>Os imprevisíveis

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Al Harrington foge da mão boba

Tem uns times que eu simplesmente não consigo sacar. Se você assiste a um jogo do Spurs você já percebe qual é a deles, é um time centrado no Duncan, com Parker e Ginobili auxiliando no perímetro e qualquer ser humano capaz de defender e/ou arremessar em volta. Falando sério, qualquer um que acompanha basquete com regularidade saca isso em um jogo deles. Perceber nuances táticas e comportamentos-padrão do time e do técnico aí só pra quem manja mais ou acompanha de pertinho toda a temporada.
Não estou desmerecendo o Spurs com isso, embora seja legal fazer isso de vez em quando. É um sistema simples mas já foi provado zilhões de vezes que é eficiente. Agora o Knicks eu não entendo de jeito nenhum. Eu não assistia o Knicks quase nunca porque era chato, o time era um lixo e tinha o Marbury. Mas a partir da temporada passada, com a aquisição do Mike D’Antoni, resolvi dar uma chance pra eles, mas cada vez que eu os assisto acho uma coisa diferente. Para tentar organizar o pensamento sobre eles, faço esse post.
Uma coisa é bem clara, eles estão lá para atacar. A filosofia dos “7 segundos ou menos” vinda dos tempos de Suns ainda está presente mas, ao que me parece, um pouco distorcida. Esse esquema do D’Antoni cria jogadas rápidas para pegar a defesa desprevenida, ainda em formação, para ter bons e fáceis arremessos. D’Antoni diz que são nos primeiros sete segundos de posse de bola que existem as melhores chances de se conseguir um bom arremesso sem marcação.
Muitas vezes eu tenho a impressão de que o Knicks ignora essa parte de ter um bom arremesso e queima a bola mesmo quando a oportunidade não foi tão boa assim. É uma distorção absurda de uma boa teoria. Mas em compensação, algumas jogadas depois, você vê os mesmos cinco jogadores em quadra fazendo a mesma coisa direitinho: não deu pra dar o arremesso rápido então continuam se movimentando, fazem um ou dois pick and rolls até achar o melhor jogador posicionado. Aí na jogada seguinte alguém tenta um arremesso do meio da quadra só por esporte.
Um exemplo óbvio disso é o Danilo Gallinari. Eu considero ele um novato porque até cara com contrato de 10 dias jogou mais do que ele no ano passado, então tem esse perdão, mas mesmo assim ele parece muito irracional às vezes, um Antoine Walker sem a cabeça de Lego. Em algumas ocasiões ele recebe a bola, fica parado e de repente arremessa de 3 com o marcador na cara dele. Só dois jogadores da NBA fazem isso com um bom nível de sucesso: Kobe Bryant e Carmelo Anthony. Por mais que você goste do Gallo, você sabe que ele não está nesse nível.
E quem dera fosse o caso dele simplesmente não saber driblar ou passar. Se fosse assim ele seria um novo Eddie House e pronto, não é culpa dele não saber outra coisa. Mas não, ele tem uma boa altura, um bom controle de bola pro seu tamanho e poderia muito bem ser um Lamar Odom Jr. no Knicks, pegando rebotes e já saindo pra puxar o contra-ataque.
Duvida que o Gallinari sabe driblar? Olha esse vídeo dele fazendo um clássico God Shamgod, típico do basquete de rua.

Não que ele vá fazer isso todo dia, mas o rapaz tem talento para fazer mais do que brincar de 21-parado no meio da NBA. Outro que eu não entendo é o Larry Hughes. Nesses cinco primeiros jogos dele na temporada, misturou momentos de mediocridade completa (com seus típicos arremessos ruins da época do Cavs) com outros de boa defesa e arremessos de meia distância da época do Wizards.
E se o assunto é irregularidade, não tem como não falar do Chris Duhon. O cara que tem RESERVA tatuado na testa no maior estilo ‘Bastardos Inglórios’ é um misto constante de mini-Steve Nash com um Nezinho mais afobado. Por tudo o que já disse do run-and-gun consciente do D’Antoni, um armador bom é essencial, é ele quem geralmente tem que tomar a decisão de quem arremessa nos tais 7 segundos. Tem que ser o líder.
Al Harrington, apesar de ter virado o sexto homem logo depois dos primeiros jogos, tem sido o líder ofensivo do time até agora, mas ele, como sempre na sua carreira, não é nada confiável e pode jogar um jogo no ralo com a mesma facilidade com que tira uma diferença de 10 pontos em minutos. Aliás, essas viradas tem ocorrido muito nos jogos do Knicks: se tem uma área onde eles estão regulares é no quarto período. Dos 5 jogos disputados até agora (4 derrotas, 1 vitória) eles venceram 4 quartos períodos, marcando duas vezes pelo menos 40 pontos e 3 vezes tirando diferenças superiores a 10 pontos. Com 30,8 pontos por quarto período o Knicks é atualmente líder da NBA nesse quesito, na média geral o NY fica apenas em oitavo.
Eu atribuo essa superioridade nos períodos decisivos à defesa. Uma defesa afobada e desorganizada, claro, é um time do D’Antoni afinal, mas no desespero eles conseguem turnovers e com isso é que melhor executam sua correria inconstante. Até na defesa eles mostram que podem ter flashes de talento mas não conseguem manter isso por muito tempo. Tanto que mesmo depois de quartos períodos tão fantásticos eles perderam as duas prorrogações que disputaram.
Como já é costume há anos, o único ponto sólido do time é o David Lee. Sempre com seus rebotes, pontos vindos de bom posicionamento e muita vontade, é o único porto seguro do D’Antoni. Não é necessário dizer que não é o bastante. Apesar de ser imensamente valorizado, não é jogador pra carregar time nenhum nas costas, muito menos jogando de pivô improvisado de novo. O sonho de ver o Darko Milicic rendendo alguma coisa em um esquema novo já foi para as cucuias depois de poucos jogos. Falando sério, sem querer zoar a escolha de draft mais aloprada da história: o Darko não sabe o que faz numa quadra de basquete. Ele comete erros de amador durante as partidas. Em um momento do jogo contra o Hornets ele deixou o Chris Paul livre três vezes seguidas depois de pick and roll e nas três o Paul acertou um arremesso livre. E isso é só um exemplo, melhor nem começar a comentar do número de passes que ele não segura porque não estava preparado para receber.
É natural comparar esse Knicks ao Suns de alguns anos atrás porque eles tem o mesmo técnico e divertem com a correria. Mas em uma análise um pouco mais profunda é possível ver o que realmente decide na NBA. Não é só esquema tático, técnico ou filosofia, em uma liga de tão alto nível, ganha quem tem técnica, quem tem bons jogadores, simples assim. Enquanto o Knicks tiver o elenco que tem não vai a lugar nenhum nem que se foque em jogar defesa, em atacar melhor ou tudo mais, o time para no limite técnico dos seus jogadores.
Acho que depois de escrever tudo isso deu pra entender, a característica básica do Knicks é o “que porra a gente vai ver hoje?” que eles causam antes de cada jogo. Ou de cada quarto.

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