>O post do título

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“I got Wheaties!”

O jogo 7 entre Lakers e Celtics parecia embaçado, difícil de ver, de tão pesado que era o clima dentro de quadra. Nervosismo e tensão não são coisas físicas, mas pareciam ter criado corpo durante o jogo de ontem. Nunca foi tão óbvio ver as emoções dos jogadores. Foi completamente diferente do último jogo 7 que a NBA tinha presenciado, a disputa entre San Antonio Spurs e Detroit Pistons em 2005. A atmosfera do jogo estava tão diferente que até a torcida do Lakers, geralmente blasé, com mais celebridades e ricos do que torcedores e que só pega no tranco, esteve ativa, barulhenta e vibrante desde o primeiro momento do primeiro quarto até o fim do jogo, quando explodiu com a conquista do 16º título da história da franquia.

Esse jogo embaçado, difícil de assistir, fez ele ser percebido de quatro maneiras diferentes:
1- Um jogo histórico e um dos mais tensos da história para os torcedores do Lakers
2- Um jogo histórico e traumático para os torcedores do Celtics
3- Um jogo roubado para os torcedores idiotas que não sabem perder do Celtics
4- Um jogo feio e com muitos erros para quem só estava lá pra ver um jogo de basquete
Eu, torcedor assumido do Lakers, me encaixo no primeiro grupo, mas entendo quase todos os outros. Derrotas assim são traumáticas e o jogo foi cheio de erros, não foi um espetáculo do basquete. Só não aceito dizer que foi roubado. Apesar de alguns erros (para os dois lados, diga-se de passagem), foi a melhor arbitragem desses 7 jogos da final.
A grande polêmica da arbitragem foi que o Lakers bateu 20 lances livres no último período, mas não é que o Lakers ganhava os arremessos toda vez que tentava infiltrar, mal se conseguia penetrar com duas defesas tão apertadas, mas é que o Celtics fez muitas faltas idiotas e já nos primeiros minutos do último período tinha ultrapassado o limite de faltas no período.

Assim até faltas tolas em rebotes viraram lances livres para o Lakers, simples assim. Posso listar várias faltas imbecis que custaram o jogo ao Celtics: o Kobe pegou um rebote de defesa e na queda o Rondo tentou roubar a bola dele, cometendo uma falta completamente imbecil. Em outro lance o Gasol tinha 1 segundo para fazer um arremesso difícil quando o Garnett pulou para o toco e caiu inteiro em cima do espanhol, falta clara que nem o próprio KG reclamou. Em outro momento a defesa inteira do Boston estava no lado esquerdo do Ray Allen, que marcava o Kobe individualmente, então ele dá o lado aberto para o Kobe, que infiltra e sofre uma falta clara do Paul Pierce para evitar a cesta. Após fazer uma boa marcação pressionada o Boston obriga o Gasol a sair driblando do campo de defesa, então Paul Pierce acha que é uma hora de cavar falta de ataque e se joga na frente do espanhol. Sem sucesso. Ele se moveu quando viu que o Gasol passava por ele e o Lakers ganhou mais dois lances livres.

Só nessa sucessão de lances que eu descrevi (e ainda tiveram outros tão idiotas quanto, muitos em rebotes) o Lakers ganhou 8 lances livres. Se o Celtics não tivesse ultrapassado o limite de faltas, teriam sido somente 2. Considerando os 32% de aproveitamento do Lakers nos arremessos, duvido que as jogadas que tiveram falta teriam acabado em cesta.
Já do outro lado o Lakers não deu pontos de graça para o Celtics, fez o time verde merecer cada cesta. Mas aí valeu uma das melhores performances defensivas da história recente do Lakers. Todos os jogadores marcaram muito bem e mesmo trocando a marcação a cada pick-and-roll, os grandalhões seguraram os armadores do Celtics. Nunca havia visto tanta dedicação defensiva do Lakers num jogo, em especial no último período. Também pesou o fato do Celtics ter tomado algumas decisões bastante questionáveis ofensivamente, nem sempre escolhendo o melhor arremesso. E às vezes custou para eles confiar muito nos arremessos e não tentar as infiltrações, partindo para dentro talvez desse para pelo menos arrancar uns lances livres.
Há alguns dias comentei das estatísticas de rebotes e afirmei que venceria os últimos dois jogos o time que vencesse a batalha dos rebotes, era o que essa série estava indicando. E foi assim, o Lakers ganhou com sobra os rebotes nos últimos dois jogos e levou o caneco. Mas no mesmo post eu tinha postado uma outra estatística interessante sobre a defesa do Celtics: Em 20 ocasiões durante a temporada e pós-temporada o Celtics havia segurado seu oponente a um aproveitamento abaixo dos 40% e em todos (TODOS!) os jogos os verdes ganharam. A exceção foi ontem, quando o Lakers venceu apesar de acertar apenas 32% de seus arremessos.

E o Lakers não compensou o aproveitamento baixo com muitas bolas de 3, acertou apenas ridículas 4 de 20 tentativas. Também não foi nenhum espetáculo na linha de lance livre, acertando só 67% das tentativas. Então como conseguiram o milagre de superar uma desvantagem que chegou a 13 pontos na metade do terceiro período? Além da defesa fora de série, foram 37 cobranças de arremessos livres. Mesmo com aproveitamento baixo, foram 25 pontos só nesse quesito. Em um jogo com placar tão baixo (83-79) faz toda a diferença. O Celtics cobrou apenas 17 lances livres (acertou 15) e teve 40% de aproveitamento dos arremessos.
Pode-se dizer, portanto, que no jogo mais nervoso da temporada o Lakers foi nervoso e precipitado no ataque durante boa parte do jogo, mas melhorando aos poucos e nunca nervoso demais na defesa. Já o Celtics foi nervoso e precipitado dos dois lados da quadra. Apenas no começo do terceiro quarto é que atacou com mais calma e paciência, explorando os bons jogos de Garnett e Rasheed Wallace no ataque. Nunca a batida frase “Ganhou quem errou menos” fez tanto sentido num jogo, e olha que eu queria morrer antes de usar essa frase aqui no Bola Presa.

Agora que falamos do jogo, que tal falar de atuações individuais? Há muito a se falar de muita gente nesse jogo 7. Vamos lá:
Kobe Bryant: Como torcedor do Lakers eu já enjoei de ver o Kobe jogar e sempre tenho mais medo do que confiança nele em jogos muito importantes. Não que ele seja ruim em momentos decisivos, longe disso, está mais perto de ser o melhor, mas é que sua cabeça pira antes desses jogos muito esperados. Ele é mortal quando começa os jogos caminhando, tranquilo e vai ficando com cara de assassino durante o decorrer da partida. Quando ele sabe da importância do jogo, tem o hábito de já começar o primeiro minuto de jogo hiper-ativo, assim se cansa mais rápido e, nervoso, toma más decisões durante a partida.
Claro que ele não é um dos melhores jogadores da história à toa, também deu pra enjoar de ver ele começar o jogo como um doido e depois conseguir colocar a cabeça no lugar e voltar a ser o jogador frio e matador que nos acostumamos a ver. Mas de qualquer jeito eu sempre fico com um pé atrás nesses jogos que ele quer vencer tanto, mas tanto, que acaba atrapalhando a si mesmo.
Ontem foi um caso desse e nas entrevistas pós-jogo ele mesmo admitiu que queria tanto vencer o jogo que isso acabou indo contra ele. Não foram poucas as vezes em que ele nem tentou executar uma jogada, apenas driblou em excesso até forçar um arremesso sem direção. Até o seu arremesso estava saindo mais reto e forte que o normal, ao contrário do mais arqueado e suave que ele costuma soltar.
Durante o jogo ele conseguiu colocar um pouco da cabeça no lugar, fez um segundo tempo um milhão de vezes melhor que o primeiro e mesmo fazendo uma das piores partidas de playoff que eu já vi ele fazer, foi decisivo. Quando ele viu que mesmo mais calmo os seus arremessos não estavam caindo, tratou de confiar mais em seus companheiros, passou um pouco mais a bola de lado e ficou buscando situações de infiltração para conseguir faltas. Além disso foi espetacular na defesa marcando Rondo, às vezes correndo atrás de Ray Allen e principalmente ganhando todos os rebotes. Foram 15 rebotes, 11 defensivos e 4 de ataque. Quando alguém ia imaginar 15 rebotes e um aproveitamento de só 6-24 arremessos do Kobe em um jogo assim? É como se o deus do basquete olhasse e pensasse “E se o Lakers tivesse o Ben Wallace ao invés do Kobe, será que eles ganhariam?”. Ganharam
Tirando todas as tiradas já antológicas do Artest, o Kobe disse a melhor frase das entrevistas de ontem. Um repórter perguntou qual era o significado pessoal daquele título, ignorando a importância dele para o time. Kobe respondeu sem pensar por mais de um segundo: “Agora eu tenho um a mais que o Shaq. Clássico.
Ray Allen: O Ray Ray é Free Agent ao fim dessa temporada e existe uma grande discussão em Boston sobre se vale a pena ou não manter o veterano. E, se for manter, por qual salário? Ele não deve sair barato. Ao fim do primeiro tempo do jogo 2 da final, quando Ray já tinha 7 bolas de 3 convertidas no jogo, o comentarista e ex-técnico Jeff Van Gundy disse “Se eu fosse do Boston Celtics assinava um contrato novo com ele agora no vestiário”. Será? No resto da série ele não conseguiu acertar mais a pontaria e ontem não foi exceção: acertou 3 de 14 arremessos. Se serve de prêmio de consolação, fez um bom trabalho defensivo em cima de Kobe Bryant em todos os jogos.
Pau Gasol: Não foi bem nos lances livres, teve aproveitamento baixo dos arremessos e não fez sua melhor partida na série. Mas quem ousa usar “Gasol” e “soft” na mesma frase de novo? Quando Kobe estava mal o ataque o Lakers confiou nele e ele respondeu sendo a principal arma ofensiva do Lakers no quarto período. E com 9 rebotes ofensivos (mais do que o Celtics inteiro) foi quem deu a maioria das segundas chances do Lakers pontuar. Kobe, ao receber o troféu de MVP das finais (merecido pelo conjunto da obra, não pelo jogo 7, claro) fez questão de agradecer ao espanhol por toda a ajuda.
Rasheed Wallace: Poderia ter sido o herói da noite de ontem. Entrou como titular no lugar de Kendrick Perkins e fez todo mundo voltar a se perguntar pela milésima vez: Rasheed, por que você tem fobia de garrafão quando é tão bom lá? Nunca saberemos. Pecou ao cometer muitas faltas bobas no último quarto, mas fez um bom jogo. Depois do jogo o Doc Rivers disse que acha que esse pode ter sido o último jogo da carreira do grande Sheed.
Lamar Odom: Não jogou bem durante quase toda a série, mas se redimiu com bons jogos 6 e 7. No jogo de ontem foi ele quem me deu esperança de que o Lakers poderia virar mesmo com o Kobe jogando mal. Ele ameaçou tocar para o Kobe numa jogada em que ele sempre passa para o Kobe, aí no meio do caminho desistiu, partiu para cima de Garnett e fez uma bandeja bem difícil. Foi a prova de que o Lakers estava afim de ganhar e não afim de esperar o Kobe ganhar pra eles.
Paul Pierce e Rajon Rondo: Mesmos comentários para os dois. Até que foram mais frios que o resto dos jogadores em quadra ontem, mas os dois também entraram na onda das faltas bobas no meio do quarto período quando era hora de tomar cuidado e não mandar o Lakers para a linha de lance livre. Os dois também tinham que ter liderado o ataque do time quando este estagnou em pontos. Foram bem, mas não o bastante.
E finalmente… Ron Artest: Contei essa história um tempo atrás e bastante gente lembrou dela ontem no Twitter. Em 2008, logo após o jogo 6 da final quando o Lakers perdeu para o Celtics, o Ron Artest, ainda jogador do Sacramento Kings, invadiu o vestiário do Lakers, foi até o Kobe e disse “Eu ainda vou te ajudar a ganhar um título”. No ano seguinte ele acabou trocado para o Rockets, mas depois, finalmente, foi para o Lakers e cá está ele, campeão ao lado de Kobe e justamente contra o mesmo Celtics.
A atuação do Artest durante a série e durante todos os playoffs (para não dizer a temporada toda) foi bem irregular. Mas nos momentos decisivos ele estava sempre lá fazendo a coisa certa. Quando o Thunder complicou com o Lakers na primeira rodada ele estava lá para anular Kevin Durant, quando o Suns ameaçou na final do Oeste ele apareceu com a cesta decisiva no jogo 5 e trocentas bolas de 3 no jogo 6.
Na final foi a vez de marcar Paul Pierce como eu nunca tinha visto alguém defender. Foi bem durante toda a série, mas nesse jogo 7 foi especial, não desgrudou do ala do Celtics por um segundo e não deixou que ele desse um único arremesso fácil. Os pontos que ele fez foi por mais puro merecimento, porque o Artest estava lá com a mão na cara, roubando bolas, atrapalhando, sendo um pentelho. Posso dizer com certeza e sem nenhum exagero por torcer para o Lakers que foi uma das mais brilhantes atuações individuais na defesa que eu já vi na minha vida.
Só por isso ele já teria sido o melhor jogador em quadra. Mas calhou dele marcar 11 pontos só no segundo período, quando mais ninguém conseguia um pontinho sequer no Lakers. Depois ainda fez mais no terceiro quarto quando o Lakers começou a reação para cortar os 13 pontos de diferença e, para terminar, fez uma bola de 3 surreal (com direito a beijinhos para a torcida depois do acerto) como resposta a uma outra bola de 3 dificílima que o Rasheed Wallace tinha acabado de acerta no minuto final de jogo.
E como se não bastasse ser o melhor em quadra, foi o melhor fora dela também. Logo depois do jogo ele foi entrevistado pela repórter Doris Burke da ESPN e ao invés de responder às perguntas delas, abraçou-a e começou a agradecer pra todo mundo. A mulher, os filhos, a família, aos camaradas da quebrada e, a jóia da coroa, a sua psiquiatra! Que outro jogador da história da NBA seria capaz de agradecer à psiquiatra depois do título que não fosse o Ron Artest? Depois ainda anunciou que sua carreira de rapper continua, agora vai lançar uma música escrita há um ano chamada “Champion”.
Mas era só o começo! Depois teve a entrevista coletiva, que começou com ele gritando e vibrando “Eu tenho Wheaties!”, fazendo referência à caixa de cereais que estava sobre a bancada da entrevista. O Wheaties é um cereal matinal conhecido por ser “o café da manhã dos campeões” e por estampar sempre grandes atletas nas suas caixas.
Depois ele ameaçou ir embora porque as pessoas que estavam lá não pareciam animadas como ele. Aí chamou a família inteira para acompanhá-lo e apresentou todo mundo um por um, dedando, no caminho, os familiares que estavam felizes por ter acabado de conhecer o Kobe. Então ouviu a primeira pergunta, falou sem parar e disse “esqueci completamente qual era sua pergunta”. E prosseguiu falando sobre qualquer coisa que viesse à sua cabeça.
Em um dos trechos mais legais da entrevista ele faz uma declaração de amor ao Jeff Foster! Sim, aquele pivô branquelo que pega muito rebote ofensivo no Pacers. Ele disse que aquele cara faz qualquer coisa pelo time. O Artest chegou no assunto quando disse que tinha sido muito egoísta e infantil no começo da sua carreira e tinha perdido uma grande oportunidade de ser campeão naquele time que tinha Jamaal Tinsley, Stephen Jackson, Jermaine O’Neal, Jeff Foster e o próprio Artest. Contou que se sente mal até hoje quando encontra os ex-companheiros porque acha que ele mesmo estragou a chance dos outros de ganhar um anel de campeão. Por isso não acreditava que teria outra chance e que não poderia desperdiçar a chance quando teve.
Assistam a uma das entrevistas mais fantásticas que você vai ver depois de um título. E, sem dúvida alguma, a mais maluca.
Qual foi a sua cena favorita? A minha foi no final quando ele comenta sua bola de três no final do jogo dizendo “O Kobe me passou a bola! Ele nunca me passa a bola. Uhu! Kobe me passou a bola”. E completa com “Eu podia ouvir o Phil Jackson dizendo para eu não chutar. Ele é o Zen Master, ele fala no seu ouvido de longe, eu podia ouvir ele dizendo ‘Ron, não chute, não chute’. Mas eu disse, tanto faz, arremessei e acertei”.
Sasha Vujacic: Jogou 4 minutos e acertou dois lances livres decisivos. Você está na história, The Machine!
O resultado da promoção das Finais sai amanhã, sábado!

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