Alguém aí lembra dos longínquos playoffs do ano passado? Lakers sem o Ariza pra roubar bolas decisivas, Bynum de muleta, Spurs ainda chegando longe, as crianças brincando de pipa na rua, de peão, não tinha violência, o Boston vencia seus jogos 7… tantas histórias pra contar. Se você lembra disso tudo, deve lembrar do Cavs do ano passado também.
Aquele Cavs era um time razoável. Bom na defesa, um inferno para o adversário por causa da quantidade de rebotes ofensivos, mas um time limitado no ataque: sem boa movimentação e sem jogadores de alto nível, eles se limitavam ao que o LeBron James poderia oferecer a cada noite.
Durante a temporada regular esse antigo time ficou distante. O Cavs contratou o
Mo Williams, evoluiu seus pokémons de razoáveis para bons e de repente o time tinha
um dos melhores ataques da NBA inteira. Não era raro o LeBron fazer uns 20, 25 pontos e o time vencer por 30 de vantagem.
Então, quando o time de 2008 parecia tão distante, ele reapareceu agora bem nas finais de conferência. Já se foram 3 jogos e o Cavs está numa situação difícil, perdendo por 2 a 1 e com mais dois jogos pra fazer fora de casa.
Em todos os jogos a gente só assistiu o LeBron dar show. E por “a gente” eu quero dizer eu, você, o Zé Boquinha, o Everaldo Marques, o Mo Williams, o Varejão, o Delonte West, o Ilgauskas. Todos tivemos em comum o fato de assistir o LeBron dar show, bater palmas e não fazer nada pra ajudar.
Ontem, por incrível que pareça, foi o melhor jogo do Mo Williams na série e mesmo assim ele fedeu um bocado (15 pontos em 16 arremessos, 5 turnovers). Errou arremessos decisivos, se escondeu quando deveria ajudar o LeBron e não compensou a falta de pontos sendo bom em alguma outra área do jogo. Ter o desaparecido Daniel Gibson (quem achá-lo ligue para a mãe dele que está preocupada) no lugar dele não faria tanta diferença, pra falar a verdade.
O Delonte West não está sendo genial e o Ilgauskas naquela insistência idiota de ficar arremessando de três pontos também não ajuda, claro, mas a responsabilidade deles é bem menor que a do Mo Williams, ele era o cara pra levar o Cavs para o nível de um time campeão. E pareceu ser esse cara durante toda a campanha da temporada regular, mas agora, quando interessa mais, ele não está correspondendo.
O LeBron se tiver a bola nas mãos vai fazer 40 pontos todo jogo, mas isso não quer dizer nada. O Kobe com média de mais de 35 pontos por jogo não levou o Lakers a lugar algum há poucos anos atrás. Por isso acho que a melhor estratégia na hora de marcar esses caras imarcáveis é deixar eles fazendo o que sabem e fechar o resto do time. Então, se não tem jeito do LeBron não fazer 40 pontos, que o resto do time, que não é tão espetacular, não consiga jogar.
A estratégia tem dado certo, créditos ao Super Mario-Pizzaiolo-Ratinho Stan Vun Gundy que fez exatamente isso. Vejam essas duas declarações do desesperado Mo Williams:
“Eles estão me marcando de perto, duro. Se eu faço um arremesso eu consigo ouvir o Stan na lateral gritando ‘fiquem em cima deles, marquem mais de perto, mais de perto!’
. Então eles estão se esforçando bastante para que eu não tenha bons arremessos”
“Às vezes eles fazem eu apressar meu arremesso. Eu sinto que preciso de uma grande cesta para tirar a pressão do LeBron mas eles me marcam muito forte.”
Uma única estatística para provar como essa tática dá certo: ontem o Cleveland Rests (todos menos o LeBron) arremessou 50 bolas. Acertaram 18.
Agora fica o dilema Tostines: os coadjuvantes do LeBron estão se movimentando mal, vendo o LeBron jogar porque o Orlando está marcando eles bem, ou parece que o Orlando está marcando bem porque eles estão se movimentando mal?
Eu aposto que a defesa forte veio primeiro e executou a confiança dos outros jogadores, que agora se sentem mais à vontade confiando tudo nas mãos do LeBron. Tem horas que ser um time jovem não ajuda em nada.
Se não bastasse tudo isso, o Orlando já é naturalmente um pesadelo para o Cavs nos confrontos pessoais. O Rafer Alston está longe de ser um deus do basquete mas dá conta do Mo Williams, o Courntey Lee é um defensor muito bom que dá conta do Delonte West, Sasha Pavlovic ou qualquer um que inventem de jogar na posição 2. O Turkoglu não dá conta do LeBron mas tem a ajuda do espetacular Mickael Pietrus, que está se consagrando nessa série ao marcar tão bem o LeBron.
E pra fechar, o garrafão é um caso à parte. O Varejão não tem a menor idéia de como marcar o Rashard Lewis e o Ilgauskas e nem mais ninguém tem resposta para a velocidade e a agressividade do Dwight Howard, que sozinho pendurou todo o garrafão do Cavs ontem.
Aliás, esse jogo 3 foi o jogo da arbitragem, não sei porque mas resolveram apitar tudo! Colocaram o Orlando na linha de lances-livres 51 vezes. CINQUENTA E UM lances-livres, isso é insano, o jogo teria durado uma hora a menos se os juízes tivessem sido mais liberais. Já o LeBron, sozinho, arremessou 24 lances-livres. Ele apanhou um bocado, mas os juízes marcaram coisas absurdas como na decisiva jogada abaixo, um arremesso de 3 no minuto final, a sexta falta do Dwight Howard.
O Orlando, porém, se salvou mesmo depois dessa marcação e manteve a liderança no placar até o final. Engraçado dizer isso do Magic, mas eles estão ganhando essa série com a cabeça.
Sempre achei que o fator psicológico estaria a favor do Cavs, já que o LeBron é sempre super confiante e o resto da pivetada tá sempre empolgada, pulando e se achando o máximo. Enquanto o Orlando tem um técnico que o Shaq, que trabalhou com ele no Heat, chamou de “mestre do pânico”. A frase do Shaq inteira, na verdade, foi:
O que está acontecendo na verdade é o oposto. Nas imagens que mostram do Vun Gundy no vestiário e nos pedidos de tempo ele está sempre pedindo calma para os jogadores dizendo que eles já passaram por situações difíceis nessa temporada e que sairam delas jogando com calma e sempre lembrando eles de não reclamar por causa de faltas porque sabem que os juízes vão marcar coisas a favor do LeBron e que vão ter que ganhar os jogos mesmo assim.
O Orlando está focado, é paciente e está na frente. O Cavs parece desesperado, tem muitos jogadores com atuações pífeas e está na incômoda posição de correr atrás. A coisa está muito, muito feia para o Cavs.