>O símbolo de uma seleção

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Rajon Rondo fingiu dor de barriga e foi cagar em casa

A seleção dos Estados Unidos precisava tomar uma última decisão: quem cortar do grupo de 13 jogadores que restaram até agora no elenco? Após uma série de contusões, desistências e fedor (caso específico do JaVale McGee), acreditava-se que três jogadores estavam com a corda no pescoço: Eric Gordon, Russell Westbrook e Stephen Curry. Para entender o motivo, vamos dar uma olhada em todos os jogadores do elenco e em que posições estão jogando pela seleção:

PG

Rajon Rondo: Foi titular em todos os amistosos e só perdeu a vaga nos dois últimos. Joga nessa seleção como o Kidd jogava na seleção campeã olímpica, ou seja, sem dar um único arremesso sequer e se encarregando de armar o jogo o tempo inteiro, pegar rebotes e puxar o contra-ataque. Não acertaria um arremesso nem pra salvar a mãe, mas num elenco sem pivôs sua capacidade de pegar rebotes é fundamental e mantém o time jogando em contra-ataques. Além disso, jogou duas finais de NBA e apesar de não ter um pelo sequer na cara, seria a voz da experiência nesse time assim como o Kidd foi para a seleção olímpica. Fora que ele é, disparado, o melhor defensor dessa equipe e poderia cancelar a armação adversária. Contra os times mais estabanados, a seleção poderia vencer apenas com a marcação do Rondo, mas contra as seleções mais fortes, sua falta de arremesso pode ser explorada.

Stephen Curry: Teve minutos limitados por lesão e atuações muito inconstantes, mas soube como vencer a zona driblando por entre defensores e arremessando de três sem dificuldades. Apesar de só ter jogado um ano de NBA e ter mais cara de bebê do que o Jermaine O’Neal (vale dar uma olhada nessa camiseta “Baby Faced Assassin”), o Steph Curry já é um dos melhores arremessadores da liga e sabe correr no contra-ataque como só um jogador do Warriors saberia fazer. A lesão e a inexperiência limitaram muito seu papel na equipe.

Derrick Rose: Um gênio da infiltração, forte como oito touros selvagens, mas com bom arremesso e visão de jogo. Pessoalmente não acho ele tudo isso, mas confesso que é provavelmente o armador mais completo dessa seleção, faz tudo bem e não tem nenhuma falha aparente. Acabou ganhando o posto de titular no último amistoso da seleção.

Russell Westbrook: Provavelmente o melhor jogador no contra-ataque dessa seleção, mortal quando defendido no mano-a-mano, mas limitadíssimo contra zonas porque não tem um arremesso de três pontos decente. A equipe tem armadores demais e ele parecia o mais desnecessário, até que mostrou serviço na defesa, nos rebotes, e provou que tem um arremesso mortal de média-distância que nem a mãe dele conhecia quando começou o segundo tempo do penúltimo amistoso como titular.

SG

Chauncey Billups: O vovô da equipe, essencial para manter a calma (e os bocejos) do elenco mesmo quando estiverem perdendo por 40 pontos como acontecia nos seus tempos de Pistons. Curiosamente, na seleção ele não joga armando o jogo, mas sim finalizando no perímetro. É forte e inteligente o bastante para saber levar armadores adversários até o garrafão e jogar de costas para a cesta, tem fama de acertar os arremessos decisivos quando o time precisa, e pode armar o jogo se precisar. É titular absoluto.

Eric Gordon: Limitado por lesões, também jogou pouco. É baixinho, um defensor esforçado mas não espetacular, não tem nenhuma experiência na NBA, e não estaria nessa conversa se não fosse um dos melhores arremessadores de três do planeta. Ele tem aquela síndrome de Sasha Vujacic, a gente vê ele arremessando nos jogos e acha que ele é só bom, mas quem lhe vê treinando diz que ele é de outro planeta. Sempre esteve para ser cortado da seleção, mas aí deixava todo mundo babando nos treinamentos e tinha um ou outro momento fantástico nos jogos. Não é consistente, mas pode vencer um jogo sozinho de repente.

SF/PF

Kevin Durant: Agora o Durant não é mais surpresa, todo mundo sabe quão bom ele é, e podemos então começar a odiá-lo por ser estrelinha e dizer que ele é “muito 2009”. Vai levar essa seleção nas costas quando o negócio apertar, é impossível marcá-lo, pode jogar tanto tão bem dentro quanto fora do garrafão, e com seus braços de Tayshaun Prince ainda é um monstro na defesa, venceu o jogo contra a Espanha com dois tocos seguidos nos segundos finais.

Rudy Gay: Na seleção, vai jogar dentro do garrafão. É forte e técnico o bastante para saber jogar contra os jogadores mais altos do resto do mundo, mas tem um arremesso de três confiável pra burro. É um dos jogadores mais consistentes daquele Grizzlies em que todo mundo quer garantir seus pontinhos e sabe jogar bem sem a bola. Deve ser titular ao lado do Durant.

Danny Granger: Um dos melhores pontuadores da NBA, vai ser cestinha da temporada regular mais cedo ou mais tarde, é um dos melhores arremessadores de três pontos, e forte o bastante para, como LeBron fez na seleção olimpica, jogar dentro do garrafão. O “Granny Danger” também teve sua situação na seleção abalada por uma contusão, mas assim que seu dedo lesionado melhorou um pouquinho, já voltou pontuando como um maluco. Não dá pra abrir mão dele especialmente contra defesas por zona.

Andre Iguodala: Um dos melhores defensores da equipe, pau a pau com o Rondo, ideal para anular a estrela adversária. Só por isso já merecia estar no banco, mas o Iguodala também tem um arremesso de três pontos bacaninha o bastante para conseguir se garantir no ataque, fora que é um monstro nos contra-ataques e é uma das armas principais da defesa sufocante que a seleção colocou em prática nos amistosos.

C

Tyson Chandler: O único pivô de verdade no elenco, mas quando está em quadra o time perde bastante poder ofensivo. Ele está no time apenas porque é o único cara realmente grande que sobrou depois que David Lee, Brook Lopez, Robin Lopez, JaVale McGee e Amar’e Stoudemire deram o fora da seleção ou foram chutados pra longe. Seu papel é puramente defensivo desde que perdeu o posto de titular para o Lamar Odom, e deve ser assim durante o Mundial. Carta na manga apenas para ser usada para marcar os melhores pivôs adversários. E convenhamos, na FIBA, com os melhores da posição não jogando por suas seleções, isso nunca será sequer necessário.

Lamar Odom: Virou pivô nessa seleção, o que é muito esperto. O Odom finge saber arremessar de três pontos como deve-se fazer no basquete internacional, é grande o bastante para atrapalhar pivôs adversários, e é imarcável porque bate bola como armador, infiltra como armador, e nenhum jogador de garrafão será capaz de correr atrás dele. No contra-ataque ele sempre acaba sobrando livre, sem no entanto comprometer nos rebotes. Vai ser o titular acertadamente.

Kevin Love: Por ser um ótimo arremessador, inclusive de três pontos, e passar a bola melhor do que qualquer um dos armadores dessa seleção, é um achado para jogar contra zonas. Além disso, é um ótimo reboteiro e com seus passes de “quarterback” liga rapidamente os contra-ataques. Deve ter um papel limitado no Mundial, mas como o time não tem outros pivôs, tem lugar garantido.

Como pudemos ver, todos os jogadores de garrafão estão garantidos na seleção porque não sobraram muitos otários para a função. Nas alas, todos os quatro jogadores arremessam de três, são bons defensores, e podem jogar tanto dentro quanto fora do garrafão. Na armação, o Billups é o único que tem cadeira cativa, pode até comer a filha do dono se quiser, mas Derrick Rose e Rajon Rondo receberam mais confiança e tiveram papéis importantes durante os amistosos. Westbrook não arremessa de três, Eric Gordon é muito baixo e não sabe armar o jogo, Stephen Curry arremessa demais e não tem nenhuma experiência, e todos eles sofreram com alguma contusão durante o preparamento. Um dos três deveria ser cortado eventualmente. No último amistoso da seleção dos Estados Unidos, o Rajon Rondo não jogou e a comissão técnica disse que queria ver o que Curry, Gordon e Westbrook poderiam produzir. Para mim, uma clara indicação de que os três estavam com a água na bunda e que quem se saísse pior iria voltar pra casa, no maior estilo prova de “Big Brother”.

Mas o Rajon Rondo entendeu diferente. Frente às alegações da comissão técnica de que não dava pra jogar no basquete internacional com dois jogadores que não sabem arremessar, ele entendeu que não jogar na última partida foi apenas a confirmação de que com Curry, Gordon e Westbrook, a seleção iria se sair melhor do que com ele em quadra. Enquanto todo mundo pensou que a alegação era apenas a justificativa final para colocar Tyson Chandler no banco, Rondo achou que tudo se referia a ele. Típico de menina com mania de perseguição que acha que todo mundo está dando indiretas sobre ela estar gorda.

No entanto, pouco tempo depois saiu o comunicado de que Rajon Rondo pediu para sair da seleção por questões pessoais, familiares. A comissão técnica agradeceu os serviços do armador, ficou feliz da vida e não teve que fazer corte nenhum. Talvez a paranóia do Rondo tenha ido longe demais e ele tenha se sentido tão pouco querido que preferiu pedir pra cagar e ir embora. É possível que, depois de ter jogado como titular tantos jogos na NBA e ter assumido tão bem a posição de armador titular da seleção, Rondo tenha ficado verdadeiramente ofendido com a indireta sobre jogadores que não arremessam, com ter sido substituído no quinteto titular pelo Westbrook no segundo tempo de um jogo, e por não ter jogado nenhum minuto sequer no último amistoso. Mas se foi isso que aconteceu, é culpa dos engravatados por não terem explicado direito, bastava sentar e dizer para o Rondo que só estavam testando os outros jogadores, mas que ele estava garantido. Se não fizeram isso, começo a desconfiar que não era paranóia do Rondo mesmo. Ele tem razão de se sentir pouco querido e ter pedido para sair porque, pelo jeito, a comissão técnica não tinha certeza de sua vaga apesar da qualidade dos serviços prestados. Parto do pressuposto que eles são espertos o bastante para deixar o Rondo contente e seguro se realmente quisessem ele na equipe.

Para confirmar essa hipótese, começaram a surgir boatos de que a comissão se reuniu com o Rondo, anunciaram que ele seria cortado, e aí deram um tempo para que o Rondo anunciasse que estava deixando a seleção por conta própria, só pra não ficar feio, do tipo “fala que teu cachorro comeu a lição de casa”. Acho isso um tanto difícil, mas possível. Mas, independente do que realmente aconteceu entre eles, o que importa é que a titularidade do Rondo nunca foi garantida para a comissão técnica como parecia para nós, torcedores, e ninguém fez questão de tranquilizar a situação do armador, trataram o Rondo como alguém que poderia ser cortado a qualquer momento mesmo sendo titular – algo que não aconteceu com Billups, Durant, Odom, e até com o Kevin Love, que é mais “B” do que o resto.

Não consigo pensar em prova maior da inteligência do técnico Mike Krzyzewski. Postei recentemente sobre as defesas por zona internacionais e as diferenças das regras da NBA e da FIBA, e a conclusão óbvia é que não interessa levar os melhores jogadores da NBA, os jogadores mais famosos e mais fodões. O que importa é levar os jogadores mais competentes para competir dentro das regras da FIBA, ou seja, arremessadores de três pontos. Um garrafão forte sem arremessadores não ganhará um Mundial para o Brasil e também não funcionaria para os Estados Unidos. Odom e Kevin Love são pivôs perfeitos dentro das regras da FIBA, e eu estava achando muito idiota alguém pensar em cortar Stephen Curry ou Eric Gordon, dois dos melhores arremessadores da NBA. Se alguém tinha que ir embora, que fosse o Russell Westbrook, que não sabe arremessar de três, mas no fim das contas seu arremesso de média distância se provou muito útil contra zonas. A incapacidade de Rajon Rondo de acertar arremessos tornou sua presença cada vez mais nociva, e as boas atuações dos outros armadores na hora de chamar as jogadas provaram que sua capacidade de armar o jogo não era tão essencial assim.

O Rajon Rondo é um gênio em quadra, faz tudo certo, sempre com o mínimo de esforço. Mas se as defesas da NBA já se beneficiam de seu arremesso mequetrefe, nas regras da FIBA ele passa a ser uma piada, o cara que não precisa ser marcado e que torna a defesa por zona ainda mais eficiente porque pode se concentrar nos outros. Quando bate para dentro, sofre faltas e tem péssimo aproveitamento de lances livres, não dava pra deixá-lo em quadra nos momentos decisivos, então cabia a ele não pontuar e apenas armar para um time em que quase todo mundo pode armar, até o próprio Lamar Odom, e em que até os jogadores menos talentosos sabem passar bem a bola, como o Kevin Love. Aqui está a prova de que os Estados Unidos devem ser campeões mundiais: Rajon Rondo é um dos melhores jogadores desse elenco e mesmo assim foi para casa sem dó, inventando desculpa ou não, porque os outros se encaixam melhor nas regras, no plano, na tática. Esse tipo de culhão e foco garante que os melhores fiquem em casa enquanto os mais adequados para o torneio estejam em quadra. Quero ver alguém vencer uma equipe com tantos arremessadores dentro de regras em que o garrafão é tão prejudicado. Não existe mais prepotência dentro da seleção americana, agora eles encaram a realidade da FIBA de frente, como algo diferente que deve ser compreendido e dominado, e assim podem vencer tranquilamente. O Rondo é o grande símbolo dessa seleção, de como os nomes são menos importantes do que a eficiência, de como talento não significa necessariamente vitória. Com um quinteto titular de Derrick Rose, Billups, Durant, Iguodala e Odom, o trabalho está feito. Em nome da vitória, Rondo assistirá de casa.

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