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Volta e meia a gente fala bobagens aqui no blog. Acho que temos um pouco de moral com nossos leitores porque tudo o que a gente fala é seguido de uma explicação, então mesmo quando erramos feio, erramos com uma justificativa, é tipo defender bandido com bons argumentos. Mas também acertamos e quando acertamos é hora de se gabar!
Há pouco tempo fiz um post dizendo que eu achava que o Kobe deveria descansar. Todo mundo sabe que o Kobe é maníaco por basquete, que quer jogar todos os minutos de todos os jogos, que quer provar pra ele, para seus companheiros de time e para os adversários que está sempre preparado e que pode jogar bem com qualquer tipo de contusão, mas uma hora ele tinha que chegar num limite, daqui a pouco ia querer jogar com tipóia tipo o Beckenbauer na Copa de 70. Confesso que cheguei a ficar envergonhado de ter pedido pra ele tirar uns dias de folga quando vi ele com dor nas costas, pé torcido e dedo quebrado e talvez micose mandando mais de 40 pontos pra cima da galera, mas com a cabeça mais fria e limpando a minha baba coloquei a cabeça no lugar e mantive minha posição, era a melhor coisa para o Lakers.
O Kobe ia jogar contra o Blazers no último sábado, viajou com o time e estava certo para entrar em quadra. Mas algumas horas antes do jogo ele chegou no Phil Jackson e disse “Estou pensando em não jogar essa noite”, o Zen Master respondeu com um simples “Não tem problema se você não jogar”. E 10 minutos depois Kobe confirmou que iria tirar uma noite de descanso.
O timing foi bom para o descanso, o Lakers não ganhava do Blazers em Portland há 9 jogos, desde 2005! Todos os jogos com o Kobe, então seria mais uma derrota e pronto, não valia o suor. Mas aí aconteceu o que eu tinha dito que era o lado bom de descansar uma estrela, o resto do time acordou e jogou como nunca. Claro que ajudou que metade do Blazers, incluindo Brandon Roy, está tirando mais do que uma noite de descanso, mas mesmo assim foi impressionante a rara vitória em Portland. Lamar Odom igualou a melhor marca de sua carreira com 22 rebotes, Artest e Shannon Brown combinaram para 40 pontos no ataque e nem a contusão (que não parece séria) do Bynum foi capaz de parar o Lakers.
Alguns dias depois o Lakers voltou para LA para enfrentar o Spurs. Depois daquela derrota humilhante em San Antonio eu imaginava que o Kobe estaria de volta, mas preferiu descansar mais. Dessa vez foi Gasol que dominou o jogo com 21 pontos, 19 rebotes, 8 assistências e 5 tocos, números dignos de Duncan em seus melhores dias da carreira. A partidaça do espanhol chamou mais a atenção, mas não dá pra esquecer que o Farmar e o Fisher somaram 26 pontos, que o Artest fez 18 e que até o The Machine jogou bem e não errou nenhum arremesso durante todo o jogo. E mais um jogão do Odom, fez um double-double e provou que ninguém no Spurs consegue marcá-lo. Venceu McDyess na velocidade, bateu Tony Parker na força, superou DeJuan Blair na altura; ter uma aberração da natureza como o Odom no seu time é uma bênção.
Foi o que bastou para que meia dúzia de doidos falassem que o Lakers jogava melhor sem o Kobe ou que o Gasol era mais importante para o time que o camisa 24. Bobagem. Já comentamos sobre esse assunto algumas vezes e o que aconteceu com o Lakers é só o que já aconteceu com outros tantos times. O Blazers venceu várias com atuações heróicas de Andre Miller, Jerryd Bayless e Martell Webster quando o Roy saiu do time. O Wizards fez uma temporada fantástica dois anos atrás quando o Arenas se machucou pela primeira vez, o Hornets virou um jogo impossível contra o Grizzlies, em Memphis, sem o Chris Paul.
Não ter uma estrela para comandar o jogo é como viajar sem os pais pela primeira vez. Não é que você esteja preparado para todos os imprevistos ou que possa ir morar sozinho dali pra frente, mas a situação nova é excitante pelo desafio e o frio na barriga exige dedicação, atenção e disciplina. Então como sua mãe não arruma sua mala, você mesmo, pela primeira vez, pensa em levar desde cotonete até canivete suíço para a praia. Amadurece na marra e descobre sem querer do que é capaz. Sem o Kobe para salvar a bunda do time quando o negócio apertar, o Artest sente a pressão de não sumir do jogo no ataque, o Gasol se vê na obrigação de ter todos os ataques passando na sua mão e o Odom vê a chance de mostrar que só é reserva na NBA porque quer ser. Dá certo por uma noite, duas, uma semana, não pra sempre. Vendo minha alma junto com um MP3 player no Mercado Livre se o Lakers conseguir ser campeão com esse time, sem o Kobe.
A importância dessas vitórias para o Lakers é gigantesca. O Gasol, por exemplo, estava precisando de um jogo dominante desses. Desde que ferrou com tudo naquele fim de jogo contra o Cavs, ele parecia estar jogando com insegurança, mais passando a bola do que sendo agressivo, e quando era, parecia nervoso. Contra o Spurs assumiu a função de líder e dominou o jogo. Mesma coisa com o Farmar, que se viu com a bola na mão por muito mais tempo e percebeu que não poderia acelerar o tempo do jogo como sempre faz, com mais tempo de quadra ele tinha que aprender a diminuir o ritmo também, coisa que por alguns momentos acertou, dando esperança que ele até possa ser um bom titular no ano que vem caso mantenha a cabeça no lugar.
Para os times candidatos a título a hora é de dar o empurrão final para ter um time com mais chance de ganhar o anel. Nem Lakers, nem Cavs, Celtics, Magic ou Nuggets tem dúvidas de que irão para os playoffs e de que irão disputar os títulos de suas conferências, então a hora é de aparar os pequenos defeitos e é essa a importância desse descanso do Kobe nesse momento. O novo ânimo no resto do time, principalmente no lado ofensivo, era tudo o que o Lakers precisava para ir ganhar confiança para o monte de jogos fora de casa desse final de temporada. Mas outros times também estão atrás desse empurrão final.
O Celtics, embora eu ache que não precise disso, está correndo atrás de uma troca. Boatos de boas fontes da ESPN dizem que pode ser Glen Davis mais alguém em troca do DJ Augustin. É o jeito deles darem o seu boost.
O Magic está contando com a volta de Vince Carter. Depois de janeiro ser o pior mês de sua carreira, ele começou fevereiro metendo impressionantes 48 pontos (a terceira melhor marca da sua carreira!) contra o Hornets. Não duvide que o Stan Van Gundy esteja forçando e incentivando o Carter a chamar mais o jogo mesmo com ele em baixa, sabe que precisa dele para voltar à final da NBA.
O Nuggets também não está parado. A indústria secreta da boataria diz que eles estão em conversa com o Clippers para tentar levar o Marcus Camby de volta para Denver. Seria a garantia de um garrafão forte na defesa mesmo com alguma contusão ou mesmo um recurso para driblar qualquer problema de faltas em jogos importantes dos playoffs.
São todos pequenos detalhes em times muito bem montados. Vivemos uma fase muito divertida na NBA que é quando os grandes times estão em busca de corrigir esses seus pequenos defeitos, os times médios estão atrás de trocas bombásticas para virarem grandes times (Mavs e Rockets estão doidos atrás do Caron Butler!) e os times que já viram a sua temporada ir para o ralo tentam se livrar de contratos ruins para pegar contratos que expiram ao fim dessa temporada (O Sixers está cogitando até trocar o Iguodala) . Foi nessa salada de fevereiro que o Lakers conseguiu o Gasol dois anos atrás, por exemplo, então olho aberto.