Nós já analisamos a decisão do LeBron James, e depois o Danilo fez um especial analisando o ponto de vista de todas as estrelas do Miami Heat: Dwyane Wade, Chris Bosh e, claro, LeBron. Mas era natural perguntar sobre o resto do time. Afinal, o Miami Heat se livrou de todo mundo para poder abrigar as três estrelas, deixou apenas Mario Chalmers e Michael Beasley, e logo trocou Beasley por uma escolha de draft com o Wolves. Como eles iriam conseguir montar um time? Quem eles iriam conseguir? Bom, eles acabaram de montar, hora de ver se fizeram direito.
O começo do time está na única peça que nunca ameaçou sair de Miami, o Superintendente Mario Chalmers. O armador foi uma grata surpresa na temporada retrasada. Depois de ser campeão universitário acertando o arremesso mais importante do jogo do título, pensou-se que aquele seria seu grande momento, que era muito fraco para ser grande coisa na NBA, tanto que foi apenas a 34ª escolha no Draft!
Mas em pouco tempo provou o contrário e com bons treinos (e falta de concorrência, é verdade), foi titular em todos os jogos da sua campanha de novato. Suas bolas de três (aproveitamento de 42%), poucos erros (2 turnovers por jogo em mais de 30 minutos por jogo) e principalmente sua defesa e roubos de bola o tornaram um favorito do técnico Eric Spoelstra. Chalmers, como novato, foi o quarto maior ladrão de bolas da NBA com 2 por jogo e é um dos 48 jogadores da história da NBA a conseguir pelo menos 9 roubos de bola em uma partida.
O que parecia uma carreira promissora deu um enorme passo para trás na temporada passada. Ninguém sabe explicar bem o porquê, mas Mario Chalmers parecia não defender com a mesma eficiência e sua limitação no ataque cada vez incomodava mais. Ele se tornou apenas um arremessador (que acertava menos do que no seu primeiro ano) e não livrava o Dwyane Wade da responsabilidade de armar as jogadas. Por isso Eric Spoelstra tirou Chalmers do time titular, colocou Carlos Arroyo ou Rafer Alston e Chalmers despencou para meros 20 minutos por partida ou menos.
O desempenho de Carlos Arroyo, que ganhou um novo contrato, foi discreto. Ele não defende tão bem quanto Chalmers, mas não é batido com facilidade e compensa com bom controle de bola e de ritmo de jogo no ataque. O número de assistências do porto-riquenho não é alto, mas ele é o responsável por ditar a velocidade e o caminho do ataque, liberando D-Wade para se movimentar e achar a melhor posição para atacar.
O melhor jogador entre os dois é o Chalmers, por isso imagino que ele volte para essa temporada como titular, mas vai ser uma briga longa. Se o Chalmers não estiver calibrado de longa distância quando sobrar livre (o que vai acontecer bastante) e se não for bom o bastante para segurar a armação, deverá perder lugar. O negócio é que ele poderá perder a vaga para outro cara que não é o Arroyo. O carequinha deve ter sua chance, óbvio, mas existe uma boa e real possibilidade do armador titular ser outro dos contratados dessa offseason, Mike Miller.
O MM, além de força capilar fora de série, tem um exímio arremesso de longa distância. Com Bosh, Wade e LeBron agredindo a cesta, é de se esperar que os adversários organizem uma defesa com três zagueiros, quatro volantes e os atacantes voltando pra ajudar. Até porque embora tenham melhorado, nem LeBron e nem Wade são conhecidos pelos arremessos de longe. Para desafogar essa defesa eles foram atrás de arremessadores. James Jones será a opção do banco de reservas, um cara limitado mas com o talento que eles precisam, e o outro é o Mike Miller. O que faz a loirinha ter chances de ser titular é que ele já quebrou o galho na armação durante vários períodos da carreira. Às vezes por alguns jogos, outras vezes apenas durante uns pedaços do jogo, mas o importante é que tem experiência em conduzir a bola, driblar e passar. Sem contar que a responsabilidade poderia ser dividida com Dwyane Wade e LeBron James, que já têm mais horas de experiência armando o jogo do que a Hebe tem de televisão.
Todo mundo lembra do LeBron carregando a bola da defesa pro ataque e comandando o Cavs, como o Wade sempre fez no Heat, principalmente em quartos períodos. Os dois casos não são o ideal, mas podem ser feitos e liberariam o Mike Miller para ser um armador de ocasião que está lá para arremessar. Na defesa não haveria problema também porque o próprio Wade é veloz o bastante para marcar os armadores adversários, deixando o Mike Miller com os mais altos.
Como o Eric Spoelstra não foi muito de inventar mesmo quando tinha um elenco capenga e cheio de falhas, imagino que o Chalmers seja a primeira opção e o Arroyo a segunda, mas eventualmente Mike Miller vai jogar com o time titular e dependendo do resultado pode virar a formação ideal do Heat.
O outro buraco no time titular estava na posição de pivô. Para essa vaga eles renovaram o contrato do Joel Anthony e tiraram mais um jogador do Cavs, Zydrunas Ilgauskas, que por ter voltado ao Cavs no ano passado após ter sido trocado, pela forma que anunciou sua saída e pela carta que publicou agradecendo o povo de Cleveland, deve estar sendo um pouco menos odiado que LeBron.
No final da temporada passada o Joel Anthony foi titular absoluto. Foi naquele período de dois meses em que o Heat ganhou de todo mundo e ficou entre as três melhores defesas da NBA e entre os três com mais vitórias. O Anthony é tão útil para o ataque do Heat quanto eu sou para a questão da paz no Oriente Médio, mas foi uma fortaleza defensiva. Nos 16 jogos em que foi titular teve média de 5 rebotes e 2 tocos por jogo, além de ser muito bom no homem-a-homem.
Já o Ilgauskas todo mundo conhece, não é grande coisa na defesa porque é muito lento, mas compensa atrapalhando na altura, dando uns tocos e garantindo uns rebotes. O negócio do Big Z é no ataque, onde ele abre a defesa adversária com seu bom arremesso de meia distância e até eventuais bolas de três, como naquele jogo épico contra o Sacramento Kings quando acertou três bolas de 3 pontos só na prorrogação. Os arremessos do Ilgauskas são bons para forçar os pivôs a sairem do garrafão. Seria útil por exemplo para forçar o Dwight Howard a não ficar lá embaixo da cesta atrapalhando as infiltrações de Bosh, Wade e LeBron.
Claramente o Ilgauskas é a melhor opção ofensiva e o Joel Anthony a defensiva, saber quem vai ser o titular e depois quem vai ter mais tempo de quadra será importante para saber que tipo de time o Spoelstra está pensando em montar.
Assim como na armação há também a opção do improviso. Ao invés de Anthony, pura defesa, ou Ilgauskas, ataque, podem usar o Udonis Haslem. O jogador com mais tempo de Miami nesse elenco, junto com o Wade, sempre foi um líder dentro do vestiário da equipe e quase uma exigência do D-Wade para essa temporada. Haslem teve propostas mais lucrativas (dizem que do Jazz), mas não quis deixar seu time bem quando ele estaria mais forte do que nunca.
Com a presença do Bosh ele nunca vai ser titular na ala de força, e é pouco provável que arrisquem usá-lo como pivô sendo que tem apenas 2,03m de altura. Seria possível improvisar o Bosh, mas ele teria um ataque de choro e pediria para ser trocado na hora. Mas não duvide que Bosh e Haslem dividam minutos em quadra durante os jogos. O Haslem é um excelente defensor, mesmo quando enfrenta caras muito mais altos, mais ou menos como o Chuck Hayes faz no Houston Rockets. Se o pivô adversário não for nenhum monstro é possível que o Haslem entre em quadra na posição 5 mesmo sendo muito baixo. Além da boa defesa, ele tem um arremesso de meia distância que é automático, certeiro desde seu primeiro ano na NBA.
Tirando a altura, Haslem seria o cara ideal para jogar como pivô, por isso considero a chance do improviso, mas talvez apenas para alguns momentos do jogo. Meu palpite, hoje, seria que o Heat começa os jogos com Chalmers, Wade, LeBron, Bosh e Ilgauskas. Mas apostaria que eles terminam as partidas mais complicadas com Mike Miller, Wade, LeBron, Bosh e Haslem.
Além dos que brigam por vagas no time titular, o Heat foi buscar mais gente para completar o elenco. Eles tem agora o Eddie House, que pelo menos umas duas ou três vezes na temporada ou nos playoffs vai ganhar jogos sozinho com arremessos de três consecutivos, o Shavlik Randolph, um ala de força branquelo que é um bom reboteiro e deverá quebrar um galho de vez em quando e, ainda no grupo de estrelas do garbage time, que vão fazer a festa sempre que o time titular abrir 20 pontos de vantagem antes do quarto período, Kenny Hasbrouck, um armador que fez história por ser o primeiro a sair da Universidade de Sienna para a NBA e que eu nunca vi jogar na vida.
Como terceiro pivô eles contrataram o Jamaal Magloire, que eu acho um pedaço de carne desforme e imprestável. Em 11 anos de NBA ele foi bom em apenas duas temporadas, a 2002-03 e 03-04, ambas pelo New Orleans Hornets. Na segunda ele até conseguiu a proeza de ser um All-Star, tamanha era a falta de bons pivôs no Leste naquele ano (o Hornets foi do Leste até a entrada do Charlotte Bobcats na liga em 2004-05). E pior, ele ainda foi o cestinha do Leste com 19 pontos naquele All-Star Game! No vídeo abaixo ele aparece com uma enterrada, sofrendo um toco (que foi na descendente) do Shaq e fazendo uma falta grosseira no mesmo Shaq, que resultou em pontos para o Oeste e piada em frente às câmeras.
(nota sobre o vídeo: o passe de esquerda do Kidd para o Kenyon Martin no primeiro tempo é uma das assistências mais lindas que eu já vi na vida. É bom relembrar como T-Mac, Vince Carter e Allen Iverson eram bons)
Depois dessa boa (mas não de All-Star!) campanha, ele foi ganhando um contrato atrás do outro apenas vivendo do passado, nunca fez mais nada de útil na NBA. Tá bom que terceiros pivôs não costumam ser grande coisa, o Lakers foi campeão com o DJ Mbenga, mas o Heat poderia ter ido atrás de um que enganasse melhor.
Eu esperava que o Heat fosse conseguir mais jogadores de nome e experiência na busca para fechar o elenco, ao invés disso pegaram muita gente que pouco viu a cara dos playoffs. Mas assim como Rondo e Perkins encararam a novidade da pós-temporada em 2008 com naturalidade, no embalo do trio de líderes, acho que o Heat não terá problemas se LeBron, Wade e Bosh exercerem bem a liderança da equipe.
A liderança passa pelos treinos, discurso pré-jogo, atitude em quadra, toques e broncas nos momentos difíceis e em palavras de confiança e calma na hora certa. O Celtics tinha Garnett e Doc Rivers muito bem nesse papel de líder e assim o bom elenco não se perdeu. O Heat conseguiu as estrelas e agora as boas peças de apoio, falta testar a liderança.
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Coloquei ontem no ar uma planilha com os elencos dos 30 times da NBA.Está separado por divisão e as equipes entre titulares, reservas e o resto que compõe o elenco. Talvez ainda faltem alguns jogadores e os times titulares são, por enquanto, palpites. Mas com o passar do tempo e da temporada vamos sempre atualizar com os ajustes necessários. Espero que seja útil para quem é curioso, pra consultar ou só para arrumar os elencos no seu NBA 2k10.