>O Quatrilho

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Brad Miller tem fobia de garrafão

O último dia em que as trocas são permitidas na NBA é sempre, no sentido Alexandre Frota da expressão, o maior troca-troca. Todos os times colocam em prática seu jeitinho brasileiro e deixam tudo para a última hora, às vezes até para o último segundo. Parece que todo mundo mantém aquela esperança de que vai arrumar uma barbada, tipo Kwame Brown por Pau Gasol, até o horário limite. Quando nada parecido surge vindo do nada, os dirigentes acabam topando as trocas mais realistas e cheias de jogadores mequetefes no horário limite, para não sair com as mãos abanando.

O Denis listou todas as trocas anunciadas ao fim do horário permitido, analisando cada uma. Restaram apenas as trocas de mais peso, envolvendo quatro times, uma mais ou menos influenciando na outra. Podemos comparar com um relacionamento complicado de dois casais em que rola umas puladinhas de cerca entre eles que acabam influenciando a relação de todos. Então vamos dar uma olhada nesse quatrilho com cara de bacanal analisando, com calma, um time de cada vez.

O Kings está de olho na crise mundial que tinha acabado de forçar o Hornets a tentar trocar o Tyson Chandler mas, como vimos no post anterior, o Thunder voltou atrás. Ou seja, a equipe de Sacramento está interessada em economizar umas verdinhas e, ao mesmo tempo, manter o núcleo jovem da equipe. O primeiro passo foi mandar uma escolha de 2º round do draft para o Celtics em troca de Sam Cassell e um monte de grana. Foi dinheiro suficiente para enfiar o salário do Cassell nas orelhas dele e mandá-lo de volta para o seu planeta, e ainda sobrou por volta de meio milhão de doletas. O Kings também ficou sabendo que o salário do terrorista aposentado Shareef Abdur-Rahim vai ser quase integralmente pago pelo seguro, já que ele pendurou as chuteiras na temporada passada. Para completar, o Kings mandou Brad Miller e John Salmons para o Bulls em troca de Drew Gooden e do Nocioni. Financeiramente, o contrato do Nocioni é mais longo do que os outros, mas ele é um daqueles casos estranhos em que o contrato vai ficando mais barato com o passar dos anos. O Gooden encerra o contrato na próxima temporada e pode topar renovar o contrato por menos grana, se não quiser vai pra rua e ninguém no Kings vai dar muita importância. Economizando uma grana louca, a equipe de Sacramento ainda aproveita para colocar a molecada pra jogar: o pivô Spencer Hawes era bom demais para ficar no banco mas seu estilo de jogo era parecido demais com o do Brad Miller para os dois ficarem ao mesmo tempo em quadra. É legal ter um pivô branco que joga na habilidade, não enterra e sabe arremessar de três pontos, mas se você já tem um, pra que vai querer outro? É figurinha repetida, precisa trocar com algum coleguinha no intervalo. Já o John Salmons nunca foi apreciado no Kings, ele tem bons números, segurou as pontas na equipe nessa temporada quando o Kevin Martin se contundiu, mas todo mundo que acompanha o time sabe que o Salmons monopoliza o jogo e não sabe jogar em equipe. Sua saída dá mais minutos para o Francisco Garcia, que vem jogando cada vez melhor depois de uma boa Liga de Verão. O Kings só precisava que alguém caísse no conto do vigário do Salmons, e esse time foi o…

Bulls, que pelo menos leva junto um pivô de verdade, experiente e eficaz. Mas é um pivô que gosta de jogar no perímetro! Qual é o problema do Bulls que eles são incapazes de arrumar alguém que saiba fazer pontos no garrafão? Primeiro trocam pelo Ben Wallace (que só pontua se for cesta contra), depois draftam o Joaquim Noah (que tem todo o poder ofensivo de sua versão cover, o Anderson Varejão), e agora trocam pelo Brad Miller, que odeia contato físico e prefere ficar nos arremessos a uma distância segura da cesta. Minha nossa, tem time que nunca aprende. Mas a troca foi excelente para a parte financeira: o contrato do Miller vira farofa justamente na temporada 2010, em que o Bulls estará em sérias condições de assinar um par de estrelas. E se o Ben Gordon, na temporada que vem, pedir outra vez um contrato zilionário, o Bulls pode simplesmente mandar ele passear e dar a vaga para o Salmons sem muito peso na consciência, economizando trilhões. Mas para garantir a saúde financeira, o Bulls ainda tinha em mente se livrar de dois armadores que não teriam minutos com a volta do Kirk Hinrich. Um deles, o Thabo Sefolosha, foi para o Thunder em troca de uma escolha de primeiro round no draft que vem. O outro, Larry Hughes, ganha 12 milhões nessa temporada e 13 milhões na próxima. Quem aceitaria esse contrato bizarro? É aí que entra o…

Knicks, que aceitou o Larry Hughes e mandou em troca o gordo do Jerome James, o preguiçoso do Tim Thomas e o quebra-galho do Anthony Roberson. Achei engraçado porque o técnico Mike D’Antoni parecia gostar muito do Tim Thomas, afinal ele arremessava de três, corria bastante e nunca se esforçou pra defender, aliás ele nunca se esforçou muito em coisa nenhuma porque jogar basquete dá o maior trabalho, sabe como é. O Jerome James não joga desde os seus tempos de Sonics, e provavelmente só conseguirá chegar em Chicago carregado por um caminhão dos bombeiros, e se abrirem um buraco na parede para ele entrar no ginásio. Financeiramente a troca é idêntica para os dois lados, tanto em salários quanto em duração, então na prática é apenas uma preferência por posições: o Knicks precisava de um armador que jogasse na posição 2 e soubesse infiltrar, o Bulls precisava de alguém para tomar os minutos do Nocioni como reserva do Luol Deng. Pensando apenas em 2010 e na chance de conseguir LeBron James, o Knicks só pode fazer trocas que não comprometam em nada a folha salarial, então preferiram trocar peças parecidas apenas para dar uns ajustes no elenco. Outra troca nesse mesmo estilo foi mandar o Malik Rose, que sequer joga, em troca do Chris Wilcox, do…

Time-outrora-conhecido-como-Sonics. Como a troca do Chandler pelo Wilcox não deu certo, acho que receber o ala de volta ia ser muito constrangedor. A última coisa que um time tão jovem e com tanto potencial precisa é de um veterano reclamando porque quase foi trocado, fazendo cara de bunda no vestiário e jogando sem vontade. Ele é físico, corre bastante e vai se dar bem no Knicks até seu contrato acabar, é bem melhor do que o mané do Malik Rose que vem em seu lugar. O contrato dos dois termina na próxima temporada e, embora o Rose tenha até certo talento em seu meio metro de altura, acho que será apenas um “empréstimo” até o fim da temporada regular. Na pior das hipoteses ele pode ficar contando histórias de seus tempos de Spurs e ensinar para a pirralhada como é a sensação de, como é o nome daquele troço esquisito mesmo, ah sim, “vencer”. O Thunder, que tem cinco escolhas de primeira rodada no draft dos próximos dois anos, se deu ao luxo de abrir mão de uma delas pelo Thabo Sefolosha, que aí sim deve ficar com o time por mais do que uma temporada. O suíço defende e infiltra bem, é excelente em rebotes para sua posição, e se saiu bem em um punhado de chances no Bulls. Lá, não teve espaço no meio da coleção de armadores, mas no Thunder pode se sair bem como reserva, é jovem, cheio de potencial, e uma boa escolha para um time cheirando a talco.

São quatros times, um trocou com um que trocou com o outro que trocou com o primeiro, mas resumindo, todos estão querendo garantir a saúde de suas finanças num momento de crise econômica, ter espaço na folha salarial para 2010 e pensar no futuro. Nenhum time ficou drasticamente melhor ou arrumou suas falhas: o Bulls não fará pontos no garrafão, o Kings não terá ninguém físico, o Knicks não terá um defensor e o Thunder não terá uma forma de escapar de sua maldição que o faz perder todos os jogos no último segundo (recentemente, foi mais uma derrota para o Nuggets, com outra bola decisiva do Carmelo). Mas todas essas trocas apontaram uma nova tendência de economia e planejamento para o futuro. Talvez, em breve, possamos ver alguns resultados, mas por enquanto foi tudo meio morno. Mais importante do que essas trocas foram as não-trocas: Amar’e continua no Suns, Vince Carter continua no Nets e T-Mac continua no Houston. Achei bom para os três times, e acho que eles terão sucesso imediato. Mas disso a gente fala em breve.

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