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O painel do Madison Square Garden já puxa o saco do novo ídolo da cidade
O LeBron James é chamado de King James (Rei James) desde que entrou na NBA, mas nunca deve ter se sentindo tão rei quanto nas últimas semanas. Ninguém esqueceu a partida patética que ele fez no jogo 5 contra o Celtics nos últimos playoffs, mas parecem ter superado o trauma. Todos tem noção que atualmente ninguém tem a combinação talento-força-idade como LeBron . Quem é tão bom fisicamente não tem o mesmo talento, quem tem talento parecido não está no auge da forma física como ele. Pode-se discutir se ele é o melhor do mundo (e não vamos entrar nessa briga, vocês sabem), mas é inquestionável que ele é o jogador com mais valor comercialmente.
Justamente por tudo isso ser de conhecimento geral é que o mundo dos Free Agents estava estagnado até ontem. Tirando algumas contratações menores e jogadores decidindo ficar no mesmo time, ninguém de grande nome tinha decidido para onde ia. Estavam todos esperando LeBron, que disse que até o fim dessa semana anuncia sua decisão.
Eis que então um deles resolve furar a fila e ser o primeiro. Tomando coragem foi lá Amar’e Stoudemire e aceitou a oferta do New York Knicks: 100 milhões de doletas por 5 anos de contrato. Foi o primeiro a ter as bolas de escolher um time antes do amiguinho decidir. Quando tava todo mundo de sunguinha olhando a piscina gelada, o Amar’e saiu correndo e deu uma bomba na água.
Foi corajoso e até inesperado, mas foi inteligente? Ele deveria ter feito isso? E o Knicks? Os anos e anos de derrotas apenas administrando contratos para chegar em 2010 com espaço na folha salarial vale a pena por Amar’e? Vamos responder uma coisa de cada vez.
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Valeu a pena para o Knicks?
Para ter certeza absoluta vamos ter que ver o time que o Knicks vai colocar em volta dele, mas temos que admitir que Stoudemire foi um bom começo. Ele não é deus e já cansamos de apontar defeitos nele, como às vezes querer resolver tudo sozinho, não ser um grande reboteiro para sua posição e principalmente ser um defensor muito irregular, mesclando boas e más atuações, o que dá mais impressão de preguiça do que de falta de capacidade técnica. Mas tudo bem, não dava só pra contratar jogadores sem falhas e entre defeitos e qualidades, ele é ótimo.
Não é apenas pelo Stoudemire ser um grande jogador que a contratação foi importante, mas também para que o Knicks não saia de mão abanando na offseason, o que era uma possibilidade real. LeBron poderia muito bem ir para o Bulls ou ficar em Cleveland, Wade e Bosh podem se juntar em Miami, Amar’e poderia querer não se separar de Nash, e Boozer ficar em Utah com um time já pronto para mais uma pós-temporada. Joe Johnson não iria querer ficar sozinho em NY e toparia (como já topou de verdade) ficar em Atlanta e o Knicks ficaria sozinho, com muito dinheiro no bolso e implorando para que David Lee ficasse no time para eles não passarem vergonha no ano que vem.
Como nada disso estava ou está longe de ser um absurdo, foi importante garantir um jogador mesmo antes da decisão de LeBron ou Wade. Com defeitos e qualidades, Amar’e Stoudemire é sem dúvida alguma o melhor jogador a estar no elenco do Knicks desde o o final dos anos 90. Stephon Marbury teve um ou dois anos bons no Knicks mas mesmo ele na sua melhor forma não era tão bom quanto o STAT.
Existe ainda o lado positivo da boa relação e do entrosamento de Amar’e com o técnico Mike D’Antoni. Foi com ele que Stoudemire teve várias de suas melhores temporadas na NBA e se consagrou como grande jogador, ele é, aliás, um dos poucos jogadores de garrafão da liga que conseguem jogar ainda melhor no esquema de velocidade que o D’Antoni gosta de utilizar. Se nesse esquema até o David Lee, muito mais limitado no ataque, conseguia marcar muitos pontos, Amar’e fará uma festa. Em compensação ele nunca vai ter aquelas médias assustadoras de rebotes do Lee e nem a mesma determinação e raça defensiva.
Agora que eles já tem um grande jogador faltam mais duas peças para fazer o time crescer e nem precisa ser o LeBron James (se for, claro, melhor!).
1- Um bom companheiro de garrafão. Eu gostaria de ter visto o Amar’e indo para o Bulls porque lá ele teria todas as suas falhas defensivas disfarçadas pelo Joakim Noah, que é tão ruim no ataque que faria o Amar’e parecer um Michael Jordan de 2,10m. Seria uma dupla perfeita, veloz, completa. No Knicks é bem capaz que Stoudemire tenha que atuar de novo como pivô, muito perto da cesta, coisa que ele já disse não gostar. Também prefiro ele mais longe, podendo usar seu confiável arremesso de meia distância e tendo espaço para dar um drible antes de atacar a cesta.
Mas se ele joga mais longe como ala de força, quem é o pivô no Knicks? O único pivô sob contrato que eles tem hoje é o Eddy Curry. Preciso comentar alguma coisa? Se ele conseguir largar o vício de donuts, resolver seus problemas na justiça e cuidar do problema cardíaco que já teve, tá ótimo. Para o Knicks dá pra correr atrás de Tyrus Thomas, Brendan Haywood ou outro jogador via troca. Se não fizer isso vão se repetir todos aqueles mesmos problemas que ele já tinha no Suns (time baixo, defesa de garrafão péssima, falta de rebotes, blá, blá, blá).
2- Um companheiro de pick-and-roll. Aí sim é uma coisa que pode-se repetir do Suns, alguém para trabalhar a jogada mais manjada (e ainda sim difícil de parar) do basquete. Não precisa ser necessariamente um armador principal, pode ser o Wade ou o LeBron mesmo, mas ele precisa de alguém para fazer esse jogo de dupla, é assim que Stoudemire se consagrou e como ele joga o seu melhor basquete.
Até acho que o Danilo Gallinari pode fazer isso de vez em quando, ele pode ser muito mais do que um simples arremessador nesse time e sabe controlar bem a bola, mas não pode ser o principal responsável. Pode ser Wade, LeBron ou até Felton, mas o Knicks precisa de alguém para fazer o Amar’e render tudo o que pode.
Valeu a pena para Amar’e Stoudemire?
Ao contrário do trio LeBron, Wade e Bosh, não eram todos os times que estavam dispostos a abrir o cofre e encher o bolso do Stoudemire de verdinhas. Muita gente na NBA ainda acredita que ele só é o que é graças ao Steve Nash e que nunca poderia, sozinho, carregar um time muito longe. Por isso ele tem muita sorte do Knicks acreditar nele e topar assinar esse contrato mesmo antes de conseguir qualquer outro jogador. A situação normal seria conseguir uma estrela maior e contratar o Amar’e para fechar o time.
Eu acho difícil opinar sobre como seria o Amar’e sem o Nash porque ele só jogou seu ano de novato sem o canadense do lado. Difícil adivinhar, mas se eu fosse um General Manager estaria nesse grupo mais receoso que vê Amar’e mais como uma segunda opção ofensiva do que como um líder de franquia. E nem é tanto por causa da preguiça na defesa, mas porque acho que ele tem pouca visão de jogo. Para liderar um time você recebe a bola em mãos o tempo inteiro, todo ataque da equipe passa pelas mãos desse líder e Amar’e sabe fazer uma coisa: cesta. Seja arremessando ou batendo pra dentro. Ele é um dos melhores do planeta nisso, mas precisa de alguém dosando o número de vezes que recebe a bola. Não é como Garnett, Duncan ou Nowitzki, que não tem a mesma fúria ofensiva mas que compensam sabendo quando só devem chamar a atenção e fazer a bola rodar.
Como o ego do Stoudemire é inflado e ele sempre se achou o melhor jogador do mundo, deve ter ficado muito feliz com a oferta e topou na hora. Deve estar sorrindo de orelha a orelha com a chance de ter um time sendo construído ao seu redor. Mas e agora, como será esse time à sua volta? Com algumas contratações ruins (especialidade do Knicks!) ele pode se ver amarrado a um elenco sem nenhuma criatividade. E aí será que valeu a pena se separar do Nash e daquele forte time do Suns que há pouco tempo quase derrotou o Lakers?
Apesar de admirar a coragem do Amar’e e achar legal alguém finalmente não ficar só esperando o LeBron, era mais inteligente ter esperado. Caso Wade e Bosh se juntem em Miami e LeBron continue em Cleveland, o Amar’e poderia ter recebido uma proposta tão milionária quanto a do Knicks pelo Bulls e ir lá ser o salvador da pátria. Com Derrick Rose teria seu parceiro de pick-and-roll, em Noah um pivô e ainda o Luol Deng de brinde. Aí se por acaso o LeBron decidisse ir para o Knicks, ele iria para Nova York.
Amar’e Stoudemire foi corajoso, fez um negócio que vai deixar ele até sair do aluguel e comprar uma kitnet, mas assumiu um risco desnecessário ao entrar em um time pelado e sem elenco definido.
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Para entender como funciona o sistema de teto salarial da NBA leia o nosso Tutorial do Salary Cap: Parte 1 e Parte 2.