O verão dos veteranos

Vamos encerrar o assunto Summer League antes do começo da Olimpíada? Na semana passada falamos sobre os novatos que se destacaram na liga dos pirralhos que entope Las Vegas todo mês de julho. Agora é hora de falar daqueles que já têm experiência na NBA e que são chamados para atuar lá por dois motivos: (1) Ganhar rodagem depois de um ano de aprendizado ou (2) está desempregado e faz qualquer coisa por um espacinho na NBA. Nunca é tarde para sonhar, certo? Quer dizer, menos pra gente, blogueiro nunca vira jogador da NBA, podemos riscar essa.

Os MVPs

Depois de ser um pouco ofuscado pelo seu companheiro Kris Dunn nos dois primeiros jogos, o armador de segundo ano Tyus Jones assumiu o comando do Minnesota Timberwolves quando o novato sofreu uma concussão e deixou o torneio. Ele liderou o time até a final e quase fez a cesta do título, só teve o plano estragado pelas proezas de Denzel Valentine no último segundo.

Mas mesmo antes da decisão ele já tinha garantido o prêmio oficial de melhor do campeonato (talvez isso explique o vice, a famosa maldição de Oliver Kahn). Ele dominou os jogos com médias de 20 pontos e 6.8 assistências por partida, a maior marca do torneio de Las Vegas. Os 40% de aproveitamento dos 3 pontos impressionaram e serviram para apagar os mais de 3 turnovers por jogo, que é um número ruim, mas comum para o ritmo veloz e sem entrosamento das ligas de verão.

O desempenho de Tyus Jones chegou em boa hora, porque sua situação não é das mais fáceis. No ano passado, como novato, pouco jogou e viu o técnico Sam Mitchell preferir testar (sem sucesso) Zach LaVine como armador por uns 50 jogos antes de dar o trabalho de reserva de Ricky Rubio pro menino. Depois, no Draft, ele viu o time pegar um jogador de sua posição, Dunn, e nenhum dos boatos de negociação do espanhol se concretizar. Some isso ao perfil do novo técnico do time, Tom Thibodeau, de não ser muito afim de usar rotações de muitos jogadores, e já dava pra imaginar Tyus Jones jogando só uns 10 minutos por jogo e olhe lá.

Sua chance de mostrar jogo era agora e não à toa ele monopolizou o jogo e usou a oportunidade para mostrar que pode pontuar (algo que se tinha alguma dúvida ainda) e que pode usar sua agressividade para criar chances para os outros. Ser MVP de Summer League muitas vezes não significa NADA (alê Glen Rice Jr!), mas Tyus Jones fez o que estava a seu alcance para entrar na temporada com argumentos para convencer Thibs a usá-lo na rotação. Será que ele vai continuar dominando o pick-and-roll no nível mais alto?

Um que não ganhou o prêmio de MVP mas bem que podia foi Jordan McRae, ala que foi campeão da NBA com o Cleveland Cavaliers no fim de junho e poucas semanas depois lá estava em quadra de novo, mas dessa vez com uma função mais ativa do que distribuir toalhas e gatorade.

Nós citamos McRae nos Prêmios Alternativos da Temporada porque ele encerrou a temporada regular, num jogo em que o Cavs poupou seus titulares, com inesperados 36 pontos. E depois de só jogar QUATRO minutos em todos os Playoffs, recuperou o embalo do seu último jogo na temporada regular na Summer League de Las Vegas, onde terminou com média de 24.3 pontos, o terceiro cestinha do campeonato, e o único do Top 6 dos pontuadores que jogou mais de míseros 2 jogos.

Lembram que chamei Jaylen Brown, o novato do Celtics, de “Corey Maggette dessa geração” porque ele bateu DEZESSETE lances-livres em dois jogos diferentes, e chutou mais de 10 em outros dois jogos? Pois bem, McRae também teve dois jogos de 17 lances-livres (número mágico!) e em outros três passou dos 10. Ele não é um bom arremessador de longa distância e nem o mais talentoso passador, por isso é difícil imaginar ele com um papel grande num time, especialmente nesse Cavs, mas é uma máquina de infiltração, de pontos e de cavar faltas.


Só pra constar

Alguns jogadores atuam por apenas um ou dois jogos nas ligas de verão, é como se os times apenas quisessem arremessar seus segundo anistas entre os rookies pra ver se eles já conseguem atuar como os veteranos que vão começar a ser. Se o cara domina o jogo logo de cara, o dispensam da obrigação e deixam ele apenas curtindo Las Vegas.

Devin Booker – O espetacular arremessador do Phoenix Suns, que terminou a temporada voando e se tornou, de repente, todo o futuro da franquia, foi lá só para mostrar que ele realmente é tudo isso. Fez 28 pontos no primeiro jogo em Las Vegas, 24 no segundo, com 44% de acerto nos arremessos, 60% (!) nos três pontos e é isso. Tchau. Nos vemos nos jogos de verdade. Esse menino é o futuro, podem cobrar.

Trey Lyles – Companheiro de Booker em Kentucky há dois anos, Lyles não é um projeto de futuro tão promissor e otimista assim, e terá que lutar por minutos no agora profundo elenco do Utah Jazz, mas começou bem ao mostrar que já está muitos degraus acima dessa galerinha de verão.

Em três jogos na pequena Summer League de Utah, teve médias de 20 pontos e 10 rebotes. Depois, em Las Vegas, fez dois jogos, um com 28 pontos, outro com 30. Com 47% de acerto nas bolas de 3 pontos, mostrou o arremesso de longa distância que ele não teve toda desenvoltura de apresentar como novato. Até teve um bom aproveitamento (38%), mas, como parte secundária do ataque, tentou poucos e foi discreto.

Inteligente, com bom posicionamento no rebote e esse arremesso preciso, pode ser a opção para quando o Jazz quiser saltar de sua formação de pura força de Rudy Gobert e Derrick Favors para algo mais rápido e potente no ataque.

Emmanuel Mudiay e Gary Harris – A dupla de armação do Denver Nuggets jogou só uma partida em Las Vegas, e mandaram bem com 45 pontos, 23 de Mudiay, 22 de Harris. Para os que, como eu, estavam animados para ver Mudiay e Jamal Murray juntos, não foi a hora ainda. A questão que fica agora é qual será a opção do técnico Mike Malone para começar a temporada: vão com a dupla de “”””veteranos”””” que jogou bem nessa atuação solitária de verão, ou dão uma chance ao promissor canadense? Ainda tem que achar minutos para Will Barton, Malik Beasley e Wilson Chandler nessa brincadeira…

D’Angelo Russell – Um dos motivos para não vermos uma versão mais protagonistas de Brandon Ingram no LA Lakers foi porque Russell quis mostrar que tem gelo correndo nas suas veias:

Não acho que gritar numa quadra de basquete e apontar para o braço seja o jeito mais convincente de mostrar que você é frio, mas beleza, enquanto você acertar os arremessos, pode tudo.

Depois de um ano de altos e muitos baixos, esse Russell da Summer League foi um pouco mais parecido com o que propagandearam antes do último Draft: alguém que sabe atacar a cesta, que controla o jogo e arremessa de qualquer lugar da quadra e solta uns passes bem impressionantes de vez em quando. Ele parece precisar demais de um time rápido, aberto e cheio de pick-and-rolls para funcionar, então ninguém deve estar mais feliz que ele com a saída do técnico Byron Scott. O preview dele solto em quadra foi legal, mas falta ver como vai lidar com defesas mais pesadas.

Para um armador, até que ele usou muito o jogo de costas para cesta e será legal ver como ele faz isso contra armadores mais fortes e altos na próxima temporada.


 

Os que lutam por uma carreira

Alan Williams – Alguém sequer reparou na EXISTÊNCIA de Alan Williams na última temporada? Confesso que passou batido pra mim. O pivô de 23 anos jogou em apenas 10 partidas, todas no final da temporada, e somou só 68 minutos de quadra. Assim como Jordan McRae, só chamou a atenção na última rodada do ano, quando só reservas jogaram e ele fez 14 pontos e 12 rebotes em 22 minutos contra os reservas do LA Clippers.

Mas o principal reboteiro da liga chinesa não quer voltar para lá para quebrar sua marca, e ralou o TRASEIRO nessa para arrumar uma vaga na NBA. Ele terminou a Summer League com média de 11 pontos, 11 rebotes e uma vaguinha no Time Ideal oficial do verão, algo sempre difícil para os pivôs que nunca recebem a bola nesse tipo de jogo. Seguindo a escola Kenneth Faried de basquete, ele se destacou fazendo tudo com mais força, velocidade e intensidade que qualquer adversário.

O time do Suns já tem um bocado de jogadores de garrafão: Alex Len, Tyson Chandler e os novatos Dragan Bender e Marquese Chriss, mas Ryan McDonaugh, General Manager do Suns, já disse que há uma grande chance dele conseguir garantir seu contrato por este ano. Pivô baixinho para os antigos padrões da NBA, não deve sofrer tanto nessa era de small ball, e sua energia infinita pode conquistar o técnico Earl Watson. Será que é por causa dele que o time se recusou a dar um contrato para a despedida de Amar’e Stoudemire? Ou é por que Williams é filho da chefe do departamento de polícia de Phoenix?

Jonathan Gibson – Enquanto uns 90% da Summer League tem 22 anos ou menos, Jonathan Gibson levou seus 28 anos de vida para uma última tentativa de fazer carreira na NBA. Alguma chance de dar certo?! Ele nunca teve oportunidade no basquete profissional americano, nunca foi bom o bastante para isso e nem em Summer Leagues conseguiu mais do que um punhado de jogos há muitos anos.

A solução era desistir ou correr o mundo, então lá foi ele fazer carreira na Turquia, Israel, Itália e, depois, na China. Não brilhou exatamente nesses lugares, mas foi seguindo até que, de repente, conseguiu ser o cestinha da Liga Chinesa. Pera aí, cestinha não, ele fez mais do que isso: ele liderou a liga dos Yaos com (prepare-se) QUARENTA E DOIS pontos por jogo de média! Sete a mais do que o segundo colocado, o ex-Nets MarShon Brooks, e dez mais do que Michael Beasley, que era deus por lá.

O súbito sucesso chinês rendeu uma chance na Summer League de Las Vegas, onde o armador teve média de 17 pontos pelo Dallas Mavericks e mostrou uma agressividade bem interessante para um time que sabe tirar proveito desse estilo de jogador, visto como eles fizeram a vida de JJ Barea.

Precisando de jogadores para a posição e sem muitos nomes interessantes restantes na Free Agency, o Mavs resolveu dar um contrato barato (especialmente para os padrões atuais) para o nem tão jovem novato. E assim temos a Cinderela das Ligas de Verão!


Os brasileiros

Cristiano Felício – Antes de se tornar o substituo de emergência do pobre Anderson Varejão na seleção brasileira, Felício tinha decidido não ir para a Olimpíada para poder disputar a Summer League e, assim, conquistar pra valer uma vaga nesse Chicago Bulls.

Deu tudo certo para o menino: jogou bem, o Bulls foi campeão, a comissão técnica o adora e ele ainda conseguiu a vaga na seleção no fim das contas.

Os seus números não impressionam, foram 11 pontos, 6 rebotes de média e apenas um mísero toco dado em 6 jogos! Mas ele compensa com ótimo posicionamento, raramente comete erros bobos e dá bons passes quando é envolvido diretamente no ataque. Se você não tem o talento bruto para fazer a diferença, o ideal nesses casos é fazer o que Felício fez: não errar. Ele precisa evoluir para ganhar minutos, mas a vaga no time parece garantida.

Bruno Caboclo – A famosa frase de quando Bruno Caboclo foi draftado é a de que ele estava “a dois anos de estar a dois anos de estar pronto para a NBA”. Após duas temporadas, portanto, ele chegou ao ponto de estar APENAS a dois anos de estar pronto para a liga. Haja paciência…

Sei que era uma piada, mas soa verdade. O ala brazuca está bem mais forte fisicamente do que quando chegou, parece fazer mais parte da galera em sua volta, mas ainda não consegue fazer a diferença em quadra e parece distante de ser um jogador de rotação na NBA. Sem segurança nas jogadas individuais, costuma pontuar em contra-ataques ou em arremessos criados por companheiros. O problema é que, como nos tempos de D-League, segue com aproveitamento geral abaixo dos 40%.

Entre jogos nem ruins nem impressionantes, chamou um pouco mais a atenção para bem com os 12 pontos, 5 rebotes e 3 roubos contra o Sacramento Kings, mas se despediu com uma atuação de 7 turnovers contra o Wolves. Ele precisa de toda a paciência que o Toronto Raptors prometeu que iria ter.

Lucas Bebê [Editado] – Nosso leitor Paulo Bernardi nos informa que o Bebê já tinha 3 anos de Summer League nas costas (havia jogado um com o Hawks assim que foi draftado, antes de voltar para a Europa) e por isso não estava autorizado a jogar. Então a razão dele não jogar não foi decisão técnica (como pensamos) e nem por seu casamento (como o blog do Raptors no SBNation especulou).

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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