O time que não mudou

O Portland Trail Blazers chega na metade desta temporada basicamente na mesma posição em que estava no ano anterior: tem 22 vitórias e 28 derrotas hoje, tinha 22 vitórias e 26 derrotas no final de janeiro de 2015-16. A principal diferença é que aquele time era considerado um sucesso, a temporada deste ano é sinônimo de fracasso, reclamações, entrevistas explicando derrotas e reunião entre jogadores para discutir o que não está dando certo.

O Blazers foi um dos ~cases de sucesso~ da temporada passada: depois de ver 4 de seus 5 titulares darem o fora, o time respondeu com poucas contratações, salários baixos e muitos jogadores ainda sem renome em volta de um sempre motivado e contrariado Damian Lillard. A previsão de muitos era a de que a equipe, em clara reconstrução, iria perder muito mais do que ganhar.

Mas a receita deu mais certo do que qualquer um poderia imaginar. CJ McCollum não só aproveitou a chance de ser titular, como passou a marcar mais de 20 pontos por jogo, foi eleito o jogador que mais evoluiu na temporada e se tornou o terceiro cara da história da NBA a ter média de mais de 20 pontos mesmo batendo menos de 3 lances-livres por jogo. E ainda podemos relembrar aqui da descoberta de que Allen Crabbe poderia ser um grande pontuador, que Al-Farouq Aminu é uma boa opção para a posição 4 e que Mason Plumlee é muito melhor passador do que jamais poderíamos imaginar. Chamá-lo de ‘White Draymond‘ ainda é piada, mas não 100% piada.

Na segunda metade da última temporada o time EMBALOU e foi para os Playoffs com uma excelente quinta posição no Oeste, e ainda tiveram a sorte de pegar um Clippers desfalcado na primeira rodada para passar de fase e dar trabalho para o Golden State Warriors. Quem poderia imaginar que de todos os jogadores do ano anterior, Lillard teria resultado igual ou melhor ao de LaMarcus Aldridge, Wes Matthews ou Nicolas Batum, que foram para times com muito mais ambição? O resultado foi um monte de gente colocando o time lá em cima nas expectativas, desde críticos até eles mesmos. Lillard cravou, antes da temporada começar, que o objetivo do ano era chegar na final do Oeste. Tá aí alguém que não esperava repetir exatamente o começo da campanha anterior…

Mas tanto nós, PALPITEIROS, quanto Lillard fomos pegos no que gostamos de chamar de “empolgou“. Criamos na nossa cabeça que se um time jovem teve sucesso, NATURALMENTE irá melhorar ainda mais no ano seguinte. No Preview desta temporada eu consegui estar certo e errado ao mesmo tempo ao dizer que o Blazers iria liderar a sua divisão (na frente do Utah Jazz e do OKC Thunder), mas também alertei para que a melhora poderia não ser tão fácil assim. Relembremos:

Mas vale aqui o que eu disse também para o Boston Celtics: o time supera as expectativas em um ano e no seguinte a galera já pensa que é NATURAL dar um salto ainda maior! Nem sempre é assim, e essa expectativa pode dar uma sensação de fracasso a uma temporada que tem tudo para ser boa.

Para conseguir manter o time jovem do ano passado, o Blazers pulou de ter uma das menores folhas salariais da liga para uma das maiores. Renovar com Allan Crabbe, que recebeu oferta gorda do Brooklyn Nets, custou caro. Trazer Evan Turner também foi uma pequena fortuna, e Maurice Harkless e Meyers Leonard receberam generosas extensões de contrato. Em poucas palavras, é o mesmo time do ano passado, mais caro e com Evan Turner e Festus Ezeli. Gosto dos dois, mas nenhum deles revoluciona um time.

A gente só resgata texto antigo quando acha que mandou bem! A melhora realmente não veio de maneira fácil como pensado. Alguns jogadores, como Al-Farouq Aminu e Allen Crabbe, começaram muito mal a temporada. Evan Turner foi começar a entender qual é o seu papel no time só nas últimas semanas e Festus Ezeli, que deveria voltar de lesão nas primeiras semanas da temporada, teve complicações na reabilitação e nem irá jogar neste ano. O time é basicamente o mesmo, mas nem todo mundo é o CJ McCollum pra ficar melhorando toda hora, e claramente esta foi uma aposta do General Manager Neil Olshey ao gastar tudo o que podia e não podia para simplesmente manter a galera por lá.

Se só não melhorar já parece ruim, que tal piorar? O time acabou a última temporada como o 6º melhor ataque da NBA e apenas a 20ª melhor defesa. Estar no topo da produção de pontos por posse de bola compensava a defesa frágil. Nesta temporada, porém, o time caiu para a 11ª posição entre os times que mais fazem pontos por posse de bola e DESPENCOU para a 27ª colocação no ranking defensivo! Apenas outros TRÊS times conseguem defender menos que o Blazers. Não há nem ataque de Warriors que dê conta de tanto buraco na defesa.

O time enfrenta a adaptação das outras equipes ao seus sistemas de ataque e defesa. As comissões técnicas ao redor da liga sacaram a melhor maneira de machucar o Blazers e o time está tendo dificuldades, especialmente por causa do seu elenco, para responder.

Comecemos pelo ataque, onde o time perdeu um pouquinho do poder de fogo. A exemplo do que foi feito nos Playoffs do último ano, agora o padrão de quando se enfrenta o Blazers é usar toda a situação de pick-and-roll envolvendo Lillard para dobrar a marcação no armador e forçá-lo a tocar a bola de qualquer jeito. Alguém vai estar livre? Sim. Mas isso coloca muito do jogo nas mãos de Mason Plumlee –que é geralmente quem está livre após a dobra– e em outros arremessadores que recebem o passe do pivô. O que os outros times querem é que o jogo seja decidido por arremessos de Allen Crabbe e Mo Harkless ao invés de Lillard. Abaixo alguns lances mostram como os times tendem a dobrar sobre Lillard quando podem:

Quando os times decidem não fazem a dobra (como o Wolves), ou erram no timing ao tentar fazê-la, a dupla de armação do Blazers brinca de fazer cestas de tudo que é jeito:

O Blazers é um dos melhores times da NBA naquilo que gosta e tenta fazer. De acordo com dados da SynergySports, em jogadas de pick-and-roll definidas pelo jogador que conduz a bola –geralmente Lillard ou McCollum— o time faz 0.91 pontos por posse de bola, a 4ª melhor marca da NBA. Em lances de mano-a-mano o Blazers tem o 3º melhor aproveitamento entre todos os times. O time ainda é o 6º em aproveitamento nos contra-ataques, área em que não era nada bom no ano passado. E esses três tipos de finalização de jogada correspondem a mais de 40% dos lances da equipe! 

O problema está nos outros dois tipos de lance que fecham o Top 5 de maneiras que o Blazers mais usa para finalizar ataques. Em lances de spot up shots‘, aqueles arremessos parados, onde o cara só recebe e chuta, o time tem só a 15ª melhor marca da NBA. Em cuts‘, os cortes em movimentação à cesta, que correspondem a quase 10% dos lances do time, eles têm apenas o 27º melhor aproveitamento da liga. Não é coincidência que esses dois tipos de lance são os que mais envolvam os coadjuvantes: a aposta pela melhora do grupo não aconteceu.

POR

Abaixo separei alguns desses lances de ‘cuts’ que o Blazers não conseguiu aproveitar. Impressionante como vários deles (em especial o último lance do vídeo) são jogadas muito bonitas, bem pensadas e bem executada até a última parte: colocar a bola na cesta.

O ataque não pode ser dar ao luxo de errar essas bolas porque a defesa do Blazers é uma das coisas mais horrendas dessa temporada. Assim como acontece com o Wolves, como mostrou o Danilo, o time até tem uma estratégia definida, mas a executa mal.

A ideia defensiva do técnico Terry Stotts é, como a de muitos times, induzir os adversários a arremessos longos de dois pontos, tirando tanto os arremessos de 3 quanto as cestas dentro do garrafão. Para isso, quando eles defendem o pick-and-roll, o jogador de perímetro costuma ser mais agressivo na parte de cima do corta-luz, enquanto o pivô recua em direção ao garrafão, inibindo a infiltração e dando espaço para o tiro de dois pontos. É mais fácil ver nesse vídeo que o RealGM usou num texto sobre a falta de flexibilidade do time:

O problema é que o plano não dá sempre certo. Era esperado que eles iriam ceder um aproveitamento alto de média distância (o que acontece), mas além disso os times que enfrentam o Blazers tentam em média 26 arremessos de 3 pontos por jogo, o que é a média geral da NBA mesmo (ou seja, não estão inibindo nada) e eles acertam 38% desses chutes, fazendo o Blazers a terceira defesa mais frágil da liga nessa área, justamente no ano em que mais se arremessa de três pontos na história da NBA!

Embora a defesa de pick-and-roll goste de forçar tiros de meia distância, bastam alguns passes a mais para sempre alguém arremessar livre de três pontos e punir o time. No vídeo abaixo vemos o Charlotte Hornets explorar com Frank Kaminsky a maior fraqueza desse tipo de defesa, que é quando o jogador que fez o bloqueio recua para o chute de longe, algo perigoso agora que todo time tem um ala que faz o pick-and-pop. Mas também vemos CJ McCollum se perder em bloqueios contra o Wizards ou os armadores do Pistons não recebendo NENHUMA pressão dos defensores do Blazers e chutando como se fosse treino:

Tenho certeza que o Blazers gostaria de ter um pivô de mais presença física, é até para isso que contrataram Ezeli, mas o time é curiosamente o segundo melhor em segurar o aproveitamento dos adversários em chutes próximos da cesta. Só o Utah Jazz do MONSTRO Rudy Gobert força mais erros por lá. O problema está nos chutes de meia distância, que eles deixam mesmo livres, e os de três pontos. E do mesmo jeito que chutes de três fazem ataques serem espetaculares, fazem defesas irem por água abaixo.

Os próximos passos da equipe vão nos mostrar o nível de paciência da gerência com seu próprio elenco. Muita gente na imprensa dos EUA acredita que a defesa nunca vai melhorar enquanto Lillard e McCollum jogarem juntos, já que ambos são alvos fáceis na defesa individual e, como vimos, cedem bolas de longa distância à toa. Por outro lado, como desmontar uma das duplas mais devastadoras e difíceis de marcar da liga? E como a direção vai lidar com o fato de não ver nenhuma evolução de um time que, hoje, reúne a SEGUNDA maior folha salarial da NBA? Vão esperar mais um ano para ver se Turner, Crabbe e cia. fazem jus ao que ganham? Ou farão qualquer negócio para limpar os gastos? Tudo pode ser aliviado ou resolvido com uma boa sequência de vitórias na segunda metade da temporada. Foi o que eles fizeram no ano passado. E agora acho que Lillard não ligaria de ver um repeteco de 2015-16.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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