>Para o Knicks, nada

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T-Mac acabou de chegar ao Kicks mas
entendeu: o reforço não está chegando
Toda vez que o Cavs enfrenta o Knicks, não se fala em outra coisa além da possibilidade do LeBron jogar pela equipe de New York na temporada que vem. Seu contrato termina nessa temporada e ele será uma das trocentas estrelas disponíveis em 2010 para as quais o Knicks se preparou por anos – foram trocas, acordos e muito dinheiro gasto para se livrar de jogadores, tudo para consegur espaço salarial para oferecer dois contratos máximos e devolver à equipe algumas estrelas. Todo esse trabalho para arrumar as cagadas feitas por Isiah Thomas, que no entanto ainda se fará sentir na temporada que vem: Eddy Curry, o pivô que é tão gordo que não consegue passar pela porta do ginásio e agora dorme no vestiário do Knicks, tem a opção de continuar na equipe e receber 11 milhões de dólares pra não fazer absolutamente nada. Nenhum gordo do planeta recusaria essa oportunidade, então o time praticamente não terá jogadores para a temporada que vem, já que foi tudo programado para os contratos se encerrarem a tempo de contratar LeBron, mas Eddy Curry estará lá desviando o eixo de rotação da Terra.
Quando LeBron foi jogar contra o Knicks no começo da temporada, os engravatados da equipe cuidaram para que fosse um espetáculo de recrutamento: esconderam o Eddy Curry no porão, colocaram pôsteres gigantes do LeBron por toda a cidade, chamaram toda a equipe de baseball da cidade (de que o LeBron, fã do esporte, é torcedor), colocaram quinhentas celebridades no ginásio e trataram o jogador do Cavs como rei. “Sim, senhor, é claro que você pode dar essa enterrada”. Se ele matasse alguém em alguma jogada, provavelmente o pessoal do Knicks pediria para ele autografar o cadáver.
É claro que o LeBron chutou o traseiro gordo do Knicks, com 33 pontos (só errou 5 dos seus 17 arremessos), 8 rebotes, 9 assistências e 3 roubos de bola. Saiu de quadra com uma vitória fácil, se sentiu mais desejado do que capa da Playboy, e para o Knicks pareceu uma vitória: estavam mais perto de ter convencido LeBron a jogar lá na temporada seguinte. Em fevereiro, os times se encontraram de novo, dessa vez em Cleveland. Parece que o LeBron tem um prazer mórbido em chutar a bunda de quem o idolatra, cuspir na cara do Knicks só porque sabe que eles vão beber sua saliva com um sorriso. É um estranho prazer de garota idolatrada no ginásio que ama pisar nos nerds coitados que se masturbam pensando nela enquanto escrevem poeminhas de amor. Não consigo pensar em melhor explicação para os 47 pontos, 8 rebotes, 8 assistências, 5 roubos e 6 bolas de três pontos que o LeBron enfiou no Knicks em outra vitória fácil. Mas nem isso se compara com a última partida entre as duas equipes na temporada, que aconteceu nessa segunda-feira: ao fim do primeiro tempo, o Cavs vencia por 42 pontos (segundo a matemática bizarra de alguns analistas esportivos, a equipe de Cleveland poderia ter acabado o jogo ganhando por 84.)
LeBron quase nem precisou jogar, saiu de quadra com modestos 22 pontos, 7 rebotes, 7 assistências, 2 roubos e 2 tocos. Coisa pouca. Mas o mais importante do jogo, e o maior motivo pelo qual LeBron vai continuar chutando o traseiro do Knicks ao invés de ir jogar na equipe na temporada que vem, foi o resto do elenco que permitiu essa vitória mamata. Durante a partida, Shaquille O’Neal operava o dedo que ele deslocou alguns dias atrás (aliás, muito engraçado como o dedo dele, que é do tamanho de um tronco de árvore, virou farofa no meio de uma jogada e o Shaq saiu de quadra mascando chiclete como se nada tivesse acontecido), ou seja, o garrafão do Cavs está subitamente desfalcado. E quem se importa? Uma das aquisições mais esquecidas dessa temporada foi o Leon Powe, que o Cavs roubou do Celtics, e que é um milhão de vezes melhor do que o Rasheed Wallace no momento, até porque não lhe falta intensidade enquanto o time de Boston está tropeçando no próprio desânimo. A rotação do garrafão do Cavs sem Shaq, então, teve Leon Powe, que é um trator; JJ Hickson, que joga cada dia melhor; Antawn Jamison, dominando nos rebotes e sendo menos hostilizado em Cleveland desde que o Ilgauskas falou que volta logo; além de Anderson Varejão, que começa a ser cogitado como um dos melhores reservas da NBA. É um garrafão bom o bastante para que todos nós façamos um minuto de silêncio em homenagem à aposentadoria do Shaq.
Os tempos do pivô ainda não acabaram, ele teve alguns grandes jogos ofensivos recentemente, mostra que consegue pontuar quando acionado, e se sai bem na defesa contra os melhores pivôs da NBA, mesmo que aos trancos e barrancos. Como o próprio Shaq fez questão de lembrar, o Dwight Howard recebeu ajuda para dobrar a marcação no O’Neal em todos os jogos, enquanto o Shaq marca o Howard no mano-a-mano. Shaq pode não ter tido os melhores resultados do planeta marcando o Dwght, mas o fato de que ele consegue quebrar um galho contra ele sem a necessidade de uma marcação dupla torna a defesa do Cavs muito melhor por poder se focar em outros jogadores. Mas Shaq deve ter minutos limitados para desempenhar essas funções, seu time não precisa dele em quadra por muito tempo. JJ Hickson e Varejão tornam o time mais rápido, versátil e atlético, e o Cavs pode jogar em alto nível com qualquer um deles em quadra a qualquer momento de uma partida. É bom que o Shaq vá conseguir voltar a tempo dos playoffs, mas se não conseguisse não seria um grande problema. O Cavs é atualmente o time mais versátil da NBA, e um dos mais profundos também.
Sem patriotismo, já que não ligamos para linhas imaginárias desenhadas no chão, o Varejão é um dos grandes responsáveis pela profundidade do elenco. Antes seu contrato parecia gordinho para um jogador limitado que só era capaz de se focar na defesa (e ainda com certa dificuldade), mas agora parece preço de banana porque o Varejão cada vez mais se mostra uma arma confiável no ataque. Eu sei lá o que aconteceu, mas ele voltou da seleção brasileira com uma nova confiança embaixo do aro e uma coleção de movimentos muito lapidados e sutis. Antes o LeBron fazia uma imensidão de pick-and-rolls com o Varejão mas tinha receio de colocar a bola em suas mãos porque ele partia estabanado para a cesta em velocidade, mas agora ele tem ganchos bonitos, reverses eficientes e não tenta mais colocar a bola no chão como fazia antes. Mesmo sem ser um defensor excelente, sempre soube como ser um defensor eficiente, e agora o mesmo acontece no ataque. Cada vez mais Varejão se mostra eficiente, fazendo as coisas que sabe fazer, mesmo as menores como deslocar levemente um adversário no momento certo, e camuflando as coisas que não sabe fazer por não forçar o jogo em cima delas. Não dá pra ser Melhor Sexto Homem da NBA porque ele não transforma jogos, não é uma estrela vindo do banco, mas é indispensável para a equipe. É exatamente o que um time como o Cavs precisa: jogadores eficientes e especializados que possam complementar uma estrela como LeBron James. Não adianta cercá-lo de estrelas se ele não puder ter a bola em suas mãos, o que interessa é um time que possa receber a bola nos lugares certos e ser eficiente com ela nas poucas oportunidades que surgirem. O Cavs tem um ataque limitado, se foca muito na defesa e durante muito tempo parecia fazer trocas apenas por fazê-las, pra ver se mudava um pouco os ares da equipe. Mas agora temos um elenco perfeitamente montado em volta de LeBron que levou anos para ficar pronto e permite que ele faça tudo aquilo que sabe fazer de melhor, inclusive passar a bola ao invés de dominar o jogo sozinho. Esse é o time com que LeBron James será campeão.
Isso é justamente o que o Knicks não pode oferecer. Dinheiro para contratar duas estrelas garantiria LeBron e mais alguém, e absolutamente nada ao redor deles. O Warriors e o Clippers nos ensinaram que um time de basquete não é uma junção aleatória de estrelas para ver se dá certo, mas sim um esquema tático específico com jogadores que possam desempenhar bem cada função pretendida. O LeBron estará melhor num elenco mais-ou-menos mas bem construído do que num time com outras estrelas juntadas ao acaso. Levaria anos até que o Knicks juntasse os jogadores necessários para formar uma equipe coesa capaz de desempenhar bem um esquema vencedor (ou seja, que defenda), e o LeBron não vai perder esse tempo.
Se não fosse o suficiente, ainda há mais um problema para os planos do Knicks – e, pra falar a verdade, para os planos de todos os times que se destruíram para poder contratar estrelas para a temporada que vem. De tempos em tempos, um conjunto de regras decididas coletivamente na NBA expira, então todas as criancinhas vestem suas gravatas, sentam numa mesa enorme e decidem quais vão ser as novas regras da brincadeira. O último acordo, de 2005, aumentou o teto salarial das equipes, diminuiu as multas por ultrapassar o teto, aumentou a participação dos jogadores nos lucros dos times, diminuiu a duração máxima dos contratos dos jogadores, diminuiu o aumento anual dos salários, aumentou o número de testes anti-doping e obrigou os jogadores a terem 19 anos para poder participar do draft. O acordo vence em 2010, então outro terá que ser feito para 2011. Mas David Stern, o homem-entediado, agora parece ter razão em alguma coisa (toda vez que isso acontece, algum terremoto abala a Terra): as equipes da NBA somaram prejuízos de 400 milhões de dólares esse ano fiscal, mais da metade das equipes estão na merda financeira nessa temporada, a crise engoliu todo mundo e alguma coisa precisa mudar. Boatos dizem que as propostas incluem uma diminuição drástica no teto salarial das equipes, redução das bonificações dos contratos dos jogadores, menos garantias contratuais, taxas mais severas. Tudo para mudar a mentalidade da liga e trazer os salários de volta à realidade, ao invés de achar que no mundo lá fora tá todo mundo enfiando ouro nas orelhas. Da última vez que esse acordo ameaçou diminuir os salários, em 1998, os jogadores entraram em greve. Dessa vez, no entanto, os jogadores estão participando das discussões, LeBron, Carmelo e Wade participaram da reunião preliminar, e está todo mundo ciente de que mudanças são necessárias. Uma greve é possível mas improvável, mas de todo modo os salários e contratos serão menores em 2011.
Isso significa que em 2010 todos os jogadores tentarão assinar os maiores, mais gordos e mais longos contratos que conseguirem, porque aí seus contratos ainda valerão pelas regras antigas. Nessa hora, vale lembrar que os times que podem oferecer os contratos mais longos são, pelas regras, justamente os times que já possuem o jogador, então provavelmente veremos um monte de gente reassinando com suas equipes. O mais provável é que jogadores como LeBron, Bosh e até o Wade fiquem onde estão e garantam seus contratos gigantes enquanto ainda podem. Até mesmo Kobe Bryant, que tem um contrato que vai até 2011 mas pode encerrar nessa temporada se ele quiser, deve optar por terminar o contrato só pra poder fazer um novo e se aproveitar das regras atuais. Mas é óbvio que ele vai assinar de novo com o Lakers, não tem nem o que discutir. Com elencos melhores já montados, a possibilidade de contratos maiores antes de uma crise que cortará custos, e a chance de lutar por um anel de campeão mais cedo, é bem provável que as grandes estrelas fiquem onde estão. O Knicks vai ter trabalho para caçar alguém, mas certamente não conseguirá abocanhar LeBron ou Kobe. Resta sonhar, desde já, com algum prêmio de consolação.

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