Com nove derrotas em dez jogos, incluindo cinco derrotas seguidas, Phil Jackson finalmente conseguiu a desculpa perfeita para demitir o técnico do Knicks, Derek Fisher. O descontentamento com o técnico-de-primeira-viagem já era antigo, mas o gordo contrato de 4 anos – além do discurso eternamente presente de que o projeto do Knicks é paciente e de longo prazo – impedia que decisões drásticas fossem tomadas. O bom começo da equipe nessa temporada também ajudou a prolongar o emprego de Fisher, mas o constante andar do time para fora da zona dos playoffs foi tornando a situação insustentável. Por fim, o mesmo Phil Jackson que contratou Derek Fisher sem muitos motivos também o demitiu na primeira oportunidade. Quem assume é outro pupilo de Phil Jackson, o técnico Kurt Rambis.
Desde que assumiu como diretor de basquete do Knicks, Phil Jackson tem a intenção declarada de estabelecer na franquia o sistema vencedor de que ele participou ativamente durante seus 11 campeonatos ganhos no Bulls e no Lakers. Esse “sistema vencedor” passa por um certo modo de gerir as coisas, de pensar a longo prazo, de convencer jogadores a assinar contratos longos e, principalmente, de jogar dentro da quadra. Para além de sua habilidade nos escritórios, Phil Jackson é simplesmente incapaz de desassociar seu sucesso profissional do esquema tático que ele executou como técnico durante todos os seus anos como campeão. Contratá-lo é, portanto, dar-lhe as chaves do escritório e ao mesmo tempo obrigar quem quer que seja o técnico a utilizar a famosa tática ofensiva dos triângulos dentro de quadra.
Assim que Derek Fisher foi desligado, cogitou-se que Phil Jackson em pessoa assumiria o comando da equipe no banco. O boato foi negado pelo próprio Phil Jackson, que afirmou que embora ele instintivamente considere a possibilidade, sua saúde tem se deteriorado muito nos últimos anos, a ponto de que ele sequer tem sido capaz de viajar com a equipe para as partidas fora de casa. Tirando suas limitações físicas, não há dúvida de que ele quer ser o técnico – e de que não importa quem assuma a equipe, é Phil Jackson quem acabará sendo o técnico EFETIVO, determinando os esquemas de jogo e os planos táticos lá de sua confortável cadeira no escritório da franquia.
Apesar de ter qualquer experiência prévia como técnico, Derek Fisher foi contratado justamente para ser um MARIONETE de Phil Jackson no banco. Os dois sempre tiveram um excelente relacionamento dentro e fora das quadras, com Derek Fisher tendo papel importante nos triângulos do Lakers durante 5 campeonatos ganhos, e Jackson queria que ele fosse o responsável por ensinar o esquema para os jogadores do Knicks e garantir sua execução. Todo o resto – a defesa, o trato com os jogadores, etc – Phil garantiu que cuidaria ele mesmo, fosse pessoalmente, fosse ensinando o jovem técnico, fosse através de uma comissão técnica designada para isso. Mas essa relação de tutoria começou a azedar quando Derek Fisher foi aos poucos deixando o triângulo de lado. Phil Jackson fez alertas, sentou com o rapaz, analisaram jogadas, desenharam pranchetas, mas nada fez com que Derek Fisher se comprometesse inteiramente com o esquema tático. Por isso foi demitido assim que a janela de oportunidade se abriu.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Fisher sempre fazia essa cara de NÃO TÔ ENTENDENDO NADA”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Fisher.jpg[/image]
Derek Fisher não contrariou Phil Jackson só de otário. A verdade é que além dos triângulos terem conseguido pouquíssimo sucesso durante os jogos em que foram aplicados, os jogadores do Knicks ODIAVAM usar o esquema. Fisher foi se queimando com os jogadores por impor os triângulos e sua tentativa de reerguer uma ponte entre eles foi tornar o ataque mais livre e simples, com ênfase maior nos pick-and-rolls. Phil Jackson sabe disso, afirmou que demitiu Fisher porque não tinha como demitir 15 jogadores, e que certamente falhou em sua missão como tutor de Fisher, o que no fundo quer dizer que ele não soube ajudar o técnico a criar um vínculo com seus jogadores.
História muito parecida aconteceu com Kurt Rambis, que assumirá o cargo de técnico no Knicks. Rambis foi contratado pelo Wolves em 2009 justamente para implementar o esquema dos triângulos, que havia aprendido como assistente técnico no Lakers, na jovem equipe em reconstrução. Rapidamente ficou claro que a pirralhada não apenas era incapaz de compreender a movimentação ofensiva como também ODIAVA ter que executá-la. Depois de levar o Wolves ao pior recorde da Liga em seu segundo ano e admitir que abandonaria os triângulos com a molecada, numa tentativa de voltar a ser respeitado pelo elenco, foi demitido da franquia e desde então não recebeu outra oferta na NBA. Phil Jackson o trará de volta com a mesma função: implementar os triângulos no Knicks e tentar não perder os jogadores por completo.
Rambis será o técnico interino da equipe, ou seja, fica até segunda ordem, sem contrato garantido. Dizem que o real objetivo de Phil Jackson é contratar algum de seus outros pupilos, mais jovens e maleáveis do que Rambis, como Brian Shaw, que teve uma passagem desastrada pelo Nuggets, e Luke Walton, que teve um sucesso absurdo substituindo Steve Kerr durante suas ausência por saúde no Warriors dessa temporada. Tanto Shaw quanto Luke Walton conhecem os triângulos suficientemente bem para estarem aptos ao cargo. Mas grandes técnicos, mais estabelecidos, jamais serão considerados para o cargo simplesmente porque o Knicks não é mais uma franquia comum, é uma franquia com um SISTEMA TÁTICO DEFINIDO – o único problema é que os jogadores que fazem parte da franquia não parecem muito confortáveis com isso.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Pense no Gary Payton executando os triângulos e tente não fazer a cara do Kobe nessa foto”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Payton.jpg[/image]
Os triângulos exigem uma movimentação em quadra bastante rígida e restrita, por um lado, e constante leitura do jogo, improviso e resposta às movimentações defensivas por outro. O resultado é que jogadores facilmente sentem-se ao mesmo tempo tolhidos pelo esquema e incapazes de saber o que é que DEVERIAM estar fazendo em quadra por simples incapacidade de ler o jogo ao seu redor. É um esquema para jogadores experientes, obedientes, inteligentes e criativos, o que é obviamente exigir demais de muitos dos jogadores da Liga – mesmo de alguns dos mais talentosos. Faz tanto tempo que os triângulos não são bem executados por um elenco inteligente que acredite no sistema que sequer somos capazes de saber com certeza quão relevante e funcional ele seria na NBA de hoje. Será que com a abundância de defesas por zona, posições fluidas e proteção de aro atuais, os triângulos ainda teriam o resultado que tiveram com Phil Jackson ao longo de duas décadas? Será que não existem sistemas mais modernos, mais adequados aos jogadores que o Knicks tem em mãos? Se depender de Phil Jackson, nunca saberemos.
Recentemente Rajon Rondo comentou que o sistema dos triângulos simplesmente não funcionaria para ele, que ele não é o tipo de jogador que se beneficiaria do esquema. Phil Jackson fez questão de responder publicamente dizendo que achou muita graça da afirmação, já que para ele “qualquer jogador se encaixa e se beneficia de um esquema ofensivo bem montado” e que qualquer time da NBA atual poderia implementá-lo. Jackson parece se esquecer propositalmente de Gary Payton, um dos maiores armadores principais de nossos tempos, que ficou DESESPERADO com os triângulos durante sua passagem pelo Lakers naquele Quarteto Fantástico com Kobe, Shaq e Karl Malone. Payton desapareceu naquela equipe tanto no ataque quanto na defesa, tornou-se um jogador irrelevante e admitiu que tudo era responsabilidade do esquema tático que não usava suas maiores habilidades. Temos aqui um caso de um sistema que atropelará aqueles que não se encaixarem – capaz de criar uma identidade para uma equipe tão carente de uma face reconhecível, de respeito, de relevância, mas também capaz de perder suas poucas estrelas no processo. Talvez o Knicks até dê certo com os triângulos. A dúvida é quem terá sobrado em quadra até lá.