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Glen Davis é o jogador mais expressivo da NBA
Durante toda a temporada regular o Celtics pareceu um time velho e cansado. Estavam prontos para perder para o Heat e ir jogar dominó na praça quando mostraram em três séries consecutivas que estavam em forma e jogando muito, mas no primeiro jogo da final quem apareceu pra jogar foi o time da temporada regular. Um time velho, lento, cansado e, pra piorar, sem banco de reserva.
A partida começou pegando fogo, com menos de dois minutos de jogo o Ron Artest e o Paul Pierce já tinham jogado um ao outro no chão, tomando faltas técnicas. Os minutos seguintes foram de bom nível, com diversos jogadores das duas equipes acertando seus primeiros arremessos. O início do jogo também serviu para tirarmos algumas dúvidas sobre os planos táticos dos dois times: o Lakers vai manter a tática de deixar o Kobe livre de ter que correr atrás do Ray Allen, colocando-o como marcador do Rondo, o Celtics vai ficar na marcação individual em todos os jogadores e quem vai dobrar é o Lakers, com o Kobe, quando o Garnett atacar o Gasol.
Não demorou muito também para percebermos as implicações dessas atitudes. O Kobe marcou o Rondo mas sem respeitá-lo muito, tentou fechar algumas linhas de passe mas não apertou a marcação e sempre fugiu para a dobra ou a ajuda na marcação quando necessário, pedindo que o Rondo arremessasse quando ficasse livre. Mas, esperto, o Rondo não usou a liberdade para arremessar, e sim para atacar a cesta sem a bola, recebendo bons passes embaixo do aro. Logo o Phil Jackson percebeu o erro e o Lakers passou a confiar um pouco mais na marcação individual, sem dobras.
A marcação mano a mano era a tática do Celtics, mas foi muito mal executada. O Ray Allen, responsável por marcar o Kobe, só passou 27 minutos em quadra e nesse tempo cometeu 5 faltas. Alguns torcedores do Celtics podem até questionar algumas, mas pelo menos 4 delas foram claras. Algumas faltas foram até “leves”, que alguns juízes poderiam ter deixado passar, mas ontem eles estavam marcando qualquer contato e o experiente Ray Allen deveria ter sacado a arbitragem e se controlado. No garrafão o Garnett começou o jogo forçando o Gasol a dois erros, mas foi só. Depois disso o KG tomou arremesso na cara, ganchos e foi o maior responsável pela derrota do Celtics no garrafão ao pegar apenas 2 rebotes defensivos em todo jogo, enquanto o Gasol pegou 8 ofensivos. O último a jogar mal na defesa foi o especialista defensivo Kendrick Perkins. Ele não conseguiu parar o Bynum sem fazer faltas bobas e obrigou o time a jogar muito tempo com o baixo Glen Davis em quadra.
Com Ray Allen e Perkins com problemas de falta, o Doc Rivers teve que apelar para o banco de reservas e isso só acentuou os problemas que o time já estava tendo no começo do jogo. O Tony Allen não conseguiu nem fazer sombra no Kobe na defesa. E no ataque fez um favor enorme à defesa do Lakers ao ser o pior arremessador do planeta Terra. Em um determinado momento do jogo, o Celtics só tinha o Paul Pierce como um arremessador decente, mas como o Artest não deixava a bola chegar nele, a única opção era atacar o garrafão, que o Lakers deixou propositalmente congestionado sabendo da falta de uma ameaça de fora. Se o Ray Allen tivesse se controlado um pouco mais na defesa, o cenário do jogo poderia ter sido outro.
O confronto Pierce e Artest que eu já achava que era o mais decisivo da série ficou mais ainda com o Ray Ray de fora. Sem ele e com o Tony Allen sendo um pedaço de carne desforme e imprestável, só sobrava Pierce para fazer os pontos. E ele não fez. Acabou com 24 pontos, é verdade, mas a grande maioria foi no fim da partida, quando o Lakers já vencia por 20 e não corria mais perigo. Ele não conseguia nem receber a bola onde queria e, quando tinha a laranja em mãos, tinha que se contentar em passar a bola ou forçar um chute impossível. Ron Artest foi monstruoso na defesa e ainda matou o Celtics acertando 3 das 5 bolas de 3 que tentou. A verdade é que que o Celtics nunca vai vencer o Lakers em um dia em que o Artest esteja ao mesmo tempo tão dominante na defesa e tão certeiro nos 3 pontos.
Além do Artest, vale destacar outros três titulares que jogaram muito bem: Andrew Bynum, Pau Gasol e, óbvio, Kobe Bryant.
O Andrew Bynum disse estar sedento para enfrentar o Celtics, talvez por ser ele mesmo um dos vários que acreditam que a final de 2008 teria sido diferente se ele estivesse em quadra. Mesmo sofrendo com dores no joelho, foi para quadra e pareceu veloz e ágil pela primeira vez desde o comecinho da série contra o Oklahoma City Thunder. Ele se movimentou bem, forçou o jogo em cima do Perkins, venceu o duelo individual e deu algumas enterradas que animaram a torcida.
O Pau Gasol fez o que o Phil Jackson pediu e derrotou Kevin Garnett no ataque e na defesa. O KG tentou estabelecer aquele seu típico padrão de defesa físico e agressivo e, ao contrário das finais de 2008, Gasol não fugiu do contato para se contentar com arremessos, foi pra cima. Perdeu uma bola ou outra como é normal contra bons defensores mas não pareceu abalado com isso e respondeu com o mesmo jogo físico na defesa. No fim das contas o espanhol acabou o jogo com 23 pontos, 14 rebotes (8 ofensivos) e 3 tocos. Garnett acabou 16 pontos, míseros 4 rebotes (apenas 2 defensivos) e um toco, além de pelo menos umas três bandejas erradas, uma delas em que o marcador mais próximo só enxergava ele com um binóculo. Quem quiser fazer um vídeo mostrando como o KG envelheceu pode pegar a maior parte das suas imagens do jogo de ontem.
Por fim Kobe Bryant jogou da maneira mais inteligente possível. Depois da sua segunda bandeja no primeiro quarto, o comentarista, ex-técnico e sempre piadista Jeff Van Gundy comentou: “Ele já fez duas bandejas em um quarto, em 2008 acho que ele não fez duas bandejas em toda a série”. Exageros à parte, ele tem razão. Em 2008 o Kobe viveu de seus arremessos de média e longa distância, ontem só os fez quando nenhuma outra jogada deu certo e o tempo de posse de bola estava perto do fim. Ao atacar a cesta ele causou as chances do Ray Allen e do Tony Allen cometerem faltas, tirou os dois do jogo, cobrou lances livres e até quando errava as bandejas dava pelo menos uma chance maior do Gasol pegar o rebote ofensivo. Mais do que talentoso ontem o Kobe foi esperto, soube ler a partida. Alguns números mostram exatamente qual foi sua postura em jogo: 5-10 arremessos perto do aro, 2-3 arremessos curtos, 0-2 arremessos de média distância e 2-5 arremessos longos.
O Lakers em geral arremessou bastante perto do aro, foram 34 tentativas com 19 acertos. Já o Celtics atacou menos, com 27 tentativas, e só acertou 12.
Falando bem assim de todo mundo parece que o jogo foi uma surra, né? E foi mesmo. O plano do Lakers deu certo do começo ao fim e o do Celtics parou de funcionar rapidinho. Mas como consolação, ainda tem muita coisa que os verdes podem fazer para o desastre não se repetir. A primeira é não cair na armadilha das faltas. Eles tentaram intimidar o Lakers fisicamente e não deu nem um pouco certo. Primeiro porque o Lakers respondeu na mesma moeda e com mais eficiência, e segundo porque eles exageraram na dose a fizeram faltas demais. Sem ninguém pendurado no jogo 2 eles podem usar o seu quinteto titular por mais tempo, o que é o ideal.
O Ray Allen, então, precisa acertar seus arremessos, só assim eles podem forçar o Lakers a abrir mais a defesa e deixar espaço para infiltrações do Rajon Rondo. Ontem a ESPN mostrou uma jogada que simboliza isso, quando o Derek Fisher sai da marcação do Tony Allen para fechar a porta para o Rondo e sofrer uma falta de ataque. Se fosse o Ray Allen na zona morta ao invés do Tony, o Fisher nunca poderia ter saído para essa cobertura.
Outro ajuste importante pode ser feito em relação ao Paul Pierce. Lembram quando o Artest estava anulando o Kevin Durant? A solução que o Thunder encontrou para minimizar essa dificuldade foi fazer o Durant receber corta-luz ou o pick-and-roll com o KD segurando a bola. As duas técnicas liberam um espaço para o cara que está sendo marcado pelo Artest agir. Como o Paul Pierce é mais inteligente e habilidoso do que veloz, dessas duas opções eu prefiro o pick-and-roll. Coloque a bola não mão do PP, chame o Garnett para o bloqueio e pronto, ou o Lakers troca a marcação e o Paul Pierce fica sendo marcado momentaneamente pelo espanhol ou pelo menos ganha um pouco de espaço enquanto o Artest passa pelo bloqueio.
Por fim, o Celtics precisa defender melhor. É necessária uma superação individual para conseguir defender de forma agressiva sem fazer faltas. Só assim eles vão conseguir cestas fáceis no ataque. No jogo 1 o Celtics fez só 5 pontos de contra-ataque contra 12 do Lakers!
Outros números mostram o domínio do Lakers em todos os lados da quadra. O time da casa comandou os pontos no garrafão com sobras, marcando 48 pontos na área pintada contra 30 do Celtics. E pior, o Celtics nem conseguiu responder sendo melhor de longa distância: os dois times chutaram 10 bolas de 3, com o Lakers acertando 4 e o Boston só uma. O Lakers também venceu nos rebotes em geral, nos rebotes ofensivos e nos turnovers. Que tal? Foi uma surra ou não foi? A diferença foi tão grande em tanta coisa que nem dá pra saber por enquanto o que é totalmente mérito do Lakers e o que é resultado de um dia ruim do Celtics.
Conhecendo o elenco do Celtics e sabendo como eles gostam de responder depois de jogos ruins, sabemos que não irá faltar motivação e concentração para eles. Talvez depois de vê-los motivados seja mais fácil descobrir o que foi verdade e o que foi só coisa de um dia nesse primeiro jogo da final.
Procurando um vídeo com um bom resumo do jogo, achei três. O primeiro tem só os melhores momentos do Lakers, é bom pra quem é torcedor angelino. O segundo tem os melhores momentos dos dois times e o terceiro não pode ser incorporado na página mas pode ser visto aqui, é um filme feito pela NBA que ficou bem legal, tem imagens ótimas.