Se tem um assunto que ninguém gosta de falar é de juiz. Às vezes vendo algumas mesas redondas de futebol pode parecer o contrário, mas se você ver bem a cara de desgosto de cada um daqueles comentaristas irá ver que eles sofrem quando fazem aquilo. Juiz só é assunto quando erra e tem vida pior que vida de goleiro.
Não é a primeira vez que isso acontece, já houve uma paralisação semelhante em 1995. Naquela época a NBA foi obrigada a buscar árbitros de outras ligas para cobrir o buraco e não precisar adiar a temporada. O resultado foi desastroso mas com lados bons também. O começo foi terrível: os jogadores questionaram muito as atitudes dos novos árbitros e duvidavam de todas suas marcações, Charles Oakley chegou a dizer que precisavam de cinco árbitros novos para dar um antigo.
Depois de 68 dias de paralisação um acordo foi definido e os juízes voltaram para o seu trabalho, ganhando um sonoro “Aleluia” do jovem Chris Webber, feliz de poder voltar a xingar os juízes com quem tinha mais intimidade.
Para se ter idéia da preparação dos árbitros que herdaram a NBA naquele momento, um dia um juiz disse ao Chris Mullin que tinha apitado pouco tempo antes um jogo de seu irmão, Terrence Mullin, jogador de uma liga amadora de basquete.
Mas estranhamente a paralisação foi também boa. Hoje, 12 dos 60 árbitros ativos na NBA entraram para a liga durante essa paralisação de 95. Outros entraram como substitutos durante outras paralisações e greves, que já ocorreram em 83 e 77. As paralisações, apesar das dores de cabeça, acabaram sendo, na história da NBA, o momento em que houve mais renovação no quadro de árbitros.
A declaração tem até fundamento, considerando a origem desses substitutos, mas é incoerente já que nessa lista está Michael Henderson, árbitro demitido da NBA em 2004. O Denver vencia por dois pontos o Los Angeles Lakers a 27 segundos do fim, e depois de um arremesso errado do Andre Miller o Carmelo Anthony pegou o rebote ofensivo que mataria o jogo. Porém, o Henderson não viu a bola batendo no aro e deu violação de 24 segundos. O Lakers então ganhou a posse de bola e virou o jogo num arremesso de 3 do grande Kareen Rush.
Na época foi uma polêmica grande essa demissão porque erros acontecem sempre e nunca haviam sido punidos de tal forma. Como protesto, dias depois, 28 dos 30 árbitros em ação naquele dia usaram suas camisetas do avesso com o número 67, usado pelo Henderson, desenhado nas costas.
Como resposta, Litvin disse simplesmente que convidou Henderson por ser um cara com experiência em arbitrar jogos da NBA. Comentários sobre essa e outras atitudes só de parte dos jogadores; a NBA proibiu donos de times e General Managers de comentarem qualquer coisa relacionada à paralisação.
Entre os jogadores, a opinião sobre o uso de substitutos é dividida. O Chris Paul disse que acha que não vai mudar em nada, seu rival de armação Jason Kidd acha que haverá um tempo de ajustes que pode render algumas polêmicas. Outro armador, o Derek Fisher, disse que os fãs da NBA merecem o melhor produto que se pode oferecer e por isso merecem os melhores árbitros.
Dos jogadores concordo mais com o Fisher. Não é que os 60 novos não podem dar conta do recado por um tempo, parece que são capacitados, mas se a NBA se orgulha de ser a melhor liga do mundo e o próprio Joel Litvin acha que os 60 atuais juízes são os melhores, deve fazer de tudo para mantê-los e não usar os 60 seguintes.
Como disse antes, é nas paralisações que se renovaram sempre o quadro de árbitros. E não é que isso seria uma boa agora? Claro que não é o jeito ideal, mas de alguma forma pode ser bom para a NBA. Assistindo aos jogos você percebe que muitos juízes estão condicionados a fazer a mesma coisa: marcar faltas em cada infiltração do Wade, faltas a cada movimento corporal do Oden, não marcar andadas óbvias do LeBron e por aí vai. Reclamações sobre a arbitragem estavam a toda na temporada passada, será que caras novas não podem mudar isso? Vale a tentativa.
Talvez o lado mais decisivo dessa questão toda seja o lado financeiro, afinal é o que desencadeou todo o processo de paralisação. Pelo o que eu pesquisei, os números do antigo acordo eram de que um árbitro novato ganha em média 80 mil dólares por ano e um veterano chega a ganhar entre 300 e 400 mil dólares.
Eles também ganham muita grana a cada rodada de playoff que são escolhidos para apitar, mas essa é uma tarefa difícil. A NBA chega a esperar um juiz ter quase uma década de experiência para liberá-lo para os playoffs. Além disso tudo, os juízes tem na faixa as viagens, hospedagem, refeições e uniformes.
Dinheiro pouco obviamente não é, mas se você pensar que os juízes são parte fundamental de um jogo que movimenta números zilionários, faz sentido eles pedirem um pouco mais. Os dados das negociações que estão empacadas não foram divulgados por ninguém, mas o que dizem é que eles chegaram em um acordo sobre o salário mas que têm divergências ainda na área de pensões e indenizações. Não sei ao certo o que isso quer dizer no mundo dos juízes profissionais mas é o que está ainda em aberto.
Como em quase toda greve, o que piora o problema é a falta de comunicação. Dizem que a NBA tinha feito uma proposta que os árbitros tinham aceitado em parte, mas depois de uma contra-proposta da liga, os árbitros voltaram atrás em coisas que já tinham aceitado, o que deixou o David Stern furioso. A associação dos árbitros então ficou mais brava ainda com uma “proposta irrisória” do David Stern e a briga ficou pessoal, com nenhum dos lados querendo ceder.
A proposta irrisória é, segundo o Stern, fruto da crise econômica, que fez com que todos na liga tivessem cortes financeiros, portanto os juízes teriam que entrar na onda dos cortes.
Por fim há os jogadores e nós, torcedores. Para esses o melhor é ter a melhor das arbitragens, sejam os titulares ou os substitutos. Mas só saberemos se vamos ter saudade daqueles que xingávamos até alguns meses atrás quando observarmos os substitutos em ação.