>Pacers do mundo bizarro

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Mike Dunleavy sempre foi conhecido pelas belas fotos

Quando comentei aqui sobre a idéia do LeBron James de diminuir o número de times na NBA (ele depois negou ter dito isso), dei o exemplo de como seria a liga sem seis times, um deles o Indiana Pacers. Nos comentários isso provocou a revolta de pelo menos um torcedor que disse que Indianápolis e todo o estado de Indiana eram muito importantes para o basquete e que isso não deveria nem ser cogitado.

Ele tem razão ao dizer que Indiana é um estado importante no basquete. O Pacers e principalmente o Indiana University Hoosiers têm história e tradição no basquete americano, mas isso não é o bastante. O Seattle Sonics tinha 40 anos de NBA e uma base de torcida enorme antes de acabar de vez. Os torcedores então não deveriam se focar tanto na tradição, a cultura americana não é tão apegada a isso, e se preocupar em melhorar sua situação econômica e basquetebolística. Sem saber dos detalhes econômicos do time, nos limitamos a comentar do elenco. E convenhamos, ter um bom time e atrair mais público, TV e jogos de playoff é um bom começo pra arrecadar bufunfa.

No preview da temporada eu disse que considerava o trio do Indiana Pacers com Darren Collison, Danny Granger e Roy Hibbert mais promissor que outros trios de times medíocres e jovens, no caso Wolves (Jonny Flynn, Kevin Love e Wesley Johnson) e Nets (Devin Harris, Derrick Favors e Brook Lopez). As coisas mudaram um pouco de figura quando, depois disso, o Wolves trocou pelo Michael Beasley e ele começou a jogar muito. Hoje prefiro o trio do Wolves, com Beasley e não Flynn, embora nessa temporada o Pacers seja um time melhor.

Não que esteja tudo como planejado, o Darren Collison, por exemplo, não está jogando no mesmo nível da temporada passada pelo Hornets, quando substituiu Chris Paul e foi um dos melhores novatos do ano. Número por número o jogador tem hoje 13 pontos por jogo e acabou a temporada passada com 12, mas o meu critério de comparação é com quando foi titular no Hornets, não reserva. Isso aconteceu nos últimos três meses de 2009-10 e suas médias foram: 21.6 pontos em fevereiro, 17 pontos em março e 19 pontos em abril. Nas assistências foram 8.3, 9.1 e 7.7. Nessa temporada ele tem apenas 4.3 assistências por jogo.

Mas por que diacho o Collison caiu tanto de produção? O Indiana Pacers é um dos times que joga em ritmo mais veloz na NBA, bem mais do que o Hornets, o que eu achei que fosse fazer o Collison se adaptar rápido, mas acabou sendo o contrário. Pode ser só impressão, mas eu acho que ele não funciona muito bem só chegando no ataque e distribuindo um passe preciso para a finalização, como faz o Steve Nash no Suns, por exemplo. Ele funcionava melhor em um ataque de meia quadra que explorava vários pick-and-rolls como no Hornets. O Pacers é um time mais de arremessadores e que deixa o garrafão só para o Roy Hibbert trabalhar, limitando o Darren Collison a arremessos mais distantes ao invés de ter espaço para infiltrações.

A falta de entendimento tático tem influenciado também a confiança do Collison, que muitas vezes aceita ser só um carregador de bola da defesa para o ataque, onde entrega para Danny Granger e Roy Hibbert jogarem como bem entenderem. A passividade do Collison fez ele perder espaço na rotação e não é incomum ver o TJ Ford e até o AJ Price jogando quartos períodos no lugar dele, o técnico Jim O’Brien disse que muitas vezes o Ford joga os finais de jogo por sua agressividade na defesa e experiência no ataque. Quando você perde vaga por causa da defesa furada do TJ Ford e sua “experiência” que faz com que ele tente os arremessos mais imbecis da história do basquete (JR Smith à parte) é porque a coisa tá feia. Às vezes acho que é uma mensagem do tipo “Seja agressivo como o TJ Ford, mas do jeito certo”.

Mas é difícil culpar só o TJ Ford por tentar arremessos burros porque esse é um dos times que mais força bolas estúpidas na NBA e eu nem esqueci do Warriors! O Danny Granger arremessa bolas longuíssimas de três com muito tempo no relógio, o Roy Hibbert insiste nos arremessos de Ilgauskas ao invés de jogar perto da cesta e o Brandon Rush só tem um pouco do meu perdão porque ele tem aquela liberdade concedida a todos os grandes arremessadores para arremessar sempre que receber a bola. É o tipo de jogador que se não chutar quando tiver a chance sai do time (embora tenha saído melhor do que a encomenda na defesa individual). O novato Paul George é outro que tenta umas coisas inexplicáveis, mas com a desculpa de ser só um novato, ser um time veloz não justifica tantas bobagens.

O Hibbert e o Granger, aliás, são um caso estranho nessa temporada. Nos primeiros 16 jogos da temporada Granger teve média de 22.6 jogos e Hibbert 16.1. Nos 16 jogos seguintes eles caíram para 19.1 e 11.1 respectivamente, em rebotes o Hibbert ainda caiu de 9 para 7 por jogo. Quer um número pior? Hibbert tem acertado apenas 41% dos seus arremessos! Irgh! Para um ala isso já é ruim, para um pivô é péssimo e para quem começou a temporada tão bem é um colapso inexplicável. E embora eu reclame que ele chuta muito de longe, os números dizem que nos últimos jogos, quando seus números caíram, ele está até arremessando um pouquinho mais de perto. Apenas tem errado, simples assim. O blog especializado no Pacers “Eight Points, Nine Seconds” comenta melhor esses dados.

Com Granger e Hibbert atuando bem, o Pacers tem lugar na briga (medíocre) pelas últimas posições no playoff no Leste, mas com eles jogando como estão, já era. Até porque como alertamos no nosso preview, eles tem dois buracos nas posições 2 e 4 que ainda não foram preenchidos. O Brandon Rush foi o escolhido para algumas ocasiões, mas como ele é muito limitado, costuma vir do banco, deixando lugar para o Mike Dunleavy, o que seria uma boa se ele tivesse só dias inspirados, mas é irregular como uma TPM. Na posição 4 já tivemos o mesmo versátil Mike Dunleavy deixando o time baixo e cheio de arremessadores, o agressivo Josh McRoberts, que é empolgante mas pouco eficiente, e finalmente Tyler Hansbrough nos últimos dois jogos. De todos, o Psycho-T é o que eu acho que vai ficar no time titular porque combina as qualidades dos outros: é agressivo nos rebotes como McRoberts, e tem velocidade e um arremesso decente de meia distância para abrir a quadra como Dunleavy.

Um outro jogador que eu sempre comentei que poderia ganhar espaço é o novato Lance Stephenson, ídolo absoluto nos seus tempos de colegial e que acabou só saindo na segunda rodada do Draft desse ano (uma posição depois do Landry Fields). Mas ele não entra em quadra nem a pau, na sua volta para sua terra natal, Nova York, o NY Daily News entrevistou o garoto e parece que vai demorar para ele entrar em quadra mesmo. O time está tendo paciência com ele, mas ele é ainda, pra falar a verdade, um jogador de streetball. Ainda precisa aprender a se portar como armador, a participar coletivamente da defesa e tantas outras coisas. “Ele precisa trabalhar em todo o seu jogo. Em tudo”, disse o técnico Jim O’Brien. Se um dia Stephenson estourar na NBA ele deve muito a essa comissão técnica cheia de paciência.

Ou seja, é um time com bons jogadores, mas todos com muitos defeitos que o fariam reservas na maioria dos bons times por aí. Mas como essa é a realidade do Pacers por muitos anos, alguma coisa tinha que ser feita e o Jim O’Brien, nunca conhecido por sua defesa, fez milagre. Hoje o Pacers é a sétima melhor defesa de toda a NBA! O segredo para essa mudança está na dupla pressão de perímetro e Roy Hibbert . O time rápido pressiona os adversários na linha dos três com defensores atléticos e rápidos (George, Granger e principalmente Posey), evitando penetrações, e o Hibbert, 6º da NBA em tocos, protege bem o garrafão. Os adversários do Pacers acertam em média 43% dos seus arremessos, é a terceira melhor marca da NBA, atrás apenas de Bulls e Heat. Na defesa do garrafão também estão em terceiro, atrás de Celtics e Magic.

A conclusão dessa análise do Pacers é que caímos no mundo bizarro. O Spurs é o time veloz que precisa arrumar sua defesa e tem um dos ataques mais velozes e envolventes da NBA e o Pacers do Jim O’Brien (meu deus!) se mantém na briga pelos playoffs por sua defesa e precisa acertar o ataque para ir longe. Se um dia eu largar o blog é porque estou achando tudo tão estranho que enlouqueci e estou no hospício.

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