>Os 20% de Xavier Henry

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Xavier Henry não sabia a dor de cabeça que esse boné traria

O ala Glen Robinson foi a primeira escolha no Draft de 1994 pelo Milwaukee Bucks, até aí nenhuma surpresa. Embora aquele ano fosse revelar estrelas como Jason Kidd e Grant Hill, a escolha do Big Dog como o número um era esperada. O que realmente chocou o mundo da NBA foi quando o Bucks apareceu com um contrato de 100 milhões de dólares por 13 anos! Enquanto pessoas desmaiavam, anunciavam o fim do mundo ou entravam em estado de choque, o Bucks acalmou um pouco a empolgação e assinou com o rapaz um singelo contrato de 68 milhões de dólares por 10 anos, até hoje o maior salário já assinado por um novato.

A loucura do Bucks anunciava um período de contratos malucos que estava por vir para assombrar a NBA. Imagina a grana que o Sixers não pagaria por Iverson em 96 ou o tamanho do contrato que o Cavs assinaria com o LeBron em 2003. Se o Bucks fazia aquilo por Glen Robinson, a que cifras chegariam outros jogadores que entravam na NBA com mais fama ainda?
Um ano depois, em 1995, aconteceu uma reunião entre a associação dos jogadores e a NBA para negociar questões relacionadas a salários dos jogadores e dinheiro de uma forma geral. É uma reunião que acontece de cinco em cinco anos (mais ou menos, às vezes são 6) e que vai acontecer após a próxima temporada, quando a NBA vai tentar forçar cortes de gastos, de salários, e uma greve de jogadores é iminente. Mas naquele ano nada de greve, decidiram apenas pela criação do Rookie Scale.
O Rookie Scale é uma tabela que padroniza os salários dos novatos escolhidos na primeira rodada do Draft da NBA. Ao invés de negociar livremente, deve-se respeitar essa tabela. O valor dos contratos condiz com a posição em que o cara foi escolhido. O primeiro ganha mais e os valores vão diminuindo gradativamente até a trigésima e última escolha de primeira rodada. Os escolhidos na segunda rodada não tem contrato garantido e estão sujeitos às ofertas dos times que os escolheram.
Os contratos do Rookie Scale não são milionários, costumam ficar abaixo dos 5,8 milhões de dólares, a média de um jogador na liga. Nesse ano, por exemplo, o valor destindo ao primeiro do Draft é de 4,2 milhões de dólares na primeira temporada. Todos os contratos dessa tabela são garantidos por 2 anos, então o time tem a opção de mantê-lo por mais dois anos nessa mesma tabela e depois do quarto ano o jogador vira um Free Agent Restrito, aquele que pode assinar com outros times, mas seu antigo detentor tem o poder de igualar a oferta e manter o atleta.
Esses valores, porém, não são fixos, são apenas indicações. Os times podem assinar um jogador por 80% a 120% desse valor, qualquer coisa nesse meio, mas nunca mais e nem menos. E é aí que começa a polêmica que me fez escrever esse post.
Dos 30 jogadores escolhidos na 1ª rodada do Draft 2010, apenas 2 ainda não assinaram contrato, Greivis Vasquez e Xavier Henry, os dois escolhidos pelo Memphis Grizzlies. O motivo de Vásquez ninguém sabe, mas suspeita-se que seja o mesmo do seu companheiro Henry, falta de um acordo com o time sobre que porcentagem do valor da escala será paga. O Memphis está oferecendo 100% do valor da tabela e os outros 20% apenas pagos se o Henry cumprir alguns objetivos durante a temporada. Henry, ou melhor, seu agente Arn Tellem, que é quem está negociando, quer os 120% garantidos.
Vale um parênteses para dizer que brigar com Tellem não é fácil. Ele é, tranquilamente, o agente mais importante da NBA. Ele agencia 38 jogadores na liga, apenas atrás de Mark Bartelstein que agencia 39, mas é o líder disparado nas outras categorias: tem 9 jogadores que já foram All-Star na sua lista (o segundo colocado tem 4), tem 4 jogadores atualmente recebendo contratos máximos e a soma dos salários de seus agenciados dá 179 milhões de dólares por temporada, 50 milhões a mais que Dan Fegan, o segundo colocado.
Entre os agenciados por Arn Tellem estão Pau Gasol, Joe Johnson, Brandon Roy, Antawn Jamison, TJ Ford e até o nosso brazuca Tiago Splitter. Não vamos subestimar o cara que conseguiu fazer o Jermaine O’Neal receber mais de 20 milhões de dólares por temporada, o Joe Johnson ganhar o 5º maior salário da história da NBA e o Ben Wallace receber aquela grana absurda do Bulls há alguns anos.
Mas quem está certo, o Grizzlies ou Tellem/Henry? Pensando apenas nas regras, os dois. O Grizzlies está dentro dos limites do Rookie Scale e Tellem está negociando o melhor para ele e seu cliente. Mas de certo em certo os dois estão ficando errados. Xavier Henry de repente virou o centro das atenções na NBA, ele não participou das Summer Leagues por esse rolo econômico e sua imagem perante o time e a torcida piora a cada nova falha na negociação. Se não chegarem em um acordo dentro de um mês, poderá perder o começo dos treinos da equipe.
O que deixa essa história difícil de entender é que Arn Tellem agencia as carreiras de Danilo Gallinari, Anthony Randolph e Gerald Henderson, todos com contratos de 100% + 20% de incentivos. Tá bom que no ano passado ele conseguiu os 120% limpos para o Tyreke Evans, mas é mais fácil negociar para um cara que é a 4ª escolha e vai ser a nova estrela do time do que com um que foi a 12ª e chega para ser reserva.
Você deve estar perguntando quais são esses incentivos, certo? Em geral existem dois tipos de incentivos pedidos nos contratos de novato, os promocionais e os de performance. Achei no excelente ShamSports o exemplo do contrato do Ty Lawson com o Nuggets na última temporada. Para ele ganhar os 20% além dos 100% assinados, teria que fazer quatro aparições promocionais para o time (em qualquer evento), jogar nas Summer Leagues, atuar por duas semanas num programa de treinamento e condicionamento físico do Nuggets e, por fim, jogar pelo menos 900 minutos durante toda a temporada.
As primeiras partes são fáceis. É só aparecer nos eventos e a grana está depositada. Mesma coisa com as Summer Leagues e o programa de condicionamento. A parte mais difícil é a dos minutos, ainda mais em um time forte como o Nuggets, mas mesmo assim o Lawson se destacou e passou dos 900 com sobras. Levou toda a grana extra pra casa.
Como pode-se ver, as exigências para alcançar os outros 20% costumam ser bem simples e servem apenas para o times ter a garantia de que seus jogadores não vão dar uma de revoltados e fugir das novas obrigações. Nada como prender homem por dinheiro. E são pedidos tão comuns que no ano passado, dos 30 jogadores de primeira rodada, apenas 6 não tinham um programa de incentivo no contrato. Eram eles Tyreke Evans, Jonny Flynn, Austin Daye, Eric Maynor, Darren Collison e Wayne Ellington. Ou seja, até o Top 3 Blake Griffin, Hasheem Thabeet e James Harden tinha.
Dos 28 assinados desse ano apenas 8 conseguiram os 120% limpos: Wesley Johnson, DeMarcus Cousins, Greg Monroe, Gordon Hayward, Avery Bradley, Craig Brackins, Quincy Pondexter e Lazar Hayward. Dá pra ver que são poucos jogadores por ano e poucos dos mesmos times, Wolves, Pistons, Jazz e Kings aparecem nas duas listas. Ou seja, eles tem o hábito de já oferecer os 120% sem incentivos, o resto da liga não, incluindo o Grizzlies. Então por que diabos esse problema?
Começaram a pipocar rumores de que uma de duas coisas estariam acontecendo:
1– O Xavier Henry não quer jogar no Grizzlies e está complicando as negociações para forçar uma troca.
2– O Grizzlies está pedindo coisas absurdas, como média de mais de 20 pontos por jogo ou média de 30 minutos por jogo.
Eu duvido muito da primeira parte. Quando um jogador não quer jogar em um time ele simplesmente pede para ser trocado, dá piti, fala com o General Manager. Os novatos ainda podem não ir treinar para equipes em que não querem jogar. Antes do Draft os atletas são convidados para treinos por alguns times e podem decidir ir ou não. O Eric Bledsoe, por exemplo, não queria jogar no Grizzlies e por isso recusou o pedido de ir fazer um teste lá. Xavier Henry quis, foi, treinou bem e acabou sendo escolhido por isso.
O mais provável é que o Grizzlies, por sei lá que motivo bizarro, estava pedindo coisas absurdas. Cogitou-se questões econômicas, mas a economia seria mínima e eles acabaram de dar 80 milhões para o Rudy Gay, não faria sentido. Essa teoria também foi abaixo quando o jornal Memphis Commercial Appeal descobriu os incentivos pedidos pelo Grizz:
1. Participar das Summer Leagues
2. Participar de 2 semanas de treinos especiais com a equipe de técnicos do time
3. Alcançar pelo menos um desses três objetivos: Participar do jogo entre Novatos e Segundo-Anistas no All-Star Weekend, entrar na seleção de novatos ao fim da temporada ou somar 15 minutos por jogo disputando pelo menos 70 jogos.
Alguém achou alguma coisa de anormal aí? Disputar as ligas de verão e participar dos treinos deveria ser obrigação, não algo que o cara só faz para ganhar o dinheiro extra. Ele é um novato e tem muito o que aprender para se dar bem na NBA, é o mínimo. E depois ele só precisa de uma daquelas três coisas, sendo que todas são possíveis. Não acho um absurdo um cara escolhido na 12ª posição do Draft ir para o jogo dos novatos, muito menos ter 15 minutos por jogo. No ano passado o Hasheem Thabeet, que foi um fracasso completo, jogou 13 minutos por jogo mesmo jogando mal, fazendo uma falta por segundo e disputando vaga com o Marc Gasol. Por que o Henry não conseguiria 15 ao dividir com o Tony Allen, OJ Mayo e ainda podendo jogar na posição 3?
É um dinheiro que pode ser ganho tão facilmente pelo Henry (quer dizer, agora ele já perdeu a Summer League) que não dá pra entender porque diabos isso está acontecendo.
Se o Memphis estivesse pedindo menos dos 100% ou nem tivesse oferecido incentivos até poderia render uma discussão maior, já que apenas 5 jogadores até hoje receberam menos do que a base estipulada no Rookie Scale. Foram eles o Sergio Rodriguez (100% e nenhum incentivo), Donte Greene (100% e mais incentivos que não foram alcançados) e um trio do Spurs: George Hill (120% nos dois primeiros anos, mas apenas 80% no terceiro e quarto), Ian Mahinmi (80% nos quatro anos) e nesse ano o James Anderson (120% no primeiro ano e depois 117% e 115%).
E mesmo o Spurs oferecendo menos, com o absurdo dos 80% do George Hill ser um valor menor do que o mínimo permitido pela NBA e só conseguindo um pequeno aumento por isso, nenhum jogador ou agente implicou. Aceitaram que fazia parte do jogo, das negociações, das regras e estão lá. Será que é só porque o Spurs é muito mais time que o Grizzlies?
Eu acho que eles vão chegar em um acordo mais cedo ou mais tarde, simplesmente porque não está sendo bom pra ninguém essa demora toda. Mas a pergunta que não quer calar é: e se não chegarem? Veja o que pode acontecer com um jogador que já foi draftado por um time mas não chega a um acordo de contrato para jogar lá:
– Se esse jogador assina um contrato fora da NBA, ele pode ficar no outro campeonato, mas tem seus direitos agregados ao time que o escolheu. Quando quiser ir para a liga americana, tem um time lhe esperando. É o caso do Fran Vásquez, ala de força espanhol que foi escolhido pelo Orlando Magic na 11ª posição no Draft de 2005 e logo depois decidiu voltar pra Europa. Se um dia ele quiser ir para a liga americana, deverá ser no Magic ou para onde o trocarem. Mesma coisa com Ricky Rubio e o Wolves.
Nesse caso Xavier Henry poderia decidir jogar por um ano fora dos EUA, teria total liberdade de fazer isso, mas teria que se resolver com o Memphis na hora de voltar.
– Se o Henry não assinar com outro time fora da NBA e nem com o Memphis, o Grizzlies mantém os direitos sobre o jogador até o dia do Draft do ano que vem, quando ele estará disponível para ser escolhido de novo por qualquer outra equipe. Simplesmente um ano perdido para o jogador e uma escolha jogada fora pelo time.
E agora a regra criada apenas porque a Lei de Murphy existe: se o mesmo jogador passar por essa situação de novo no ano seguinte ele não entra num terceiro Draft, ao invés disso vira Free Agent e poderá assinar com quem quiser ignorando o tal Rookie Scale.
As últimas notícias do dia são de uma terceira opção, trocar o jogador. O Grizzlies está recebendo muitas propostas de trocas pelo Xavier Henry, mas sem levá-las a sério ainda, preferem assinar logo o jogador. No ano passado o time já trocou uma escolha de Draft pelo Ronnie Brewer, que jogou 5 jogos, se machucou e foi embora. No Draft desse ano venderam sua escolha 25 (o ótimo Dominique Jones) para o Dallas por grana e agora estão correndo o risco de perder um terceiro jovem jogador por uma bobagem. Tem coisas que só acontecem com o Clippers, mas algumas outras ficam reservadas para o Grizzlies.
Se aquele outro post foi dedicado para quem gostava de textos grandes, esse é pra quem ter orgulho de ser um “Salary Cap Nerd” como eu. Quem mais se diverte conhecendo esse submundo dos contratos da NBA levanta a mão!

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