato Marcus Thornton passou a ganhar minutos, Peja Stojakovic foi acordado de seu sono na câmara criogênica, e Collison fez um bom trabalho envolvendo todo mundo. O grande lance sobre ele é que, mesmo tendo um arremesso não muito confiável (e de mecânica esquisitinha), sendo magrelo, fracote e mais-ou-menos na defesa, ele sabe perfeitamente bem como liderar um time e tomar as decisões corretas. O ultimo draft foi a melhor leva de armadores de todos os tempos, sem brincadeira, mas acho que o Collison é o mais inteligente em quadra quando se trata de dar os passes certos do modo mais fácil. Além disso, ele pode ser também o armador mais rápido do draft sem deixar com que isso lhe faça jogar na correria. Ele prefere segurar a bola, dar a assistência mais simples, e utiliza sua velocidade apenas quando faz sentido. Ele pode não ser o mais talentoso dessa safra, e eu tendo a achar que ele está pronto demais e não deve melhorar muito o seu jogo (e nem a estrutura física, dizem que ele é naturalmente magrelo), mas é certamente perfeito para jogar no Hornets e isso fica óbvio no seu desempenho.
Alguns estilos realmente fazem a vida dos jogadores. O Jazz do técnico Jerry Sloan é famoso por fazer com que qualquer humano bípede pareça um bom jogador na posição de armador – Brevin Knight, Raul Lopez e até o Raja Bell já chutaram traseiros no sistema de pick-and-rolls da equipe. No Hornets de uns anos para cá, o sistema tático consiste em dar todo o poder do mundo para o armador da equipe, pode até comer a esposa do dono. A bola passa o tempo inteiro nas mãos do Chris Paul, o ritmo do jogo fica em suas mãos, o resto do time só toca na bola quando ele quer, e na defesa cabe ao armador cuidar das linhas de passe na cabeça do garrafão enquanto o resto da defesa afunila o ataque adversário em direção à linha de fundo. É claro que, com tanta responsabilidade e tanto tempo com a bola nas mãos, qualquer armador do Universo (estou falando do espaço sideral, não do time brasuca) vai conseguir bons números. Mas o Darren Collison não é um fruto desse sistema, ele é apenas perfeito para esse sistema. Dê a bola o tempo inteiro para o Aaron Brooks ou o Louis Williams e você terá um pontuador maluco que terá belos números mas perderá todos os jogos. Collison é calmo, não tenta passes impossíveis, cuida bem da bola, sabe o que consegue e o que não consegue fazer em quadra, e é perito em controlar o ritmo da partida. Além disso, é um bom ladrão de bolas – perfeito para um sistema que exige apenas isso de sua defesa.
Nos 20 jogos em que foi titular, Darren tem uma média de 18 pontos, 4 rebotes, 8.4 assistências e 1.5 roubos de bola por jogo. Mas aos poucos, assim como Chris Paul, tem percebido que sua equipe fede muito e tem que pontuar cada vez mais. Nos últimos 10 jogos a média é de quase 22 pontos, assustador para um novato de arremesso mequetrefe. Contra o Houston, jogo que assisti recentemente, Collison engoliu o Houston com azeite e sal simplesmente em penetrações no garrafão, rápido demais para que o Aaron Brooks fosse capaz de marcá-lo. Passa boa parte do tempo dando os passes certos, obrigando o time a se mover, e de repente bate para dentro com uma velocidade surreal. Acabou decidindo o jogo assim no quarto período, o que é o mais importante: ele está fazendo o Hornets vencer de vez em quando em uma temporada que deveria ter sido jogada no lixo com a contusão do Chris Paul. O Hornets está atualmente em nono no Oeste, não muito longe do oitavo colocado Blazers e apenas meia vitória à frente do Grizzlies, que também luta pelos playoffs. Num Oeste tão disputado quanto o desse ano, lutar pela última vaga é uma conquista incrível. Ainda mais porque, insisto, o Hornets fede. De verdade.
Mesmo se não levar o time para os playoffs, no entanto, o Darren Collison se coloca imediatamente pela briga de melhor novato do ano. O problema é que não dá pra vencer o Tyreke Evans, que já é um dos melhores jogadores do planeta e de novato não tem nem a cara, mas a briga é boa com o Stephen Curry, que está jogando demais no Warriors, e com o Brandon Jennings, que cada vez mais tem “novato” escrito na testa. O engraçado é que Collison e Jennings teriam se enfrentado no basquete universitário se o Jennings tivesse jogado na Universidade de Arizona, como quase aconteceu, ao invés de preferir o basquete europeu pra ganhar uma graninha. Quando eles finalmente se pegaram pela primeira vez na NBA, trocaram cestas decisivas no quarto período, Jennings cobrou dois lances livres que colocaram o Bucks três pontos na frente, mas o Collison acertou um arremesso de 3 para forçar a prorrogação. No tempo extra, o Collison bateu a carteira do Jennings e cobrou os lances livres da vitória do Hornets, num jogo fantástico entre dois armadores sem idade para beber cerveja. Na noite de ontem eles se enfrentaram de novo, Collison teve uma atuação incrível, com 22 pontos e 9 assistências, deu um pau no Jennings – que é incapaz de acompanhá-lo na corrida, defendê-lo, e anda tendo problemas terríveis para acertar seus arremessos – e mostrou que vai acabar na frente do armador do Bucks na corrida por novato do ano, mas ainda assim o Hornets perdeu. Enquanto o Bucks tem a ajuda de Andrew Bogut (aliás, o time é dele e pronto), o Darren Collison só vem tendo ajuda do outro novato Marcus Thornton. Desde o dia 10 de janeiro ele só deixou de ter dígitos duplos em pontos por duas vezes, e desde que ganhou minutos na primeira contusão do Chris Paul três meses atrás, tem mostrado que é melhor pontuador do que qualquer um daquele elenco mequetrefe. Além de ter um arremesso muito bom com os pés parados, sabe colocar a bola no chão e bater para dentro do garrafão com agressividade. Ele tem uns problemas de confiança e se intimida muito com defesas mais agressivas, mas quando seu arremesso está caindo é imparável e joga como veterano. Será uma peça fundamental no Hornets tão desesperado por pontuadores, mas o Darren Collison precisa de mais ajuda do que isso. O problema é que, quando essa ajuda chegar, Chris Paul já estará na equipe e Collison será reserva, vai poder aproveitar menos a festa. O importante, no entanto, é não ter pressa. É sensacional ver o Chris Paul dando dicas para o novato em cada parada de bola e treinar com ele deve ser um privilégio. Jogar num esquema que o favorece tanto também, então o Hornets ganhou um belo reserva. É triste saber que ele deu 18 assistências em seu primeiro jogo desde a contusão do Chris Paul, que ele fez um triple-double com 18 pontos, 13 rebotes e 12 assistências, e que mesmo assim não poderá ser titular porque ele e Paul juntos, em quadra, seria um terrível problema defensivo. Mas resta a certeza de que, ao menos, o Hornets terá alguém decente no banco de reservas. Quando foi a última vez que isso aconteceu?

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