>Os melhores ficam melhores

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Garnett estava com medo de deixar Rasheed escapar

Em certos momentos precisamos buscar as palavras de grandes gênios da literatura para nos expressar. Nada de errado com isso, eles não ganharam o rótulo de gênio à toa, tiveram a capacidade de colocar em palavras o que muitos de nós sentimos, pensamos mas nunca conseguimos comunicar.

Então para falar do atual momento da NBA vou citar um trecho de uma grande obra literária:
“Analisando essa cadeia hereditária
Quero me livrar dessa situação precária
Onde o rico cada vez fica mais rico
E o pobre cada vez fica mais pobre
E o motivo todo mundo já conhece:
É que o de cima sobre,
E o de baixo desce”
(MENINAS, As in Xibom Bombom)
Profundo, não? O rico fica mais rico porque o de cima sobe. Uma explicação que me deixa sem palavras.
Onde quero chegar com essa baboseira toda é que pouco tempo depois do começo da movimentação do mundo dos Free Agents a única coisa que vimos são os times de cima subindo ainda mais e os de baixo ficando cada vez mais atolados no fundo do poço da NBA.
As cinco maiores contratações dessa offseason são de cinco dos seis times que eu considero candidatos ao título. O Lakers conseguiu Ron Artest, o Spurs trocou por Richard Jefferson, o Cavs trouxe Shaquille O’Neal, o Magic agora tem Vince Carter e ontem o Celtics finalmente se acertou com o Rasheed Wallace. Dos meus seis favoritos apenas o Denver não conseguiu um reforço de peso, o que não os tira da chance de título.
Tudo indica que antes da fatídica offseason de 2010, onde muita coisa pode mudar, teremos um mais do mesmo das temporadas recentes. Os mesmos favoritos de antes só que ainda mais fortes do que antes. E de todas essas movimentações só falta a gente comentar a mais recente, a do Rasheed Wallace.
A contratação do Sheed é simbólica porque envolveu justamente esses times em discussão. Cogitavam ele para Celtics, Spurs, Magic e Cavs. Acabou ganhando o Celtics, que conquistou o nosso bad boy favorito com uma estratégia inovadora e curiosa. Mandou Kevin Garnett, Paul Pierce, Ray Allen, o técnico Doc Rivers e o dono do time, Wyc Grousbeck, irem visitá-lo pessoalmente na sua casa em Detroit. Imagina atender a campainha de cueca achando que é alguém tentando vender enciclopédias e dar de cara com esses cinco?
Depois de três horas de bate-papo, Sheed estava convencido e cancelou suas viagens para Orlando e San Antonio. Não sei o que eles conversaram lá, deve ter sido um papo meloso do tipo “você é peça que falta no nosso quebra-cabeça”, mas deve ter sido realmente bom já que o Rasheed se comprometeu com o único time em que ele provavelmente será reserva e com um salário menor ou igual ao que os outros times estavam oferecendo.
Rasheed Wallace é normalmente um ala de força, posição que ele não roubará do Garnett, e pode jogar improvisado de pivô, mas duvido que eles tirem a vaga do Kendrick Perkins depois da temporada ótima que ele fez no ano passado. Pra mim o Perkins é hoje um dos melhores defensores da NBA e é, sem dúvida, o que melhor marca o Dwight Howard.
Claro que logo vieram os questionamentos sobre as atitudes do Wallace em relação aos companheiros de time. Um medo natural de que o cara do mal pudesse estragar o mundinho do Celtics. Mas são críticas tolas. O Rasheed não se envolve em problemas com caras da mesma equipe há muito tempo. No Detroit sempre se deu bem com todo mundo que estava do seu lado e suas faltas técnicas foram quase sempre uma soma da sua má fama e não conseguir ficar quieto, algo que não será reprimido num lugar onde domina o mais tagarela de todos os jogadores, Kevin Garnett.
Alguém consegue imaginar como vai ser infernal enfrentar esse Celtics? O Perkins já odiado por metade da NBA (em uma enquete anônima entre os jogadores, Perkins foi eleito o que mais se acha bom sendo ruim), mais o Garnett que é o rei do trash talk e o Rasheed Wallace que não cala a boca um segundo pra reclamar e provocar. Será um inferno e nos playoffs mais ainda. Não vejo a hora deles tentarem se vingar do Orlando ou pegarem LeBron e Shaq pela frente.
O Rasheed Wallace não está mais no auge da sua forma, fez uma das suas piores temporadas no ano passado, mas justamente por isso acho que ele está na situação ideal. Quando não se pode mais atuar sempre em alto nível, é melhor estar em um lugar onde tem companheiros que compensem seus dias ruins. Lá ele só precisa jogar regularmente na defesa, entender o sistema e pronto, no ataque ele até pode ter seus dias ruins que o pessoal alivia a barra dele.
Engraçado que o Rasheed costuma ajudar em alguns quesitos que já são os mais fortes do Celtics, que são a motivação dos companheiros, a garra e a dedicação defensiva. Também sempre foi útil por ser um ala de força que tem um arremesso de longa distância. O Celtics já tem tudo isso, até o arremessador, com o Garnett (embora o Sheed chute de ainda mais longe), o que quer dizer que aquilo que o Boston conseguiu, na verdade, foi quantidade. Eles mantém as mesmas características do time campeão de 2008 mas com a vantagem de ter mais qualidade no banco de reservas, algo que fez falta na campanha menos vitoriosa da temporada passada.
Com Rasheed Wallace no elenco o Boston pode poupar o Garnett de alguma dor, pode usar alguém decente quando o Perkins tiver problema de falta, não vai precisar nunca mais colocar o Scalabrine em jogo, pode se dar ao luxo de perder o Glen Davis caso ele saia muito caro na batalha dos Free Agents (o Spurs e o Suns parecem interessados), ou seja, são inúmeras as vantagens que o Celtics conseguiu sem perder sua identidade. Uma contratação mais que correta.
Ainda sobre a questão do Sheed estragar a química do time ou criar um clima ruim no vestiário, se o Marbury que é muito pior não conseguiu fazer nada de ruim na temporada passada, não será o Rasheed que vai fazer. Ele já tem 35 anos, sua fase mais explosiva com caras do próprio time é do tempo em que ele jogava toalha na cara do Sabonis e isso é hoje peça de museu.
Ainda no mundo dos Free Agents, o Jason Kidd fugiu à regra dos vovôs em busca de títulos e continua no Dallas por mais três anos. Cogitavam ele no Cavs, mas já era, vão ter que se virar com Mo Williams e Delonte West mesmo. Sobram ainda entre os nomes mais importantes caras como o Shawn Marion, David Lee e Nate Robinson. Se algum deles sobrar para Celtics, Cavs, Magic, Lakers, Spurs ou Nuggets, já podem separar os seis para um campeonato entre eles e deixar o resto disputando vaga pra sul-americana.
Começou ontem a primeira liga de verão da NBA, a Summer League de Orlando. Coloquei uns comentários rápidos no nosso Twitter e quando o negócio lá começar a esquentar, a cobertura aparece aqui também. Teremos grandes personagens da força nominal jogando, como Leo Lyons, a dupla Holiday e Christmas, e até o nosso querido Kevin Kruger em ação, não percam!

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